Sarna de ouvido em gatos (Ácaros): Como identificar e tratar
Você já notou o seu gato coçando a orelha com uma insistência fora do comum ou sacudindo a cabeça como se algo estivesse incomodando lá dentro? Se a resposta for sim, precisamos conversar sério sobre um vilão microscópico que tira o sono de muitos felinos e de seus tutores: a sarna otodésca, popularmente chamada de sarna de ouvido.
No meu consultório, essa é uma das queixas mais frequentes na dermatologia felina. Muitos tutores chegam achando que é apenas uma “sujeirinha” acumulada, mas, na verdade, estamos lidando com uma infestação parasitária que exige tratamento correto. A boa notícia é que, com a informação certa e ação rápida, conseguimos resolver esse problema e devolver a paz ao seu companheiro de quatro patas.
Neste artigo, vou guiar você por tudo o que precisa saber, sem “vetsquês” complicado. Vamos entender quem são esses invasores, como eles agem e, o mais importante, como livrar seu gatinho desse incômodo de forma definitiva e segura. Prepare-se para se tornar um expert na saúde auricular do seu pet.
O que é a sarna otodésca: Conhecendo o inimigo
O agente causador (Otodectes cynotis)
Quando falamos de sarna de ouvido, estamos falando especificamente de um ácaro chamado Otodectes cynotis. Diferente dos ácaros que causam sarna na pele do corpo e cavam túneis (como a sarna sarcóptica), este parasita prefere viver na superfície da pele, confortavelmente instalado dentro do canal auditivo do seu gato. Ele é um parasita cosmopolita, ou seja, está presente em todo o mundo e não escolhe raça ou idade, embora filhotes sejam frequentemente mais afetados devido à imunidade ainda em desenvolvimento.
Esses ácaros são minúsculos, quase invisíveis a olho nu — parecem pequenos pontos brancos móveis se você tiver uma visão de águia, mas geralmente só os vemos com clareza sob a luz do otoscópio ou no microscópio. Eles se alimentam de detritos epidérmicos (restos de pele) e fluidos teciduais. É essa “mordiscada” constante na pele sensível do ouvido que causa a inflamação e a coceira insuportável que deixa seu gato estressado.
É fundamental entender que o Otodectes não é um sinal de falta de higiene da sua casa. Ele é um parasita altamente contagioso que pode vir de outros animais, de um passeio rápido no jardim ou até mesmo ter sido herdado da mãe durante a amamentação. Portanto, não se culpe; o foco agora deve ser entender o organismo para combatê-lo com eficácia.
Por que os gatos são alvos frequentes
Os gatos são caçadores por natureza e possuem um canal auditivo profundo e verticalizado, o que cria um ambiente perfeito para esses ácaros: é quente, úmido e protegido da luz. Para um ácaro, o ouvido do seu gato é como um resort de luxo com buffet livre. Além disso, o hábito dos felinos de se esfregarem uns nos outros ou dormirem juntos facilita muito a migração desses parasitas de um hospedeiro para outro.
Outro fator que torna os gatos alvos frequentes é o comportamento de limpeza (grooming). Embora sejam animais limpíssimos, eles não conseguem limpar dentro do próprio ouvido. A anatomia auricular em forma de “L” impede que a língua ou a pata alcancem o fundo do canal onde os ácaros fazem a festa. Isso permite que a colônia de parasitas cresça sem ser perturbada até que os sintomas se tornem óbvios para você.
Também observo na clínica que gatos com acesso à rua estão exponencialmente mais expostos. O contato com gatos da vizinhança, que podem ser portadores assintomáticos (têm o ácaro mas não mostram muita coceira), funciona como um vetor constante de reinfestação. Mesmo gatos de apartamento não estão 100% livres, pois, se você tiver um cão que passeia, ele pode trazer o “presente” para dentro de casa.
Diferença entre sarna e sujeira comum
Muitos tutores confundem a sarna com o acúmulo natural de cerúmen. É importante você saber diferenciar: o cerúmen fisiológico (normal) de um gato costuma ser escasso e ter uma coloração amarelada ou levemente amarronzada, sem cheiro forte. O ouvido de um gato saudável é, na maior parte do tempo, limpo e rosa pálido.
Já a “sujeira” provocada pela sarna otodésca tem uma característica muito específica. Devido à mistura de sangue coagulado, restos de ácaros, ovos e cera produzida em excesso como defesa, a secreção se parece muito com borra de café. É uma cera escura, seca e granulosa. Se você olhar dentro da orelha do seu gato e vir algo que lembra terra preta ou café moído, o sinal de alerta deve acender imediatamente.
Além da aparência, a “sujeira” da sarna vem acompanhada de vermelhidão (eritema) na parte interna da orelha. A sujeira comum não deixa a orelha vermelha nem quente. Portanto, se houver combinação de cera escura com inflamação, não tente apenas limpar com um cotonete em casa; você pode estar empurrando os ácaros mais para o fundo e mascarando um problema que precisa de medicação.
Sinais de alerta: O que observar no seu felino
A coceira incessante e o reflexo podal
O sintoma clássico, aquele que não deixa dúvidas de que algo está errado, é o prurido intenso. Você vai notar que seu gato para o que está fazendo — seja comendo, brincando ou dormindo — para coçar a orelha com as patas traseiras. A coceira é tão frenética que muitas vezes eles gemem ou fazem barulhos de irritação enquanto se coçam.
Existe um teste prático que fazemos no consultório chamado “reflexo otopodal”. Quando manipulamos a base da orelha do gato para examinar, a coceira é ativada e o gato começa a mexer a patinha traseira involuntariamente, como se quisesse coçar o ar. Se você acariciar a orelha do seu gato e ele responder batendo a pata traseira no chão ou tentando coçar, a probabilidade de sarna é altíssima.
Não ignore se o seu gato começar a esfregar a cabeça e as orelhas em móveis, tapetes ou até nas suas pernas com mais força que o habitual. Eles estão desesperados buscando alívio para a sensação de que algo está “andando” dentro do ouvido. Esse atrito constante pode ferir a pele externa e causar perda de pelos na base da orelha e acima dos olhos.
A aparência da cera (borra de café)
Como mencionei antes, o aspecto da secreção é um grande indicativo. Mas vamos aprofundar: essa cera preta e seca não aparece do dia para a noite. Ela é o resultado de dias ou semanas de atividade parasitária. No início, você pode ver apenas pequenos pontos pretos, mas, com a evolução do ciclo do ácaro, o canal auditivo pode ficar completamente obstruído por essa massa escura.
O cheiro também muda. Um ouvido infestado por ácaros geralmente tem um odor forte, meio adocicado e desagradável, diferente do cheiro neutro de um ouvido saudável. Isso acontece porque a presença dos ácaros altera a microflora do ouvido, favorecendo o crescimento de bactérias e fungos oportunistas que aproveitam a inflamação para se proliferar.
Ao tentar limpar essa cera em casa, você pode notar que ela é grudenta ou que se desfaz como areia. Se sair sangue durante a limpeza superficial, pare imediatamente. Isso indica que a pele do canal está ulcerada e dolorida. A persistência dessa cera, mesmo após limpezas caseiras, é o maior indicativo de que o problema é sarna e não falta de higiene.
Mudanças de comportamento e feridas
A dor e o incômodo constante podem mudar a personalidade do seu gato. Um animal que antes era carinhoso pode ficar arisco se você tentar tocar na cabeça dele. Alguns gatos ficam mais retraídos, escondendo-se embaixo de móveis, enquanto outros podem ficar irritadiços e até agressivos devido ao estresse crônico da coceira que nunca passa.
Outro sinal visual claro são as escoriações na parte de trás da orelha e no pescoço. De tanto se coçar com as unhas afiadas das patas traseiras, o gato acaba se cortando. É comum vermos gatos com a região ao redor das orelhas sem pelos (alopecia traumática) e cheia de casquinhas de feridas que ele mesmo provocou.
Em casos mais severos, o gato pode andar com a cabeça inclinada para o lado afetado (embora a sarna geralmente acometa os dois ouvidos, um pode estar pior que o outro). Se você notar desequilíbrio ou a cabeça torta, o ácaro pode ter causado uma infecção que atingiu o ouvido médio, e isso é uma emergência veterinária.
O Ciclo de Vida do Ácaro: Entendendo a persistência
Dos ovos à fase adulta
Para vencer a batalha contra a sarna, você precisa entender como o inimigo se reproduz. O ciclo de vida do Otodectes cynotis dura cerca de 21 dias (3 semanas). Tudo começa quando a fêmea adulta põe ovos na superfície do canal auditivo. Esses ovos são extremamente resistentes e aderem à pele com uma substância “colante”.
Após alguns dias, os ovos eclodem e liberam larvas de seis patas. Essas larvas se alimentam vorazmente por alguns dias e se transformam em ninfas (estágios intermediários), que já possuem oito patas. As ninfas passam por duas fases (protoninfa e deutoninfa) antes de finalmente se tornarem adultos sexualmente maduros, prontos para acasalar e reiniciar o ciclo.
O ácaro adulto vive cerca de dois meses no ouvido do seu gato, reproduzindo-se continuamente. Imagine que, enquanto tratamos os adultos, novos ovos estão eclodindo todos os dias. É uma verdadeira fábrica de parasitas operando 24 horas por dia dentro da orelha do seu pet, o que explica por que uma única aplicação de remédio às vezes não resolve.
Por que o tratamento único pode falhar
Esse é o ponto onde muitos tutores erram. Aplicam o remédio uma vez, veem que o gato melhorou (porque os adultos morreram) e param o tratamento. O problema é que a maioria dos medicamentos mata os ácaros vivos, mas não consegue penetrar na casca dos ovos.
Se você interrompe o tratamento antes da hora, aqueles ovos que ficaram para trás vão eclodir na semana seguinte. As larvas vão crescer e, em cerca de três semanas, você terá uma nova infestação completa. É o que chamamos de recidiva. Parece que o remédio não funcionou, mas na verdade foi o ciclo que não foi quebrado por completo.
Por isso, os protocolos de tratamento veterinário costumam envolver repetições de doses ou o uso de medicamentos de longa duração que permanecem ativos no corpo do animal por tempo suficiente para matar as novas gerações assim que elas nascem. A persistência no tratamento é a chave do sucesso.
A sobrevivência no ambiente
Embora o Otodectes seja um parasita que precisa do hospedeiro para completar seu ciclo de vida, ele pode sobreviver fora do ouvido por um curto período, variando de alguns dias a algumas semanas, dependendo da umidade e temperatura do ambiente. Isso significa que ele pode estar na caminha do gato, no sofá ou na escova de pentear.
Isso não significa que você precisa entrar em pânico e queimar os móveis, mas exige atenção. Se você tem vários animais, e um deles tem sarna, é muito provável que o ambiente atue como um ponto de troca. Um gato se coça, o ácaro cai na manta, outro gato deita na mesma manta e “pesca” o ácaro.
A limpeza do ambiente é um coadjuvante importante. Lavar as roupas de cama dos pets com água quente e aspirar os locais onde eles dormem ajuda a reduzir a carga parasitária ambiental. No entanto, o foco principal deve ser sempre tratar todos os animais da casa simultaneamente, para que nenhum sirva de reservatório para o ácaro.
Diagnóstico Veterinário: Além do “olhômetro”
O exame de otoscopia
Quando você traz seu gato ao consultório, o primeiro passo é o exame físico com o otoscópio. Este aparelho possui uma luz e uma lente de aumento que nos permite olhar lá dentro, no fundo do canal auditivo, onde seus olhos não alcançam. É aqui que confirmamos a suspeita.
Com o otoscópio, muitas vezes consigo ver os ácaros se movendo. Eles parecem pequenos caranguejos brancos fugindo da luz. Além de ver os parasitas, o otoscópio me permite avaliar a integridade do tímpano. Isso é crucial, pois se o tímpano estiver perfurado, certos medicamentos (principalmente gotas otológicas) não podem ser usados, sob o risco de causar surdez ou problemas neurológicos.
Esse exame também ajuda a verificar o grau de inflamação (otite). Às vezes a sarna já foi embora, mas a inflamação persiste, ou vice-versa. O “olhômetro” em casa não consegue distinguir se o gato está coçando porque tem ácaro ou porque ficou com uma otite bacteriana secundária. Só o otoscópio nos dá essa visão.
A citologia de ouvido (microscópio)
Para ter certeza absoluta e documentar o caso, fazemos a citologia. Eu coleto uma amostra daquela cera escura com um swab (cotonete estéril) e levo para o microscópio. É o exame definitivo.
Na lâmina, o cenário é inconfundível: vemos os ácaros adultos, as larvas e, principalmente, os ovos. Às vezes, o animal foi tratado parcialmente e não vemos adultos, mas encontramos ovos na lâmina. Isso muda totalmente a conduta terapêutica, indicando que precisamos manter o tratamento por mais tempo.
A citologia também serve para identificar “companhias indesejadas”. Muitas vezes, junto com o ácaro, encontro leveduras (Malassezia) ou bactérias (cocos e bastonetes). Se eu tratar apenas a sarna e ignorar a infecção secundária por fungos ou bactérias, seu gato vai continuar coçando a orelha mesmo depois que os ácaros morrerem.
Identificando infecções secundárias
A sarna de ouvido abre a porta para outros problemas. Ao morder a pele e causar inflamação, o ácaro altera o pH e a produção de cera, criando um ambiente úmido e quente — o paraíso para bactérias e fungos. É o que chamamos de infecção mista.
Se o tratamento for focado apenas em matar o ácaro (usando apenas um antiparasitário, por exemplo), a infecção bacteriana pode avançar e se tornar uma otite purulenta grave. Por isso, o diagnóstico veterinário é tão valioso: ele nos diz se precisamos entrar apenas com um sarnicida ou se precisamos associar antibióticos e antifúngicos/corticoides para aliviar a dor e a inflamação.
Gatos com imunidade baixa (como portadores de FIV/FeLV) têm maior tendência a desenvolver essas infecções secundárias graves. Portanto, investigar o estado geral de saúde do paciente durante o diagnóstico da sarna é uma prática que salva vidas e evita sofrimento prolongado.
Tratamentos e Soluções Eficazes
Medicamentos tópicos vs. sistêmicos
Hoje em dia, a medicina veterinária evoluiu muito. Antigamente, dependíamos de gotas diárias que estressavam o gato e o dono. Hoje, temos opções sistêmicas muito eficientes. As pipetas (spot-on) que aplicamos na nuca são, na minha opinião, a revolução no tratamento da sarna otodésca. Elas caem na corrente sanguínea e atingem o ácaro quando ele se alimenta, além de protegerem contra pulgas e vermes.
Existem também as opções de gotas otológicas tradicionais. Elas funcionam? Sim, mas exigem disciplina. Você precisa limpar o ouvido e aplicar as gotas duas vezes ao dia, por semanas. Para gatos ariscos ou donos com rotina corrida, isso geralmente falha. Além disso, o gato odeia ter o ouvido mexido quando está doendo.
Há ainda os comprimidos orais da nova geração de isoxazolinas (frequentemente usados para cães, mas com uso off-label ou específico para gatos dependendo do país e marca). Eles são extremamente potentes e duradouros. A escolha entre pipeta, gota ou comprimido depende do temperamento do seu gato, do seu orçamento e da recomendação do seu veterinário de confiança.
Quadro Comparativo de Tratamentos
Para facilitar sua visualização, preparei um quadro comparando as principais formas de tratamento disponíveis no mercado:
| Característica | Pipeta (Spot-on) | Gotas Otológicas | Comprimidos (Isoxazolinas) |
| Facilidade de Uso | Alta (aplicação única na nuca) | Baixa (aplicação diária no ouvido) | Média (depende se o gato aceita engolir) |
| Espectro de Ação | Trata ácaros, pulgas e alguns vermes | Focado apenas no ouvido (ácaros/bactérias) | Trata ácaros, pulgas e carrapatos |
| Estresse para o Gato | Mínimo | Alto (manipulação de orelha dolorida) | Mínimo a Médio |
| Duração do Efeito | Geralmente 30 dias | Efeito curto (precisa repor todo dia) | De 30 dias a 12 semanas (dependendo da marca) |
| Exemplo de Princípio | Selamectina, Moxidectina, Fipronil | Ivermectina tópica, Tiabendazol | Fluralaner, Sarolaner (consulte bula/vet) |
A importância da limpeza prévia
Nenhum remédio funciona bem se não chegar onde precisa. No caso das gotas otológicas, se o ouvido estiver entupido daquela cera preta (“borra de café”), o medicamento vai ficar na superfície da sujeira e não vai matar os ácaros que estão lá no fundo.
Por isso, a limpeza (ceruminólise) feita no consultório ou orientada para casa é vital. Usamos produtos específicos para dissolver a cera sem irritar. Mas atenção: nunca use pinças ou cotonetes profundos em casa. Você pode perfurar o tímpano. A limpeza deve ser feita apenas na parte externa que você consegue ver, usando um algodão umedecido com o produto limpador.
No entanto, se você optar pelo tratamento sistêmico (pipeta na nuca ou comprimido), a limpeza se torna mais estética e de conforto do que uma necessidade para a eficácia do remédio, já que o medicamento chega pelo sangue. Ainda assim, remover o excesso de sujeira alivia a coceira mais rápido.
Tratando os contactantes (outros pets)
Essa é a regra de ouro: tratou um, tratou todos. A sarna de ouvido é extremamente democrática e contagiosa. Se você tem um gato diagnosticado e outro gato (ou cachorro) que parece saudável, não se engane. O outro animal provavelmente já tem ácaros, mas ainda não desenvolveu sintomas graves ou tem uma hipersensibilidade menor.
Se você tratar apenas o gato sintomático, o outro servirá de “esconderijo” para os ácaros. Daqui a um mês, eles voltam para o primeiro gato e o ciclo recomeça. Chamamos isso de efeito pingue-pongue.
Portanto, no dia de aplicar o remédio no gato doente, aplique o preventivo/tratamento em todos os cães e gatos da casa. Isso quebra o ciclo epidemiológico no ambiente e garante que a erradicação seja definitiva. É um investimento que evita gastos recorrentes no futuro.
Complicações Silenciosas: Quando a Sarna Vira Algo Pior
O perigo do Otohematoma
Uma das complicações mais tristes e comuns que atendo é o otohematoma. De tanto o gato bater a cabeça e coçar a orelha com força, os pequenos vasos sanguíneos dentro da cartilagem da orelha se rompem. O sangue vaza e a orelha “incha”, parecendo um pastel ou uma almofada cheia de líquido.
Isso é extremamente doloroso e requer cirurgia na maioria dos casos para drenar o sangue e “costurar” a pele de volta à cartilagem. Se não tratado, a orelha deforma permanentemente (orelha de couve-flor). E pense bem: tudo isso causado por um ácaro que poderia ter sido eliminado com uma simples pipeta. O otohematoma é o preço alto da negligência ou da demora no tratamento.
Infecções mistas (Fungos e Bactérias)
Como disse anteriormente, o ácaro abre caminho para infecções secundárias. O problema é quando essas infecções se tornam crônicas. Bactérias como Pseudomonas ou Staphylococcus podem aproveitar a lesão inicial e criar uma otite purulenta difícil de curar, muitas vezes resistente a antibióticos comuns.
A Malassezia (um fungo) adora a umidade gerada pela inflamação do ácaro. O resultado é um ouvido que nunca sara, com secreção marrom (agora achocolatada e úmida) e cheiro de ranço. Tratar uma otite mista é muito mais caro e demorado do que tratar uma sarna simples. Por isso, o diagnóstico precoce é também uma medida de economia financeira.
Perfuração timpânica e surdez
Em casos avançados, onde a sarna e a infecção secundária foram ignoradas por muito tempo, a inflamação pode corroer o tímpano. Uma vez rompida essa membrana, a infecção migra para o ouvido médio e interno.
Isso pode causar danos irreversíveis à audição do seu gato. Além da surdez, a infecção no ouvido interno afeta o sistema vestibular (equilíbrio). O gato pode desenvolver a Síndrome Vestibular: anda em círculos, cai para o lado, tem nistagmo (olhos mexendo de um lado para o outro) e muita náusea. É um quadro grave que muitas vezes deixa sequelas permanentes.
Prevenção e Manutenção da Saúde Auricular
Rotina de check-up caseiro
Você é o melhor médico do seu gato no dia a dia. Crie o hábito de, uma vez por semana, levantar a orelha do seu pet e dar uma olhadinha (e uma cheirada). O ouvido deve estar rosa, limpo e sem cheiro forte.
Acostume seu gato desde filhote a ter as orelhas manipuladas. Faça carinho, mexa devagar, ofereça um petisco depois. Isso facilita muito a sua vida (e a do veterinário) se um dia ele precisar de tratamento. Se notar qualquer pontinho preto ou vermelhidão, não espere a coceira começar: agende uma consulta.
Controle de parasitas mensais
A melhor forma de tratar a sarna é nunca deixá-la se instalar. Muitos dos antipulgas modernos (especialmente as pipetas e comprimidos de longa duração) já incluem proteção contra ácaros de ouvido na sua bula.
Converse com seu veterinário para escolher um produto “tudo-em-um”. Ao manter a proteção contra pulgas em dia com um produto que também mata sarna (Otodectes), você blinda seu gato automaticamente. Mesmo que ele tenha contato com um gato de rua infestado, os ácaros morrerão assim que tentarem se alimentar no seu pet protegido.
Higiene do ambiente
Embora o tratamento no animal seja o principal, manter a casa limpa ajuda. Aspirar sofás, tapetes e lavar a caminha do gato regularmente reduz a quantidade de alérgenos e parasitas.
Se você costuma resgatar gatos ou fazer lar temporário, a quarentena é obrigatória. Nunca introduza um novo animal aos seus pets residentes sem antes fazer um check-up veterinário completo, incluindo a inspeção dos ouvidos. Um único gatinho resgatado com sarna pode infestar todos os animais da casa em questão de dias. A prevenção é sempre mais barata e menos estressante que o tratamento.


