Leishmaniose Visceral: A importância da coleira repelente
Leishmaniose Visceral: A importância da coleira repelente

Leishmaniose Visceral: A importância da coleira repelente

Leishmaniose Visceral: A importância da coleira repelente

Você provavelmente já ouviu falar sobre a Leishmaniose e, se ama seu cachorro, essa palavra deve causar um frio na espinha. Não é para menos. Estamos falando de uma doença complexa, silenciosa e, infelizmente, muitas vezes fatal se não for detectada e tratada a tempo. Como veterinário, vejo diariamente a angústia de famílias que descobrem o diagnóstico tarde demais, e a minha missão aqui é garantir que você não passe por isso. A boa notícia é que a prevenção está literalmente ao alcance das suas mãos — ou melhor, ao redor do pescoço do seu melhor amigo.

A coleira repelente não é apenas um acessório ou um “extra” nos cuidados com o pet; ela é, hoje, a ferramenta mais poderosa de saúde pública e proteção individual que temos contra o vetor dessa doença. Diferente de pulgas e carrapatos, que você vê caminhando sobre a pele do animal, o perigo da Leishmaniose vem pelo ar, através de um mosquito minúsculo que muitas vezes passa despercebido. Por isso, a estratégia não pode ser apenas matar o parasita depois que ele pica, mas sim impedir que ele chegue perto.

Neste artigo, vamos mergulhar fundo no universo da prevenção. Quero que você saia daqui entendendo não apenas qual coleira comprar, mas a biologia por trás da doença, o comportamento do inimigo que enfrentamos e como blindar sua casa e sua família. Vamos desmistificar crenças antigas e focar no que a ciência e a prática clínica nos mostram ser eficaz. Prepare-se para transformar a saúde do seu cão com conhecimento sólido e aplicável.

O que é a Leishmaniose Visceral e por que ela assusta tanto?

Uma doença silenciosa e sistêmica

A Leishmaniose Visceral, também conhecida como Calazar, é traiçoeira porque ela não segue um roteiro claro e previsível em todos os cães. O parasita Leishmania ataca as células de defesa do organismo, migrando para órgãos vitais como baço, fígado e medula óssea. O que torna o diagnóstico desafiador para nós, veterinários, e confuso para vocês, tutores, é que muitos cães podem permanecer assintomáticos por meses ou até anos, parecendo perfeitamente saudáveis enquanto o parasita se multiplica internamente.

Quando os sintomas finalmente aparecem, eles podem ser vagos e inespecíficos. Você pode notar que seu cão está emagrecendo mesmo comendo bem, ou que o pelo está opaco e caindo, especialmente ao redor dos olhos e na ponta das orelhas. Outras vezes, o sinal de alerta é o crescimento exagerado das unhas (onicogrifose) ou feridas na pele que teimam em não cicatrizar. Essa variedade de sinais faz com que a doença seja frequentemente confundida com problemas dermatológicos comuns ou desnutrição, atrasando o tratamento crucial.

O impacto sistêmico da doença é devastador se não controlado. Como ela afeta a medula óssea, o animal pode desenvolver anemia severa e ficar com a imunidade no chão, abrindo portas para outras infecções oportunistas. É uma doença crônica; ou seja, mesmo com tratamento, o animal portador precisará de acompanhamento e medicação pelo resto da vida para manter a carga parasitária baixa e ter qualidade de vida. Por isso, insisto tanto: prevenir é infinitamente melhor, mais barato e menos doloroso do que tratar.

O ciclo de transmissão: não é culpa do cão

Um dos maiores mitos que precisamos derrubar imediatamente é a ideia de que o cão transmite a doença diretamente para as pessoas ou para outros animais através de mordidas, lambidas ou contato físico. Isso não é verdade. Para que a transmissão ocorra, é obrigatória a presença de um intermediário: o flebotomíneo, popularmente conhecido como mosquito-palha ou birigui. O cão é, na verdade, a principal vítima e reservatório urbano, mas ele não é o vilão da história.

O ciclo funciona assim: o mosquito-palha fêmea pica um cão infectado para se alimentar de sangue e ingere o parasita. Dentro do inseto, a Leishmania sofre transformações e se multiplica. Quando esse mesmo mosquito pica outro cão saudável — ou uma pessoa — dias depois, ele regurgita os parasitas na corrente sanguínea da nova vítima. É uma transmissão vetorial. Sem o mosquito, a doença não passa de um indivíduo para o outro.

Entender esse ciclo muda completamente a nossa abordagem de prevenção. Se o foco fosse apenas o cão, o isolamento resolveria. Mas como o foco é o mosquito, precisamos de estratégias que evitem a picada. É aqui que entra a responsabilidade social de quem tem pet: ao proteger seu cachorro com uma coleira repelente, você não está apenas salvando a vida dele, mas está quebrando o ciclo de transmissão na sua vizinhança, protegendo outros animais e até sua própria família.

O risco para a sua família (Zoonose)

É fundamental que tenhamos uma conversa franca sobre o aspecto de saúde pública da Leishmaniose Visceral. Ela é uma zoonose grave, o que significa que pode ser transmitida aos seres humanos. O mesmo mosquito que pica seu cachorro no quintal pode entrar na sua casa e picar seus filhos ou você. No Brasil, a doença em humanos ainda tem uma taxa de letalidade preocupante, especialmente em crianças pequenas, idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido.

Diferente dos cães, que possuem reservatórios na pele facilitando a infecção do mosquito, os humanos são considerados hospedeiros acidentais finais. No entanto, o sofrimento causado pela doença em pessoas é imenso, envolvendo febre prolongada, aumento do baço e do fígado e internações longas. Proteger o cão, portanto, é uma questão de saúde familiar. O cão funciona como uma “sentinela”: se ele adoece, é um sinal vermelho de que o vetor está presente e ativo no seu ambiente, colocando todos em risco.

Muitos tutores me perguntam se devem se afastar do cão doente por medo de contágio. A resposta é não. O convívio direto com um cão em tratamento, desde que ele esteja usando a coleira repelente para impedir que mosquitos se alimentem nele, é seguro. O perigo não é o cão ao seu lado no sofá, mas o mosquito voando no jardim. A coleira repelente no animal atua como um escudo químico que reduz drasticamente a chance de um mosquito infectado picar alguém próximo.

A Coleira Repelente: A Primeira Linha de Defesa

Como funciona o princípio da repelência (o “escudo invisível”)

A tecnologia por trás das coleiras modernas é fascinante e é o que as diferencia de qualquer outro método. Elas são impregnadas com princípios ativos, geralmente da família dos piretróides (como a deltametrina), que são liberados lentamente. Conforme o cão se movimenta e a coleira fricciona no pescoço, a substância se espalha pela camada lipídica (a gordura natural) da pele e dos pelos, cobrindo o corpo todo do animal como uma capa invisível.

O grande trunfo dessas substâncias é o efeito “anti-feeding” ou anti-alimentação. Quando o mosquito-palha se aproxima de um cão protegido, ele detecta a substância química no ar ou ao tocar levemente nos pelos. Isso causa uma irritação extrema nas patas e no sistema nervoso do inseto, o que chamamos de efeito de “pés quentes”. O mosquito fica tão incomodado que não consegue realizar a picada e se afasta ou morre antes de se alimentar.

Esse mecanismo é vital porque a transmissão da Leishmania acontece muito rápido durante a picada. Se dependêssemos de um produto que precisasse que o mosquito picasse para depois morrer (como alguns comprimidos antipulgas), a transmissão já teria ocorrido. A repelência evita o contato inicial. É uma barreira química que impede a inoculação do parasita, garantindo que o ciclo seja interrompido antes mesmo de começar.

A diferença crucial entre matar e repelir

Você precisa entender essa distinção para não gastar dinheiro com o produto errado. Produtos que apenas matam (inseticidas) são ótimos para controlar infestações de carrapatos no ambiente ou no animal, mas para a Leishmaniose, matar o mosquito depois da picada é inútil para a prevenção da doença naquele animal específico. O mosquito pode até morrer, mas ele já deixou o protozoário na corrente sanguínea do seu pet.

A coleira específica para Leishmaniose combina as duas funções: ela repele e mata. A prioridade é a repelência. Se o mosquito for insistente e pousar, a exposição à alta concentração do princípio ativo na pele do cão o levará à morte, reduzindo a população de vetores na área. Mas o foco primário, o “padrão ouro” da prevenção, é evitar que a probóscide (o aparelho bucal do mosquito) penetre a pele.

Muitos tutores chegam ao consultório usando comprimidos mastigáveis excelentes para carrapatos e acham que o cão está protegido contra tudo. Eu sempre preciso explicar: comprimidos agem sistemicamente, ou seja, estão no sangue. O parasita precisa beber o sangue para morrer. Para o mosquito-palha, isso é tarde demais. Por isso, mesmo que você use comprimidos, a adição da coleira repelente é inegociável em áreas endêmicas.

Por que a coleira supera outros métodos isolados

Quando comparamos a coleira com sprays, pipetas ou a vacina, a coleira vence em praticidade e constância. Sprays precisam ser reaplicados com muita frequência e é difícil garantir que você cobriu cada centímetro do animal. Pipetas são ótimas, mas muitas têm ação repelente mais curta (cerca de 3 a 4 semanas) e dependem de você lembrar religiosamente da data de aplicação. Um esquecimento de três dias pode ser fatal na época de calor e chuva.

A coleira oferece uma liberação contínua e controlada por meses (geralmente 4 a 8 meses, dependendo da marca). Isso elimina o erro humano do esquecimento mensal. Além disso, a concentração do ativo se mantém estável na pele, garantindo proteção 24 horas por dia. O custo-benefício, quando diluído pelos meses de duração, costuma ser muito vantajoso em comparação à compra mensal de pipetas de alta qualidade.

A vacina contra a Leishmaniose, por sua vez, é uma ferramenta incrível, mas ela age de forma diferente. Ela não impede a picada e nem a infecção; ela ensina o sistema imune do cão a combater o parasita caso ele entre no corpo, evitando que a doença evolua para formas graves. Ou seja, um cão vacinado ainda pode ser picado e, teoricamente, pode se tornar um portador assintomático. Por isso, o Ministério da Saúde e órgãos internacionais, como o LeishVet, recomendam a coleira como método primário e essencial, com a vacina sendo um complemento robusto.

Entendendo o Inimigo: O Mosquito-Palha em Detalhes

Onde eles se escondem no seu quintal

Conhecer o hábito do mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis) é metade da batalha. Diferente do Aedes aegypti (o da dengue), que adora água parada e limpa, o mosquito-palha detesta água empoçada. Ele ama matéria orgânica úmida e em decomposição. Sabe aquele cantinho do quintal com folhas acumuladas, frutas que caíram do pé e apodreceram, ou fezes de animais que não foram recolhidas imediatamente? Esse é o berçário perfeito para ele.

As larvas do mosquito-palha se desenvolvem na terra úmida, sombreada e rica em húmus. Por isso, galinheiros, canis com chão de terra não higienizados e jardins com excesso de vegetação morta são focos de reprodução intensa. Muitas vezes, o tutor investe na melhor coleira do mundo, mas mantém um “criadouro” no fundo de casa. A prevenção precisa ser integrada: proteção no cão e limpeza no ambiente.

Se você tem árvores frutíferas, a atenção deve ser redobrada. As frutas caídas fermentam e atraem não só o mosquito adulto para se alimentar (eles gostam de açúcares vegetais também), mas criam o solo ideal para a postura de ovos. Manter o quintal varrido, recolher as fezes diariamente e permitir a entrada de luz solar na terra são medidas que matam as larvas por desidratação, reduzindo a população do vetor na sua casa.

O horário de ataque: crepúsculo e madrugada

O mosquito-palha tem hábitos muito específicos. Ele não gosta de sol forte e vento. Sua atividade máxima ocorre no final da tarde, ao pôr do sol (crepúsculo), e durante a noite. É nesse momento que as fêmeas saem em busca de sangue. Se o seu cão dorme fora de casa, ele está na linha de frente do ataque justamente no horário mais perigoso.

Isso não significa que o cão esteja 100% seguro durante o dia, especialmente se ele tiver acesso a áreas muito sombreadas, úmidas e sem vento, onde o mosquito pode estar repousando. Mas o risco explode à noite. Uma estratégia simples que recomendo a todos os meus clientes é, se possível, permitir que o cão durma dentro de casa ou em uma área telada (com malha bem fina, pois o mosquito é minúsculo) durante a noite.

A coleira repelente é fundamental porque ela protege o cão justamente nesses momentos em que você não está vendo. Enquanto todos dormem, a coleira está lá, exalando a proteção necessária. Se você costuma passear com seu cão no final da tarde, redobre a atenção. Esse é o “happy hour” do mosquito. O uso da coleira garante que esse passeio relaxante não se torne uma exposição de risco.

A picada silenciosa: por que você não percebe

O mosquito-palha é muito pequeno, medindo de 2 a 3 milímetros. Ele é muito menor que um pernilongo comum e voa de forma silenciosa, sem aquele zumbido irritante que nos alerta. Ele voa baixo, em pequenos saltos, e costuma picar partes do corpo com menos pelos, como o focinho e as orelhas do cão. Por ser tão discreto, é muito comum que os tutores nunca tenham visto o mosquito, mesmo tendo um cão infectado em casa.

A picada é indolor no momento, o que significa que o cão muitas vezes nem reage, não coça na hora e não late. Isso gera uma falsa sensação de segurança. “Ah, doutor, aqui em casa não tem mosquito, nunca vi meu cachorro sendo picado”. Eu escuto isso todos os dias. A ausência de incômodo visível não significa ausência de risco. O inimigo é furtivo.

Essa característica “invisível” do ataque reforça a necessidade de proteção preventiva contínua. Não dá para esperar ver o mosquito para agir. A coleira atua prevenindo esse contato que passa despercebido aos nossos olhos. Ela é a garantia de que, mesmo contra um inimigo silencioso e quase invisível, seu cão tem uma barreira química ativa.

Mitos e Verdades sobre a Prevenção da Leishmaniose

“Meu cachorro só fica dentro de casa, precisa de coleira?”

Essa é a pergunta campeã no consultório. Muitos tutores de cães de pequeno porte, que vivem em apartamentos e só saem para passeios rápidos na calçada, acreditam estar imunes. Infelizmente, isso é um mito perigoso. O mosquito-palha tem capacidade de voo, embora limitada, mas pode ser levado pelo vento (dispersão passiva) ou subir por elevadores e escadas.

Além disso, nenhum cão vive numa bolha hermética. Aquele passeio de 10 minutos para fazer xixi à noite na frente do prédio é tempo suficiente para uma picada se houver um foco próximo (como um terreno baldio, uma praça com árvores ou o jardim do condomínio). Em áreas endêmicas — e grande parte do Brasil urbano hoje é endêmica —, o risco existe em qualquer andar.

Já atendi cães de apartamento, que viviam no 10º andar, positivos para Leishmaniose. A explicação? Passeios noturnos ou finais de semana em sítios. Portanto, a recomendação veterinária é clara: todo cão em área de risco, independentemente se vive em casa ou apartamento, deve usar coleira repelente. O custo da prevenção é ínfimo comparado ao risco da doença.

“A vacina substitui a coleira?”

Como mencionei brevemente antes, a resposta é um sonoro NÃO. A vacina e a coleira têm funções complementares, não excludentes. Imagine que seu cão vai para uma guerra. A coleira é o escudo e a armadura, que tentam impedir que a flecha (o parasita) atinja o corpo. A vacina é o treinamento de defesa pessoal, para que, se a armadura falhar e a flecha entrar, ele saiba como lutar e sobreviver.

Se você apenas vacinar e não usar a coleira, seu cão continua sendo um alvo fácil para os mosquitos. Ele será picado. Mesmo que a vacina impeça que ele fique gravemente doente, ele pode se infectar. E se ele for picado novamente por um mosquito saudável, ele pode servir de fonte de infecção para o vetor, mantendo o ciclo da doença ativo na sua casa.

O conceito ideal é o que chamamos de “Double Defense” ou Dupla Defesa. A coleira é a barreira externa (repelência) e a vacina é a barreira interna (imunidade celular). Usar as duas juntas oferece a maior proteção possível que a ciência veterinária atual pode proporcionar. Mas se o orçamento apertar e você tiver que escolher apenas uma, a coleira é a prioridade sanitária número um devido à capacidade de bloquear a transmissão.

“Receitas caseiras funcionam como repelente?”

A internet está cheia de receitas milagrosas: óleo de citronela, vinagre, alho na comida, cravo-da-índia. Vamos ser diretos: para uma doença letal como a Leishmaniose, receitas caseiras não oferecem proteção confiável. O óleo de citronela, por exemplo, tem um efeito repelente volátil extremamente curto. Ele evapora em minutos ou poucas horas. Para proteger um cão, você teria que banhá-lo em citronela a cada 30 minutos, o que é inviável e tóxico para o olfato sensível do animal.

O alho, além de não ter comprovação científica de repelência contra o mosquito-palha quando ingerido, é tóxico para cães e gatos, podendo causar anemia por corpos de Heinz. Tentar proteger seu animal com métodos naturais sem comprovação é deixá-lo vulnerável. Estamos lidando com um protozoário sério, não com um incômodo passageiro.

As coleiras repelentes comerciais passam por testes rigorosos de eficácia, onde cães são expostos a centenas de mosquitos infectados em ambiente controlado para provar que a coleira realmente impede a picada em mais de 90-95% das vezes. Nenhuma receita caseira tem esse nível de validação. Confie na farmacologia veterinária; ela foi desenvolvida para salvar vidas.

Integrando a Proteção: O conceito de “Double Defense”

O papel da vacinação como barreira secundária

Já entendemos que a coleira é a base, mas a vacinação eleva a segurança a outro patamar. A vacina contra a Leishmaniose Visceral Canina estimula uma resposta imune específica chamada “celular”. A Leishmania é um parasita ardiloso que tenta enganar o sistema imune, fazendo o corpo produzir anticorpos que não funcionam contra ela, enquanto se esconde dentro das células.

A vacina “treina” o organismo a ignorar essa distração e atacar as células infectadas de forma eficiente. Cães vacinados, quando infectados (caso a coleira falhe), têm muito mais chances de permanecerem assintomáticos e não desenvolverem as lesões graves nos órgãos. Além disso, estudos mostram que cães vacinados têm menor carga parasitária na pele, o que os torna menos infecciosos para os mosquitos.

Para vacinar, o cão precisa primeiro fazer um exame de sangue para provar que não tem a doença (serologia negativa). O protocolo inicial envolve três doses com intervalo de 21 dias, e depois um reforço anual rigoroso. Associar isso ao uso da coleira cria um “cinturão de segurança” robusto em torno da saúde do seu pet.

Limpeza ambiental: o manejo do quintal

De nada adianta blindar o cachorro se o ambiente é um hotel cinco estrelas para o mosquito. A “Double Defense” também envolve o manejo ambiental. Você precisa se tornar um caçador de focos no seu quintal. A regra de ouro é: “luz e ar”. O mosquito odeia lugares secos e ensolarados.

Pode as árvores para que o sol bata na terra. Recolha folhas secas e frutas caídas diariamente. Se você tem composteira, ela deve ser fechada hermeticamente. Fezes de cães devem ser recolhidas imediatamente e descartadas no lixo, nunca deixadas num canto do jardim. Se o seu quintal tem muita terra, considere colocar pedriscos ou grama bem aparada, pois isso dificulta o acesso do mosquito à matéria orgânica do solo.

A dedetização profissional também ajuda, mas precisa ser feita com produtos específicos para flebotomíneos e com efeito residual. Porém, a dedetização sozinha tem efeito curto. A limpeza física, removendo o que o mosquito come e onde ele mora, é a medida mais eficaz e barata de controle ambiental a longo prazo.

O uso de repelentes tópicos (pipetas) em conjunto

Para tutores que vivem em áreas de altíssima incidência (onde você sabe que vizinhos e cães da rua estão doentes), podemos ser ainda mais agressivos na prevenção. Além da coleira e da vacina, podemos associar o uso de pipetas (pour-on) com ação repelente — geralmente à base de permetrina ou imidacloprida.

Essa sobreposição de métodos é útil principalmente nos períodos de troca da coleira (quando a eficácia pode estar caindo ligeiramente no último mês) ou em épocas de chuvas intensas e calor, quando a população de mosquitos explode. A pipeta cria um pico de concentração de repelente na pele que se soma à proteção basal da coleira.

Sempre converse com seu veterinário antes de combinar produtos químicos para evitar intoxicação, mas saiba que a maioria das grandes marcas de coleiras é compatível com o uso simultâneo de pipetas modernas. Essa estratégia de “superproteção” é frequentemente usada em cães que viajam para praias ou sítios em regiões endêmicas.

Como Escolher e Manter a Coleira Ideal

Ajuste correto: nem frouxa, nem apertada

Um erro clássico que vejo no consultório é a coleira mal colocada. Se ela ficar muito frouxa, “dançando” no pescoço do cão, ela não faz contato suficiente com a pele e o princípio ativo não se espalha. Se ficar muito apertada, incomoda, pode causar dermatites e feridas.

A regra prática é a “regra dos dois dedos”. Você deve conseguir passar dois dedos deitados entre a coleira e o pescoço do cão. Ela deve estar justa, em contato com os pelos e a pele, mas sem enforcar. Lembre-se de cortar o excesso da ponta se sobrar muito, deixando cerca de 2 a 3 cm após a fivela, para evitar que o cão a morda.

Verifique o ajuste periodicamente, especialmente em filhotes em crescimento. O que estava bom hoje pode estar apertado daqui a duas semanas. O contato contínuo é o segredo para a liberação constante da deltametrina ou do ativo equivalente.

Durabilidade e o momento certo da troca

Não tente economizar esticando o prazo da coleira. Se a embalagem diz 4 meses, troque com 4 meses. Se diz 6 ou 8, respeite esse limite. Ao final do período, a concentração do repelente na coleira cai a níveis que podem não ser suficientes para afastar o mosquito, embora ainda possam matar pulgas (que são mais sensíveis).

Para a Leishmaniose, precisamos da eficácia máxima. Marque na agenda do celular, coloque um aviso na geladeira ou escreva a data da troca na própria coleira com uma caneta permanente. A falha na troca é a brecha que o mosquito precisa. Em regiões muito quentes, onde o cão toma banho frequente ou a volatibilidade do produto é maior, alguns veterinários recomendam antecipar a troca em algumas semanas por segurança.

Resistência à água e banhos: o que você precisa saber

A maioria das coleiras modernas é resistente à água, o que significa que o cão pode tomar chuva ou entrar na piscina ocasionalmente sem perder a proteção totalmente. No entanto, o uso excessivo de xampus que removem a gordura da pele (seborreguladores ou de limpeza profunda) pode retirar temporariamente a camada lipídica onde o repelente está armazenado.

A recomendação geral é retirar a coleira antes do banho semanal. Dê o banho, seque bem o animal e recoloque a coleira. Isso preserva a matriz do produto químico dentro da coleira e evita que o xampu lave o princípio ativo da pele antes que ele aja. Após recolocar, leva cerca de 24 a 48 horas para o produto se redistribuir totalmente pelo corpo novamente.

Comparativo: Escolhendo a Melhor Opção para o Seu Pet

O mercado oferece excelentes opções, mas nem todas são iguais. Para Leishmaniose, precisamos buscar produtos que tenham repelência comprovada contra o vetor Lutzomyia. Abaixo, comparo as três principais opções disponíveis no Brasil que são amplamente recomendadas por veterinários.

CaracterísticaColeira Scalibor (MSD)Coleira Seresto (Elanco)Coleira Leevre (Ourofino)
Princípio AtivoDeltametrina (4%)Imidacloprida + FlumetrinaDeltametrina + Propoxur
Duração para LeishmanioseAté 4 mesesAté 8 mesesAté 6 meses
Proteção ExtraPulgas e moscas (moderado)Pulgas e Carrapatos (alta eficácia)Carrapatos (6 meses) e Pulgas (9 meses)
CheiroSem cheiroSem cheiroLeve odor característico
Pode em Filhotes?A partir de 3 mesesA partir de 7 semanasA partir de 3 meses
DestaquePioneira, distribuída pelo governo em áreas de risco. Focada no vetor.Maior duração do mercado. Tecnologia de matriz polimérica (liberação inteligente).Custo-benefício competitivo. Combinação de dois ativos potentes.

Avaliando a Coleira Scalibor (Deltametrina)

A Scalibor é a “veterana” e a referência quando se fala em Leishmaniose. Sua eficácia é validada por dezenas de estudos e é a coleira escolhida pelo Ministério da Saúde para campanhas públicas. O foco dela é total no mosquito-palha. Embora a caixa diga 4 meses, essa é a janela de segurança máxima para o mosquito. É uma escolha segura, clássica e eficiente.

Analisando a Coleira Seresto (Imidacloprida + Flumetrina)

A Seresto trouxe uma inovação tecnológica de matriz que permite uma duração muito maior (até 8 meses). Isso é excelente para tutores que tendem a esquecer as trocas frequentes. Além de repelir o mosquito da Leishmaniose, ela é extremamente potente contra pulgas e carrapatos, oferecendo uma solução completa. O investimento inicial é mais alto, mas se você dividir por 8 meses, o custo mensal é muito competitivo.

Conhecendo a Coleira Leevre (Deltametrina + Propoxur)

A Leevre entrou no mercado nacional combinando a deltametrina (excelente repelente) com propoxur. Ela promete proteção de até 6 meses contra o vetor da Leishmaniose. É uma opção robusta que tem ganhado muito espaço pelo bom custo-benefício e pela eficácia contra carrapatos também. É uma excelente alternativa intermediária em termos de duração.

Proteger seu cão contra a Leishmaniose Visceral é um ato de amor e de cidadania. Não espere a doença bater à sua porta. Escolha a coleira que melhor se adapta à sua rotina e ao seu bolso, ajuste-a no pescoço do seu amigo hoje mesmo e durma tranquilo sabendo que você fez a sua parte para manter sua família — de duas e quatro patas — segura.

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