O que é a Doença do Carrapato (Erliquiose e Babesiose)?
O que é a Doença do Carrapato (Erliquiose e Babesiose)?

O que é a Doença do Carrapato (Erliquiose e Babesiose)?

Você já deve ter ouvido falar na temida “doença do carrapato”. No meu consultório, recebo diariamente tutores preocupados com esse diagnóstico. A verdade é que esse nome popular esconde duas doenças distintas e muito graves: a Erliquiose e a Babesiose. Ambas podem ser fatais se você não agir rápido. O carrapato não é apenas um incômodo estético ou higiênico. Ele é um vetor eficiente de microrganismos que destroem o sangue do seu cachorro. Entender o que está acontecendo dentro do corpo do seu animal é o primeiro passo para salvar a vida dele.

A “doença do carrapato” tornou-se uma epidemia no Brasil. Nosso clima tropical favorece a reprodução do vetor durante o ano todo. Isso significa que seu cão está em risco constante, seja no verão ou no inverno. Muitos tutores só percebem o problema quando o animal já está muito debilitado. A falta de informação clara e o atraso no diagnóstico são os maiores inimigos do tratamento. Você precisa estar um passo à frente do parasita para garantir a longevidade do seu amigo.

Neste artigo, vamos mergulhar fundo nesse universo. Vou explicar como essas doenças agem, como identificar os sinais sutis que a maioria das pessoas ignora e, principalmente, como tratar e prevenir. Esqueça as soluções mágicas da internet. Aqui vamos falar de medicina veterinária baseada em evidências, mas de um jeito que você consiga aplicar na sua rotina hoje mesmo. Prepare-se para se tornar o maior aliado da saúde do seu cão.

Entendendo os Vilões: Diferenças Cruciais entre Erliquiose e Babesiose

Erliquiose Canina: O Ataque Silencioso aos Glóbulos Brancos

A Erliquiose é causada por uma bactéria chamada Ehrlichia canis. Pense nela como um invasor que destrói o sistema de segurança do organismo. Assim que entra na corrente sanguínea, essa bactéria busca os glóbulos brancos para se alojar e multiplicar. Essas células deveriam defender seu cão de infecções, mas acabam servindo de transporte para a doença se espalhar por todo o corpo, atingindo órgãos vitais como o baço, fígado e linfonodos.

O maior problema da Erliquiose é o dano que ela causa à medula óssea ao longo do tempo. A bactéria interfere na produção de células sanguíneas novas. O resultado clínico mais comum que vejo é a trombocitopenia, ou seja, a queda drástica das plaquetas. As plaquetas são responsáveis pela coagulação. Quando elas baixam muito, seu cão corre risco de hemorragias espontâneas, que podem ser visíveis pelo nariz ou invisíveis, acontecendo internamente nos órgãos.

Você pode notar que o animal fica apático e perde o apetite, mas muitas vezes os sintomas demoram a aparecer de forma clara. A Ehrlichia é mestre em se esconder. Ela pode ficar latente no organismo por meses ou até anos antes de causar um colapso total do sistema imunológico. Por isso, dizemos que a Erliquiose é uma doença imunossupressora, abrindo as portas para que outras infecções oportunistas ataquem seu pet.

Babesiose Canina: O Perigo Iminente para os Glóbulos Vermelhos

A Babesiose age de forma diferente, embora seja transmitida pelo mesmo carrapato. O agente aqui é um protozoário, geralmente a Babesia canis ou Babesia vogeli. Diferente da Erliquiose que ataca a defesa, a Babesiose ataca o “combustível”. O protozoário invade os glóbulos vermelhos (hemácias) e se multiplica dentro deles até rompê-los. Esse processo causa uma anemia hemolítica rápida e severa.

Quando as hemácias são destruídas em massa, o corpo do seu cachorro sofre com a falta de oxigenação. Você vai perceber que a gengiva do seu pet, que deveria ser rosinha, fica pálida (branca) ou até amarelada (ictérica). Essa cor amarela acontece porque a destruição do sangue libera pigmentos que sobrecarregam o fígado. A urina também pode mudar de cor, ficando escura, parecida com “cor de Coca-Cola”, o que é um sinal de emergência veterinária absoluta.

A evolução da Babesiose costuma ser mais rápida e aguda do que a da Erliquiose. O animal pode estar bem num dia e, no outro, apresentar uma fraqueza extrema, não conseguindo nem levantar para comer. Além da anemia, a doença causa uma inflamação sistêmica intensa, febre alta e pode levar à falência renal aguda. O tratamento precisa ser agressivo para parar a destruição das células vermelhas antes que seja tarde demais.

A Coinfecção: O Que Acontece Quando os Dois Atacam Juntos?

Infelizmente, é muito comum que um mesmo carrapato carregue tanto a bactéria da Erliquiose quanto o protozoário da Babesiose. Quando seu cão é picado, ele pode ser infectado pelas duas doenças simultaneamente. Chamamos isso de coinfecção. Nesse cenário, o quadro clínico é muito mais grave e o desafio para nós, veterinários, é dobrado. O organismo do animal precisa lutar em duas frentes de batalha diferentes ao mesmo tempo.

Na coinfecção, os sintomas se somam e se potencializam. A anemia da Babesiose se junta à falta de plaquetas e leucócitos da Erliquiose. O sistema imunológico, já enfraquecido pela bactéria, não consegue combater o protozoário eficientemente. Isso leva a uma deterioração muito rápida do estado geral do paciente. Muitas vezes, o animal chega ao consultório em estado de choque, precisando de transfusão de sangue imediata para sobreviver às primeiras 24 horas.

O diagnóstico preciso é vital aqui. Se tratarmos apenas uma das doenças e esquecermos a outra, o animal não vai melhorar. Você precisa entender que o tratamento será mais longo, mais custoso e exigirá uma dedicação intensa da sua parte com horários de medicamentos e alimentação de suporte. A recuperação é possível, mas a coinfecção exige paciência e monitoramento laboratorial constante para garantir que ambos os agentes foram eliminados.

Como o Contágio Realmente Acontece e o Ciclo do Carrapato

O Papel do Carrapato Marrom (Rhipicephalus sanguineus)

O grande vilão dessa história tem nome e sobrenome: Rhipicephalus sanguineus, conhecido popularmente como carrapato marrom do cão. Ele é extremamente adaptado ao ambiente urbano. Diferente dos carrapatos de cavalo ou de gado que vivem no pasto, esse carrapato adora viver dentro da sua casa. Ele se esconde em frestas de paredes, atrás de rodapés, em batentes de portas e até dentro de tubulações elétricas, saindo apenas para se alimentar do sangue do seu pet.

Esse carrapato tem uma capacidade de sobrevivência impressionante. Uma fêmea pode colocar até 4.000 ovos de uma só vez no ambiente. Esses ovos eclodem e liberam larvas que sobem no cão, se alimentam, descem para o ambiente, mudam de fase para ninfa, sobem no cão novamente, e assim por diante. É um ciclo contínuo. Se você vê um carrapato no seu cachorro, a estatística diz que existem pelo menos outros 20 escondidos na sua casa.

A adaptação desse parasita ao nosso clima é perfeita. O calor e a umidade do Brasil aceleram o ciclo de vida dele. O que demoraria meses para acontecer em climas frios, aqui acontece em semanas. Isso explica por que é tão difícil erradicar uma infestação apenas “catando” os carrapatos do cachorro. O problema é ambiental. Você está lutando contra um exército que se reproduz nas paredes da sua própria casa, e o seu cachorro é apenas a fonte de alimento deles.

O Momento da Picada e a Transmissão que Você Não Vê

Muitos tutores acreditam que basta remover o carrapato imediatamente para evitar a doença. Infelizmente, não é tão simples. A transmissão acontece através da saliva do carrapato. Quando ele pica, ele injeta uma substância anestésica e anticoagulante para conseguir sugar o sangue sem que o cão sinta dor ou coceira imediata. É nesse momento, ou algumas horas após a fixação, que os agentes da Erliquiose e Babesiose são inoculados na corrente sanguínea do animal.

Estudos mostram que a Ehrlichia pode ser transmitida poucas horas após o carrapato se fixar na pele. A Babesia geralmente precisa de um tempo um pouco maior, cerca de 24 a 48 horas de alimentação do carrapato. No entanto, você não tem como saber há quanto tempo aquele parasita está ali. Muitas vezes, a picada acontece em locais escondidos, como entre os dedos das patas, dentro das orelhas ou na região perianal, passando despercebida durante a escovação ou o carinho diário.

Além disso, não é necessário que o cão esteja “infestado” para ficar doente. Um único carrapato infectado é suficiente para transmitir a doença. Já atendi diversos pacientes que viviam em apartamentos, nunca tinham saído na rua, e pegaram a doença porque o tutor trouxe um carrapato na sola do sapato ou na barra da calça após caminhar na rua. A transmissão é silenciosa, invisível e pode acontecer em qualquer lugar.

Riscos para Outros Animais e Humanos (Entendendo a Zoonose)

Uma pergunta frequente no consultório é: “Eu posso pegar essa doença do meu cachorro?”. A resposta direta é não, você não pega diretamente do cachorro. O cão não transmite Erliquiose ou Babesiose para humanos através do contato, lambida ou convivência. No entanto, o carrapato que pica o cachorro também pode picar o ser humano. E sim, humanos podem desenvolver Erliquiose humana e Babesiose humana se forem picados por carrapatos infectados.

Isso classifica essas doenças como zoonoses, doenças que são compartilhadas entre animais e humanos, embora o vetor (carrapato) seja necessário para a transmissão. Se a sua casa está infestada de carrapatos, toda a sua família está em risco, não apenas os pets. Em humanos, os sintomas podem ser confundidos com gripes fortes ou dengue, causando febre, dores no corpo e mal-estar geral.

Outros animais da casa também correm perigo. Se um cão foi diagnosticado, todos os outros cães que convivem no mesmo ambiente devem ser examinados e testados. Gatos são mais resistentes a essas doenças específicas dos cães e costumam se limpar com mais eficiência, removendo os carrapatos antes que piquem, mas não são totalmente imunes a outras doenças transmitidas por vetores. A saúde do seu cão funciona como um sentinela para a saúde ambiental da sua casa.

Sinais de Alerta: Identificando os Sintomas e as Fases da Doença

Fase Aguda: Os Primeiros Sinais que Passam Despercebidos

A fase aguda começa logo após a incubação, que varia de 8 a 20 dias após a picada. Nesse estágio, os organismos estão se multiplicando rapidamente no sangue. Os sintomas são inespecíficos, o que confunde muitos tutores. Seu cão pode ter febre, parar de comer (anorexia), ficar triste e prostrado. É aquele dia que ele não vem te receber na porta ou rejeita o petisco favorito.

Muitas vezes, esses sintomas duram poucos dias e o animal parece melhorar sozinho ou com medicação sintomática básica. Você pode achar que foi apenas uma “indisposição gástrica” ou “virose”. No exame físico, podemos notar aumento dos linfonodos (ínguas) e talvez um leve aumento do baço. Se fizermos um exame de sangue agora, já veremos alterações nas plaquetas.

O grande perigo da fase aguda é a negligência. Como o animal muitas vezes “melhora” clinicamente após alguns dias, o tutor acha que o problema passou. Mas a bactéria não morreu; o organismo do cão apenas conseguiu controlar a replicação inicial. Se o tratamento com antibióticos específicos não for iniciado nessa fase, a doença não é curada, ela apenas evolui para a próxima etapa, muito mais traiçoeira.

Fase Subclínica: O Período “Invisível” e Extremamente Perigoso

Esta é a fase mais assustadora para mim como veterinário. Na fase subclínica, o cão não apresenta sintomas visíveis. Ele come, brinca, corre e parece perfeitamente saudável. No entanto, a bactéria da Erliquiose está escondida, geralmente no baço, e o sistema imunológico continua sendo atacado silenciosamente. O animal pode permanecer nessa fase por meses ou até anos.

Durante esse período, o animal pode apresentar alterações leves e intermitentes que o tutor não percebe, como pequenas perdas de peso ou pelagem opaca. A única maneira de descobrir a doença nessa fase é através de exames de sangue de rotina (check-ups). É por isso que insisto tanto para que meus pacientes façam hemogramas anuais, mesmo que aparentem estar saudáveis.

Um cão na fase subclínica é uma bomba-relógio. Qualquer situação de estresse, uma cirurgia, outra doença ou apenas o envelhecimento pode fazer com que o sistema imunológico falhe em conter a bactéria. Quando isso acontece, a doença “acorda” e avança para a fase crônica. E aí, o tratamento se torna muito mais difícil e o prognóstico, infelizmente, é reservado.

Fase Crônica: Quando o Organismo do Seu Pet Entra em Colapso

A fase crônica é o estágio final e mais grave da Erliquiose. Aqui, a medula óssea, cansada de lutar, começa a falhar (aplasia ou hipoplasia medular). Ela para de produzir células sanguíneas adequadamente. O animal apresenta anemia severa, leucopenia (imunidade zero) e trombocitopenia crítica. As defesas do corpo acabaram.

Os sintomas são dramáticos. O cão emagrece muito rapidamente (caquexia), podem ocorrer sangramentos espontâneos pelo nariz (epistaxe), sangue na urina ou fezes, e manchas roxas na pele (petéquias) e na barriga. Infecções secundárias, como pneumonias ou problemas de pele graves, aparecem porque não há mais glóbulos brancos para defender o corpo.

Nesta fase, o animal corre risco de morte iminente. O tratamento muitas vezes exige internação, transfusões de sangue múltiplas e uso de medicamentos fortes para tentar estimular a medula, além dos antibióticos. Nem sempre conseguimos reverter o quadro crônico. A medula pode ter sofrido danos irreversíveis. Evitar que o animal chegue a este ponto é o nosso maior objetivo com a prevenção e o diagnóstico precoce.

Diagnóstico e Tratamento: O Caminho Correto para a Cura

Por que o Hemograma Sozinho Não Basta? (Testes Sorológicos e PCR)

Muitos tutores chegam com um hemograma na mão e perguntam: “Doutor, é doença do carrapato?”. O hemograma nos dá pistas fortes, como plaquetas baixas (trombocitopenia) e anemia, mas ele não confirma a doença. Outras patologias podem causar as mesmas alterações. Para tratar corretamente, precisamos saber exatamente quem é o inimigo: EhrlichiaBabesia ou ambos.

Para fechar o diagnóstico, utilizamos testes específicos. Os testes rápidos (kits sorológicos) que fazemos na clínica detectam anticorpos contra a doença. Eles são ótimos, mas podem dar falsos negativos no início da infecção (quando o corpo ainda não produziu anticorpos). O padrão-ouro é o exame de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), que busca o DNA da bactéria ou do protozoário no sangue.

Investir no diagnóstico correto economiza dinheiro e tempo. Tratar para Erliquiose quando o cão tem apenas Babesiose, ou vice-versa, é um erro comum. Os medicamentos são diferentes. A Erliquiose se trata com antibióticos, enquanto a Babesiose exige um protozoocida específico que pode ser tóxico se usado na dose errada. A precisão diagnóstica é a chave para a recuperação segura.

O Uso de Antibióticos e a Importância da Adesão Rigorosa

O tratamento da Erliquiose baseia-se principalmente no uso de um antibiótico chamado Doxiciclina. Aqui entra a sua responsabilidade: o tratamento é longo. Geralmente são 28 dias ininterruptos de medicação. Muitos tutores param de dar o remédio no 10º dia porque o cão “já melhorou”. Isso é um erro fatal. Parar o antibiótico antes da hora seleciona bactérias resistentes e empurra o cão para a fase subclínica ou crônica.

Para a Babesiose, usamos um medicamento injetável específico (como o dipropionato de imidocarb). Esse medicamento é forte e deve ser aplicado pelo veterinário, pois pode causar efeitos colaterais como salivação, tremores e diarreia momentânea. Muitas vezes, precisamos de duas doses com intervalo de 14 dias. Nunca tente medicar seu animal para Babesiose em casa sem supervisão.

Além dos remédios que matam os agentes, precisamos do tratamento de suporte. Protetores gástricos (pois os antibióticos são fortes para o estômago), estimulantes de apetite, vitaminas (especialmente do complexo B e ferro) e nutrição de alta qualidade são essenciais. O cão precisa de “tijolos” nutricionais para reconstruir o sangue que foi destruído.

A Recuperação e o Acompanhamento Pós-Tratamento

A alta clínica (o cão parecer bem) é diferente da alta laboratorial (o cão estar curado). Ao final dos 28 dias de tratamento, seu veterinário vai pedir novos exames. É fundamental verificar se as plaquetas subiram, se a anemia foi resolvida e se as funções hepáticas e renais estão preservadas.

Em alguns casos, mesmo após o tratamento, o título de anticorpos pode permanecer alto por meses, o que chamamos de “cicatriz sorológica”. Por isso, o acompanhamento deve ser feito com base no estado clínico e no hemograma. Não desapareça da clínica após o fim dos remédios. Um retorno 30 e 60 dias após o término é crucial para garantir que não houve recidiva.

Se o cão teve danos renais devido à Babesiose, ele pode precisar de ração especial e acompanhamento renal para o resto da vida. Se a medula óssea foi muito afetada na Erliquiose crônica, a recuperação total das células sanguíneas pode levar meses. Paciência e persistência são suas melhores ferramentas nessa fase de recuperação.

A Batalha da Prevenção: Blindando sua Casa e seu Melhor Amigo

A Tríade da Proteção: Coleiras, Pipetas e Comprimidos Mastigáveis

Prevenir é, sem dúvida, mais barato e menos doloroso do que tratar. Hoje, a medicina veterinária oferece produtos de altíssima eficácia. Não existe “o melhor” absoluto, existe o melhor para a rotina do seu cão e para o seu bolso. Abaixo, preparei um quadro comparativo para te ajudar a entender as opções mais comuns no mercado.

CaracterísticaComprimidos Mastigáveis (Ex: Simparic/Nexgard)Comprimidos de Longa Duração (Ex: Bravecto)Coleiras (Ex: Seresto/Scalibor)
DuraçãoMensal (30 a 35 dias)Trimestral (12 semanas)Longa (4 a 8 meses)
AçãoSistêmica (carrapato precisa picar para morrer)Sistêmica (carrapato precisa picar para morrer)Contato (repete antes de picar)
VantagemAlta palatabilidade, banhos não interferemMenor frequência de administraçãoAlgumas repelem o mosquito da Leishmaniose
Ideal paraCães que tomam banho frequenteTutores que esquecem datas mensaisCães que vivem em áreas de mata/quintal

Você deve manter o uso desses produtos o ano todo, sem pausas no inverno. Um único mês sem proteção é suficiente para uma infestação.

Controle Ambiental: Eliminando os Ninhos onde os Carrapatos se Escondem

Lembra que eu disse que 95% dos carrapatos estão no ambiente? Tratar só o cão é enxugar gelo. Você precisa tratar a casa. Use produtos carrapaticidas ambientais específicos (como piretróides ou fipronil spray) para limpar o chão, paredes e quintal. O segredo não é o produto, é a aplicação.

O carrapato marrom sobe. Você precisa aplicar o produto nas paredes, frestas e teto, não só no chão. Se você tem canil de alvenaria, verifique rachaduras. Se o cão dorme dentro de casa, lave a cama dele com água quente semanalmente e aspire tapetes e sofás. O aspirador de pó é um grande aliado, pois suga ovos e larvas que a vassoura não pega. Lembre-se de descartar o saco do aspirador imediatamente.

Contrate uma dedetização profissional se a infestação estiver fora de controle. As empresas especializadas usam produtos com poder residual que matam as larvas que vão eclodir semanas depois. O ciclo do carrapato é resistente, e muitas vezes são necessárias 3 ou 4 aplicações ambientais com intervalos de 15 dias para quebrar o ciclo reprodutivo.

Inspeção Rotineira: O Hábito Diário que Pode Salvar Vidas

Crie o hábito da “vistoria do carinho”. Todos os dias, ao voltar do passeio ou enquanto assiste TV com seu pet, passe a mão pelo corpo dele “ao contrário” (contra o pelo). Procure pequenos relevos na pele. Foque nas áreas quentes e escondidas: pescoço, orelhas, entre os dedos (interdigital) e virilha.

Se encontrar um carrapato, não o esprema com as unhas. Isso pode injetar mais bactérias no cão ou espalhar ovos no ambiente. Use uma pinça, segure o carrapato o mais próximo possível da pele e puxe com firmeza constante para cima. Depois, coloque o parasita no álcool para matá-lo. Nunca jogue vivo no lixo ou no vaso sanitário, pois eles podem sobreviver à água.

Essa inspeção diária é fundamental mesmo usando preventivos orais. Os comprimidos matam o carrapato, mas ele precisa picar primeiro. Se você remover o carrapato antes dele começar a se alimentar ou logo no início, você reduz drasticamente a chance de transmissão da doença.

Mitos e Verdades sobre a Doença do Carrapato no Consultório

“Meu cachorro não sai de casa, ele está realmente seguro?”

Mito. Este é o erro mais comum. Carrapatos viajam. Eles podem vir pelo muro do vizinho, podem ser trazidos por pombos ou ratos que passam pelo quintal, e principalmente, podem vir na sua roupa. Se você frequenta parques, praças ou casas de amigos que têm cães, você pode ser o “táxi” do carrapato até sua casa. Portanto, cães de apartamento precisam de prevenção tanto quanto cães de sítio.

Receitas Caseiras e Vinagre Funcionam contra Carrapatos?

Mito perigoso. Vinagre, álcool, óleo de neem caseiro ou simpatias não matam o carrapato e não impedem a transmissão da doença. Eles podem, no máximo, irritar o parasita momentaneamente, mas não quebram o ciclo reprodutivo e não protegem seu animal. Além disso, algumas substâncias caseiras podem causar alergias graves na pele do cão ou intoxicação. Confie na ciência e nos produtos farmacêuticos testados. O custo do tratamento da doença é infinitamente maior do que o custo do preventivo.

A Doença do Carrapato tem Cura Definitiva ou Pode Voltar?

Verdade com ressalvas. A doença tem cura clínica (o animal fica bem) e parasitológica (eliminação da bactéria), mas não gera imunidade permanente. Ou seja, se o seu cão curou hoje e for picado por um carrapato infectado amanhã, ele pegará a doença novamente. Não existe vacina comercialmente disponível no Brasil para Erliquiose ou Babesiose. A única “vacina” é o controle rigoroso dos carrapatos. Além disso, na forma crônica da Erliquiose, as sequelas na medula ou nos rins podem ser permanentes, exigindo cuidados para a vida toda.

Cuidar da saúde do seu pet exige vigilância. A doença do carrapato é uma inimiga cruel, mas totalmente evitável com as ferramentas certas. Não espere o primeiro sintoma aparecer. Aja hoje, proteja seu amigo e garanta muitos anos de rabos abanando ao seu lado. Se tiver dúvidas, procure seu veterinário de confiança agora mesmo.

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *