Spitz Alemão Anão vs. Padrão: Entenda as diferenças
Spitz Alemão Anão vs. Padrão: Entenda as diferenças
Muitos tutores chegam ao meu consultório com uma bolinha de pelos nos braços e uma dúvida estampada no rosto sobre o tamanho real que aquele filhote vai atingir ou se ele se enquadra no padrão da raça que compraram. A confusão é compreensível porque a família dos Spitz Alemães é vasta e as diferenças entre o Anão, popularmente conhecido como Lulu da Pomerânia, e o Padrão, que engloba os tamanhos pequeno e médio, vão muito além de alguns centímetros na cernelha. Você precisa compreender essas nuances não apenas por estética, mas porque o manejo clínico, a saúde e o comportamento mudam drasticamente dependendo do porte do seu animal.
Como veterinário, analiso esses cães sob uma ótica funcional e fisiológica e percebo que a miniaturização da raça trouxe características únicas que exigem atenção redobrada dos proprietários. Enquanto o Spitz Padrão conserva uma robustez mais próxima dos seus ancestrais de guarda e pastoreio, o Anão é o resultado de uma seleção intensa para companhia e colo. Isso impacta desde a estrutura óssea até a forma como o organismo deles metaboliza o açúcar no sangue.
Neste artigo, vamos dissecar essas diferenças com base na ciência veterinária e na minha rotina clínica. Você vai sair daqui entendendo exatamente o que esperar do seu cão, seja ele um minúsculo Lulu ou um robusto Spitz Pequeno ou Médio, e como oferecer a melhor qualidade de vida possível para ele. Esqueça o “achismo” da internet e vamos aos fatos biológicos e comportamentais que realmente importam para a saúde do seu pet.
A taxonomia canina e a confusão de nomenclaturas
Entendendo a classificação da FCI e os cinco tamanhos
A Federação Cinológica Internacional, órgão que rege as raças caninas na maior parte do mundo e no Brasil, agrupa todos os Spitz Alemães sob o mesmo padrão racial. A diferença está apenas no tamanho. Oficialmente, temos o Wolfspitz (o maior de todos), o Spitz Grande, o Médio, o Pequeno e o Anão. No consultório, costumo simplificar para os tutores focando nos três menores, pois são os mais comuns em ambiente urbano. O Spitz Anão deve ter entre 18 e 24 centímetros de altura na cernelha. Qualquer cão acima disso, até os 30 centímetros, é considerado Pequeno, e até os 38 centímetros, Médio.
Essa distinção é crucial porque vejo muitos criadores vendendo cães como “Anões” que geneticamente são Pequenos. O desenvolvimento ósseo pode enganar nos primeiros meses. Um Spitz Pequeno tem uma estrutura mais sólida e ossos mais densos. Já o Anão está no limite inferior do nanismo, o que traz uma delicadeza estrutural que exige cuidado no manuseio. Você deve saber exatamente qual é a classificação do seu cão para ajustar a dieta e a atividade física.
A confusão aumenta quando cruzam tamanhos diferentes. Geneticamente, isso pode gerar filhotes com desproporções, como um corpo de Spitz Pequeno com as articulações frágeis de um Anão. A classificação da FCI serve como um guia de saúde e previsibilidade. Quando você foge desses padrões, entra em uma zona cinzenta de riscos ortopédicos e sistêmicos que discutiremos mais à frente.
A origem histórica e a redução seletiva para o Anão
Historicamente, esses cães eram muito maiores e usados para trabalho na região da Pomerânia, entre a Alemanha e a Polônia. Eram cães de alerta em barcos e fazendas. A redução de tamanho para chegar ao Lulu que conhecemos hoje foi um processo de seleção artificial intenso, impulsionado principalmente pela nobreza europeia, como a Rainha Vitória, que desejava cães de colo. O Spitz Padrão (Pequeno e Médio) manteve-se mais fiel ao tipo primitivo “rústico”, preservando uma constituição física mais apta a intempéries e exercícios moderados.
Essa seleção para o nanismo no Spitz Anão focou em características neotênicas. Neotenia é a retenção de traços juvenis na fase adulta. Por isso o Lulu parece um eterno filhote, com olhos grandes e focinho curto. Já o Spitz Padrão tem um focinho mais alongado e orelhas proporcionalmente maiores, lembrando mais uma raposa adulta do que um urso de pelúcia. Essa diferença evolutiva impacta diretamente na funcionalidade do cão.
Entender essa história ajuda você a compreender o comportamento do seu animal. O Spitz Padrão ainda carrega forte o instinto de alarme e guarda. O Anão também late para alertar, mas sua seleção foi focada na dependência humana e no companheirismo. Enquanto um Spitz Médio pode tranquilamente acompanhar você em uma caminhada de 5km, um Anão foi “desenhado” biologicamente para trajetos curtos e vida indoor, embora tenha energia de sobra.
Por que o termo Lulu da Pomerânia causa tanta dúvida
O nome “Lulu da Pomerânia” não existe tecnicamente nos livros de registro da confederação brasileira atual como uma raça separada, ele é apenas o apelido do Spitz Alemão Anão. A confusão acontece porque em países de língua inglesa, como os Estados Unidos, a raça é chamada de “Pomeranian” e é tratada de forma ligeiramente distinta do German Spitz. No Brasil, adotamos o padrão alemão, onde todos são a mesma família.
No dia a dia da clínica, uso o termo Lulu quando quero me referir especificamente ao fenótipo Anão com aquela pelagem exuberante e focinho curtinho. Mas é importante que você, como tutor, saiba que no pedigree do seu cão estará escrito “Spitz Alemão” e a variedade de tamanho. Muitos proprietários ficam frustrados quando o cão cresce e passa dos 24cm, deixando de ser um “Lulu” e virando um Spitz Pequeno.
Essa nomenclatura afeta até a precificação e a expectativa. O mercado valoriza o termo “Lulu” e o tamanho micro. Isso cria uma pressão perigosa para a criação de cães cada vez menores, fora até do padrão Anão, o que chamamos de “teacup”. Como veterinário, alerto sempre: quanto menor o cão e mais distante do padrão “rústico” do Spitz Médio, maiores são os desafios de saúde. O nome importa menos do que a constituição física saudável.
Anatomia clínica e diferenças estruturais visíveis
Osteologia craniana e o fechamento de fontanelas
Uma das diferenças mais marcantes que palpo no exame físico é o crânio. No Spitz Anão, devido à miniaturização, é muito comum encontrarmos a persistência da fontanela aberta, a famosa “moleira”. Isso ocorre porque o crânio cresce, mas os ossos não se fundem completamente no topo da cabeça. No Spitz Padrão (Pequeno ou Médio), isso é raríssimo. A estrutura craniana deles é sólida e totalmente ossificada desde cedo.
Essa característica do Anão exige que você tenha um cuidado extremo com traumas. Uma queda do sofá ou uma batida acidental na cabeça pode ser fatal para um Lulu com fontanela aberta, enquanto um Spitz Pequeno provavelmente sairia ileso. O formato do crânio também dita a saúde dental. O Anão tem uma mandíbula muito curta para a quantidade de dentes que possui, levando a apinhamento dentário severo.
Já o Spitz Padrão possui um focinho mais alongado e espaço suficiente para a dentição correta. Isso facilita a higiene e diminui a incidência de doença periodontal precoce. Visualmente, isso define a diferença entre a “cara de urso” (focinho curto e stop marcado do Anão) e a “cara de raposa” (focinho pontudo do Padrão). Clinicamente, prefiro a cara de raposa, pois traz menos complicações respiratórias e odontológicas.
Proporções de membros e angulação articular
Ao observar a marcha dos pacientes, noto diferenças biomecânicas claras. O Spitz Padrão tem uma ossatura mais robusta, com proporção de cálcio e massa óssea adequada para sustentar o corpo em atividades de impacto moderado. Suas pernas são retas e firmes. O Spitz Anão, por outro lado, possui ossos extremamente finos, muitas vezes comparados a “varetas de vidro” na radiologia.
A angulação das patas traseiras no Anão tende a ser menos eficiente, predispondo a problemas articulares que veremos adiante. Além disso, a proporção entre o corpo e as patas no Anão é mais quadrada e compacta. No Spitz Pequeno e Médio, vemos um animal ligeiramente mais retangular e com passadas mais largas e eficientes.
Para você, isso significa que não deve incentivar seu Spitz Anão a pular de móveis altos ou fazer agility de alto impacto sem acompanhamento profissional. O Spitz Padrão aguenta melhor essas brincadeiras. A fragilidade óssea do Anão é uma realidade clínica; atendo frequentemente fraturas de rádio e ulna (ossos da pata da frente) em Lulus apenas por terem pulado do colo do dono, algo que raramente acontece com o porte Pequeno ou Médio.
A qualidade e textura da pelagem dupla em cada porte
A pelagem é o cartão de visita da raça, mas ela varia. Ambos possuem pelagem dupla: o subpelo lanoso e denso e o pelo de cobertura longo e liso. No entanto, no Spitz Anão, a seleção genética buscou um subpelo tão denso que faz o pelo de cobertura ficar praticamente vertical, dando aquele aspecto de “pom-pom” redondo. A textura costuma ser mais algodonosa.
No Spitz Padrão, o pelo de cobertura tende a ser mais rústico, brilhante e assentado, embora ainda volumoso. O subpelo é presente, mas não necessariamente explode para fora como no Anão. Essa diferença de textura faz com que o Anão seja muito mais propenso a formar nós (embolar) se não for escovado diariamente. O pelo mais rústico do Padrão repele melhor a sujeira e embaraça menos.
Você deve considerar o tempo disponível para escovação. Um Lulu requer manutenção diária quase religiosa para manter a pele saudável e aerada. O Padrão permite um intervalo ligeiramente maior, embora também precise de cuidados frequentes. Dermatologicamente, a densidade excessiva do subpelo no Anão pode abafar a pele e favorecer fungos se a secagem pós-banho não for perfeita, feita com sopradores potentes.
Temperamento e comportamento no dia a dia
Limiar de reatividade e a síndrome do cão pequeno
O comportamento varia sutilmente com o tamanho. O Spitz Anão tende a ser mais reativo. Isso significa que ele reage mais rápido e intensamente a estímulos, como a campainha ou um barulho estranho. Clinicamente, associamos isso à insegurança natural de ser muito pequeno em um mundo de gigantes. Isso pode evoluir para a “síndrome do cão pequeno”, onde o animal se torna agressivo ou excessivamente vocalizador porque os tutores toleram comportamentos que não aceitariam em um cão maior.
O Spitz Padrão, especialmente o Médio, costuma ser mais seguro de si. Ele ainda é um cão de alarme, vai latir para avisar, mas tende a estabilizar mais rápido após o alerta. Eles possuem uma têmpera um pouco mais “dura”, herdada dos cães de fazenda. São menos propensos a pedir colo o tempo todo e podem ser mais independentes dentro de casa.
Você precisa impor limites desde cedo, independente do tamanho. Mas com o Anão, o cuidado para não infantilizar o animal deve ser redobrado. Vejo muitos Lulus que se tornam tiranos dentro de casa, mordendo os donos, porque foram tratados como bebês humanos e não como cães. O Spitz Padrão, por impor mais respeito físico, geralmente é educado de forma mais canina, o que paradoxalmente o torna mais equilibrado.
Nível de energia e necessidade de atividade
Não se engane pelo tamanho: o Spitz Alemão é uma raça ativa. Porém, a forma de gastar essa energia difere. O Spitz Anão tem picos de energia intensa (o famoso “zoomies”, correndo em círculos pela casa), mas se cansa relativamente rápido devido ao seu metabolismo acelerado e passadas curtas. Brincadeiras indoor e passeios curtos de 20 minutos costumam ser suficientes para saciá-los fisicamente.
O Spitz Padrão (Pequeno e Médio) tem uma resistência atlética superior. Eles aguentam caminhadas de 40 minutos a uma hora tranquilamente. Se você é uma pessoa que gosta de caminhar no parque ou fazer trilhas leves, o porte Padrão é o companheiro ideal. O Anão pode precisar de colo na metade do caminho. Se o Padrão não gastar essa energia, ele vai redirecioná-la para destruição de móveis ou latidos compulsivos.
Eu recomendo enriquecimento ambiental para ambos. Mas para o Anão, o foco deve ser mais mental do que físico exaustivo. Quebra-cabeças alimentares e treino de obediência cansam o Lulu muito bem. Para o Padrão, além do mental, o exercício aeróbico é fundamental para manter a musculatura e evitar o tédio.
Socialização e resposta a estímulos externos
A socialização é crítica para todos os Spitz, pois são naturalmente desconfiados com estranhos. No entanto, o Anão tende a ser mais defensivo. Por se sentir fisicamente vulnerável, ele pode latir incessantemente para outros cães na rua, numa tentativa de “parecer maior”. O medo pode se transformar em agressividade por medo rapidamente.
O Spitz Padrão costuma interagir melhor com outros cães, desde que bem socializado, pois não se sente tão ameaçado fisicamente. Eles brincam de forma mais bruta, usando as patas e o corpo, algo que o Anão evita para não se machucar. Se você tem crianças em casa, o Spitz Padrão é infinitamente mais indicado. Eles toleram melhor a manipulação um pouco mais desajeitada de uma criança do que o frágil Lulu.
Instruo meus clientes a expor o filhote a sons, pessoas e outros animais de forma controlada. Para o Anão, o cuidado é garantir que ele não seja “atropelado” por cães grandes, o que poderia gerar um trauma permanente. Para o Padrão, o foco é o controle da excitação e do latido de alerta. Ambos são extremamente inteligentes e aprendem rápido, mas também aprendem manias erradas com a mesma velocidade.
Principais desafios de saúde e predisposições genéticas
Fisiopatologia do colapso de traqueia no porte Anão
Este é talvez o problema que mais atendo em Lulus da Pomerânia. A traqueia é um tubo formado por anéis de cartilagem. No Spitz Anão, existe uma predisposição genética para que esses anéis sejam mais fracos e percam a rigidez, achatando-se quando o cão respira forte ou se excita. Isso causa a famosa “tosse de ganso” ou engasgos frequentes.
No Spitz Padrão, embora possa ocorrer, a incidência é significativamente menor porque as cartilagens são mais robustas e largas. A anatomia miniaturizada do pescoço do Anão comprime as estruturas. Fatores como obesidade e uso de coleiras de pescoço agravam o quadro drasticamente.
Por isso, prescrevo obrigatoriamente o uso de peitoral para qualquer Spitz Anão, desde filhote. Jamais use enforcador ou coleira de pescoço. No Spitz Padrão, a traqueia é mais resistente, mas a prevenção com peitoral também é bem-vinda. Se você notar que seu cão tosse quando bebe água ou quando você chega em casa, traga-o para avaliarmos o grau desse colapso.
Luxação de patela e ortopedia
A luxação de patela (quando o “joelho” sai do lugar) é o calcanhar de Aquiles dos Spitz. A patela deve deslizar num sulco no fêmur. Nos Spitz, especialmente nos Anões, esse sulco costuma ser raso demais (tróclea rasa). O grau varia de 1 (sai e volta sozinha) a 4 (fica travada fora do lugar). No Anão, a incidência de graus cirúrgicos (3 e 4) é maior devido ao desvio angular dos ossos da perna.
O Spitz Padrão também sofre com isso, mas a musculatura da coxa (quadríceps) costuma ser mais forte, o que ajuda a “segurar” a patela no lugar, mantendo-os muitas vezes em grau 1 ou 2 assintomáticos por mais tempo. No Anão, qualquer salto mal dado pode transformar uma predisposição em uma claudicação aguda (manqueira).
O manejo preventivo envolve manter o cão magro (menos peso sobre o joelho), pisos antiderrapantes em casa e exercícios de fortalecimento controlados. Tapetes higiênicos ou passadeiras emborrachadas não são luxo, são necessidade médica para quem tem Spitz em casa com piso de porcelanato ou madeira lisa.
Alopecia X e problemas dermatológicos
A Alopecia X, ou “Doença da Pele Negra”, é um mistério frustrante na dermatologia veterinária e afeta muito a família Spitz. O cão perde o pelo do tronco progressivamente, sobrando apenas na cabeça e patas, e a pele fica escurecida. Embora a causa exata não seja definida (provavelmente hormonal/genética), observamos uma incidência alta tanto no Anão quanto no Pequeno.
No entanto, a textura do pelo do Anão, por ser mais lanoso, tende a reter mais umidade e ser mais difícil de tratar em casos de dermatites fúngicas ou bacterianas secundárias. A pele do Spitz Padrão respira um pouco melhor. A castração pode ajudar em alguns casos de Alopecia X, mas não é garantia de cura.
Você deve estar atento a qualquer falha na pelagem. O tratamento é estético na maioria das vezes, pois o cão não sente dor ou coceira pela Alopecia X, mas a pele exposta precisa de proteção solar e hidratação. Evite tosas baixas (tosa boo) na máquina, pois isso pode desencadear a alopecia pós-tosa, onde o pelo simplesmente não cresce mais. Tesoura é a única ferramenta que deve tocar o pelo do seu Spitz.
Nutrição específica e metabolismo
Prevenção de crises hipoglicêmicas em filhotes Anões
O metabolismo do Spitz Anão é aceleradíssimo. Eles têm pouca reserva de glicogênio no fígado e pouca massa muscular. Isso significa que, se ficarem muitas horas sem comer, o açúcar no sangue cai drasticamente (hipoglicemia). O filhote fica molinho, com gengiva pálida, podendo ter convulsões e vir a óbito. Isso é uma emergência pediátrica comum na minha clínica.
Para o Spitz Padrão, essa preocupação é menor. Eles nascem maiores e com melhores reservas. Um filhote de Spitz Médio aguenta um intervalo entre refeições que seria perigoso para um Anão.
Você, tutor de um Lulu filhote, deve oferecer comida de 4 a 6 vezes ao dia. Às vezes prescrevo suplementos calóricos em pasta para ter em casa. Já com o Spitz Padrão, podemos seguir um protocolo alimentar mais convencional de 3 a 4 vezes ao dia sem tanto pânico. A nutrição do Anão nos primeiros 4 meses é um tratamento intensivo de suporte à vida.
Densidade calórica e manejo do peso no padrão
Enquanto o Anão luta contra a hipoglicemia na infância, o Spitz Padrão adulto luta contra a balança. Eles são gulosos e têm facilidade em ganhar peso se sedentários. A obesidade é devastadora para as articulações e traqueia dessa raça. Como o Padrão é mais robusto, os donos tendem a dar mais petiscos, achando que “ele aguenta”.
A ração para o Spitz Padrão deve ser focada em saciedade com controle calórico. Já para o Anão adulto, muitas vezes precisamos de rações com alta densidade energética, pois eles comem volumes minúsculos. É difícil nutrir um cão que come 30 gramas por dia se o alimento não for super premium e concentrado.
Monitorar o Escore de Condição Corporal (ECC) é vital. Você deve ser capaz de sentir as costelas do seu cão facilmente, mas não vê-las. Se você precisa apertar para sentir a costela do seu Spitz Padrão, ele está gordo e precisa de dieta urgente para proteger os joelhos.
Escolha da ração e suplementação articular
Independente do tamanho, a suplementação com condroitina e glicosamina, além de colágeno tipo II, é bem-vinda desde jovem para proteger as articulações. Porém, para o Spitz Anão, o grão da ração (kibble) precisa ser minúsculo. Grãos grandes dificultam a apreensão e podem causar engasgos.
Para o Spitz Padrão, grãos maiores ajudam na limpeza mecânica dos dentes durante a mastigação. O uso de nutracêuticos como Ômega 3 é essencial para manter aquela pelagem dupla saudável e reduzir a inflamação sistêmica da pele, que é comum na raça.
Eu costumo formular dietas ou indicar rações específicas para “Raças Pequenas e Mini” para o Anão, e “Raças Pequenas” (sem o mini) para o Padrão. Essa sutileza na escolha do pacote no pet shop faz diferença na biodisponibilidade dos nutrientes para cada tipo de metabolismo.
Cuidados na fase sênior e longevidade
A curva de envelhecimento e expectativa de vida
A boa notícia é que os Spitz são longevos. Um Spitz Anão vive facilmente entre 14 e 16 anos, e o Spitz Padrão pode chegar aos 15 ou 17 anos com saúde. Por serem cães pequenos, o envelhecimento é mais lento do que em raças grandes. No entanto, o Anão começa a mostrar sinais de fragilidade “mecânica” (dores articulares) um pouco antes.
Na fase geriátrica, a diferença de robustez se inverte. O Spitz Padrão, por ter uma estrutura melhor, costuma manter a mobilidade por mais tempo. O Anão, se teve luxação de patela a vida toda, chega na velhice com artroses severas que limitam o caminhar.
Prepare-se para cuidar de um idosinho por muito tempo. Check-ups semestrais a partir dos 7 anos são a regra de ouro. Exames de sangue completos e ultrassom abdominal nos ajudam a pegar problemas renais ou cardíacos no início, garantindo uma velhice tranquila.
Doença periodontal e suas consequências sistêmicas
A boca é o maior inimigo do Spitz idoso. Como mencionei, o apinhamento dentário no Anão é grave. Bactérias da boca caem na corrente sanguínea e se alojam nas válvulas do coração (endocardite) e nos rins. Vejo insuficiência renal em Lulus idosos causada puramente por anos de tártaro negligenciado.
O Spitz Padrão tem uma boca melhor, mas não é imune. A escovação deve ser mantida a vida toda. A diferença é que, no Anão, a limpeza de tártaro sob anestesia (profilaxia periodontal) costuma ser necessária mais cedo e com mais frequência ao longo da vida.
Não tenha medo da anestesia para limpar os dentes se o seu veterinário pedir exames prévios. O risco de deixar uma boca podre é muito maior para o coração do seu cão do que o risco anestésico controlado.
Alterações cognitivas e comportamentais na velhice
A Síndrome da Disfunção Cognitiva (o “Alzheimer canino”) afeta ambas as variedades. O cão começa a trocar o dia pela noite, fazer xixi no lugar errado e ficar “preso” em cantos da casa. No Spitz, percebo que a perda da visão (catarata ou atrofia de retina) e audição exacerba a insegurança.
O Spitz Anão idoso torna-se extremamente dependente e pode sofrer muito com ansiedade de separação, mesmo que não tivesse isso quando jovem. O Padrão pode ficar mais rabugento e intolerante ao toque.
O uso de antioxidantes e dietas ricas em triglicerídeos de cadeia média (TCM) ajuda a proteger o cérebro. Paciência e adaptação do ambiente (evitar mudar móveis de lugar) são essenciais para dar conforto mental ao seu velhinho.
Quadro Comparativo: Spitz Anão vs. Padrão vs. Volpino Italiano
Para te ajudar a visualizar melhor onde seu cão ou seu futuro cão se encaixa, preparei este comparativo. Incluí o Volpino Italiano, que é uma raça “prima”, visualmente muito parecida e frequentemente confundida com o Spitz, para servir de parâmetro de mercado.
| Característica | Spitz Alemão Anão (Lulu) | Spitz Alemão Pequeno/Médio (Padrão) | Volpino Italiano (Similar) |
| Peso Ideal | 1,9 kg a 3,5 kg | 4 kg a 10 kg (varia Peq/Med) | 4 kg a 5,5 kg |
| Altura (Cernelha) | 18 cm a 24 cm | 27 cm a 38 cm | 25 cm a 30 cm |
| Formato do Crânio | Curto, stop marcado, “baby face” | Mais alongado, tipo raposa | Similar ao Spitz Pequeno |
| Nível de Energia | Explosiva, mas curta duração | Alta resistência e vigor | Alta, muito ativo e vigilante |
| Fragilidade Óssea | Alta (risco de fraturas e fontanela) | Baixa (estrutura robusta) | Média/Baixa |
| Tendência a Latidos | Altíssima (alerta e insegurança) | Alta (alerta territorial) | Altíssima (excelente guarda) |
| Cuidados Pelagem | Intensivos (nós frequentes) | Moderados (escovação semanal) | Moderados (pelo mais rústico) |
Espero que essa análise aprofundada tenha esclarecido as reais diferenças entre esses cães maravilhosos. Ter um Spitz, seja ele Anão ou Padrão, é ter um companheiro leal, inteligente e cheio de personalidade. A chave para uma vida longa e feliz está em respeitar a biologia de cada tamanho e oferecer o manejo preventivo adequado. Cuide bem do seu pequeno lobo!


