Queda de pelo excessiva: Quando se preocupar?
Queda de pelo excessiva: Quando se preocupar?

Queda de pelo excessiva: Quando se preocupar?

Queda de pelo excessiva: Quando se preocupar?

Você já deve ter passado pela situação de aspirar a casa pela manhã e, à tarde, encontrar novos tufos de pelo rolando pelos cantos da sala como se tivessem vida própria. Quem tem um cachorro ou gato sabe que conviver com pelos faz parte do pacote de amor incondicional que eles nos oferecem. Encontrar pelos na roupa preta antes de sair para o trabalho se torna quase uma rotina aceitável para a maioria dos tutores.

No entanto, existe uma linha tênue entre o que consideramos uma renovação natural da pelagem e o que sinaliza um problema de saúde real. Muitos tutores chegam ao meu consultório com a mesma dúvida angustiante sobre a quantidade de pelos que seus animais perdem diariamente. A verdade é que a queda de pelo pode ser um termômetro fascinante e preciso sobre a saúde geral do seu companheiro de quatro patas.

Entender a diferença entre a troca fisiológica e a perda patológica é o primeiro passo para garantir o bem-estar do seu animal. Quando você conhece o padrão normal do seu pet, fica muito mais fácil identificar quando algo sai dos trilhos. Vamos mergulhar juntos nesse universo da dermatologia veterinária para que você saiba exatamente quando relaxar e quando é hora de buscar ajuda profissional.

Entendendo o Ciclo do Pelo e a Muda Natural[1][2]

Para compreender a queda, precisamos primeiro entender como o pelo vive e cresce na pele do seu animal. O crescimento capilar não é um processo contínuo e ininterrupto, mas sim um ciclo complexo dividido em fases muito bem orquestradas pelo organismo. Cada folículo piloso trabalha em um ritmo próprio, garantindo que o animal nunca fique completamente “careca” durante a renovação natural, a menos que haja um problema de saúde subjacente.

A pelagem dos cães e gatos serve como uma barreira de proteção vital contra o frio, o calor, a radiação solar e lesões físicas. Por isso, o corpo investe muita energia para mantê-la saudável. Quando observamos uma queda, estamos vendo apenas o final de uma longa história que aconteceu nas camadas mais profundas da pele. É fundamental que você, como tutor, compreenda que o pelo que cai hoje parou de crescer semanas ou até meses atrás.

Diferentes raças possuem ciclos diferentes. Cães como Poodles ou Yorkshires têm um ciclo de crescimento muito longo, o que nos dá a impressão de que eles quase não perdem pelo. Já raças como o Pastor Alemão, Labrador ou o Pug possuem ciclos mais curtos, resultando em uma renovação constante e naquela “nuvem” de pelos que tanto conhecemos. Entender a genética do seu amigo é crucial para ajustar suas expectativas sobre a limpeza da casa.

A fase de crescimento ou Anágena

A fase anágena é o momento de atividade intensa onde o pelo está efetivamente sendo produzido e crescendo. Durante esse período, as células da raiz do pelo estão se dividindo rapidamente, empurrando a haste capilar para fora da pele. É uma fase que exige uma quantidade enorme de nutrientes, proteínas, vitaminas e minerais para sustentar essa produção acelerada de tecido.

Se o seu animal não estiver recebendo uma nutrição adequada, é justamente nesta fase que os problemas começam, embora você só vá perceber a falha muito tempo depois. O corpo do animal é sábio e, na falta de nutrientes, ele prioriza órgãos vitais como coração e cérebro, desviando recursos que iriam para a pele. O resultado é um pelo que nasce fraco, quebradiço e sem brilho, pronto para cair ao menor atrito.

A duração da fase anágena é determinada geneticamente e varia muito entre as espécies e raças. Em animais de pelo curto, essa fase é breve, o que explica por que eles nunca desenvolvem uma pelagem longa arrastando no chão. Já em raças de pelo longo, essa fase pode durar anos. É fascinante pensar que a biologia do seu pet já traz programado no DNA o “comprimento máximo” que o pelo deve atingir antes de parar de crescer.

O repouso e a queda ou Telógena

Após o crescimento, o folículo entra em um período de transição e, finalmente, chega à fase telógena, que é o estado de repouso absoluto. O fio já está totalmente formado e permanece “ancorado” no folículo apenas aguardando o momento de ser expulso. Esse pelo morto pode ficar preso na pele por semanas ou meses até que um novo fio, iniciando uma nova fase anágena logo abaixo dele, o empurre para fora.

É exatamente o desprendimento desses fios telógenos que você observa na sua escova ou no sofá. O banho, a escovação e até mesmo as carícias ajudam a remover mecanicamente esses pelos que já não tinham mais conexão vital com o organismo. Por isso, é comum ver uma “chuva” de pelos após o banho e tosa. Não é que o banho fez o pelo cair, ele apenas removeu o que já estava solto e “hospedado” na pelagem.

Situações de estresse intenso ou febre podem fazer com que muitos folículos entrem prematuramente e simultaneamente na fase de repouso. Isso cria um fenômeno onde, meses após o evento estressante, o animal perde uma quantidade absurda de pelo de uma só vez. Chamamos isso de eflúvio telógeno. Se o seu pet passou por uma cirurgia ou doença grave recentemente, essa queda tardia é esperada e geralmente autolimitante.

A importância da muda sazonal[2]

A natureza preparou cães e gatos para sobreviverem a variações climáticas extremas através da muda sazonal. Ancestralmente, os animais precisavam de uma pelagem densa e lanosa no inverno para reter calor e uma pelagem mais rala e leve no verão para permitir a ventilação da pele. Esse mecanismo é gatilhado principalmente pela quantidade de luz solar disponível no dia, o fotoperíodo, e não apenas pela temperatura.

Hoje em dia, nossos pets vivem dentro de casas com luz artificial constante e temperaturas controladas por ar condicionado ou aquecedores. Isso confunde o relógio biológico deles. O resultado é que muitos animais deixaram de fazer aquelas duas mudas intensas anuais (primavera e outono) e passaram a ter uma “muda contínua” ao longo do ano todo, soltando pelo um pouco por dia, todos os dias.

Ainda assim, é provável que você note picos de queda nas mudanças de estação.[1][2] Na primavera, eles se livram do subpelo grosso de inverno, o que gera um volume impressionante de pelos mortos. É um processo fisiológico e saudável. Tentar impedir essa queda é impossível e contraindicado. A melhor estratégia aqui é ajudar o processo com escovações frequentes para remover o morto e deixar a pele respirar.

Principais Causas da Queda Excessiva

Quando a queda ultrapassa o limite do que consideramos renovação natural, entramos no terreno das patologias. Como veterinário, costumo dizer que a pele é o espelho da saúde interna. Uma pelagem falhada ou caindo aos tufos raramente é apenas um “problema estético”, mas sim um grito de socorro do organismo indicando que algo não vai bem.

As causas podem ser externas, vindo do ambiente, ou internas, vindo do próprio funcionamento do corpo do animal. Identificar a origem exata é um trabalho de detetive que exige observação dos detalhes. Você deve estar atento não apenas à queda em si, mas a outros sinais que a acompanham, como coceira, cheiro forte na pele ou alterações no apetite e na sede.

Vamos explorar os três grandes pilares que costumam derrubar a pelagem dos nossos pacientes: parasitas, nutrição e hormônios. Cada um deles deixa “pistas” específicas que nos ajudam a fechar o diagnóstico e, mais importante, a definir o tratamento correto para trazer de volta aquele pelo brilhante e forte.

Parasitas e Alergias: A coceira que derruba

A causa número um de problemas de pele e queda de pelo na clínica veterinária é, sem dúvida, a presença de ectoparasitas como pulgas e carrapatos, somada às alergias que eles provocam. Muitos tutores juram que o animal não tem pulgas porque não as veem andando pelo corpo. O problema é que, para um animal alérgico à picada de pulga (DAPP), basta uma única picada para desencadear uma reação inflamatória sistêmica que dura dias.

A alergia gera uma coceira intensa. O animal se coça, se morde e se lambe compulsivamente. Essa ação mecânica quebra os fios e arranca tufos de pelo, criando falhas, especialmente na região da base da cauda e na lombar. Além disso, a inflamação da pele enfraquece a raiz do pelo, facilitando ainda mais a queda. É um ciclo vicioso de coceira e perda de pelagem.

Outras alergias, como a atopia (alergia a ácaros, pólen ou fungos do ambiente) e a hipersensibilidade alimentar, funcionam de maneira similar. O corpo libera histamina, a pele inflama, o animal se coça e o pelo cai. Se o seu cão ou gato tem queda de pelo acompanhada de vermelhidão e coceira constante, o problema raramente é “só queda”. Tratar a alergia é a única forma de recuperar a pelagem.

Deficiências Nutricionais: Você é o que você come

A pele e o pelo são tecidos metabolicamente caros. Estima se que cerca de 30% da proteína que seu animal ingere diariamente seja utilizada apenas para manter a pele e a pelagem. Se a ração que você oferece é de baixa digestibilidade ou pobre em ácidos graxos essenciais e vitaminas, a qualidade do pelo será a primeira a sofrer.

Deficiências de Zinco, Vitamina A, Vitamina E e, principalmente, de Ômega 3 e 6, levam a um pelo seco, opaco e que se solta com facilidade. Muitas vezes, o animal come uma quantidade grande de comida, mas se o alimento for “pobre” em nutrientes biodisponíveis, ele estará, na prática, desnutrido. A pelagem fica com aspecto de “pelo de rato”, sem vida e áspera ao toque.

Hoje vemos muitos adeptos da alimentação natural, o que é fantástico quando bem balanceada. O perigo mora nas dietas caseiras feitas sem orientação de um nutricionista veterinário, que frequentemente carecem de microelementos essenciais. A correção da dieta, seja mudando para uma ração Super Premium ou ajustando a suplementação da comida natural, costuma trazer resultados visíveis em 4 a 6 semanas.

Doenças Hormonais: Quando o corpo desregula

As endocrinopatias são causas clássicas de alopecia (falta de pelo) sem coceira. Quando a queda é silenciosa, progressiva e simétrica (acontece igual dos dois lados do corpo), meu alerta de veterinário para problemas hormonais acende imediatamente. O hipotireoidismo em cães é um grande vilão aqui. A falta do hormônio tireoidiano “desliga” os folículos pilosos, e o pelo cai sem crescer de novo, deixando a cauda com aspecto de “cauda de rato” e falhas no tronco.

Outra condição comum é o Hiperadrenocorticismo, ou Síndrome de Cushing. O excesso de cortisol no sangue causa atrofia da pele e dos folículos. O animal fica com a pele fina, perde pelo no corpo todo (poupando cabeça e patas) e pode apresentar barriga inchada, muita sede e muito xixi. É uma doença séria que exige tratamento contínuo para controlar os níveis hormonais.

Em gatos, as alterações hormonais são menos frequentes que em cães, mas podem ocorrer. A alopecia psicogênica felina, embora tenha fundo comportamental, muitas vezes é confundida com problemas hormonais. Identificar se a causa é uma glândula que não funciona direito ou um hormônio em excesso é vital, pois nesses casos, xampus e vitaminas não farão efeito algum sem o tratamento médico da doença de base.

Quando se Preocupar? Sinais de Alerta

Saber diferenciar o normal do patológico poupa você de preocupações desnecessárias e garante que você corra para o veterinário quando realmente for preciso. A queda de pelo deixa de ser apenas uma questão de limpeza da casa e vira um problema médico quando altera a aparência física do animal ou vem acompanhada de desconforto.

O seu olhar atento é a melhor ferramenta de diagnóstico inicial. Você conhece seu pet melhor que ninguém. Se a textura do pelo mudou, se ele está perdendo brilho ou se a quantidade de pelos na escova triplicou de uma semana para outra sem motivo aparente, confie na sua intuição. Alterações súbitas nunca devem ser ignoradas.

Existem três sinais vermelhos clássicos que indicam que a queda de pelo do seu animal precisa de investigação profissional imediata. Se você notar qualquer um destes pontos abaixo, não espere “melhorar sozinho”. A tendência de problemas dermatológicos é se expandir e agravar com o tempo, tornando o tratamento mais longo e custoso depois.

Falhas localizadas e Alopecia

Se a queda de pelo está criando “buracos” na pelagem, onde você consegue ver a pele exposta, isso não é normal. A muda fisiológica é difusa; ela ocorre por todo o corpo ao mesmo tempo, diminuindo a densidade geral, mas nunca deixando áreas totalmente carecas. Áreas circulares sem pelo podem indicar infecções fúngicas (tinha), sarnas ou piodermites profundas.

Essas falhas podem começar pequenas, do tamanho de uma moeda, e se expandir rapidamente ou se multiplicar pelo corpo. Em alguns casos, como na Alopecia X (comum em Spitz Alemão), a perda é progressiva nas áreas de atrito e tronco, e a pele exposta pode ficar escura (hiperpigmentada). Qualquer área de calvície em um cão ou gato exige um raspado de pele para identificar o culpado.

Observe também se as falhas são simétricas. Se o animal perde pelo exatamente no mesmo lugar do lado direito e esquerdo do flanco, isso aponta fortemente para causas internas hormonais, como mencionado anteriormente. A simetria é uma assinatura das doenças sistêmicas, enquanto as lesões assimétricas e aleatórias geralmente apontam para causas externas, como parasitas ou traumas.

Coceira, vermelhidão e feridas

A queda de pelo nunca deve vir acompanhada de sofrimento. Se o seu animal está perdendo pelo e a pele embaixo está vermelha, inflamada, com crostas, descamação (caspa excessiva) ou feridas, você está diante de um quadro clínico ativo que precisa de intervenção. A pele saudável deve ser pálida ou rosada (dependendo da pigmentação natural), íntegra e sem cheiro.

O prurido (coceira) é um sinal de que há mediadores inflamatórios agindo nas terminações nervosas. Isso tira a qualidade de vida do pet. Imagine passar 24 horas por dia com uma coceira que não passa. Isso gera estresse, irritabilidade e impede o animal de dormir e comer bem. A queda de pelo aqui é consequência do trauma das unhas e dentes tentando aliviar o incômodo.

Fique atento também à presença de pústulas (bolinhas de pus) ou colaretes epidérmicos (círculos de pele descamando). Isso indica infecção bacteriana secundária. Muitas vezes a causa primária foi uma alergia, mas agora as bactérias oportunistas da pele se aproveitaram da fragilidade para se multiplicar, agravando a queda e o cheiro.

Mudanças de comportamento e letargia

A pele não está isolada do resto do corpo. Quando a queda de pelo vem associada a um animal que está mais quieto que o normal, dormindo excessivamente, triste ou com alterações de apetite (comendo demais ou de menos), o sinal de alerta deve ser máximo. Isso sugere que a perda de pelo é apenas a ponta do iceberg de uma doença sistêmica mais grave.

No hipotireoidismo, por exemplo, o cão busca lugares quentes, engorda mesmo comendo pouco e fica “preguiçoso”. Na Leishmaniose, uma doença grave e zoonótica, a queda de pelo ao redor dos olhos e nas pontas das orelhas vem acompanhada de emagrecimento, crescimento exagerado das unhas e apatia.

Se o seu gato parou de se lamber e o pelo ficou oleoso e com tufos acumulados, isso pode indicar dor na coluna ou problemas dentários que o impedem de fazer a higiene, ou o contrário, se ele se lambe até ficar careca na barriga, pode ser estresse ou cistite. O comportamento do animal nos dá o contexto necessário para interpretar a queda de pelo corretamente.

O Diagnóstico no Consultório: Investigando a Fundo

Quando você traz seu pet ao consultório com queixa de queda de pelo, iniciamos um processo investigativo metódico. Não existe um “remédio mágico para queda” que funcione para todos, porque, como vimos, as causas são múltiplas. O meu papel como veterinário é descartar hipóteses até chegar à raiz do problema.

Muitos tutores ficam ansiosos querendo uma injeção ou comprimido imediato, mas na dermatologia, a pressa é inimiga da perfeição. Tratar uma sarna com corticoide (que seria para alergia) pode piorar drasticamente o quadro. Por isso, insisto tanto na realização de exames complementares durante a consulta. O “olhômetro” não funciona para diferenciar um fungo de uma bactéria ou de uma alergia.

A tecnologia e as técnicas laboratoriais são nossas grandes aliadas. Com alguns testes simples e rápidos, muitas vezes feitos na própria sala de atendimento, conseguimos respostas valiosas que direcionam o tratamento. Vamos conhecer as principais ferramentas que usamos para desvendar o mistério da queda de pelos do seu amigo.

A “lupa” do dermatologista: Tricograma

O tricograma é um dos exames mais simples e informativos que realizamos. Com uma pinça, arranco um pequeno tufo de pelos de diferentes áreas do corpo do animal e coloco sob o microscópio. O formato da raiz e da haste do pelo me conta uma história detalhada sobre o ciclo capilar daquele paciente.

Ao observar as raízes, consigo dizer se a maioria dos pelos está na fase de crescimento (anágena) ou de queda (telógena). Se vejo 100% dos pelos em fase telógena, confirmo que houve uma interrupção no ciclo de crescimento, o que reforça suspeitas de problemas endócrinos ou estresse metabólico. Também procuro por defeitos na estrutura do fio que indiquem má formação por falta de nutrientes.

Além disso, o tricograma me mostra se as pontas dos fios estão quebradas. Isso é crucial. Se a ponta está quebrada, significa que o pelo não caiu sozinho, ele foi arrancado ou cortado por trauma, ou seja, o animal está se coçando ou se lambendo, mesmo que o tutor não tenha visto. Isso muda totalmente o foco para causas pruriginosas como alergias.

Investigando o sangue: Hormônios e Check-up

Quando a pele aponta para um problema interno, precisamos olhar para dentro. O hemograma completo e os bioquímicos (função renal e hepática) são o ponto de partida para avaliar a saúde geral. Um animal com anemia ou problemas no fígado não terá uma pelagem bonita, pois o corpo não consegue processar os nutrientes corretamente.

Se a suspeita recai sobre hipotireoidismo ou Cushing, solicitamos dosagens hormonais específicas. Não são exames de rotina comuns, são testes funcionais onde muitas vezes precisamos colher sangue, aplicar uma substância estimulante e colher sangue novamente depois de uma hora. Esses testes são o padrão ouro para confirmar se as glândulas estão funcionando como deveriam.

Esses exames são um investimento na saúde a longo prazo. Diagnosticar e tratar um hipotireoidismo não só resolve a queda de pelo, como devolve a vitalidade e prolonga a vida do seu cão. Tratar a causa base é sempre mais eficaz e barato no longo prazo do que gastar rios de dinheiro em xampus e vitaminas que não resolvem o problema hormonal.

Raspados e culturas: Caçando fungos e ácaros

Para identificar os habitantes indesejados da pele, o raspado cutâneo é fundamental. Com uma lâmina de bisturi, raspamos gentilmente a camada superficial da pele até obter um pouco de material capilar e cutâneo. Olhando no microscópio, procuramos pelos famosos ácaros da sarna demodécica (sarna negra) ou sarcóptica. Ver o parasita vivo na lâmina nos dá o diagnóstico definitivo na hora.

Já para os fungos, utilizamos a lâmpada de Wood (uma luz ultravioleta que faz alguns fungos brilharem) e a cultura fúngica. Na cultura, retiramos pelos da lesão e colocamos em um meio de cultura próprio. Se houver fungo, ele crescerá ali em alguns dias ou semanas, mudando a cor do meio. É o teste mais confiável para confirmar dermatofitose.

Identificar se é fungo, bactéria ou ácaro é determinante para a escolha do remédio. Antibiótico não mata fungo, antifúngico não mata ácaro. O diagnóstico preciso evita que seu animal tome medicações fortes e desnecessárias, protegendo o fígado e os rins dele de sobrecarga tóxica.

Tratamentos Inovadores e Manejo em Casa

A medicina veterinária avançou muito nos últimos anos. Hoje temos opções terapêuticas que vão muito além do antigo “banho de enxofre”. O tratamento da queda de pelo moderna é multimodal: envolvemos medicação, nutrição e cuidados tópicos para cercar o problema por todos os lados e acelerar a recuperação.

O seu papel em casa é tão importante quanto o meu no consultório. O sucesso do tratamento depende da sua disciplina em administrar as medicações, realizar os banhos e controlar o ambiente. Muitas vezes, pequenas mudanças na rotina diária fazem milagres pela pelagem do animal, prevenindo que o problema volte a ocorrer no futuro.

Quero compartilhar com você algumas abordagens que têm mostrado resultados excelentes na prática clínica. São estratégias que buscam não apenas parar a queda, mas fortalecer a barreira cutânea, tornando a pele do seu pet mais resistente a agressões externas e alergênicos.

A revolução dos Nutracêuticos

Os nutracêuticos são suplementos alimentares com ação terapêutica comprovada. Para a pele, a “estrela” é a combinação de ácidos graxos Ômega 3 (EPA e DHA) de alta qualidade com antioxidantes. O Ômega 3 atua como um anti-inflamatório natural potente, acalmando a pele irritada de dentro para fora e melhorando a fluidez da membrana celular.

Além dele, o uso de biotina, zinco quelatado e colágeno hidrolisado fornece os tijolos básicos para a construção de um fio forte. Hoje existem formulações palatáveis, em forma de petiscos ou pastas, que facilitam muito a administração. Não é apenas “dar vitamina”, é fornecer doses terapêuticas de nutrientes específicos que modulam a resposta da pele.

Outro avanço interessante são os probióticos específicos para a pele. Descobrimos que a saúde do intestino está diretamente ligada à saúde da pele (eixo intestino pele). Equilibrar a flora intestinal do seu pet pode reduzir crises alérgicas e melhorar a absorção dos nutrientes essenciais para a pelagem.

Banhos terapêuticos e hidratação

O conceito de que “banho faz mal” caiu por terra, desde que feito da forma correta e com os produtos certos. A fluidoterapia tópica, ou hidratação intensiva da pele, é essencial. Banhos com xampus à base de ceramidas, fitoesfingosina e aveia coloidal ajudam a restaurar a barreira cutânea que está danificada, impedindo a perda de água e a entrada de alérgenos.

Para animais atópicos (alérgicos), banhos semanais com água morna (nunca quente!) ajudam a remover fisicamente os alérgenos como pólen e ácaros que ficam presos no pelo. A hidratação pós-banho com sprays ou ampolas spot-on de ácidos graxos é a cereja do bolo, criando uma película protetora invisível sobre a pele.

Evite usar sabão de coco, xampus humanos ou produtos com cheiro muito forte. O pH da pele do cão e do gato é diferente do nosso. Usar produtos inadequados remove a proteção natural e piora a queda. Invista em linhas veterinárias dermatológicas; a diferença no resultado final é gritante.

Controle do estresse e enriquecimento ambiental

Não podemos esquecer da mente. O estresse é um gatilho poderoso para a queda de pelo e para o desenvolvimento de dermatites psicogênicas (lamber a pata ou o flanco por ansiedade). Cães que ficam muito tempo sozinhos ou gatos sem estímulo em apartamentos pequenos podem somatizar o tédio na pele.

O enriquecimento ambiental é o melhor remédio aqui. Ofereça brinquedos interativos, comedouros lentos que desafiam o intelecto, arranhadores verticais para os gatos e passeios de qualidade para os cães. Um animal mentalmente equilibrado tem um sistema imunológico mais forte e uma pele mais saudável.

Em casos mais severos, o uso de feromônios sintéticos (difusores de ambiente que imitam o cheiro materno ou de demarcação territorial) ajuda a acalmar o animal, reduzindo a ansiedade e, consequentemente, a lambedura excessiva e a queda por estresse.


Comparativo: Formatos de Suplementação para Pele e Pelo

Para ajudar você a escolher a melhor forma de repor os nutrientes do seu pet, preparei um quadro comparativo dos formatos mais comuns de suplementos disponíveis no mercado. A eficácia depende muito da aceitação do animal, pois o melhor suplemento é aquele que o seu pet realmente ingere todos os dias.

CaracterísticaSuplemento em Snack/PetiscoCápsulas de Ômega 3 (Gel)Suplemento Líquido (Pump)
Facilidade de UsoAlta. O pet aceita como prêmio.Média/Baixa. Pode precisar forçar ou esconder na comida.Alta. Basta bombear sobre a ração.
ConcentraçãoGeralmente menor concentração por unidade.Altíssima. Óleo puro e concentrado.Média/Alta. Boa concentração, mas oxida fácil.
PalatabilidadeExcelente. Sabor carne ou frango.Baixa. Se estourar na boca, gosto forte de peixe.Boa. Muitos pets gostam do óleo na ração.
Custo-BenefícioMais caro por dose terapêutica.Melhor custo por mg de nutriente.Intermediário.
Indicação PrincipalPrevenção e manutenção em pets “chatos” para comer.Tratamento intensivo de dermatites e inflamação.Manutenção de brilho e redução de queda geral.

Cuidar da pelagem do seu animal é cuidar da saúde dele como um todo. A queda de pelo excessiva é um diálogo que o corpo do seu pet está tentando estabelecer com você. Ao aprender a “ouvir” esses sinais e buscar ajuda veterinária qualificada, você garante não apenas uma casa com menos pelos no sofá, mas principalmente uma vida mais longa, confortável e feliz para o seu melhor amigo.

Se você notou algum dos sinais de alerta que conversamos, agende uma consulta. A dermatologia veterinária tem as respostas que você procura, e seu pet vai agradecer (provavelmente com lambidas e rabos abanando) pelo alívio e bem-estar que o tratamento correto proporciona.

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