Tudo sobre o Dachshund(Salsicha): O caçador de tocas
Tudo sobre o Dachshund(Salsicha): O caçador de tocas

Tudo sobre o Dachshund(Salsicha): O caçador de tocas


O “Salsichinha” é, sem dúvida, uma das raças que mais vejo aqui na clínica. E não é só pelo formato inconfundível que arranca sorrisos por onde passa; é pela personalidade gigante que cabe dentro desse corpo alongado. Como veterinário, costumo dizer aos pais de pets que ter um Dachshund é assinar um contrato de diversão, mas também de responsabilidade redobrada com a saúde ortopédica.

Se você está pensando em trazer um desses caçadores de tocas para sua vida, ou já tem um dominando seu sofá, prepare-se. Vamos mergulhar fundo no universo dessa raça fascinante, deixando de lado o “básico” e focando no que realmente vai mudar o dia a dia de vocês.


A Origem do Caçador de Tocas: Muito Mais que um “Salsicha”

Muitas pessoas olham para o Dachshund e veem apenas um cãozinho engraçado, mas a história dele é de pura bravura e funcionalidade. Para entender o comportamento do seu pet hoje, você precisa olhar para o passado dele na Alemanha.

Raízes Alemãs e a Função Original

O nome “Dachshund” é literal: Dachs significa texugo e Hund significa cão.[1] Ou seja, ele é o “Cão de Texugo”.[1] Na Alemanha medieval, os caçadores precisavam de um animal que fosse corajoso o suficiente para entrar em tocas escuras e apertadas para enfrentar texugos — animais conhecidos por serem ferozes quando encurralados. O corpo alongado e as pernas curtas não foram um acidente genético fofo; foram uma engenharia biológica proposital. O peito largo servia para abrigar um coração forte e pulmões potentes para o esforço subterrâneo, e as patas grandes (especialmente as dianteiras) funcionavam como pás eficientes para cavar.

Quando você vê seu Dachshund cavando freneticamente o cobertor ou fazendo buracos no jardim, não é “bagunça”. Ele está honrando séculos de seleção genética. O latido alto e grave, que surpreende quem espera um som agudo de um cão pequeno, também tinha função: servia para o caçador localizar o cão debaixo da terra. Entender isso muda sua perspectiva: ele não está sendo “chato” latindo para o nada; ele está patrulhando o território contra “ameaças” invisíveis, exatamente como foi programado para fazer.

Como veterinário, vejo muitos tutores frustrados com a “teimosia” da raça. Mas pense comigo: um cão que entra sozinho numa toca para brigar com um texugo não pode ficar esperando ordens do dono. Ele precisava tomar decisões independentes e rápidas para sobreviver. Essa independência é o que chamamos hoje de teimosia, mas na verdade, é um sinal de extrema inteligência e autoconfiança.

A Evolução para Cão de Companhia

Com o passar dos séculos, a realeza europeia, incluindo a Rainha Vitória, se encantou por esses pequenos valentes.[2] Foi nesse momento que o Dachshund começou a transição das florestas alemãs para os tapetes dos palácios e, eventualmente, para os nossos apartamentos. No entanto, essa mudança de ambiente não apagou o instinto. O que mudou foi o foco da energia deles.

Hoje, o “trabalho” do Dachshund muitas vezes é ser o guardião da casa e o companheiro de colo. Eles criam laços fortíssimos com seus humanos, muitas vezes escolhendo uma pessoa favorita na família para seguir como uma sombra. Essa lealdade extrema é uma faca de dois gumes: torna-os companheiros incríveis, mas também propensos à ansiedade de separação. Vejo muitos pacientes que destroem a casa quando ficam sozinhos, não por maldade, mas por angústia de estarem longe de sua “matilha”.

A adaptação para a vida moderna exige que nós, como responsáveis, ofereçamos válvulas de escape para essa energia represada. Um Dachshund que vive apenas como “enfeite de sofá” tende a desenvolver problemas comportamentais sérios. Eles precisam sentir que têm uma função, mesmo que essa função seja apenas buscar a bolinha ou “caçar” petiscos escondidos pela casa. Humanizar o cuidado significa respeitar essa necessidade de propósito que a raça carrega.

As Variações de Tamanho e Pelo

Outro ponto que confunde muitos proprietários são as variedades. Não existe apenas “o salsicha”.[2][3] Temos três tamanhos (Standard, Miniatura e Kaninchen – este último para caçar coelhos) e três tipos de pelo: Curto, Longo e Duro. Cada tipo de pelagem traz consigo nuances de temperamento devido aos cruzamentos feitos para obtê-las.

O de Pelo Curto é o clássico, muitas vezes considerado o mais “puro” em termos de temperamento original: alerta e apegado. Já o de Pelo Longo, que teve cruzamentos com Spaniels, tende a ser um pouco mais dócil e tranquilo, ideal para famílias que buscam um “cão de colo” um pouco mais relaxado. Por fim, o de Pelo Duro, com sua barbinha característica, tem influência de Terriers em sua genética. E como bom Terrier, ele costuma ser o mais “pimentinha” dos três, com uma energia inesgotável e uma personalidade cômica e atrevida.

Saber qual é a variedade do seu cão ajuda muito no consultório. Quando atendo um de Pelo Duro, já espero um paciente mais agitado e curioso. Quando é um de Pelo Longo, geralmente a interação é mais suave. Para você, entender isso ajuda a ajustar as expectativas sobre o comportamento e a necessidade de exercícios do seu amigo. Não julgue seu Pelo Duro por ser mais agitado que o Pelo Longo do vizinho; a genética deles conta histórias diferentes.


Entendendo a Personalidade: Pequeno no Tamanho, Gigante na Coragem

Existe um ditado entre nós veterinários: “O Dachshund é um Doberman que foi encolhido na máquina de lavar”. Brincadeiras à parte, essa frase resume bem a autoimagem dessa raça. Eles não sabem que são pequenos. Para eles, o tamanho é irrelevante diante de sua coragem.

Inteligência e Teimosia: O Desafio do Adestramento

Você já chamou seu cachorro e ele olhou para você, pensou um pouco, e decidiu que cheirar a grama era mais importante? Bem-vindo ao mundo do Dachshund. Eles são extremamente inteligentes, mas não têm aquela vontade de agradar (o “will to please”) que vemos em um Golden Retriever, por exemplo. Eles obedecem se virem vantagem nisso.

O adestramento de um Salsicha exige paciência e, principalmente, motivação correta. Gritos e punições não funcionam; pelo contrário, eles se fecham e podem até se tornar defensivos. O segredo é o reforço positivo com petiscos de alto valor ou brinquedos. E as sessões devem ser curtas. Se ficar chato, ele simplesmente vai embora. Eu recomendo começar o treino desde o primeiro dia em casa. Ensinar comandos básicos como “fica” e “solta” não é luxo, é segurança, especialmente para um cão que tende a comer o que não deve do chão.

Outro aspecto da inteligência deles é a manipulação. Eles são mestres em treinar os donos. Aquele olhar “pidão”, o chorinho baixo, a patinha no seu joelho… eles sabem exatamente o que fazer para conseguir o que querem. Fique atento: ceder sempre cria um “pequeno tirano” em casa. Estabelecer limites claros é uma forma de amor, pois um cão que sabe seu lugar na hierarquia familiar é um cão mais seguro e tranquilo.

O Instinto de Caça no Dia a Dia

Como mencionei, o instinto de caça é forte. Isso se manifesta de várias formas no ambiente doméstico. A primeira é a perseguição. Objetos em movimento, como bicicletas, corredores, ou até o gato do vizinho, são gatilhos imediatos. Por isso, passear sem guia em áreas abertas é um risco enorme. Se ele focar em uma “presa”, pode desenvolver uma surdez seletiva instantânea e ignorar seus chamados, correndo para o perigo.

A segunda manifestação é o ato de cavar. Muitos tutores reclamam que o cão destruiu o jardim ou o sofá. Lembre-se: ele foi feito para cavar. Em vez de apenas proibir, redirecione. Ofereça uma caixa de areia onde ele possa enterrar brinquedos, ou use cobertores velhos que ele possa “bagunçar” à vontade. Fornecer uma saída lícita para o instinto evita a destruição dos seus móveis favoritos.

Também temos a questão dos brinquedos. Dachshunds costumam ser destruidores cirúrgicos. Eles gostam de arrancar o apito dos brinquedos de pelúcia (o “coração” da presa) e estripar o enchimento. Isso é simulacro de predação. Evite brinquedos muito frágeis que podem ser engolidos. Opte por mordedores de nylon resistente ou brinquedos de borracha maciça, que satisfazem a necessidade de mastigação sem o risco de ingestão de corpo estranho — uma causa frequente de cirurgias de emergência na minha rotina.

Convivência com Crianças e Outros Pets

A relação do Dachshund com crianças pode ser maravilhosa, mas exige supervisão. Como eles têm uma coluna frágil (falaremos mais sobre isso), não toleram brincadeiras brutas, como serem montados ou puxados. Se uma criança machucar um Dachshund, mesmo sem querer, ele pode reagir para se defender. Eu sempre oriento os pais a ensinarem seus filhos a respeitar o espaço do cão e nunca pegá-lo no colo de qualquer jeito.

Com outros cães, a dinâmica é curiosa. Eles geralmente se dão muito bem com outros Dachshunds — parece que se reconhecem. Com cães grandes, a coragem excessiva pode ser um problema. Eles não hesitam em latir e desafiar um Rottweiler se acharem necessário. A socialização precoce é vital para ensiná-los a lerem a linguagem corporal de outros cães e evitar conflitos desnecessários.

Quanto a animais menores, como hamsters ou porquinhos-da-índia, cuidado. Lembre-se da origem da raça. Para um Dachshund, esses animais não são amigos; são presas. A convivência é possível, mas nunca deve ser deixada sem supervisão direta. O instinto predatório pode despertar em segundos, transformando uma cena pacífica em um acidente lamentável.


Anatomia Única e Cuidados Essenciais com a Coluna

Chegamos ao ponto mais crítico da nossa conversa. Não dá para falar de Dachshund sem falar de coluna. A característica que os torna tão únicos — o corpo longo e pernas curtas — é resultado de uma condição genética chamada condrodistrofia. Isso afeta o desenvolvimento das cartilagens e os predispõe a problemas sérios.

A Doença do Disco Intervertebral (DDIV) Explicada

A DDIV é o pesadelo de qualquer tutor de Salsicha. Simplificando: os discos entre as vértebras da coluna funcionam como amortecedores. Nos Dachshunds, esses discos calcificam e perdem a elasticidade muito mais cedo do que em outras raças. Imagine um amortecedor de carro que fica rígido e quebradiço; qualquer impacto maior pode fazê-lo romper.

Quando um disco desses se rompe ou se desloca (hérnia), ele comprime a medula espinhal. Os sintomas variam desde dor intensa (o cão fica arqueado, tremendo, relutante em andar) até paralisia total das patas traseiras e perda de controle do xixi e cocô. É uma emergência veterinária. Se você notar seu cão arrastando as patas ou chorando ao ser pego no colo, corra para o veterinário. Tempo é medula.

O tratamento pode ser conservador (repouso absoluto e medicação) ou cirúrgico, dependendo da gravidade. Mas a recuperação é lenta e exige muita dedicação. Já vi muitos cães voltarem a andar com fisioterapia e acupuntura, mas a prevenção é sempre, sem dúvida alguma, o melhor remédio. E a prevenção começa em casa, com mudanças simples na rotina.

Prevenção no Cotidiano: Pulos e Escadas

Você precisa olhar para a sua casa como um campo minado para a coluna do seu cão. O maior inimigo do Dachshund é o impacto vertical. Pular do sofá ou da cama para o chão é um veneno para os discos intervertebrais. Cada pulo é um microtrauma que se acumula. Subir e descer escadas correndo também deve ser evitado ao máximo.

A solução prática? Rampas. Instale rampas no sofá e na cama se o seu cão tem acesso a esses locais. Ensine-o a usar a rampa desde filhote. Se você mora em sobrado, coloque portões nas escadas para evitar que ele fique subindo e descendo o dia todo. Quando for pegá-lo no colo, nunca o levante pelas axilas deixando o corpo pendurado. A técnica correta é: uma mão no peito e a outra mão suportando o bumbum e as patas traseiras, mantendo a coluna reta, como se estivesse segurando um bebê.

Esses cuidados podem parecer exagerados para quem vê o cão correndo feliz, mas eu garanto: a coluna dele está sofrendo impactos silenciosos. Adotar essas medidas de manejo ambiental não é “mimar” o cachorro, é uma medida ortopédica preventiva que pode economizar milhares de reais em cirurgias e poupar seu amigo de muita dor.

A Importância do Peso Ideal para a Coluna

Aqui entra o fator que você tem 100% de controle: a balança. Um Dachshund obeso é uma bomba-relógio para a DDIV. O excesso de peso coloca uma pressão absurda sobre a coluna vertebral, que já é anatomicamente desfavorecida. Além disso, a gordura abdominal “puxa” a coluna para baixo, aumentando a curvatura e o risco de lesões.

Manter o Salsicha magro é obrigação de saúde. Você deve ser capaz de sentir as costelas dele facilmente ao passar a mão (sem apertar), e ele deve ter uma “cintura” visível quando olhado de cima. Se o seu cão parece um “salame” sem curvas, ele está acima do peso. E cuidado com os “olhinhos de fome”. Eles são gulosos por natureza e vão te convencer de que estão morrendo de inanição mesmo tendo acabado de comer.

Troque os petiscos calóricos por pedacinhos de cenoura, maçã ou abobrinha. Meça a ração diariamente com um copo medidor ou balança — nada de “olhômetro”. O controle de peso é a forma mais barata e eficaz de proteger a coluna do seu Dachshund. Um cão leve sobrecarrega menos as articulações e tem uma qualidade de vida muito superior na velhice.


Saúde Geral e Nutrição: O Segredo da Longevidade

Apesar da “kryptonita” da coluna, o Dachshund é uma raça robusta e de vida longa. Não é raro vermos salsichinhas chegando aos 15, 16 ou até 18 anos. Mas para chegar lá com qualidade, precisamos olhar além das costas.

Principais Problemas de Saúde Além da Coluna

Os olhos e dentes são pontos de atenção. Eles têm predisposição para atrofia progressiva da retina e catarata, então exames oftalmológicos anuais são bem-vindos. Mas o que mais vejo na rotina é a doença periodontal. A boca do Dachshund é longa e estreita, o que facilita o acúmulo de tártaro e bactérias.

Uma boca doente não causa apenas mau hálito; as bactérias da gengiva podem cair na corrente sanguínea e afetar o coração, rins e fígado. A escovação dentária deve ser diária ou, no mínimo, três vezes por semana. Se o seu cão não deixa escovar, converse com seu veterinário sobre aditivos para água ou petiscos enzimáticos, mas saiba que nada substitui a escova. Limpezas de tártaro sob anestesia (profilaxia) serão necessárias ao longo da vida, e não tenha medo da anestesia se os exames prévios estiverem bons — o risco de uma infecção generalizada pelos dentes é pior.

Outra questão comum são as alergias de pele e problemas cardíacos na velhice, como a doença da valva mitral. Ficar atento a coceiras excessivas ou tosse e cansaço fácil é fundamental para um diagnóstico precoce.

Nutrição Específica para Corpos Alongados

A alimentação é o combustível da saúde. Para o Dachshund, buscamos uma dieta rica em proteínas de alta qualidade para manter a massa muscular, que ajuda a sustentar a coluna. Ingredientes como condroitina e glicosamina são excelentes aliados, pois ajudam na saúde das articulações e discos intervertebrais.

Existem rações específicas para a raça no mercado, e elas não são apenas marketing. Geralmente, elas têm o formato do grão adaptado para a mandíbula deles e incluem nutrientes focados na saúde óssea e controle de peso. Se optar pela Alimentação Natural, ela deve ser rigorosamente balanceada por um zootecnista ou veterinário nutrólogo. Sobras de comida caseira, especialmente gordurosas, podem causar pancreatite, uma inflamação grave e dolorosa à qual a raça é sensível.

A hidratação também é chave. Salsichas podem ter tendência a formar cálculos urinários. Espalhar potes de água fresca pela casa e oferecer alimentos úmidos (sachês de boa qualidade) ajuda a manter o trato urinário “lavado” e saudável.

Check-ups e Vacinação: O Papel do Veterinário

A medicina preventiva é mais barata que a curativa. Até o primeiro ano de vida, as visitas são frequentes para vacinas. Depois, um check-up anual é o padrão. Porém, para Dachshunds acima de 7 anos, recomendo visitas semestrais. Cães envelhecem rápido, e 6 meses para eles é muito tempo.

Nessas visitas, nós palpamos a coluna, auscultamos o coração, checamos os dentes e pedimos exames de sangue gerais. É o momento de você tirar dúvidas e ajustarmos a dieta se o peso subiu um pouquinho. Lembre-se: vacina não é só a de raiva. A V10/V8 protege contra doenças letais como a parvovirose e a cinomose, e a proteção contra leishmaniose e dirofilariose (verme do coração) é essencial dependendo de onde você mora.


A Rotina Ideal: Exercícios e Enriquecimento Ambiental

Muitos tutores caem no erro de achar que, por causa da coluna, o Dachshund não deve se exercitar. Errado! O sedentarismo enfraquece a musculatura que protege a coluna. O segredo está no tipo de exercício.

Passeios Seguros para Patinhas Curtas

O passeio ideal para o Salsicha é plano e constante. Evite terrenos muito acidentados, com muitos buracos ou pedras altas que exijam “alpinismo”. Caminhadas em ritmo moderado ajudam a manter o tônus muscular e queimam calorias. Evite corridas longas ou acompanhar bicicletas; as perninhas curtas precisam dar muitos passos para acompanhar o seu, o que cansa rápido e impacta as articulações.

O uso do peitoral é sempre preferível à coleira de pescoço. Se o cão puxar ou der um tranco, a coleira de pescoço pode causar lesões na cervical, que já é uma área sensível neles. Um peitoral bem ajustado distribui a força pelo peito. E lembre-se: dias muito quentes são perigosos. Como estão muito perto do chão, eles sofrem mais com o calor irradiado pelo asfalto, podendo ter hipertermia rapidamente.

Brincadeiras que Estimulam o Faro

Lembra do caçador de texugos? Use isso a seu favor. Jogos de olfato são muito mais cansativos mentalmente do que exercício físico. Esconder petiscos pela sala e dizer “busca” é uma atividade fantástica. Você pode usar tapetes de olfato (snuffle mats) ou caixas de papelão com petiscos dentro.

Isso satisfaz o instinto de caça de forma segura e controlada. 15 minutos de trabalho de faro podem equivaler a uma longa caminhada em termos de gasto de energia mental. Isso deixa o cão mais relaxado e menos propenso a latir para qualquer barulho, pois ele já “trabalhou” naquele dia.

Como Evitar o Tédio e a Destruição

Um Dachshund entediado é um decorador de interiores caótico. Eles roem rodapés, cavam sofás e destroem sapatos. O enriquecimento ambiental é a chave. Deixe brinquedos recheáveis (como Kongs) com comida congelada para ele lamber quando você sair. Isso distrai, acalma e gasta energia.

Faça rodízio dos brinquedos. Se todos os brinquedos ficarem disponíveis o tempo todo, perdem a graça. Guarde alguns e troque semanalmente. A “novidade” mantém o interesse. E não subestime a companhia. Se eles ficam muitas horas sozinhos, considere uma creche para cães (daycare) uma ou duas vezes na semana, desde que seja um local que monitore as brincadeiras para evitar pulos e choques brutos com cães maiores.


Pelagem e Higiene: Mantendo a Beleza do Salsichinha

Cuidar da beleza do seu Dachshund vai além da estética; é uma questão de saúde e conforto. Cada tipo de pelo exige uma rotina diferente, e ignorar isso pode levar a problemas de pele.

Cuidados com o Pelo Curto

Aparentemente o mais fácil, o pelo curto exige pouca manutenção, mas não nenhuma. Uma escovação semanal com uma luva de borracha remove os pelos mortos e estimula a oleosidade natural da pele, mantendo o brilho. Eles soltam pelo, sim! E esses pelinhos curtos e duros adoram grudar em tecidos e roupas.

No inverno, o Pelo Curto sente frio. Eles têm pouca gordura corporal e pelagem fina. Não tenha vergonha de colocar uma roupinha neles. Se você está com frio, ele provavelmente também está. Tremores consomem energia e baixam a imunidade.

O Desafio dos Pelos Longos e Duros

O Dachshund de Pelo Longo precisa de escovação 2 a 3 vezes por semana para evitar nós, especialmente atrás das orelhas e nas “axilas”. Os nós repuxam a pele e causam dor. A tosa higiênica nas patas é importante para que eles não escorreguem em pisos lisos (o que é péssimo para a coluna).

Já o de Pelo Duro requer uma técnica chamada hand stripping (remoção manual do pelo morto) feita por profissionais, algumas vezes ao ano, para manter a textura correta do fio. Se você tosa um Pelo Duro com máquina comum, a pelagem pode ficar mole e perder a proteção natural. A barbinha precisa ser limpa após as refeições para não acumular restos de comida e criar fungos.

Banhos, Unhas e Orelhas: O Trio da Higiene

Banhos não precisam ser semanais, a menos que haja indicação veterinária. O excesso de banho retira a proteção natural da pele. A cada 15 ou 20 dias é suficiente para a maioria. Use xampus próprios para cães e água morna. E seque muito bem! A umidade retida, especialmente nos de pelo longo, favorece dermatites.

As unhas merecem atenção especial. Se você ouvir o “clack-clack” no piso, estão grandes demais. Unhas longas mudam a pisada do cão e afetam o alinhamento da coluna. Corte regularmente ou leve ao veterinário/pet shop para isso.

Por fim, as orelhas caídas são lindas, mas abafadas. O ambiente perfeito para otites (infecções de ouvido). Limpe a parte externa da orelha semanalmente com algodão e loção específica, e cheire as orelhas do seu cão. Sim, cheire! Cheiro de “queijo” ou chulé forte indica infecção por fungos ou bactérias. Se notar o cão balançando muito a cabeça, marque uma consulta; o balançar frenético pode causar hematomas na orelha (otohematoma).


Comparativo: Dachshund vs. Outras Raças Populares

Para te ajudar a ter certeza se o Salsicha é o cão ideal para o seu estilo de vida, preparei este quadro comparativo com duas outras raças que frequentemente competem pela preferência dos tutores: o Basset Hound e o Welsh Corgi Pembroke.

CaracterísticaDachshund (Salsicha)Basset HoundWelsh Corgi Pembroke
Origem / FunçãoAlemanha / Caça de toca (texugo)França / Caça de faro (lebre)País de Gales / Pastoreio de gado
Nível de EnergiaMédio a Alto (explosivo em curtos períodos)Baixo a Médio (mais “preguiçoso” em casa)Alto (precisa de muito estímulo mental)
LatidoFrequente, alto e de alertaUivos profundos e latidos gravesLate para controlar movimento (alerta)
AdestramentoDesafiador (inteligente, mas teimoso e independente)Difícil (muito teimoso e distraído pelo faro)Médio (inteligente e focado, mas pode ser mandão)
Saúde da ColunaRisco Crítico de DDIV (Hérnia de Disco)Risco Alto (devido ao corpo longo)Risco Moderado a Alto
ConvivênciaProtetor, ciumento, “sombra” do donoMuito sociável, pacífico com todosAfetuoso, mas pastor (pode “pastorear” crianças)
Manutenção PeloBaixa (Curto) a Média (Longo/Duro)Média (baba muito e tem cheiro forte de cão)Alta (solta muito pelo o ano todo)
Para quem é?Quem quer um cão de colo com personalidade forte.Quem quer um companheiro relaxado e tolerante.Quem quer um cão ativo para treinos e jogos.

Analisando o quadro, você percebe que, embora fisicamente parecidos (patas curtas e corpo longo), o temperamento varia. O Basset Hound é muito mais tolerante e calmo, mas baba e tem aquele cheiro característico de cão de caça oleoso. O Corgi é um cão de trabalho rural, um pastor, o que significa que ele tem uma energia mental muito mais intensa e menos focada em caça, mas pode tentar morder calcanhares (instinto de pastoreio).

Dachshund fica no meio termo: é pequeno o suficiente para apartamento, ativo o suficiente para brincar, mas independente o suficiente para ter suas próprias ideias. Ele é a escolha perfeita para quem não se importa com um pouco de teimosia em troca de uma lealdade inabalável e momentos de risada garantida.

Ter um Salsicha é aceitar que você nunca mais vai ao banheiro sozinho, que terá um “fiscal” de tudo o que acontece na casa e que precisará adaptar seus móveis para proteger a coluna do seu melhor amigo. Se você estiver disposto a esses cuidados, terá ao seu lado um parceiro valente, carinhoso e absolutamente inesquecível. Cuide da coluna dele, controle o peso, e aproveite cada segundo dessa jornada incrível.

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