Meu cachorro come as próprias fezes (Coprofagia): Soluções Definitivas
Meu cachorro come as próprias fezes (Coprofagia): Soluções Definitivas

Meu cachorro come as próprias fezes (Coprofagia): Soluções Definitivas

Meu cachorro come as próprias fezes (Coprofagia): Soluções Definitivas

Imagine a cena: você chega em casa depois de um longo dia de trabalho, seu cachorro corre para te receber com aquela alegria contagiante, pula no seu colo e tenta te lamber o rosto. Seria um momento perfeito, se não fosse pelo cheiro inconfundível que emana da boca dele. Você olha para o canto onde ele costuma fazer as necessidades e percebe que algo está faltando — ou melhor, foi consumido. Essa situação, embora revire o estômago de nós humanos, é uma das queixas mais frequentes que recebo no consultório veterinário.

Antes de entrar em pânico ou achar que seu cão tem algum distúrbio mental grave, quero que você respire fundo. O termo técnico para isso é coprofagia, e embora seja repugnante para nossa sensibilidade humana, é um comportamento que possui lógica no mundo animal, seja ela biológica ou comportamental.[1][4] Você não falhou como tutor, e seu cachorro não é “sujo” por natureza. Ele está apenas seguindo um instinto ou sinalizando que algo no organismo ou na rotina dele precisa de ajustes.

Neste guia, vou tirar o jaleco branco da formalidade excessiva e conversar com você de igual para igual, mas com a precisão técnica que a saúde do seu melhor amigo exige. Vamos desvendar juntos por que isso acontece, como diferenciar uma mania de uma doença séria e, o mais importante, traçar um plano de ação prático para que os beijos do seu cachorro voltem a ser apenas uma demonstração de carinho, e não um risco sanitário.

Entendendo a Raiz do Problema: Por que eles fazem isso?

A herança ancestral e o comportamento materno

Para entender o presente, precisamos olhar para o passado evolutivo dos cães. Na natureza, a coprofagia desempenha papéis vitais de sobrevivência que ainda residem no DNA do seu pet. As mães, por exemplo, ingerem as fezes dos filhotes recém-nascidos instintivamente. Elas fazem isso para manter o “ninho” limpo, livre de odores que poderiam atrair predadores e para evitar a proliferação de parasitas e moscas que colocariam a ninhada em risco.

Esse comportamento é perfeitamente normal e esperado nas primeiras semanas de vida. O problema começa quando os filhotes, observando a mãe, começam a imitá-la por curiosidade e aprendizado social. Eles veem a mãe fazendo aquilo e “testam” também. Em muitos casos, essa fase exploratória passa naturalmente à medida que crescem e o sistema imunológico amadurece, mas, sem a intervenção correta ou devido a outros gatilhos, o hábito pode se fixar e perdurar até a vida adulta.

Além da questão materna, existe o instinto de sobrevivência dos lobos e cães selvagens. Em tempos de escassez extrema de alimentos, fezes (especialmente de herbívoros, que são ricas em fibras e material não digerido) podiam servir como uma fonte de nutrientes de emergência. Seu cachorro, deitado no sofá confortável da sala, não precisa disso, mas o cérebro dele ainda carrega esses “arquivos” de sobrevivência que podem ser ativados em situações específicas.

Sinais de alerta: Deficiências nutricionais e má absorção

Muitas vezes, o cão come fezes porque o corpo dele está gritando por nutrientes que não estão sendo absorvidos corretamente. Se a digestão não for eficiente, as fezes saem ainda contendo uma quantidade significativa de nutrientes não processados, o que as torna, infelizmente, atrativas e palatáveis para o animal. Ele sente o cheiro de “comida” no que deveria ser apenas dejeto.

Isso é comum em dietas de baixa qualidade ou com baixo índice de digestibilidade. Rações muito baratas costumam ter muitos ingredientes de enchimento que passam direto pelo trato digestivo sem serem absorvidos. O resultado é um cocô volumoso e cheio de sobras nutricionais. O cão, sentindo que ainda está com fome ou déficit vitamínico (principalmente de vitaminas do complexo B), tenta “reciclar” esse material para obter o que faltou na primeira passagem.

Outro ponto crucial é a velocidade da digestão. Cães que comem muito rápido (aqueles que parecem aspirar a ração sem mastigar) muitas vezes não dão tempo para as enzimas digestivas atuarem corretamente no estômago. Isso faz com que o alimento chegue ao intestino mal digerido, fermentando e saindo nas fezes com características muito similares às da ração original, fechando o ciclo vicioso da reingestão.

O fator psicológico: Tédio, ansiedade e busca por atenção

Não podemos ignorar a mente do seu cão. Cães são animais sociais e extremamente inteligentes que precisam de estímulo mental constante. Um cachorro que passa o dia todo sozinho no quintal ou em um apartamento sem brinquedos, passeios ou interação, vai inventar sua própria diversão. Infelizmente, brincar com as fezes e depois comê-las pode se tornar um passatempo para aliviar o tédio.

A ansiedade de separação é outro gatilho poderoso. Cães que entram em pânico quando os tutores saem podem defecar por estresse e, na tentativa de “esconder” a prova ou por puro nervosismo oral, acabam ingerindo as fezes. É um comportamento compulsivo, similar a uma pessoa que roi as unhas até sangrar quando está nervosa. Nesse cenário, brigar não resolve; na verdade, piora a ansiedade e reforça o comportamento.

Existe também a curiosa “economia da atenção”. Se toda vez que seu cachorro chega perto do cocô você corre, grita, faz um escândalo e interage com ele, você acabou de ensinar algo valioso: “cocô = atenção do meu humano”. Para um cão solitário, até uma bronca é melhor do que ser ignorado. Ele aprende a usar a coprofagia como uma ferramenta para fazer você parar o que está fazendo e olhar para ele, criando um ciclo comportamental difícil de quebrar.

Diagnóstico e Saúde: Quando se preocupar

O perigo invisível: Parasitas e doenças infecciosas

Embora comer as próprias fezes (autocoprofagia) seja menos arriscado do que comer fezes de outros animais, o risco sanitário nunca é zero. O maior problema reside na reinfestação de parasitas intestinais. Se o seu cão tem vermes como a Giardia ou o Isospora, e ele ingere as fezes contaminadas, ele está constantemente reintroduzindo os ovos e cistos desses parasitas no organismo, tornando o tratamento medicamentoso ineficaz, pois o ciclo nunca se quebra.

A situação fica mais grave quando o cão ingere fezes de outros animais na rua (alocoprofagia). Fezes de cães desconhecidos podem conter ovos de vermes, bactérias como Salmonella e E. coli, e vírus letais como o da Parvovirose e Cinomose, caso seu cão não esteja com a vacinação em dia. Até mesmo fezes de gatos podem transmitir toxoplasmose, embora seja menos comum a contaminação direta dessa forma para cães, o risco existe.

Além dos parasitas microscópicos, a ingestão frequente de fezes sobrecarrega o sistema gastrointestinal com uma carga bacteriana nociva. Isso pode levar a quadros de gastrite, vômitos recorrentes e diarreia crônica, criando uma inflamação intestinal que prejudica ainda mais a absorção de nutrientes, o que, ironicamente, pode aumentar a vontade de comer fezes, perpetuando a doença.

Insuficiência Pancreática Exócrina (IPE) e outras doenças

Como veterinário, quando recebo um paciente com coprofagia, uma das primeiras doenças que preciso descartar é a Insuficiência Pancreática Exócrina (IPE). Nessa condição, o pâncreas do animal não produz enzimas digestivas suficientes para quebrar os alimentos. O cão come vorazmente, muitas vezes perdendo peso apesar do apetite voraz, e suas fezes são volumosas, acinzentadas e pastosas.

Como o alimento não é digerido, ele sai nas fezes praticamente intacto em termos nutricionais. O cão, que está morrendo de fome a nível celular (polifagia), instintivamente tenta comer as fezes para obter as calorias que não conseguiu absorver. É uma condição médica séria que exige reposição enzimática para o resto da vida, e nenhuma técnica de adestramento vai resolver o problema se essa causa base não for tratada.

Outras condições médicas também podem estar envolvidas, como a síndrome de má absorção intestinal, diabetes ou uso de medicamentos como corticoides, que aumentam absurdamente o apetite. Doenças que causam aumento de apetite ou alteram o metabolismo precisam ser investigadas através de exames de sangue e ultrassonografia para garantir que o comportamento não é apenas a ponta do iceberg de um problema sistêmico.

A importância de exames de rotina (fezes e sangue)

Você não deve tentar adivinhar o que seu cão tem. A “achologia” pode atrasar um diagnóstico importante e prolongar o sofrimento do animal e o seu desconforto com a situação. O primeiro passo clínico é sempre um exame coproparasitológico completo (exame de fezes). Precisamos saber se há vermes ou protozoários agindo ali. Muitas vezes, um simples tratamento para Giárdia resolve o problema da coprofagia que parecia comportamental.

Além das fezes, um hemograma completo e perfil bioquímico são fundamentais para avaliar a função do fígado, rins e pâncreas. Se houver suspeita de IPE, existe um exame específico chamado TLI (imunorreatividade semelhante à tripsina) que nos dá a resposta definitiva sobre a função pancreática. Sem esses dados, qualquer tentativa de tratamento é um tiro no escuro.

A regularidade desses exames também é vital. Um cão que come fezes precisa ser vermifugado com mais frequência do que um cão que não tem esse hábito, seguindo um protocolo personalizado. A sua visita ao veterinário deve servir para alinhar esse calendário e verificar se o peso do animal está estável, pois a perda de peso associada à coprofagia é um sinal de alerta vermelho clínico.

Estratégias Nutricionais e Suplementação

Probióticos e prebióticos: Ajudando a flora intestinal

O intestino é considerado o “segundo cérebro” do corpo, e o equilíbrio da microbiota intestinal (disbiose) é frequentemente o vilão oculto da coprofagia. Se as bactérias “boas” do intestino estiverem em baixa, a fermentação do alimento fica comprometida, gerando gases e má absorção. A suplementação com probióticos (bactérias vivas benéficas) e prebióticos (alimento para essas bactérias) é uma das estratégias mais eficazes e seguras que temos hoje.

Ao regularizar a flora intestinal, melhoramos a síntese de vitaminas do complexo B — lembra que a falta delas causa coprofagia? — e otimizamos a absorção de nutrientes. Existem produtos veterinários específicos, em pasta ou pó, que são muito mais concentrados e eficazes do que dar iogurte humano, por exemplo. O uso contínuo por algumas semanas pode mudar drasticamente o perfil das fezes, tornando-as menos atrativas para o cão.

Além de melhorar a saúde física, há estudos sugerindo que a saúde intestinal impacta diretamente o comportamento e os níveis de ansiedade através do eixo intestino-cérebro. Um cão com o intestino saudável é, muitas vezes, um cão mais calmo e menos propenso a comportamentos compulsivos. Portanto, o probiótico atua em duas frentes: nutricional e comportamental.

Digestibilidade da ração: Você está oferecendo o alimento certo?

Muitas vezes, a solução está simplesmente em trocar a ração. Rações da categoria Super Premium possuem proteínas de alto valor biológico e ingredientes de alta digestibilidade. Isso significa que o corpo do cão aproveita quase tudo, resultando em fezes menores, mais secas e com menos cheiro. Fezes “secas” e sem resíduos de comida são muito menos interessantes para um cão coprófago.

Ao escolher a ração, olhe os primeiros ingredientes do rótulo. Você quer ver “carne de frango”, “farinha de vísceras” ou “ovo”, e não apenas “farelo de milho” ou “soja” como principais fontes proteicas. Proteínas vegetais são mais difíceis de digerir para os cães do que as animais. Às vezes, uma ração específica para cães com sensibilidade digestiva ou hipoalergênica pode ser a chave para parar o comportamento, pois elas são desenhadas para absorção máxima.

A transição, no entanto, deve ser gradual. Trocar a comida de uma vez pode causar diarreia, o que deixaria as fezes mais cheirosas e atrativas, piorando o quadro. Faça a troca ao longo de 7 a 10 dias, misturando as rações. Observe a qualidade das fezes durante esse processo; se elas firmarem e diminuírem de volume, você está no caminho certo.

Fibras e saciedade: Reduzindo a compulsão

Alguns cães comem fezes simplesmente porque estão com fome constante. Isso é comum em cães que estão em dieta para emagrecer e recebem porções muito reduzidas de ração normal. O estômago vazio dói e gera ansiedade. Nesses casos, aumentar o teor de fibras na dieta pode ser uma estratégia brilhante para promover saciedade sem adicionar muitas calorias extras.

As fibras ocupam espaço no estômago e retardam o esvaziamento gástrico, mantendo o cão satisfeito por mais tempo. Além disso, certas fontes de fibra podem alterar a textura e o cheiro das fezes, tornando-as menos palatáveis. Vegetais como abobrinha ou chuchu cozidos (apenas em água) podem ser adicionados à ração como “volumosos” naturais, sempre sob orientação do seu veterinário para não desbalancear a dieta.

Outra tática é fracionar a alimentação. Em vez de dar comida apenas uma ou duas vezes ao dia, divida a quantidade total em três ou quatro refeições. Isso mantém os níveis de glicose e saciedade mais estáveis ao longo do dia, reduzindo os picos de fome que levam o cão a procurar “lanchinhos” indesejados no quintal.

Reeducação Comportamental: Ensinando novos hábitos

A regra de ouro: Limpeza imediata e supervisão

Nenhum adestramento ou remédio funcionará se o cão continuar tendo acesso livre ao “buffet”. A medida mais eficaz e imediata para interromper a coprofagia é o manejo ambiental: o cocô deve desaparecer assim que sair do cachorro. Você precisa se antecipar. Se você sabe que seu cão defeca 20 minutos após comer, esteja lá com o saquinho na mão.

Se você tem quintal, é necessário fazer uma varredura diária, ou até mais frequente. Para cães que comem as fezes imediatamente após defecar (o famoso “virar e comer”), a supervisão deve ser total. Leve o cão para fazer as necessidades na guia. Assim que ele terminar, puxe-o gentilmente para longe, recompense-o com um petisco delicioso e recolha as fezes. Você cria uma nova associação: “Fazer cocô e me afastar dele me rende um prêmio melhor do que o cocô”.

Essa restrição de acesso quebra o ciclo de auto-recompensa. Comer fezes é autorecompensador para o cão (ele gosta do sabor/textura). Se impedirmos que ele exerça o comportamento, com o tempo, a memória desse prazer vai se enfraquecendo. É trabalhoso no início, mas é a base sólida sobre a qual qualquer outro tratamento é construído.

Reforço positivo: O poder do “muito bem” e do petisco

A punição é ineficaz na coprofagia. Se você briga quando vê o cocô ou quando ele está comendo, ele pode associar que fazer cocô na sua frente é perigoso. O resultado? Ele vai fazer escondido (atrás do sofá) e comer rápido para “sumir com a prova do crime” antes que você veja. O medo alimenta a coprofagia. Por isso, mudamos o foco para o reforço positivo.

Ensine o comando “deixa” ou “vem”. Treine em situações neutras: coloque um brinquedo ou petisco de baixo valor no chão, e quando ele for pegar, diga “deixa” e mostre um petisco de altíssimo valor (carne, frango) na sua mão. Quando ele olhar para você, dê o prêmio. Transfira isso para o momento do cocô: ele terminou, você diz “vem!”, ele corre até você, ganha o prêmio incrível, e você recolhe a sujeira tranquilamente.

Você precisa se tornar mais interessante do que as fezes. A sua festa, o seu carinho e o seu petisco devem valer mais a pena do que o comportamento antigo. Com repetição e consistência, o cão começa a terminar de defecar e automaticamente olhar para você esperando o pagamento, esquecendo-se do que está no chão.

Enriquecimento ambiental: Combatendo o tédio dentro de casa

Se o tédio é a causa, a diversão é a cura. Um cão cansado e mentalmente estimulado raramente desenvolve comportamentos obsessivos. O enriquecimento ambiental consiste em tornar a casa um lugar desafiador e interessante. Abandone o pote de comida tradicional. Faça seu cão “trabalhar” pela comida usando brinquedos recheáveis, tabuleiros cognitivos ou garrafas pet com furos.

A hora da refeição deve durar 20 minutos, não 30 segundos. O ato de lamber, roer e farejar libera hormônios de relaxamento e gasta uma energia mental imensa. Introduza também ossos recreativos (seguros e adequados ao tamanho) e mordedores naturais para que ele tenha onde direcionar a necessidade oral que antes era direcionada às fezes.

Além disso, rotina é fundamental. Passeios de qualidade, onde o cão pode cheirar a grama, interagir com o mundo e gastar energia física, reduzem drasticamente a ansiedade geral. Um cão que passeou, correu e resolveu um quebra-cabeça alimentar vai querer dormir quando chegar em casa, e não procurar sujeira para comer.

Mitos Populares e Soluções Caseiras

Abacaxi e mamão na ração: Verdade ou lenda urbana?

Você provavelmente já ouviu falar que colocar pedaços de abacaxi ou mamão na ração faz o cachorro parar de comer fezes. A teoria por trás disso é que essas frutas contêm enzimas (bromelina no abacaxi e papaína no mamão) que, ao serem digeridas, modificariam o cheiro das fezes, tornando-as repugnantes. Mas será que funciona na prática veterinária?

A resposta é: depende, mas raramente é a solução mágica. O ácido estomacal do cão é extremamente potente e muitas vezes inativa essas enzimas antes que elas cheguem ao intestino para fazer efeito. Além disso, adicionar frutas ácidas pode causar gastrite em cães sensíveis. Embora não faça mal tentar em pequenas quantidades (se o cão não for diabético), não deposite todas as suas esperanças nisso. É uma tentativa válida como coadjuvante, mas não substitui o manejo.

Molhos picantes e pimenta: Por que você nunca deve fazer isso

Existe uma prática antiga e perigosa de colocar molho de pimenta, pimenta do reino ou substâncias amargas sobre as fezes para punir o cão quando ele tentar comer. Como veterinário, eu desaconselho veementemente essa prática. O sistema digestivo dos cães é muito mais sensível a irritantes do que o nosso.

A pimenta pode causar queimaduras na mucosa oral, esofágica e gástrica, além de provocar vômitos severos e diarreia — o que só vai gerar mais fezes para serem limpas ou comidas. Além disso, isso é uma forma de punição positiva que gera estresse e desconfiança. O objetivo é tratar o problema, não torturar o animal. Existem produtos comerciais amargantes que são seguros e atóxicos, feitos especificamente para isso, sem causar dor ou lesão.

A palmada e o “esfregar o focinho”: O pior erro do tutor

Ainda vejo tutores que acreditam que esfregar o focinho do cachorro nas fezes é uma forma de educação. Isso é um erro gravíssimo de interpretação de comportamento canino. Cães não sentem “nojo” de fezes como nós; para eles, é apenas matéria orgânica. Ao fazer isso, você não está ensinando higiene; você está sendo agressivo e assustador.

Isso quebra o vínculo de confiança. O cão não entende o motivo da agressão, especialmente se feita minutos ou horas após o ato. Ele aprende apenas que “fezes + humano por perto = perigo”. Isso leva o cão a comer as fezes ainda mais rápido para esconder a evidência ou a fazer as necessidades em locais escondidos da casa, dificultando a limpeza e o adestramento sanitário.

Produtos Anticoprofágicos e Comparativos: O que o mercado oferece

Para auxiliar no tratamento, a indústria veterinária desenvolveu produtos específicos. Eles funcionam alterando o sabor e o odor das fezes, tornando-as desagradáveis ao paladar canino. No entanto, eles não funcionam sozinhos; devem ser usados junto com o manejo comportamental.

Abaixo, preparei um quadro comparativo de três abordagens comuns encontradas no mercado brasileiro, para que você possa discutir a melhor opção com seu veterinário de confiança:

CaracterísticaProduto A (ex: Coprovet / Coprofag)Produto B (ex: Probióticos Veterinários)Produto C (ex: Spray Amargante Tópico)
Mecanismo de AçãoInserido na alimentação. Contém substâncias que, após a digestão, dão sabor ruim às fezes.Inserido na alimentação. Regula a flora intestinal para melhorar a absorção de nutrientes.Aplicado diretamente sobre as fezes já expelidas no ambiente.
Indicação PrincipalCães com coprofagia comportamental ou hábito fixado.Cães com disbiose, fezes pastosas, flatulência ou má absorção.Adestramento e dissuasão imediata em ambiente controlado.
VantagemAtua diretamente na palatabilidade do dejeto “de dentro para fora”.Trata a saúde do animal, não apenas o sintoma. Melhora a imunidade.Cria aversão imediata ao contato oral sem ingestão de fármacos.
DesvantagemPode não funcionar para todos os cães; exige administração em todas as refeições.O resultado pode demorar algumas semanas para aparecer.Exige que o tutor veja o cocô antes do cão para aplicar o produto.
Eficácia PercebidaMédia/Alta (se usado com treino).Alta (para causas fisiológicas).Média (depende da velocidade do tutor).

Como funcionam os aditivos palatabilizantes (que dão gosto ruim)

Os produtos da “coluna A” (anticoprofágicos orais) geralmente contêm glutamato monossódico ou outras substâncias que, ao passarem pelo processo digestivo, conferem às fezes um sabor metálico ou extremamente amargo. Para que funcionem, eles devem ser administrados em todas as refeições e para todos os cães da casa (caso o cão coma fezes dos outros). Se você falhar uma dose, o próximo cocô pode ser “gostoso” de novo, e o hábito retorna. A consistência é a chave.

Florais e terapias alternativas: Quando a causa é emocional

Se diagnosticarmos que a coprofagia do seu cão é puramente ansiedade ou estresse, os produtos químicos podem não ser suficientes. Nesses casos, a terapia com florais de Bach (específicos para compulsão e ansiedade) ou feromônios sintéticos (difusores de tomada que imitam o odor materno calmante) podem ajudar a reduzir a tensão geral do animal. Um cão menos ansioso tem menos necessidade de realizar comportamentos orais compulsivos.

Ansiolíticos em casos extremos

Em situações severas, onde o comportamento é compulsivo e interfere na qualidade de vida do animal (ele não dorme, não brinca, só procura fezes), pode ser necessário o uso de medicamentos psicotrópicos, como antidepressivos ou ansiolíticos veterinários (fluoxetina, clomipramina).

Isso nunca é a primeira opção e deve ser estritamente prescrito e acompanhado por um veterinário comportamentalista. O medicamento serve para “abrir uma janela” de aprendizado no cérebro do cão, permitindo que o adestramento faça efeito, sendo retirado gradualmente conforme o comportamento melhora.

Lidar com a coprofagia exige paciência, estômago forte e muito amor. Lembre-se: seu cão não faz isso para te afrontar. Com a abordagem certa, ajustando a saúde e o comportamento, é possível vencer essa batalha e ter de volta um convívio limpo e feliz.

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