O que o rabo do cachorro diz: Abanar nem sempre é felicidade
O que o rabo do cachorro diz: Abanar nem sempre é felicidade

O que o rabo do cachorro diz: Abanar nem sempre é felicidade

O que o rabo do cachorro diz: Abanar nem sempre é felicidade

Você chega em casa ou encontra um cachorro na rua e a primeira coisa que nota é o movimento da cauda. O balanço parece um convite e o instinto humano nos diz que aquele animal está feliz e pronto para receber carinho. É nesse momento exato que muitos acidentes acontecem e que a comunicação entre nossas espécies falha drasticamente.

No meu consultório recebo frequentemente tutores que foram mordidos por seus próprios cães ou por animais desconhecidos. A frase que escuto quase sempre é a mesma e carrega uma surpresa genuína. Eles dizem que o cachorro estava abanando o rabo e por isso confiaram que a interação seria segura e amigável.

Precisamos desconstruir urgentemente esse mito de que abanar o rabo é sinônimo exclusivo de felicidade. Como veterinário analiso a etologia canina diariamente e posso afirmar que o rabo é muito mais complexo do que um simples medidor de alegria. Ele funciona como uma antena sofisticada que transmite medo, tensão, alerta, agressividade e também felicidade.

Entender essa linguagem não é apenas uma curiosidade sobre o seu pet. Trata-se de uma questão de segurança física para você e de bem-estar psicológico para o animal. Um cão que abana o rabo enquanto avisa que está desconfortável está gritando em silêncio e ignorar isso pode levar a reações reativas graves.

A anatomia da comunicação canina

Muitos tutores enxergam a cauda apenas como um apêndice decorativo ou uma ferramenta de equilíbrio. Do ponto de vista anatômico a cauda é uma extensão direta da coluna vertebral do animal. Ela é composta por vértebras coccígeas que são móveis e extremamente sensíveis ao toque e à dor.

Essa estrutura óssea é envolvida por músculos potentes que permitem movimentos precisos e variados. Quando você observa o rabo do seu cachorro se movendo deve lembrar que há uma série de impulsos nervosos viajando pela medula espinhal para criar aquela ação. Não é um movimento involuntário na maioria das vezes mas sim uma resposta fisiológica a um estímulo externo ou interno.

A riqueza da vascularização e da inervação nessa região faz da cauda uma parte vital do corpo do animal. Em consultas de rotina sempre palpo a base da cauda e as vértebras para garantir que a mobilidade está preservada. Qualquer alteração na estrutura física pode mudar a forma como o cão se comunica e levar a interpretações erradas por parte da família.

A conexão neurológica e as emoções

O movimento da cauda está intrinsecamente ligado ao sistema límbico do cão que é a parte do cérebro responsável pelas emoções. Quando o cão sente uma emoção forte seja ela positiva ou negativa o cérebro envia sinais elétricos que resultam na contração muscular da cauda. Isso acontece em frações de segundo e muitas vezes é mais rápido do que a capacidade do cão de processar racionalmente a situação.

Diferentes neurotransmissores atuam nesse processo de comunicação corporal. A dopamina e a serotonina estão presentes nos movimentos relaxados e amplos de felicidade. Já o cortisol e a adrenalina, hormônios ligados ao estresse e à luta ou fuga, provocam movimentos mais rígidos, rápidos e tensos.

Observar a cauda é observar o estado neuroquímico do seu animal em tempo real. Se você aprender a ler a tensão muscular na base da cauda conseguirá identificar se o seu cão está liberando hormônios de estresse antes mesmo de ele rosnar ou tentar morder. É uma janela direta para o cérebro do seu paciente peludo.

Diferenças raciais e a dificuldade de leitura

Um desafio que enfrentamos na clínica veterinária é a imensa variedade morfológica das raças caninas. A seleção genética criada pelos humanos alterou drasticamente a aparência dos cães e isso impactou a clareza da comunicação deles. Um Pastor Alemão tem uma cauda longa e visível que facilita a leitura mas e quanto a um Bulldog Francês ou um Pug?

Cães com caudas cortadas por estética (uma prática que felizmente é proibida no Brasil mas ainda vemos consequências) ou cães que nascem com cauda curta têm uma desvantagem social severa. Eles têm dificuldade em expressar suas intenções para outros cães e para os humanos. Isso muitas vezes os torna mais reativos pois precisam usar outros recursos como o latido ou o rosnado mais cedo do que um cão com cauda longa precisaria.

Raças com cauda em saca-rolhas ou que naturalmente portam a cauda alta, como o Akita ou o Husky Siberiano, também podem enviar sinais confusos. Um Husky com a cauda relaxada ainda parece ter a cauda alta para um observador leigo o que pode ser confundido com dominância ou alerta. Você precisa conhecer o padrão normal da raça do seu cão para identificar o que é um desvio de comportamento.

A ciência da lateralidade: Esquerda versus Direita

A ciência veterinária e comportamental deu um salto enorme nos últimos anos ao descobrir que a direção do abano importa muito. Estudos conduzidos por neurocientistas italianos mostraram que cães abanam o rabo para lados diferentes dependendo de como se sentem em relação ao que estão vendo. Isso ocorre devido à lateralidade do cérebro onde cada hemisfério controla funções e emoções distintas.

O lado esquerdo do cérebro está associado a emoções que os cientistas chamam de “aproximação” e sentimentos positivos. Como as vias neurais são cruzadas o hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo. Portanto quando o cão vê algo que ele gosta e quer se aproximar o rabo tende a abanar mais para o lado direito.

Por outro lado o hemisfério direito do cérebro lida com emoções de “retração”, medo e alerta. Isso faz com que o rabo se mova predominantemente para o lado esquerdo do corpo do animal. Essa diferença pode ser sutil para o olho humano destreinado mas é um sinal gritante para outros cães e pode ser capturado em vídeos em câmera lenta.

O hemisfério esquerdo e a aproximação positiva

Imagine que você chega em casa após um longo dia de trabalho. Seu cão o reconhece visualmente e o cérebro dele ativa o hemisfério esquerdo processando a familiaridade e o afeto. O resultado físico é um abano vigoroso que pende para a direita da garupa dele.

Esse sinal indica que o cão está relaxado e que a intenção dele é interagir de forma pacífica. É um convite para o contato físico e para a brincadeira. Note que quando falamos “direita” ou “esquerda” estamos nos referindo ao ponto de vista do cão e não de quem olha de frente.

Observar essa nuance pode ser muito útil em apresentações entre cães. Se você notar que seu cão abana para a direita ao ver outro cachorro isso é um excelente indicador de que ele está sociável e aberto àquela nova amizade.

O hemisfério direito e o instinto de retração

A situação muda de figura quando o estímulo visual é algo desconhecido ou ameaçador. Se um cão estranho e dominante aparece na rua o cérebro do seu pet ativa o hemisfério direito processando a cautela e a ansiedade. O rabo então passará a abanar com tendência para o lado esquerdo.

Esse movimento para a esquerda é um sinal de que o cão gostaria de se afastar daquela situação. Ele não está confortável e o sistema nervoso dele está em estado de alerta. Insistir na interação quando o cão apresenta essa lateralidade é ignorar um pedido de espaço.

Muitos ataques ocorrem nesse cenário. O cão abana o rabo (para a esquerda) e a pessoa interpreta como “ele quer brincar”. A pessoa se aproxima invadindo o espaço crítico e o cão, que já estava em estado de retração e medo, reage mordendo para se defender.

Como outros cães leem essa lateralidade

O mais fascinante é que os cães percebem essa diferença entre eles instantaneamente. Experimentos mostraram que cães que observam silhuetas de outros cães abanando para a esquerda apresentam aumento da frequência cardíaca e sinais de ansiedade. Eles entendem que aquele cão não é amistoso.

Quando veem um cão abanando para a direita eles tendem a ficar relaxados e a se aproximar. Isso prova que a direção do rabo faz parte de um código de comunicação intraespecífica muito refinado. Nós humanos somos lentos para perceber esses detalhes mas eles são vitais na matilha.

Se você tem mais de um cachorro em casa comece a observar essas interações sutis. Muitas vezes uma briga começa porque um dos cães sinalizou com a esquerda e o outro respondeu à tensão. Entender isso ajuda você a intervir antes que o conflito escale.

Decodificando a altura e a tensão muscular

A altura em que a cauda é portada funciona como um termômetro emocional de confiança e assertividade. Uma regra geral simples que uso na clínica é: quanto mais alta a cauda mais confiante e possivelmente dominante o cão está se sentindo. Quanto mais baixa mais inseguro, medroso ou submisso ele se encontra.

No entanto a interpretação correta depende de conhecermos a posição neutra da cauda daquele cão específico. Um Galgo tem a cauda naturalmente baixa em repouso enquanto um Terrier pode tê-la ereta. Qualquer desvio dessa posição natural é o que nos dá a informação verdadeira sobre o estado emocional do animal naquele momento.

A tensão muscular é o segundo fator que deve ser analisado junto com a altura. Uma cauda pode estar alta mas relaxada ou alta e rígida como um cassetete. A rigidez é sempre um sinal de alta excitação ou tensão negativa. O relaxamento indica fluidez e tranquilidade.

A postura de alerta e dominância

Quando um cão eleva a cauda ao máximo e a mantém rígida, às vezes vibrando levemente a ponta, ele está sinalizando dominância e alerta máximo. Imagine uma antena captando sinal na potência total. Esse cão está dizendo “eu estou aqui, sou grande e estou no controle”.

Não confunda essa postura com felicidade. Um cão com a cauda erguida verticalmente e tensa pode atacar se for desafiado. É comum vermos isso quando dois cães machos não castrados se encontram. Eles erguem as caudas para espalhar seu cheiro (feromônios das glândulas adanais) e para parecerem maiores.

Se você vir seu cão com essa postura em relação a uma pessoa ou outro animal chame-o imediatamente e redirecione a atenção dele. Ele está em um estado de excitação que pode virar agressividade em segundos. Não tente fazer carinho em um cão desconhecido que apresenta essa cauda “em bandeira” rígida.

O significado real do rabo entre as pernas

O extremo oposto é a cauda enfiada entre as pernas traseiras chegando a cobrir a genitália e a barriga. Esse é o sinal universal de medo extremo e submissão. O cão está tentando se fazer pequeno, esconder seu cheiro e proteger suas partes vitais de um ataque potencial.

Um erro comum que vejo tutores cometerem é tentar consolar o cão abraçando-o quando ele está nessa posição. Embora a intenção seja boa abraçar um cão aterrorizado pode fazê-lo se sentir preso o que pode desencadear uma mordida por pânico. O cão nessa postura precisa de espaço e de uma rota de fuga visível para se acalmar.

O medo é uma das emoções mais perigosas em termos de reatividade. Um cão que coloca o rabo entre as pernas não é um cão “bonzinho”, é um cão que está sofrendo psicologicamente naquele momento e que fará o que for preciso para sobreviver se sentir que a ameaça persiste.

Relaxamento e a posição neutra ideal

O objetivo de todo tutor deve ser ver seu cão na maior parte do tempo com a cauda em posição neutra. Essa posição varia de raça para raça mas geralmente é uma extensão suave da coluna sem tensão para cima nem para baixo. Indica que o animal está em homeostase emocional.

Quando o cão está andando e a cauda balança suavemente acompanhando o ritmo do corpo sem rigidez temos um animal equilibrado. É nesse estado que o aprendizado e a obediência fluem melhor. Se você está treinando seu cão procure recompensá-lo quando ele estiver nesse estado de calma.

Saber identificar o “neutro” do seu cão é a base para identificar todo o resto. Tire fotos do seu cachorro quando ele estiver dormindo ou andando calmamente em casa. Essa é a sua linha de base. Tudo que fugir disso é comunicação ativa.

A velocidade e o padrão do movimento

A velocidade do abano indica o nível de excitação ou energia do cão, mas não necessariamente a valência (se é bom ou ruim). Um abano rápido significa alta energia e um abano lento significa baixa energia ou processamento de informação.

O padrão ou o desenho que o rabo faz no ar também nos dá pistas valiosas. Alguns cães fazem movimentos curtos e rígidos enquanto outros usam o corpo todo. A fluidez do movimento é o segredo aqui. Movimentos fluidos geralmente são amigáveis enquanto movimentos travados indicam conflito.

É crucial analisar a velocidade em conjunto com a rigidez. Velocidade alta com rigidez é perigo. Velocidade alta com corpo mole (“molenga”) é festa. Vamos detalhar esses padrões para que você nunca mais confunda um com o outro.

O movimento lento e a insegurança

Quando você vê um cão abanando a cauda bem devagar, às vezes parando e recomeçando, ele está analisando a situação. É um sinal de “não tenho certeza sobre isso”. Ele não sabe se você é amigo ou inimigo e está processando as informações visuais e olfativas.

Essa hesitação deve ser respeitada. Se você avança rapidamente sobre um cão que abana lentamente pode forçá-lo a tomar uma decisão defensiva. O melhor a fazer é parar e deixar o cão decidir se quer se aproximar ou não.

Muitas vezes vemos esse abano lento em cães que estão sendo treinados e não entenderam o comando. Eles olham para o tutor com esse movimento suave como quem pergunta “é isso que você quer?”. É um sinal de insegurança cognitiva ou social.

A vibração rápida de alta tensão

Este é o tipo de abano que causa a maioria das confusões perigosas. O rabo está geralmente alto e faz um movimento muito curto e extremamente rápido parecendo uma vibração. É como a cauda de uma cascavel antes do bote.

Isso indica uma carga altíssima de adrenalina. O cão está pronto para explodir em ação. Pode ser visto em cães de guarda prestes a atacar ou em cães de caça que avistaram a presa. Em um contexto doméstico se você está brigando com o cão e ele faz isso ele não está pedindo desculpas, ele está se preparando para o conflito.

Nunca toque em um cão que apresenta essa vibração rápida e curta na ponta da cauda. Afaste-se devagar sem dar as costas e evite contato visual direto. Esse é um sinal vermelho claro na linguagem canina.

O movimento helicóptero de alegria genuína

Finalmente temos o sinal que todos adoram ver: o “movimento de helicóptero”. A cauda gira em círculos amplos, muitas vezes acompanhada pelo rebolado do quadril inteiro do cachorro. Às vezes o movimento é tão intenso que o cão parece um “U” dobrando-se ao meio.

Esse é o sinal mais confiável de alegria pura e submissão amigável. O cão está dizendo que não representa ameaça e que está extremamente feliz em vê-lo. É comum vermos isso quando chegamos em casa ou quando o cão encontra um amigo muito querido.

Nesse estado o corpo do animal está mole, a boca geralmente está relaxada (às vezes aberta numa espécie de sorriso) e não há tensão. Pode interagir à vontade pois esse é o verdadeiro “abano de felicidade” que os mitos populares generalizam.

Contexto é tudo: Lendo o cão inteiro

Focar apenas no rabo é como tentar ler um livro lendo apenas uma frase por página. O rabo é apenas uma parte do quebra-cabeça. Para ter um diagnóstico comportamental preciso você precisa olhar para o cão como um todo. A “soma” dos sinais é o que determina a intenção real.

Na medicina veterinária aprendemos a avaliar o paciente desde a ponta do nariz até a ponta da cauda. Um rabo abanando com dentes à mostra tem um significado óbvio mas e quando os sinais são sutis? Você precisa treinar seu olho para fazer uma varredura rápida do corpo do animal.

O conjunto da obra nunca mente. Se o rabo diz “sim” mas o corpo diz “não”, acredite sempre no sinal de “não”. A tensão corporal é muito difícil de ser falsificada pelo animal. Vamos ver quais outros pontos chave você deve checar simultaneamente ao olhar para a cauda.

Sinais faciais que contradizem o rabo

Olhe para os olhos e para a boca. Um cão feliz tem olhos “suaves”, muitas vezes semicerrados ou piscando relaxadamente. Se o cão estiver com os olhos arregalados, fixos, sem piscar (o que chamamos de “hard stare”) ou mostrando a parte branca do olho (olho de baleia), ele está sob estresse intenso mesmo que o rabo esteja se movendo.

A boca também é reveladora. Uma boca fechada e tensa com lábios comprimidos indica preocupação. Uma boca relaxada levemente aberta com a língua solta indica tranquilidade. O “bocejo” fora de hora também é um sinal de estresse e não de sono.

As orelhas complementam o quadro. Orelhas coladas para trás indicam medo ou submissão. Orelhas rígidas para frente indicam alerta e confiança. Combine isso com o rabo: Rabo alto + Orelhas para frente + Olhar fixo = Dominância/Agressividade provável.

Piloereção e rigidez corporal

A piloereção é quando os pêlos das costas do cão se arrepiam. Isso é uma resposta involuntária do sistema nervoso autônomo. Pode acontecer por medo, excitação ou agressividade. Se o rabo está abanando mas o cão tem uma crista de pêlos arrepiados nas costas a situação é tensa.

A rigidez muscular é outro ponto crucial. Um cão amigável tem curvas, ele se mexe de forma sinuosa. Um cão prestes a morder fica “congelado” ou duro. Se você está fazendo carinho e o cão subitamente fica rígido pare imediatamente.

Esse congelamento é o último aviso antes da mordida. O rabo pode até ter parado de abanar nesse segundo exato. O corpo rígido indica que o cão está focado e preparando o ataque ou defesa. Respeite esse sinal e dê espaço.

Vocalização associada ao movimento da cauda

O som que o cão emite ajuda a colorir a interpretação do movimento da cauda. Um latido agudo e repetitivo com rabo em helicóptero é excitação de brincadeira. Um latido grave, profundo e espaçado com rabo tenso é aviso territorial.

O rosnado é o aviso mais claro mas existem rosnados de brincadeira (comum em cabo de guerra) e rosnados de aviso. O contexto do rabo ajuda a diferenciar. Rabo alto e tenso com rosnado é perigo real. Rabo baixo e rosnado é medo defensivo (tão perigoso quanto).

Preste atenção também no “choro” ou ganido. Cães ansiosos podem ganir enquanto abanam o rabo baixo (abanar de apaziguamento). Eles estão pedindo socorro ou atenção mas não necessariamente estão felizes.

Saúde Física: Quando o rabo indica dor

Como veterinário preciso alertar que nem todo movimento ou posição de cauda é comportamental. Muitas vezes o rabo conta uma história de dor física ou problema neurológico. É fundamental descartar causas clínicas antes de assumir que o cão é “estranho” ou “teimoso”.

A cauda é suscetível a lesões como qualquer outra parte do corpo. Portas batendo, pisões acidentais ou puxões podem causar fraturas ou luxações. Um cão que para de abanar o rabo ou que o mantém em uma posição estranha pode estar sofrendo muito.

Além disso problemas dermatológicos na base da cauda são comuns. Alergias a picada de pulga (DAPP) costumam se concentrar nessa região fazendo o cão morder a base do rabo freneticamente. Isso não é brincadeira é um prurido intenso que precisa de tratamento medicamentoso.

A Síndrome da Cauda Morta ou Limber Tail

Existe uma condição que vemos frequentemente em cães de caça ou labradores chamada “Limber Tail” ou Síndrome da Cauda Morta. Ocorre geralmente após nado em água muito fria ou esforço excessivo. A cauda fica flácida pendurada como se estivesse quebrada e é extremamente dolorosa na base.

O tutor chega achando que o rabo quebrou. O cão não consegue abanar e sente dor ao toque. Isso é uma miopatia (lesão muscular) que requer anti-inflamatórios e repouso. Não force o cão a interagir ou “ficar feliz” nessa condição.

Se você notar que a cauda do seu cão está pendurada sem vida de um dia para o outro procure um veterinário. O diagnóstico precoce alivia a dor do animal rapidamente.

Problemas na glândula adanal e perseguição de cauda

Outra questão física clássica é a impactação das glândulas adanais. São duas pequenas bolsas ao lado do ânus que liberam um líquido de cheiro forte. Se elas entopem o cão sente desconforto e pode começar a perseguir o próprio rabo ou esfregar o bumbum no chão.

Perseguir o rabo obsessivamente (spinning) também pode ser um sinal neurológico ou de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Se o seu cão gira atrás do rabo por horas a fio e é difícil de interromper isso não é uma brincadeira engraçada é um problema de saúde mental ou neurológica que precisa de intervenção.

Diferenciar uma coceira física de uma estereotipia comportamental exige exames clínicos. Por isso nunca ignore mudanças drásticas no comportamento relacionado à cauda.

Traumas e fraturas coccígeas

Acidentes acontecem e a cauda é muito exposta. Uma fratura na ponta do rabo pode ser difícil de curar porque o cão continua abanando e batendo a ponta machucada em móveis e paredes reabrindo a ferida (o que chamamos de “happy tail syndrome” em algumas raças).

Em casos graves de trauma na base da cauda pode haver comprometimento de nervos que controlam também a bexiga e o esfíncter anal. Um rabo imóvel acompanhado de incontinência urinária ou fecal é uma emergência veterinária neurológica.

Fique atento se o cão protege a retaguarda ou grita ao ter a cauda tocada durante a escovação. Dor crônica altera o comportamento e pode tornar o cão agressivo.

Protocolos de Interação e Segurança

Agora que você entende a complexidade do que o rabo diz precisamos falar sobre como agir. O conhecimento teórico deve se transformar em segurança prática no seu dia a dia. Saber ler o cão é o primeiro passo mas saber responder a ele é o que evita acidentes.

A regra de ouro é: na dúvida não interaja. Se os sinais são mistos (rabo abanando mas orelhas para trás) assuma o pior cenário e dê espaço. Respeitar o espaço do cão é a maior demonstração de amor que você pode dar a um animal inseguro.

Para os pais de pets é vital ensinar as crianças a não confiarem apenas no rabo. As crianças são as maiores vítimas de mordidas faciais justamente porque interpretam o abano como um convite irrestrito e se aproximam do rosto do cão.

A abordagem correta em cães desconhecidos

Nunca estenda a mão por cima da cabeça de um cão que você não conhece mesmo que ele esteja abanando o rabo. Essa abordagem é ameaçadora. A melhor maneira é ignorar o cão inicialmente. Fique de lado (não de frente) evite contato visual e deixe o cão cheirar você se ele quiser.

Se o cão se aproximar com o corpo relaxado e rabo em posição neutra ou helicóptero você pode fazer um carinho suave no peito ou na lateral do pescoço. Evite abraços e beijos em cães que não são seus.

Se o cão abanar o rabo mantendo distância respeite. Ele está dizendo “estou te vendo mas prefiro ficar aqui”. Chamar o cão insistentemente pode criar tensão desnecessária.

Usando sinais apaziguadores para acalmar

Você pode usar sua própria linguagem corporal para “falar” com o cão. Se perceber um rabo tenso ou baixo vire o rosto para o lado, boceje deliberadamente e pisque devagar. Esses são sinais de calma (calming signals) que dizem ao cão “eu não sou uma ameaça”.

Muitas vezes ao fazer isso você verá a postura do cão mudar. O rabo pode baixar da posição de alerta para a neutra ou sair do meio das pernas. Você está usando a língua deles para desescalar a tensão.

Essa técnica é muito usada por nós veterinários no consultório para conseguir examinar animais medrosos sem precisar de contenção excessiva. Tente usar isso em casa quando seu cão estiver agitado.

Ferramentas e produtos para ansiedade

Se o seu cão apresenta constantemente sinais de cauda baixa (medo) ou cauda trêmula de agitação é possível que ele sofra de ansiedade crônica. Além do treinamento existem ferramentas que podem ajudar a baixar esses níveis de cortisol permitindo que o cão relaxe.

Muitos tutores me perguntam sobre o que realmente funciona. Não existe pílula mágica mas existem coadjuvantes que facilitam a modificação comportamental. Abaixo preparei um comparativo de três opções comuns no mercado para auxiliar cães que comunicam estresse através da linguagem corporal.

CaracterísticaDifusor de Feromônios (Ex: Adaptil)Colete de Ansiedade (Ex: ThunderShirt)Suplementos Calmantes (Naturais)
Como funciona?Libera uma cópia sintética do feromônio materno canino no ambiente.Aplica pressão constante e suave no torso do cão (efeito “abraço”).Utiliza ingredientes como Triptofano, Maracujá ou Valeriana via oral.
Melhor usoAnsiedade de separação, adaptação a casas novas, medo de barulhos.Medo de trovões, fogos de artifício e viagens de carro.Ansiedade leve diária e hiperatividade.
PrósAção passiva (o cão não precisa fazer nada), cobre o ambiente todo.Efeito imediato ao vestir, sem drogas ou química.Fácil administração (petiscos), ajuda no sono.
ContrasCusto mensal (refil), só funciona na área onde está ligado.Pode esquentar em dias quentes, alguns cães travam ao vestir.Efeito varia muito de cão para cão, demora para agir.
Veredito VetMinha escolha principal para lares multi-cães ou ansiedade generalizada.Excelente para eventos pontuais (tempestades).Bom coadjuvante, mas raramente resolve sozinho casos graves.

Entender o rabo do seu cachorro é entender a mente dele. Observe, respeite e nunca subestime a complexidade do seu melhor amigo. A comunicação clara fortalece o vínculo e garante uma convivência feliz e sem sustos. Se notar algo fora do comum na linguagem corporal do seu pet, não hesite em nos procurar na clínica. Estamos aqui para traduzir o que eles não conseguem falar.

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