Lágrima Ácida em Maltês: O Guia Definitivo para Limpar e Evitar Manchas
Lágrima Ácida em Maltês: O Guia Definitivo para Limpar e Evitar Manchas

Lágrima Ácida em Maltês: O Guia Definitivo para Limpar e Evitar Manchas

Você já olhou para o rostinho angelical do seu Maltês e se perguntou por que aquelas manchas escuras insistem em aparecer, mesmo com todo o seu cuidado? Essa é a dúvida número um que recebo no consultório quando atendo tutores dessa raça maravilhosa. A famosa “lágrima ácida” é o pesadelo estético de muitos, mas, como veterinário, preciso te dizer: ela é mais do que apenas uma questão de beleza. Ela é um sinal que o corpo do seu pet está nos enviando e precisamos decifrá-lo juntos.

Entender a fisiologia do seu cão é o primeiro passo para resolver o problema de forma definitiva. Não adianta apenas limpar se a causa raiz continua ativa, produzindo pigmentos que oxidam em contato com o ar e a luz. O termo “lágrima ácida”, na verdade, é tecnicamente incorreto, pois o pH da lágrima desses cães costuma ser neutro. O que vemos é a cromodacriorreia, um nome complicado para o excesso de produção ou drenagem ineficiente de lágrimas ricas em pigmentos.[1][2]

Neste guia completo, vou te conduzir pelo universo da oftalmologia e dermatologia canina de forma prática. Vamos desmistificar crenças populares, ajustar a rotina do seu Maltês e implementar um protocolo de higiene que realmente funciona. Prepare-se para aprender como manter aquele focinho branco e saudável, garantindo qualidade de vida e bem-estar para o seu melhor amigo.[3]

A Verdade sobre a “Lágrima Ácida”: O Que Realmente Causa as Manchas?

Anatomia do Maltês: Por que eles sofrem mais?

Você precisa compreender que a anatomia do Maltês joga contra ele nesse aspecto específico. Como cães de raça pequena e braquicefálicos (focinho curto), eles frequentemente apresentam órbitas oculares rasas. Isso significa que os olhos são proeminentes e o espaço para o acúmulo de lágrima é menor. Além disso, o ducto nasolacrimal — o canalzinho que deveria drenar a lágrima do olho para o nariz — costuma ser tortuoso, estreito ou até obstruído geneticamente.[4]

Quando esse sistema de drenagem não funciona com eficiência máxima, a lágrima transborda. Imagine uma pia com a torneira aberta e o ralo entupido; a água vai vazar para fora. No caso do seu cão, essa “água” escorre pela face.[5] A pelagem branca do Maltês funciona como uma tela em branco, onde qualquer umidade constante cria o ambiente perfeito para a oxidação e proliferação de bactérias e leveduras, agravando a coloração.

Outro ponto anatômico crucial é a presença de pelos ao redor dos olhos e nas carúnculas lacrimais. Esses pelos, se não forem aparados corretamente, agem como pavios, puxando a lágrima para fora do olho e mantendo a pele subjacente sempre úmida. Essa umidade crônica macera a pele, podendo causar dermatites que incomodam o animal, geram coceira e aumentam ainda mais a produção de lágrimas como resposta irritativa.

O Mito da Acidez: Entendendo as Porfirinas e o pH

Vamos derrubar um mito agora: a lágrima do seu cachorro não é ácida. Se medirmos o pH da lágrima de um Maltês com manchas, provavelmente encontraremos um valor próximo ao neutro (cerca de 7.0 a 7.5). Se a lágrima fosse realmente ácida a ponto de queimar e manchar o pelo, ela causaria lesões graves na córnea do animal. O verdadeiro vilão dessa história é uma molécula chamada porfirina.

As porfirinas são compostos que contêm ferro e são originadas da quebra dos glóbulos vermelhos. Elas são excretadas naturalmente pelo corpo através da bile, do trato intestinal, da urina, da saliva e, claro, das lágrimas. Quando essas lágrimas contendo porfirinas ficam na pele e secam no pelo, a exposição ao oxigênio e à luz solar causa uma reação química. O ferro presente na molécula oxida, resultando naquela cor marrom-avermelhada característica, muito parecida com a ferrugem.

Por isso, você nota que as manchas também aparecem nas patas (porque eles se lambem) e ao redor da boca. Não é uma queimadura química por ácido; é uma pigmentação por oxidação. Além disso, a umidade constante favorece o crescimento de um fungo chamado Pityrosporum (ou Malassezia), que também tem uma coloração avermelhada. Ou seja, muitas vezes estamos lidando com um combo: pigmentação por porfirina somada a uma infecção fúngica secundária.

Fatores Externos: Alimentação, Água e Ambiente

O ambiente em que seu Maltês vive e o que ele consome têm impacto direto na produção de lágrimas e na qualidade delas. A água da torneira, por exemplo, muitas vezes é rica em minerais e metais pesados, além de cloro e flúor. O excesso de minerais na água pode contribuir para uma maior concentração de impurezas no organismo do animal, que serão excretadas. Oferecer água filtrada ou mineral é uma mudança simples, mas mandatória para quem quer controlar as manchas.

A alimentação é outro pilar fundamental. Rações de baixa qualidade, ricas em corantes, conservantes artificiais e grãos como milho e soja, podem desencadear reações inflamatórias sistêmicas ou alergias alimentares leves. Essas reações aumentam a produção de histamina, que por sua vez aumenta o lacrimejamento. Uma dieta limpa, com proteínas de alta digestibilidade e livre de aditivos químicos, reduz a carga tóxica que o corpo precisa eliminar.

Fatores ambientais como poeira, pólen, fumaça de cigarro e produtos de limpeza fortes usados na casa também são irritantes oculares potentes. Se o seu cão vive em um ambiente com muitos alérgenos, os olhos dele tentarão “lavar” essas partículas produzindo mais lágrima. É um mecanismo de defesa natural. Portanto, controlar a qualidade do ar e os produtos químicos que entram em contato com o ambiente do seu pet é parte integrante do tratamento da epífora.

Protocolo de Limpeza Diária: O Segredo para um Rostinho Branquinho

Materiais Essenciais: O que você precisa ter em casa

Para vencer a batalha contra as manchas, você precisa se armar com as ferramentas certas. Improvisar com produtos humanos ou tecidos ásperos pode piorar a irritação. O kit básico de higiene para o seu Maltês deve incluir gaze estéril (evite algodão, pois as fibras podem entrar no olho e causar úlceras), soro fisiológico 0,9% (mantido na geladeira para efeito calmante) e uma loção específica para limpeza da área dos olhos veterinária.

Além dos itens de limpeza, recomendo ter um pente de metal com dentes bem finos, específico para a face. Esse pente serve para remover remelas secas e detritos que se acumulam nos cantos dos olhos antes que eles formem crostas duras. Produtos em pó à base de ácido bórico ou amido de milho (específicos para pets) também podem ser úteis para manter a área seca após a limpeza, criando uma barreira contra a umidade.

Evite terminantemente o uso de água oxigenada, vinagre puro ou receitas caseiras mirabolantes encontradas na internet sem validação veterinária. A córnea do seu cão é extremamente sensível. Uma gota errada de um produto abrasivo pode causar uma úlcera de córnea dolorosa e de difícil tratamento. Invista em produtos oftalmologicamente testados para uso veterinário; a segurança do seu animal deve vir sempre em primeiro lugar.

Passo a Passo da Higienização Segura

A consistência é a chave do sucesso. Você deve realizar a limpeza pelo menos duas vezes ao dia: pela manhã e à noite. Comece lavando bem as suas mãos. Umedeça a gaze com o soro fisiológico gelado ou a loção de limpeza. Segure o focinho do seu cão com firmeza, mas gentilmente, e passe a gaze do canto interno do olho para fora. Use uma gaze diferente para cada olho para evitar a contaminação cruzada caso haja alguma infecção latente.

Após remover a sujeira superficial e amolecer as crostas, use o pente fino com extremo cuidado para retirar qualquer resíduo sólido preso aos pelos. Se a crosta estiver muito dura, não force; umedeça mais e espere amolecer. O trauma mecânico de puxar o pelo irrita a pele e aumenta o lacrimejamento. Depois de limpar, o passo mais importante e frequentemente esquecido: secar.

A área precisa ficar completamente seca. Use uma gaze seca ou um lenço de papel macio para absorver toda a umidade residual. Se o pelo ficar úmido, a oxidação continuará ocorrendo. Para finalizar, você pode aplicar uma camada fina de pó secante específico ou uma pasta protetora, se recomendada pelo seu veterinário, para impermeabilizar os fios contra a nova lágrima que irá cair. Transforme esse momento em algo positivo, recompensando seu pet com um petisco saudável ao final.

Erros Comuns que Pioram a Situação

Um dos erros mais frequentes que vejo no consultório é o tutor cortar o pelo do canto dos olhos muito curto, achando que isso vai ajudar. Quando o pelo é cortado rente demais, ao crescer, ele se torna espetado e rígido, podendo virar para dentro e tocar o globo ocular. Isso causa microtraumas constantes na córnea, gerando dor e muito mais lacrimejamento. O ideal é deixar o pelo crescer o suficiente para ser penteado para baixo ou preso em um topete.

Outro erro é o uso abusivo de antibióticos orais (como a tilosina) para fins estéticos sem supervisão. Embora a tilosina possa reduzir as manchas temporariamente ao alterar a flora bacteriana e a ligação com as porfirinas, o uso indiscriminado cria resistência bacteriana. Você pode estar criando superbactérias no organismo do seu cão por uma questão puramente estética. Antibiótico é remédio sério e só deve ser usado para tratar infecções diagnosticadas.

Por fim, ignorar a saúde bucal é um erro fatal para a brancura do rosto. As raízes dos dentes superiores pré-molares e molares estão intimamente ligadas aos seios nasais e próximas aos ductos lacrimais. Uma doença periodontal, tártaro ou gengivite grave pode causar inflamação nessa região, comprimindo os ductos e aumentando a epífora. Manter os dentes do seu Maltês limpos é, surpreendentemente, uma forma de evitar manchas nos olhos.

Soluções e Tratamentos: Produtos, Dietas e Intervenções

A Importância da Água Filtrada e da Alimentação Premium

Já mencionei a água, mas preciso reforçar: a qualidade da hidratação é inegociável. Ofereça água filtrada, mineral ou de osmose reversa. Use bebedouros de aço inoxidável, cerâmica ou vidro. Bebedouros de plástico são porosos e acumulam bactérias em microfissuras, que entram em contato com o focinho do animal (e as porfirinas da saliva) a cada gole, perpetuando o ciclo de contaminação bacteriana na face.

Sobre a dieta, a transição para uma ração Super Premium ou uma Alimentação Natural (AN) balanceada por um zootecnista ou vet nutrólogo pode operar milagres. Alimentos com fontes de proteína de baixa qualidade ou subprodutos geram mais resíduos metabólicos. Alguns cães Malteses têm sensibilidade específica a frango ou carne bovina. Fazer testes de exclusão, trocando a proteína por peixe, cordeiro ou porco, pode reduzir a resposta inflamatória sistêmica e clarear as lágrimas.

Lembre-se também de evitar petiscos coloridos artificialmente. Aqueles ossinhos vermelhos ou biscoitos cheios de corantes são terríveis para cães brancos. O corante ingerido precisa sair por algum lugar, e frequentemente ele altera a pigmentação dos fluidos corporais. Opte por petiscos naturais desidratados, frutas permitidas (como maçã sem semente ou pera) ou legumes.

Suplementos e Aditivos: O que funciona e o que é perigoso

O mercado pet está inundado de “pós mágicos” para lágrima ácida. Você deve ter cautela. Suplementos que funcionam geralmente focam em equilibrar o pH e reduzir a oxidação. Procure por produtos que contenham cranberry (que ajuda na saúde do trato urinário e altera o pH de fluidos), extrato de mirtilo (antioxidante potente) e probióticos.

Muitos produtos antigos continham o antibiótico tilosina camuflado na fórmula (“tartrate”). Hoje, a maioria dos países proíbe a venda desses produtos sem receita, mas ainda é possível encontrá-los online. Eu, como veterinário, contraindico o uso contínuo desses produtos. O risco de problemas hepáticos e resistência bacteriana a longo prazo não vale a estética.

Foque em aditivos naturais. O vinagre de maçã orgânico (uma colher de chá na água, se o cão aceitar) pode ajudar a acidificar levemente o organismo e combater leveduras, mas deve ser introduzido com cuidado para não causar gastrite. Sempre consulte seu vet antes de adicionar qualquer coisa à comida ou água do seu Maltês. O que funciona para o cão do vizinho pode ser tóxico para o seu.

Quando o Caso é Cirúrgico: Desobstrução do Ducto Nasolacrimal

Se você já tentou de tudo — dieta, higiene, água filtrada — e os olhos do seu Maltês continuam vazando excessivamente, pode ser um problema mecânico. Nesse cenário, realizamos um teste chamado “Teste de Jones” com fluoresceína (um corante verde). Pingamos no olho e esperamos ver se sai pelo nariz. Se não sair, o ducto está entupido.

A desobstrução do ducto nasolacrimal é um procedimento clínico, feito sob sedação ou anestesia geral leve. Nós introduzimos uma cânula muito fina no ponto lacrimal e injetamos soro fisiológico para “lavar” o canal, empurrando qualquer plugue de muco, cristais ou detritos que estejam bloqueando a passagem. Em muitos casos, isso resolve o problema imediatamente.

Porém, existem casos onde o ducto é atrésico (fechado) ou inexistente por má-formação congênita. Nesses casos, a cirurgia para criar um novo caminho é complexa e nem sempre recomendada, a menos que o acúmulo de lágrima esteja causando infecções recorrentes graves. O veterinário oftalmologista é o profissional ideal para avaliar se o risco cirúrgico compensa o benefício para o seu animal.

Comparativo de Produtos para Controle de Manchas

Para te ajudar a navegar pelas prateleiras do pet shop, preparei um quadro comparativo entre três tipos de produtos populares no mercado. Analise qual se adapta melhor à rotina e necessidade do seu Maltês.

CaracterísticaLimpa Lágrimas (Loção Tópica)Suplemento Nutricional (Pó/Petisco)Lenços Umedecidos Específicos
Ação PrincipalLimpeza externa e remoção física de crostas e oxidação superficial.Atua de dentro para fora, alterando a composição da lágrima ou reduzindo porfirinas.Praticidade na higiene diária e manutenção rápida.
Composição ComumÁcido bórico, tensoativos suaves, camomila.Cranberry, probióticos, luteína, extratos vegetais.Solução salina, aloe vera, agentes de limpeza suaves.
PrósEfeito imediato na higiene; baixo risco de efeitos colaterais sistêmicos.Trata a causa interna; ideal para casos onde a limpeza externa não basta.Muito fácil de usar; ótimo para levar em viagens; descartável.
ContrasRequer disciplina diária; não impede a produção da lágrima pigmentada.Pode levar semanas para mostrar resultado; risco de alergia alimentar.Custo mais elevado a longo prazo; gera mais lixo.
Indicação VeterináriaIndispensável para todos os cães com manchas. Base do tratamento.Recomendado para casos moderados a severos, como coadjuvante.Ótimo para manutenção, mas pode não remover crostas duras.

Estratégias Nutricionais Avançadas para Combater a Epífora

O Papel dos Antioxidantes e Probióticos na Saúde Ocular

A saúde ocular está intrinsecamente ligada à saúde sistêmica. O estresse oxidativo no corpo do seu cão contribui para a inflamação e degradação celular. Introduzir antioxidantes na dieta é uma estratégia inteligente. A luteína e a zeaxantina são carotenoides poderosos que se acumulam na retina e protegem os olhos, além de melhorarem a qualidade da lágrima. Você pode encontrar esses nutrientes em vegetais de folhas verdes escuras (como couve cozida e picada) e na gema do ovo.

Os probióticos, por sua vez, modulam o sistema imunológico. Um intestino saudável significa menos inflamação no corpo todo. Cepas como Lactobacillus acidophilus e Bifidobacterium animalis ajudam a equilibrar a microbiota, reduzindo a produção de toxinas que poderiam ser excretadas na lágrima. Além disso, eles ajudam a controlar a população de leveduras (Malassezia) na pele, prevenindo que as manchas fiquem vermelhas e com mau cheiro.

Você pode usar suplementos prontos ou alimentos funcionais como o kefir ou iogurte natural (sem açúcar e sem lactose, se o cão for sensível), sempre com moderação e aval do seu vet. O equilíbrio da flora intestinal é muitas vezes a peça que falta no quebra-cabeça da lágrima ácida.

Ingredientes Inflamatórios: O que banir da dieta do seu Maltês

Se o seu objetivo é acabar com as manchas, você precisa se tornar um detetive de rótulos. Alguns ingredientes são notoriamente pró-inflamatórios para cães sensíveis. O glúten (presente no trigo) é um dos maiores vilões. Muitos cães têm dificuldade em digerir o glúten, o que gera uma inflamação crônica de baixo grau no intestino, refletindo-se na pele e nos olhos.

Outros ingredientes a evitar incluem a polpa de beterraba (comum em rações como fonte de fibra, mas que pode alterar a pigmentação em alguns cães), xarope de milho e propilenoglicol (usado para manter a umidade em rações semi-úmidas). Além disso, o excesso de carboidratos simples pode alimentar as leveduras na face do animal. Uma dieta low-carb ou cetogênica canina, supervisionada, pode ajudar a “matar de fome” os fungos que agravam as manchas.

Fique atento também às carnes processadas e farinhas de carne genéricas (“farinha de carne e ossos”). Elas possuem níveis de cinzas minerais muito altos e qualidade de proteína variável. Prefira rações que listem a carne fresca ou farinha de vísceras de alta qualidade como primeiro ingrediente.

A Relação entre Microbiota Intestinal e Manchas Faciais

Existe um eixo intestino-pele-olhos que a ciência veterinária moderna está desvendando. A disbiose intestinal (desequilíbrio das bactérias do intestino) leva ao que chamamos de “Leaky Gut” ou intestino permeável. Isso permite que macromoléculas e toxinas atravessem a barreira intestinal e entrem na corrente sanguínea. O corpo, tentando se livrar dessas toxinas, usa todas as vias de excreção possíveis, incluindo as glândulas lacrimais.

Tratar o intestino do seu Maltês pode ser mais eficaz do que qualquer colírio clareador. Isso envolve o uso de prebióticos (alimento para as bactérias boas), glutamina (para reparar a parede intestinal) e a remoção de alérgenos alimentares. Quando o intestino funciona bem, a carga de porfirinas e toxinas na lágrima diminui drasticamente.

Observe as fezes do seu cão. Fezes moles, com muco ou muito volumosas e fedidas são sinais de que a digestão não vai bem. Se a digestão está ruim, é muito provável que a lágrima ácida persista. Trate o cão como um todo, não apenas os olhos.

Diferenciando Problemas Estéticos de Doenças Oculares Graves

Sinais de Alerta: Quando a mancha indica uma úlcera ou infecção

Nem toda mancha é apenas estética. Você precisa estar atento aos sinais de dor. Se o seu Maltês pisca excessivamente (blefaroespasmo), mantém o olho fechado, esfrega a pata no rosto com violência ou se a esclera (a parte branca do olho) estiver vermelha, corra para o veterinário. Isso não é lágrima ácida; isso é dor ocular.

Uma úlcera de córnea pode ser causada pelo próprio pelo roçando no olho ou por um trauma. É uma condição de emergência. Outro sinal de alerta é a secreção purulenta (amarela ou esverdeada). A lágrima normal oxida para marrom/ferrugem. Se a secreção for verde ou amarela espessa, estamos lidando com uma conjuntivite bacteriana ou ceratoconjuntivite seca (olho seco) infectada, que exige tratamento com antibióticos tópicos imediatos.

A fotofobia (sensibilidade à luz) também é um indicativo de problemas intraoculares como a uveíte. Se seu cão foge da luz ou se esconde em lugares escuros, ele está com dor. Não tente limpar ou tratar em casa; procure ajuda profissional.

Entrópio e Distiquíase: Anomalias comuns no Maltês

Como veterinário, examino as pálpebras de todo Maltês com rigor. Duas condições genéticas são muito comuns nessa raça. O entrópio é quando a pálpebra se inverte para dentro, fazendo com que os cílios e a pele da pálpebra raspem na córnea a cada piscada. Imagine ter areia no olho 24 horas por dia. A produção de lágrima dispara como defesa.

A distiquíase é o nascimento de cílios em local errado, saindo diretamente das glândulas de Meibômio na linha da pálpebra, apontando para o olho. Esses cílios extras agem como agulhas finas. Muitas vezes, o tutor acha que é só “lágrima ácida”, mas o cão está sofrendo com cílios perfurando o olho.

Ambas as condições são cirúrgicas ou requerem procedimentos como a crioepliação (congelamento do folículo do cílio). Resolver essas anomalias não só cura o lacrimejamento excessivo, mas devolve a paz e o conforto para o seu cão. Nenhuma limpeza vai resolver se houver uma causa física irritativa.

O Exame Oftalmológico: O que esperar da consulta com o especialista

Quando você leva seu Maltês ao oftalmologista veterinário, faremos uma bateria de exames indolores. Começamos com o Teste de Schirmer, que mede a quantidade de lágrima produzida. Curiosamente, alguns cães com “olho molhado” na verdade têm “olho seco” (pouca qualidade de lágrima), o que faz o olho produzir uma lágrima reflexa aquosa em excesso para compensar a falta de lubrificação lipídica.

Faremos também a coloração com fluoresceína para checar úlceras e a permeabilidade do ducto (o teste de Jones que mencionei antes). Usamos a lâmpada de fenda para ampliar as estruturas do olho e ver cílios ectópicos invisíveis a olho nu. Também medimos a pressão intraocular para descartar glaucoma.

Esse check-up oftalmológico deve ser anual para raças predispostas como o Maltês. Prevenir a perda de visão e garantir o conforto ocular é muito mais valioso do que apenas ter um cão esteticamente perfeito. Mas a boa notícia é que, ao tratar a saúde ocular, a estética vem como consequência natural. Cuidar dos olhos do seu Maltês é um ato de amor que vai muito além das aparências.

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