Sarna Demodécica (Sarna Negra)
Sarna Demodécica (Sarna Negra)

Sarna Demodécica (Sarna Negra)

Sarna Demodécica (Sarna Negra): A Verdade Sobre o Controle e a Cura

Receber o diagnóstico de sarna demodécica, popularmente conhecida como sarna negra, costuma gerar um misto de medo e confusão em muitos tutores que atendo diariamente no consultório. Você provavelmente já ouviu histórias assustadoras sobre cães que nunca saram, tratamentos agressivos ou pele escurecida permanentemente. A boa notícia é que a medicina veterinária evoluiu absurdamente nos últimos anos e o cenário hoje é muito mais positivo do que era há uma década.

Esqueça as receitas antigas de óleo queimado ou banhos tóxicos que deixavam o animal prostrado. Hoje temos protocolos seguros e extremamente eficazes que devolvem a qualidade de vida ao seu melhor amigo em poucas semanas. O segredo para o sucesso não está apenas no remédio que você compra, mas no entendimento de como essa doença funciona e como o sistema imunológico do seu cão é a chave de tudo.

Vamos conversar de forma franca e direta sobre o que você precisa fazer agora. Não se trata apenas de matar um ácaro, mas de entender o corpo do seu cachorro e porque ele permitiu que esse parasita se multiplicasse. Preparei este guia completo para você sair daqui sem dúvidas e pronto para agir.

Entendendo o Inimigo: O Ácaro Demodex canis

Um habitante natural da pele

Você pode ficar surpreso ao saber que o ácaro causador dessa sarna, o Demodex canis, provavelmente já vive na pele de muitos cães saudáveis, inclusive naqueles que nunca apresentaram um único sinal de coceira. Ele é um habitante comensal da microbiota cutânea canina, residindo profundamente nos folículos pilosos e nas glândulas sebáceas, alimentando-se de sebo e detritos celulares. Em condições normais, o sistema imunológico do cão mantém a população desses ácaros sob rigoroso controle, impedindo que eles causem qualquer problema.

A doença, portanto, não acontece simplesmente porque o cão “pegou” o ácaro, mas sim porque o organismo dele perdeu a capacidade de limitar a reprodução desse parasita. Quando ocorre uma falha na imunidade celular específica, o Demodex vê uma oportunidade para se multiplicar desenfreadamente. Imagine um condomínio onde os moradores vivem em harmonia até que a segurança falha e a superpopulação causa o caos; é exatamente isso que acontece na pele do seu pet.

Por isso, costumo dizer aos meus clientes que a sarna demodécica é mais uma doença imunológica com manifestação dermatológica do que puramente uma doença parasitária. Entender isso muda completamente a forma como encaramos o tratamento. Não adianta apenas bombardear o cachorro com veneno se não entendermos o motivo pelo qual as defesas naturais dele baixaram a guarda.

O fator genético e hereditário

A genética desempenha um papel fundamental e cruel nesta patologia. Existe uma predisposição hereditária clara, onde pais que tiveram sarna demodécica, especialmente na forma generalizada, tendem a passar para seus filhotes uma deficiência específica nos linfócitos T, que são as células de defesa responsáveis por combater esse ácaro. É por essa razão que cães diagnosticados com a forma generalizada da doença devem ser castrados e retirados da reprodução.

Se você comprou ou adotou um filhote e ele manifestou a sarna logo nos primeiros meses de vida, é muito provável que ele tenha herdado essa condição da mãe ou do pai. Não é culpa do canil, do ambiente ou da ração que você deu na primeira semana. É uma característica intrínseca do DNA dele que se manifestou assim que o sistema imune imaturo foi desafiado.

Raças como Bulldog Francês, Pug, Shih Tzu, Pitbull e American Bully parecem ter uma incidência muito maior dessa falha genética. No entanto, qualquer cão, de qualquer raça ou sem raça definida, pode carregar esse gene. Saber disso é libertador porque tira a culpa dos seus ombros: você não fez nada de errado para seu cão ficar doente, é uma questão de loteria genética.

Por que a chamamos de Sarna Negra

O termo “sarna negra” assusta, mas ele é apenas uma descrição visual do que acontece em casos crônicos e não tratados adequadamente. Quando a inflamação na pele persiste por muito tempo, ocorre um processo chamado hiperpigmentação pós-inflamatória. A pele, agredida constantemente pela multiplicação dos ácaros e pela infecção bacteriana que vem a reboque, começa a escurecer, adquirindo um tom cinza-azulado ou negro.

Além da mudança de cor, a pele perde o pelo (alopecia) e pode ficar espessa, com uma textura grossa que lembramos de chamar de “pele de elefante” ou liquenificação. Esse aspecto visual é o estágio final de uma pele que está pedindo socorro há muito tempo. Muitas vezes, o ferimento sangra, forma crostas e exala um odor forte e característico, que é, na verdade, cheiro de infecção bacteriana secundária, e não da sarna em si.

É importante que você saiba que o termo “sarna negra” é popular e não técnico. No consultório, preferimos usar Demodicose ou Sarna Demodécica. O nome popular carrega um estigma de “doença incurável” ou “doença de cachorro de rua”, o que não é verdade. Cães de exposição, muito bem cuidados, podem desenvolver a forma grave se tiverem a predisposição genética.

Identificando os Sinais no Seu Pet

Diferenças entre localizada e generalizada

Saber distinguir a forma localizada da generalizada é o primeiro passo para definir a gravidade do problema. A sarna demodécica localizada geralmente aparece em cães jovens, com menos de um ano, e se manifesta como pequenas falhas no pelo, geralmente arredondadas. Você vai notar essas “clareiras” principalmente ao redor dos olhos (dando um aspecto de óculos), no focinho ou nas patinhas dianteiras. Muitas vezes, nem coça e pode até regredir sozinha conforme o cão amadurece.

Já a forma generalizada é o quadro que realmente nos preocupa e exige intervenção rápida. Consideramos generalizada quando há mais de cinco lesões espalhadas pelo corpo, ou quando uma região inteira do corpo (como toda a face ou todo o tronco) está acometida. Também se enquadra aqui a pododermatite demodécica, que é quando a sarna afeta as patas, causando inchaço e dor intensa entre os dedos.

A transição de localizada para generalizada pode acontecer rápido se a imunidade do animal cair ou se usarmos medicamentos errados, como corticoides, que suprimem ainda mais a defesa do cão. Por isso, ao ver a primeira falha de pelo, o monitoramento deve ser constante. Não espere “ver se melhora” se as lesões começarem a se espalhar.

As lesões características e a “pele de elefante”

No início, as lesões podem parecer inofensivas, apenas uma pele levemente avermelhada (eritema) e com descamação, parecendo uma caspa seca. Com a evolução, os folículos pilosos ficam entupidos com milhares de ácaros, detritos e oleosidade, formando o que chamamos de comedões — cravos pretos visíveis na pele do cachorro. Se você passar a mão, sentirá a pele áspera e irregular.

Conforme a doença avança sem tratamento eficaz, a pele tenta se proteger engrossando. É aí que surge a liquenificação ou a tal “pele de elefante”. A pele perde a elasticidade, dobra-se sobre si mesma e cria um ambiente perfeito para bactérias e fungos se esconderem. O pelo cai quase totalmente nas áreas afetadas, deixando o animal exposto.

Esse processo é doloroso. Embora a sarna demodécica pura não cause coceira intensa (ao contrário da sarna sarcóptica), a inflamação e as infecções secundárias geram um desconforto enorme. O cão pode lamber as patas compulsivamente ou esfregar o rosto no chão e nos móveis para tentar aliviar a sensação de repuxamento e ardor na pele espessada.

O perigo das infecções bacterianas secundárias

O ácaro Demodex abre as portas, mas quem muitas vezes faz o maior estrago são as bactérias. A pele lesionada perde sua barreira de proteção natural, permitindo a entrada de Staphylococcus e outras bactérias oportunistas. Isso gera a piodermite profunda, uma infecção com pus, sangue e crostas amareladas que cobrem o corpo do animal.

Nesse estágio, o cão pode ter febre, parar de comer e ficar letárgico. Os linfonodos (ínguas) aumentam de tamanho reagindo à infecção. Muitos tutores acham que o cão está triste por causa da sarna, mas na verdade ele está prostrado devido à infecção sistêmica que está ocorrendo na pele. O tratamento, portanto, nunca é apenas matar o ácaro; precisamos muitas vezes tratar a infecção bacteriana simultaneamente.

A presença de piodermite muda o prognóstico e o tempo de recuperação. Enquanto matar o ácaro é relativamente rápido com os remédios modernos, recuperar uma pele profundamente infeccionada e cicatrizar as feridas pode levar meses. Você precisará de paciência e disciplina para administrar antibióticos (se prescritos) e realizar a terapia tópica com shampoos antissépticos.

O Caminho para o Diagnóstico Correto

O temido raspado de pele profundo

Para confirmar a sarna demodécica, não basta olhar. Muitas doenças de pele, como fungos, alergias ou hipotireoidismo, têm sintomas visuais idênticos. O exame padrão-ouro é o raspado cutâneo profundo. O veterinário vai usar uma lâmina de bisturi cega e raspar a pele do seu cão até ocorrer um leve sangramento capilar.

Pode parecer bárbaro para quem assiste, e eu sei que os tutores sofrem junto, mas é necessário. O Demodex vive lá no fundo, na raiz do pelo. Se rasparmos superficialmente, não vamos encontrá-lo e teremos um falso negativo. Precisamos apertar a pele para expor o conteúdo do folículo e coletar esse material para análise microscópica.

No microscópio, a imagem é inconfundível. Vemos o ácaro em formato de charuto, com suas patinhas curtas, muitas vezes se movendo. A quantidade de ácaros e a presença de formas jovens (ovos e larvas) nos dizem se a doença está ativa e se multiplicando. Encontrar um único ácaro morto em um cão adulto pode não significar doença, mas encontrar vários vivos confirma o diagnóstico.

Tricograma e exames complementares

Em regiões onde o raspado é muito perigoso ou doloroso, como ao redor dos olhos ou nas patas muito inflamadas, podemos usar o tricograma. Essa técnica consiste em arrancar um tufo de pelos com uma pinça, puxando desde a raiz, e colocar no microscópio. Como o ácaro vive no folículo, muitas vezes ele vem “agarrado” na raiz do pelo arrancado.

O tricograma é menos invasivo, mas pode ser menos sensível que o raspado. Se der negativo, não exclui totalmente a doença. Outra opção, em casos muito difíceis ou em raças como o Shar-pei (que tem a pele muito grossa), é a biópsia de pele, onde um pedacinho do tecido é removido sob sedação e enviado para um patologista.

Além de achar o ácaro, precisamos investigar a saúde geral do cão. Um hemograma completo é vital para ver se há anemia ou sinais de infecção grave. Bioquímicos para checar fígado e rins também são importantes, especialmente antes de iniciar medicações orais potentes. O diagnóstico dermatológico é um quebra-cabeça completo.

Importância de investigar a imunidade

Se o seu cão é adulto ou idoso e desenvolveu sarna demodécica do nada, acenda o sinal de alerta vermelho. Adultos não costumam ter essa doença a menos que algo esteja suprimindo a imunidade deles. Pode ser uma doença hormonal como Hipotireoidismo ou Síndrome de Cushing, pode ser Leishmaniose, ou até mesmo um tumor silencioso.

Nesses casos, tratar a sarna é apenas apagar o incêndio, mas o foco do fogo continua lá. O veterinário vai sugerir exames hormonais e sorologias. Não pule essa etapa achando que é “gasto desnecessário”. Se não tratarmos a doença de base, a sarna vai voltar, e cada vez mais forte.

Para filhotes, a causa da baixa imunidade geralmente é a própria imaturidade do sistema, verminoses intestinais, estresse do desmame ou má nutrição. Corrigindo esses fatores, o sistema imune assume o controle. Mas no adulto, a investigação deve ser minuciosa e detalhada até encontrarmos o gatilho da imunossupressão.

A Grande Dúvida: Cura definitiva ou controle eterno?

A remissão na forma juvenil

Quando falamos de cães jovens com a forma localizada, a palavra “cura” é muito real. Cerca de 90% desses casos se resolvem sozinhos ou com tratamento mínimo, e o animal nunca mais apresenta o problema na vida adulta. O sistema imune amadurece, “aprende” a controlar o ácaro e a vida segue normal.

Mesmo na forma generalizada juvenil, se tratada corretamente e se o cão for castrado (para evitar o estresse hormonal), as chances de cura definitiva são altíssimas. O animal vive uma vida longa e saudável sem precisar de remédios eternos para a sarna. Consideramos o animal curado após 12 meses sem recidivas confirmadas por exames negativos.

Por isso, não se desespere achando que seu filhote está condenado. Com as novas terapias, a taxa de sucesso beira os 100% na recuperação clínica. O importante é agir rápido e não deixar a pele sofrer danos irreversíveis por infecções crônicas.

O manejo da forma adulta crônica

Para cães que desenvolvem a doença já adultos ou que têm uma falha genética muito grave, o termo “cura” deve ser usado com cautela. Preferimos falar em “controle bem-sucedido” ou “cura clínica”. Isso significa que o animal não tem sintomas, tem pelo bonito, pele saudável, mas o defeito genético na imunidade continua lá.

Se esse animal passar por um estresse severo, usar corticoides ou ficar doente de outra coisa, a sarna pode tentar voltar. Para esses pacientes, o acompanhamento é para a vida toda. Pode ser necessário manter o antiparasitário de forma preventiva regular, sem falhar um único dia no calendário de doses.

Isso não é uma sentença de sofrimento. Um cão “controlado” é visualmente idêntico a um cão “curado”. Ele brinca, corre e é feliz. A única diferença é a vigilância constante do tutor e a manutenção de um protocolo preventivo rigoroso. Aceitar o controle como meta é o primeiro passo para a paz de espírito.

O conceito de cura clínica versus cura parasitológica

É crucial que você entenda essa diferença para não parar o tratamento antes da hora. A cura clínica acontece quando o pelo cresce e as feridas somem. O cachorro parece ótimo. Mas isso não significa que todos os ácaros morreram. Eles podem estar lá, em menor número, prontos para atacar de novo.

cura parasitológica só é confirmada quando fazemos raspados de pele mensais e obtemos resultados negativos consecutivos (geralmente dois ou três meses seguidos sem achar nenhum ácaro vivo). Só então o veterinário dará alta do tratamento intensivo.

O maior erro que vejo tutores cometerem é suspender a medicação assim que o pelo volta a crescer. Isso gera resistência e recidivas frustrantes. O tratamento deve continuar por pelo menos 30 a 60 dias após o primeiro raspado negativo. Confie no exame, não apenas nos seus olhos.

Tratamentos modernos e eficácia

O fim dos banhos tóxicos com amitraz

Antigamente, tratar sarna negra era sinônimo de sofrimento. Usávamos banhos com amitraz, um veneno potente que causava sonolência, queda de pressão e até risco de morte para cães sensíveis e para os próprios donos que aplicavam o produto. O cheiro era insuportável e o processo estressante.

Felizmente, essa era acabou. O amitraz hoje é considerado obsoleto para tratamento de sarna demodécica na maioria dos protocolos modernos. Não há motivo para submeter seu animal a banhos químicos semanais agressivos quando temos opções orais infinitamente mais seguras e eficazes. Se alguém te recomendar “banho de veneno” como primeira opção, procure uma segunda opinião atualizada.

Os banhos que indicamos hoje são terapêuticos, usando shampoos com peróxido de benzoíla ou clorexidina. O objetivo não é matar o ácaro com o shampoo, mas sim limpar os folículos, remover as crostas e tratar as bactérias. É um tratamento de suporte para a pele, enquanto a medicação oral faz o trabalho pesado contra o parasita.

Como funcionam os comprimidos mastigáveis

A grande revolução na dermatologia veterinária veio com as Isoxazolinas (nomes comerciais como Bravecto, Simparic, Nexgard, Credelio). Esses comprimidos, originalmente criados para pulgas e carrapatos, mostraram-se fulminantes contra o Demodex canis. Eles agem bloqueando os canais de cloro e os receptores GABA do sistema nervoso do ácaro, causando paralisia e morte do parasita.

A eficácia é impressionante. Estudos mostram que uma única dose pode eliminar quase 100% dos ácaros em poucas semanas. Como o medicamento fica na corrente sanguínea e nos fluidos teciduais, o ácaro ingere a droga ao se alimentar e morre rapidamente, antes de conseguir se reproduzir.

A comodidade é inigualável. Você dá um petisco saboroso para o cão e ele está protegido por 30 a 90 dias, dependendo da marca. Não há sujeira, não há cheiro e o risco de intoxicação é baixíssimo quando comparado aos tratamentos antigos. É a primeira escolha de tratamento em consensos veterinários mundiais.

Segurança e eficácia comparada

Para você visualizar melhor a diferença entre o que usávamos no passado e o que temos hoje, preparei este quadro comparativo. A escolha fica clara quando colocamos os dados lado a lado.

CaracterísticaIsoxazolinas (Simparic, Bravecto, etc.)Amitraz (Banhos Carrapaticidas)Ivermectina Injetável (Uso oral diário)
EficáciaAltíssima (>99%)Moderada a Alta (exige técnica perfeita)Alta (mas lenta)
SegurançaAlta (aprovado para a maioria dos cães)Baixa (tóxico, sedativo, risco para diabéticos)Risco grave de neurotoxicidade em Collies e Pastores
AdministraçãoOral (Comprimido saboroso)Banhos semanais trabalhososOral diária (gosto ruim) por meses
Tempo de RespostaRápido (melhora em semanas)Lento (melhora em meses)Médio (melhora gradual)
Efeitos ColateraisRaros (vômito leve pode ocorrer)Comuns (apatia, coceira, intoxicação)Comuns (ataxia, cegueira em overdose)

Blindando a Imunidade do Seu Cachorro

Nutrição como primeira linha de defesa

Você é o que você come, e com seu cachorro não é diferente. A pele é o maior órgão do corpo e consome uma quantidade enorme de nutrientes para se renovar. Um cão com sarna demodécica precisa de uma ração Super Premium de alta digestibilidade. Proteínas de baixa qualidade não fornecem os aminoácidos necessários para reparar o tecido lesionado.

Busque alimentos ricos em Ácidos Graxos Ômega 3 e 6. O Ômega 3, especificamente, é um potente anti-inflamatório natural que ajuda a reduzir a vermelhidão e a coceira. Algumas rações terapêuticas para pele (chamadas de Dermato ou Skin Support) já vêm com níveis elevados desses nutrientes e são ótimas coadjuvantes no tratamento.

Evite dar restos de comida caseira temperada ou petiscos de baixa qualidade durante o tratamento. O intestino do cão é o principal órgão imunológico dele. Se o intestino estiver inflamado por má alimentação, a imunidade da pele cai. Mantenha a dieta limpa e focada na recuperação.

O papel do estresse e do ambiente

O estresse libera cortisol, e o cortisol é o “melhor amigo” do ácaro Demodex porque ele desliga o sistema imunológico. Um ambiente caótico, brigas constantes com outros cães, falta de passeio ou isolamento social podem impedir a cura do seu animal. Já vi casos onde o remédio estava certo, mas o cão vivia acorrentado ou estressado, e a sarna não ia embora.

Enriqueça o ambiente do seu cão. Brinquedos, passeios (nos horários mais frescos se a pele estiver muito ferida) e atenção são fundamentais. Se a fêmea entrar no cio, o estresse hormonal pode desencadear uma crise; por isso a castração é tão enfatizada.

O ambiente físico também importa. Troque a caminha do cachorro regularmente e lave com água quente. Embora o ácaro morra rápido fora do cão, a higiene ajuda a controlar as bactérias e fungos que estão no ambiente e podem reinfectar a pele fragilizada.

Suplementação e cuidados contínuos

Além da boa ração, podemos usar “armas extras”. Suplementos à base de Beta-glucanas, extrato de equinácea e vitaminas A, E e Zinco ajudam a modular a resposta imune. Probióticos também são excelentes para fortalecer a barreira intestinal e, consequentemente, a imunidade geral.

Mas atenção: não saia comprando vitaminas sem prescrição. O excesso de vitaminas pode ser tóxico. A suplementação deve ser personalizada pelo veterinário de acordo com o peso e a necessidade do seu cão. O objetivo é dar ao corpo dele tijolos extras para reconstruir a muralha de defesa.

Banhos hidratantes semanais com produtos que contenham fitoesfingosina ou ceramidas ajudam a restaurar a barreira cutânea. A pele com sarna é seca e quebradiça; hidratá-la ajuda a aliviar o desconforto e acelera a volta do pelo.

Derrubando Mitos sobre a Transmissão

Posso pegar sarna do meu cachorro?

Essa é a pergunta campeã no consultório. Pode respirar aliviado: Não, você não pega sarna negra do seu cachorro. O Demodex canis é específico da espécie canina. Ele adora folículos de cachorro e não sobrevive na pele humana.

Você pode abraçar, beijar e cuidar do seu pet sem medo de contágio. A única sarna que passa para humanos é a Escabiose (Sarna Sarcóptica), que é causada por outro ácaro totalmente diferente. A sarna negra é um problema exclusivo do cão e sua genética.

Isso é importante saber para evitar o isolamento cruel do animal. Muitos cães são trancados no fundo do quintal porque a família tem medo de pegar a doença. Isso só aumenta a tristeza e o estresse do animal, piorando o quadro. Traga-o para perto; ele precisa do seu carinho agora mais do que nunca.

O convívio com outros cães é seguro?

Aqui a resposta tem um “depende”, mas geralmente é sim. A transmissão do ácaro acontece quase que exclusivamente da mãe para o filhote nos primeiros 2 ou 3 dias de vida, durante a amamentação. É um contato íntimo e prolongado.

Entre cães adultos, a transmissão é extremamente rara e, mesmo que um cão passe o ácaro para o outro, se o segundo cão for saudável e não tiver a predisposição genética, o sistema imune dele matará o ácaro imediatamente. A doença não vai se desenvolver.

Portanto, não é necessário isolar o cão doente dos outros cães da casa, a menos que haja brigas ou se as feridas estiverem muito infeccionadas (para evitar que os outros lambam as feridas e peguem as bactérias). A sarna em si não é uma epidemia contagiosa como um vírus da gripe.

A castração é realmente necessária?

Sim, e não é apenas um capricho veterinário. A castração é parte do tratamento e do controle ético da doença. Primeiro, porque fêmeas com sarna costumam ter recidivas violentas quando entram no cio, devido às flutuações hormonais. Castrar estabiliza os hormônios e ajuda a manter a imunidade constante.

Segundo, e mais importante: cães com sarna demodécica generalizada não devem cruzar. Eles transmitem a genética defeituosa para os filhotes, perpetuando o sofrimento para as próximas gerações. Reproduzir um cão que teve sarna generalizada é condenar os filhotes a passarem pelo mesmo problema.

Se você ama a raça do seu cão, a melhor forma de preservá-la é tirando da reprodução os exemplares que carregam genes de doenças graves. A castração é um ato de amor e responsabilidade com o futuro da linhagem e com a saúde do seu próprio animal.


Você agora tem o conhecimento necessário para enfrentar a sarna demodécica de frente. Não é uma sentença de morte, nem um bicho de sete cabeças. Com as medicações corretas, boa comida e paciência, a pele do seu cão vai voltar a ser linda e saudável. Confie no processo e no seu veterinário. O resultado final vale cada dia de dedicação.

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