Guia da raça Rottweiler: Potência e lealdade
Quando recebo um Rottweiler no meu consultório, a primeira coisa que noto não é apenas o tamanho imponente ou a musculatura definida, mas o olhar. Existe uma inteligência profunda e uma lealdade inabalável nesses cães que, infelizmente, muitas vezes é mal compreendida por quem não conhece a raça. Se você está pensando em trazer um desses gigantes para a sua vida, ou se já tem um roncando no sofá da sala, prepare-se para uma jornada de dedicação mútua.
Eles são a definição viva de potência combinada com devoção. No entanto, essa combinação exige um tutor responsável, que entenda que ter um Rottweiler não é apenas ter um cão de guarda, mas sim um membro da família que precisa de orientação constante. Como veterinário, vejo muitos erros de manejo que poderiam ser evitados com informação correta.
Neste guia, vou tirar o jaleco branco da formalidade e conversar diretamente com você sobre o que realmente importa na saúde, no comportamento e no dia a dia com essa raça fascinante. Vamos desmistificar a “fama de mau” e focar no potencial incrível que esses cães têm de serem os melhores amigos que você já teve.
A História por trás da força
Para entender o comportamento do seu cão hoje, você precisa olhar para o passado dele. O Rottweiler não “nasceu” bravo ou perigoso; ele foi forjado pelo trabalho duro. A história dessa raça remonta ao Império Romano, onde seus ancestrais marchavam longas distâncias guardando o gado que alimentava as legiões.
De Roma Antiga a Rottweil
Imagine a resistência necessária para cruzar os Alpes protegendo rebanhos. Os ancestrais do Rottweiler eram cães molossos, robustos e incansáveis. Quando os romanos chegaram à região que hoje é o sul da Alemanha, fundaram a cidade de Rottweil. Foi ali que a raça como conhecemos começou a tomar forma. Eles não eram cães de luxo; eram ferramentas essenciais de sobrevivência para os habitantes locais.
Durante a Idade Média, a cidade de Rottweil se tornou um centro importante de comércio de gado. Os açougueiros locais precisavam de um cão que não apenas conduzisse o gado até o mercado, mas que também protegesse o dinheiro da venda na viagem de volta. Diz a lenda que os açougueiros amarravam as bolsas de moedas no pescoço dos cães, pois sabiam que ninguém seria louco o suficiente para tentar roubá-los. Essa função moldou o instinto de proteção que você vê no seu cão hoje.
A transição de cão de pastoreio para cão de tração também foi natural. Eram fortes o suficiente para puxar carroças carregadas de carne e suprimentos. Essa herança explica por que seu Rottweiler adora ter uma “tarefa” para fazer. Eles se sentem realizados quando são úteis, seja carregando uma mochila própria durante a caminhada ou obedecendo a comandos complexos de adestramento.
O cão de trabalho versátil
Com a chegada das ferrovias no século XIX, a condução de gado diminuiu, e a raça quase foi extinta. Felizmente, a versatilidade do Rottweiler o salvou. No início do século XX, a polícia alemã estava testando raças para serviço e descobriu que o Rottweiler era imbatível em coragem, força e faro. Em 1910, ele foi oficialmente reconhecido como cão policial.
Essa mudança de carreira reforçou características como a autoconfiança e a capacidade de tomar decisões. Um cão policial precisa saber quando atacar e quando apenas imobilizar ou vigiar. Isso se traduz no ambiente doméstico como um cão que não late por qualquer coisa. O Rottweiler observa, analisa e só reage se realmente sentir uma ameaça real. É o que chamamos de nervos de aço.
Hoje, além da polícia, vemos Rottweilers atuando em busca e resgate, terapia assistida e competições de obediência. Isso prova que a “agressividade” não é a característica principal da raça, mas sim a “trabalhabilidade”. Se você canalizar essa energia de trabalho para atividades positivas, terá um cão equilibrado. Se deixá-lo ocioso no quintal, ele arrumará o próprio “trabalho”, que geralmente envolve destruir seu jardim ou o sofá.
Mitos sobre agressividade histórica
É crucial abordarmos o elefante na sala: a fama de agressividade. Historicamente, o Rottweiler nunca foi criado para ser um assassino descontrolado. Ele foi criado para ser um controlador de rebanho e um guardião. Um cão que ataca o gado sem motivo é inútil para um pastor. Portanto, o controle da mordida e o temperamento estável sempre foram requisitos de seleção genética.
A agressividade que vemos nas manchetes de jornais geralmente é fruto de criação irresponsável (cruzamentos sem critério de temperamento) e, principalmente, falta de socialização. No meu consultório, os Rottweilers que mostram agressividade excessiva quase sempre são cães que vivem isolados, acorrentados ou que foram treinados com violência. A agressividade é muitas vezes uma resposta ao medo ou à insegurança, não uma maldade inata.
Você precisa entender que a história genética do seu cão predispõe ele a proteger o território e a família. Isso não é um defeito, é uma característica. O seu papel como tutor é ensinar a ele quem são os “amigos” e em quais situações ele pode relaxar. Um Rottweiler bem socializado, que honra sua história de trabalho colaborativo com humanos, é um gigante gentil que permite até que crianças brinquem com ele (sempre sob supervisão, claro).
Temperamento: O gigante gentil (se bem treinado)
Muitos tutores se surpreendem com o quão carinhoso um Rottweiler pode ser. É comum vê-los tentando subir no colo do dono como se fossem cães de colo de 50 quilos. Esse contraste entre a aparência bruta e o coração mole é o que apaixona os donos da raça. Mas, para que esse lado gentil prevaleça, o ambiente precisa ser adequado.
Lealdade inabalável com a família
A lealdade de um Rottweiler não é algo que você ganha automaticamente; é algo que você constrói. Uma vez estabelecido o vínculo, eles são “cães de velcro”. Eles vão te seguir até o banheiro, deitar nos seus pés enquanto você trabalha e ficar de olho na porta enquanto você dorme. Essa devoção faz deles companheiros emocionais incríveis, mas também pode gerar ansiedade de separação se não for bem trabalhada.
Diferente de algumas raças que amam todo mundo que encontram na rua, o Rottweiler tende a ser reservado com estranhos. Ele não vai necessariamente abanar o rabo para a visita na primeira vez. Ele vai observar a sua reação. Se você estiver tranquilo e acolhedor, ele entenderá que a visita é bem-vinda. Se você estiver tenso, ele entrará em modo de alerta. Eles são espelhos emocionais dos seus donos.
Essa conexão profunda exige que você seja um líder calmo e consistente. Não confunda liderança com brutalidade. O Rottweiler respeita quem é justo e firme, não quem grita. Se você tentar dominar esse cão pela força física, vai perder a confiança dele e criar um conflito perigoso. A lealdade deles floresce quando sentem que você está no controle da situação e que eles podem confiar na sua direção.
Instinto de guarda natural
Você não precisa ensinar um Rottweiler a guardar sua casa; isso já vem instalado no “software” dele. O desafio é ensinar quando não guardar. O instinto territorial é forte, e isso inclui a casa, o carro e até os membros da família. Como veterinário, já vi Rottweilers que não deixavam ninguém se aproximar do carrinho do bebê da família. Embora pareça nobre, isso pode ser perigoso se o cão interpretar um amigo ou um médico como ameaça.
O instinto de guarda deve ser lapidado. Um bom cão de guarda não é aquele que morde primeiro e pergunta depois. É aquele que late para avisar, que se posta fisicamente entre o dono e o perigo, e que só usa a força física como último recurso. O latido do Rottweiler é grave e profundo, geralmente suficiente para afugentar qualquer intruso sensato sem a necessidade de confronto físico.
É importante que você não estimule a guarda de forma amadora. Incentivar o cão a latir para quem passa no portão ou a atacar objetos pode criar um animal reativo e instável. Deixe o instinto natural agir; ele saberá a diferença entre um entregador de pizza e alguém pulando o muro à noite. O seu foco deve ser o controle: o cão deve parar de latir ou de rosnar assim que você der o comando.
Convivência com crianças e outros pets
A imagem do Rottweiler com crianças é frequentemente distorcida. Na realidade, eles podem ser excelentes com crianças da família, muitas vezes assumindo um papel de “babá” protetora. Eles tendem a ser mais tolerantes a puxões de orelha e brincadeiras desajeitadas do que raças menores e mais frágeis. No entanto, devido ao seu tamanho e força bruta, acidentes podem acontecer. Um abanar de rabo ou um encontrão pode derrubar uma criança pequena sem querer.
A regra de ouro é: nunca deixe crianças e cães sozinhos sem supervisão, independentemente da raça. Além disso, o respeito deve ser ensinado de ambos os lados. O cão deve aprender a não pular e a ter cuidado, e a criança deve aprender a não mexer na comida do cão ou acordá-lo bruscamente. Essa educação mútua cria uma relação harmoniosa e segura para todos.
Quanto a outros animais, a socialização precoce é fundamental. O Rottweiler pode ter um instinto de caça (prey drive) aguçado. Gatos e cães pequenos que correm podem desencadear a vontade de perseguir. No entanto, se o Rottweiler crescer com eles, geralmente os aceita como parte da matilha. Introduzir um Rottweiler adulto a um novo pet exige mais cuidado, paciência e uma apresentação gradual em território neutro. Machos não castrados podem ser particularmente intolerantes com outros machos, então a castração é um ponto a se considerar para facilitar a convivência.
Características Físicas e Padrão da Raça
Quando examinamos um Rottweiler na mesa de atendimento, buscamos conformidade com o padrão que garante não só a beleza, mas a funcionalidade e a saúde do animal. Um Rottweiler fora do padrão, muito leve ou excessivamente pesado, pode ter problemas de saúde futuros.
A estrutura muscular e a mordida
O Rottweiler é um cão de porte médio a grande, não gigante. Ele deve ser compacto, robusto e poderoso. A proporção ideal é que o comprimento do tronco seja ligeiramente maior que a altura na cernelha. O peito deve ser largo e profundo, permitindo uma boa capacidade cardiorrespiratória. Como veterinário, palpo a musculatura e busco firmeza; um Rottweiler flácido é um cão que não está se exercitando o suficiente.
A cabeça é larga, com um focinho bem desenvolvido, nem muito longo nem muito curto. A mordida é um dos pontos mais impressionantes: deve ser em tesoura (os incisivos superiores encobrem os inferiores tocando-os levemente) e extremamente forte. A força da mordida de um Rottweiler é lendária, superando a de muitas outras raças grandes. Isso reforça a necessidade de brinquedos ultrarresistentes; brinquedos comuns de pet shop duram minutos na boca deles.
Os olhos devem ser amendoados e de cor castanho-escuro. Olhos claros são considerados falta no padrão da raça, embora não afetem a saúde. As orelhas são triangulares, pendentes e voltadas para a frente, o que dá ao cão uma aparência de estar sempre atento. A cauda, antigamente cortada por motivos estéticos (prática felizmente proibida no Brasil e em muitos países), deve ser portada naturalmente, sendo uma extensão da linha superior do dorso.
A pelagem e as marcas “tan” (fogo)
A pelagem é uma das marcas registradas da raça. É composta por um pelo de cobertura de comprimento médio, duro, denso e bem aderente ao corpo, e um subpelo que não deve ultrapassar o pelo externo. Essa dupla camada oferece proteção contra intempéries, permitindo que o cão suporte bem o frio e a chuva moderada. No entanto, o subpelo pode cair bastante durante as trocas de estação, então prepare-se para aspirar a casa com frequência.
A coloração é única: preto com marcas bem definidas de uma cor castanho-avermelhada intensa, conhecidas como “tan” ou marcas de fogo. Essas marcas têm locais específicos: nas bochechas, focinho, garganta, peito e pernas, bem como acima dos dois olhos e sob a base da cauda. A definição e a cor dessas marcas são muito valorizadas em exposições, mas para um pet de companhia, pequenas variações não importam tanto.
O que importa clinicamente é o brilho e a integridade do pelo. Um pelo opaco, quebradiço ou com falhas pode indicar problemas nutricionais, parasitas ou desequilíbrios hormonais. A pele do Rottweiler deve ser justa, sem muitas rugas (exceto na testa quando em alerta). Excesso de pele ou rugas podem predispor a dermatites, especialmente em climas quentes e úmidos como o do Brasil.
Diferenças entre machos e fêmeas
O dimorfismo sexual no Rottweiler é bem evidente. Os machos são visivelmente mais maciços, com cabeças maiores e ossatura mais pesada. Eles pesam em média entre 50 a 60 kg, enquanto as fêmeas ficam entre 35 a 48 kg. Essa diferença de tamanho influencia o manejo: controlar um macho de 60 kg na guia exige técnica e força física se ele não for bem adestrado.
Comportamentalmente, também noto diferenças no consultório. As fêmeas tendem a ser um pouco mais fáceis de adestrar, amadurecem mais rápido e podem ser mais carinhosas com a família, embora muitas vezes sejam mais protetoras de forma “aguda”. Elas são excelentes guardiãs. Já os machos demoram mais para amadurecer mentalmente (a “fase adolescente” pode durar até os 2 ou 3 anos) e tendem a testar a liderança do dono com mais frequência.
A escolha entre macho e fêmea deve levar em conta sua experiência anterior com cães e a dinâmica da sua casa. Se você já tem um cão macho dominante, trazer outro macho Rottweiler pode ser arriscado. Geralmente, casais de sexos opostos convivem melhor. Independentemente do sexo, ambos exigem a mesma dedicação em socialização e exercícios para se tornarem adultos equilibrados.
Saúde do Rottweiler: O olhar do Veterinário
O Rottweiler é um cão rústico, mas, como toda raça pura, possui predisposições genéticas que você precisa monitorar. A prevenção é sempre mais barata e menos dolorosa que o tratamento.
Displasia coxofemoral e cotovelo
Este é o “calcanhar de Aquiles” das raças grandes. A displasia é uma má formação nas articulações do quadril ou cotovelo que causa dor, claudicação (mancar) e artrose precoce. A genética tem um papel enorme aqui. Antes de comprar um filhote, você deve exigir os laudos radiográficos dos pais e, se possível, dos avós. Se o criador se recusar a mostrar ou disser que “não precisa porque os pais são saudáveis”, fuja.
Além da genética, o ambiente conta muito. Pisos escorregadios (porcelanato, azulejo liso) são veneno para as articulações de um filhote em crescimento. O cão precisa de tração para se levantar e correr sem forçar as articulações. Mantenha o filhote magro; o sobrepeso na infância sobrecarrega o esqueleto em formação. Evite exercícios de alto impacto, como saltos ou corridas longas, antes dos 18 meses de idade.
O diagnóstico precoce faz toda a diferença. Se você notar que seu cão tem dificuldade para levantar, senta de lado (“sentar de menina”), ou cansa rápido no passeio, traga-o para uma avaliação ortopédica. Existem tratamentos, desde fisioterapia e condroprotetores até cirurgias corretivas, que podem garantir uma boa qualidade de vida se o problema for detectado cedo.
Parvovirose e a importância da vacinação
Existe uma observação clínica curiosa e triste na medicina veterinária: o Rottweiler (assim como o Doberman e o Pitbull) parece ser mais suscetível à Parvovirose e à Cinomose, e tende a ter quadros mais graves do que outras raças. O sistema imunológico deles, por razões ainda em estudo, às vezes demora mais a responder à vacinação ou perde a imunidade mais rápido.
Por isso, o protocolo vacinal do filhote de Rottweiler deve ser rigoroso. Eu não recomendo que o filhote pise na rua ou tenha contato com outros cães desconhecidos antes de terminar todo o ciclo de vacinas (geralmente 3 a 4 doses da vacina múltipla V8 ou V10). Atrasar uma dose pode ser fatal. A “janela de imunidade” é crítica nessa raça.
Mesmo na fase adulta, não negligencie o reforço anual. A Parvovirose causa uma gastroenterite hemorrágica devastadora que pode matar um cão de 40 kg em poucos dias por desidratação e sepse. Vacinar é um ato de amor e a única garantia real de proteção contra esses vírus letais.
Torção gástrica: Um perigo silencioso
A Síndrome da Dilatação Vólvulo-Gástrica (torção gástrica) é uma emergência médica gravíssima comum em cães de peito profundo como o Rottweiler. O estômago dilata com gás e gira sobre o próprio eixo, cortando o suprimento de sangue e apertando o diafragma. O cão tenta vomitar e não consegue, a barriga incha rapidamente, ele fica inquieto e salivando muito.
Se você observar esses sintomas, corra para o hospital veterinário imediatamente. Cada minuto conta. A taxa de mortalidade é alta. Para prevenir, adote regras simples de manejo alimentar: nunca alimente seu cão logo antes ou logo depois de exercícios físicos intensos. Espere pelo menos uma hora.
Divida a ração diária em duas ou três porções. Cães que comem um volume gigante de comida de uma só vez têm maior risco. O uso de comedouros lentos ou elevados (na altura do peito) é controverso, mas comer devagar é sempre benéfico para a digestão e reduz a aerofagia (engolir ar), que é um fator de risco.
Nutrição e Manejo Alimentar
Alimentar um gigante não é apenas encher a tigela. A nutrição é a base da construção muscular e da saúde articular do seu Rottweiler.
Escolhendo a ração ideal para gigantes
Rottweilers precisam de uma ração Super Premium formulada especificamente para “Raças Grandes” ou “Gigantes”. Essas rações têm o equilíbrio correto de cálcio e fósforo para evitar problemas de crescimento ósseo, além de terem o tamanho do grão (kibble) adequado para estimular a mastigação e a limpeza mecânica dos dentes.
Olhe o rótulo: a proteína deve ser de origem animal e o primeiro ingrediente da lista. Evite rações com excesso de corantes e conservantes artificiais. Muitas rações específicas para a raça já incluem condroitina e glicosamina na fórmula, que ajudam a proteger as articulações, o que é um ótimo bônus preventivo.
A alimentação natural (AN) é uma excelente opção se for prescrita e acompanhada por um zootecnista ou veterinário nutrólogo. Não tente fazer “comida de casa” por conta própria; desbalancear a dieta de um cão desse porte pode causar deformidades ósseas graves e deficiências metabólicas.
Controle de peso e longevidade
Um Rottweiler gordo não é um cão “forte”; é um cão doente. A obesidade é o inimigo número um da longevidade nessa raça. O excesso de peso destrói as articulações, sobrecarrega o coração e predispõe ao diabetes e à intolerância ao calor. Você deve ser capaz de sentir as costelas do seu cão ao passar a mão na lateral do tórax, sem precisar apertar, mas não deve vê-las à distância.
Use uma balança de cozinha para pesar a ração. O “olhômetro” ou o uso de copos medidores genéricos costuma levar ao superalimentação. Lembre-se que os petiscos de treino também contam calorias. Se você usou muitos petiscos no adestramento do dia, reduza a quantidade de ração no jantar.
Manter seu Rottweiler magro e em forma pode adicionar até dois anos à expectativa de vida dele. Pense nisso toda vez que ele fizer aquela cara de pidão na hora do seu almoço. Resistir é cuidar.
Suplementação: É necessária?
Se você usa uma ração Super Premium de alta qualidade, a suplementação de vitaminas e minerais geralmente é desnecessária e pode até ser perigosa (excesso de cálcio, por exemplo). No entanto, a suplementação com nutracêuticos para as articulações (condroitina, glicosamina, colágeno tipo II, ômega 3) é frequentemente recomendada por ortopedistas, às vezes desde a fase de crescimento.
O Ômega 3, em particular, é um excelente anti-inflamatório natural que beneficia a pele, a pelagem e as articulações, além de ajudar na função cognitiva. Converse com seu veterinário sobre a necessidade de introduzir esses suplementos na rotina do seu cão, especialmente se ele for muito ativo ou já estiver entrando na idade sênior.
Adestramento e Socialização: A Chave do Sucesso
Aqui está a verdade nua e crua: ter um Rottweiler sem adestramento é como ter uma Ferrari e não saber dirigir. É perigoso para você e para os outros. O adestramento não é opcional; é obrigatório.
A importância da socialização precoce
A janela de socialização vai até as 16 semanas de vida. Nesse período, seu filhote precisa ser exposto a tudo: pessoas de todas as idades, cores e uniformes, outros cães, gatos, barulhos de trânsito, guarda-chuvas, bicicletas, etc. Tudo o que for apresentado de forma positiva nessa fase será encarado como “normal” na vida adulta.
Se você mantiver seu filhote trancado em casa até os 6 meses “para proteger de doenças” e não fizer uma socialização segura (no colo, em casas de amigos com cães vacinados), você estará criando um cão medroso e potencialmente agressivo. O medo é a principal causa de mordidas. Um Rottweiler seguro de si não ataca sem motivo.
Leve seu cão para passear em lugares movimentados (após as vacinas), faça com que estranhos ofereçam petiscos a ele (se ele permitir). O objetivo é que ele veja o mundo como um lugar interessante, não como uma ameaça constante.
Liderança positiva vs. Dominância
Esqueça as teorias antigas de “alfa roll” (rolar o cão no chão para mostrar quem manda). Isso é obsoleto e perigoso com um Rottweiler. A liderança moderna se baseia no controle de recursos e no reforço positivo. Você é o líder porque você controla a comida, a hora do passeio, o brinquedo e o afeto.
Use o princípio do “nada na vida é de graça”. Antes de dar a comida, peça um “senta”. Antes de abrir a porta para passear, peça para ele esperar. Antes de jogar a bolinha, peça um “olha para mim”. Isso cria uma dinâmica onde o cão olha para você buscando permissão e orientação, o que é vital para controlar um animal dessa força.
Recompense os comportamentos bons e ignore ou redirecione os ruins. A punição física pode gerar revolta e quebrar o vínculo de confiança. Um Rottweiler que respeita o dono fará de tudo para agradá-lo; um que teme o dono pode se defender se se sentir encurralado.
Exercícios físicos e mentais
O Rottweiler precisa “descarregar a bateria” todos os dias. Duas voltas no quarteirão não são suficientes. Eles precisam de caminhadas vigorosas, sessões de natação (excelente para as articulações) ou brincadeiras de buscar bolinha. Um cão cansado é um cão bem comportado.
Mas não esqueça o exercício mental. A inteligência deles precisa ser desafiada. Use brinquedos recheáveis com comida congelada, esconda petiscos pela casa para ele farejar, ensine truques novos regularmente. O treino de obediência (senta, fica, junto) cansa o cão tanto ou mais que o exercício físico.
Esportes caninos como o Schutzhund (IGP), Mondioring ou mesmo o Agility (com cuidado nas articulações) são ótimos para canalizar os instintos da raça de forma controlada e esportiva.
Cuidados Essenciais no Dia a Dia
Além da saúde e do treino, existem rotinas de higiene que garantem o bem-estar do seu amigo.
Higiene bucal e escovação
A doença periodontal é muito comum e pode levar a problemas cardíacos e renais. Escovar os dentes de um Rottweiler deve ser um treino desde filhote. Imagine tentar enfiar uma escova na boca de um cão adulto de 50 kg que não está acostumado? Comece cedo, associando a pasta (própria para cães) a algo prazeroso.
Ossos recreativos crus (como joelho bovino) ou brinquedos de nylon rígido também ajudam a raspar o tártaro mecanicamente, mas não substituem a escovação. Verifique a boca do seu cão semanalmente em busca de dentes quebrados ou gengivas inflamadas.
Cuidados com as unhas e patas
As unhas pretas e grossas do Rottweiler assustam muitos donos na hora de cortar. Se a unha ficar muito grande, ela altera a pisada do cão e força as articulações. Se você ouvir “clic-clic” quando ele anda no piso, está na hora de cortar.
Se tiver medo de cortar o “sabugo” (a parte viva da unha), use uma lixa elétrica própria para pets ou leve ao veterinário/banhista regularmente. Acostume o cão a ter as patas manuseadas desde cedo. Hidrate as almofadas plantares (coxins) se elas estiverem ressecadas ou rachadas, especialmente se vocês caminham muito no asfalto quente ou terreno áspero.
O banho ideal e a pele sensível
O Rottweiler não precisa de banhos frequentes. Banhos quinzenais ou mensais são suficientes. O excesso de banho remove a oleosidade natural que protege a pele. Use xampus neutros ou específicos para pele sensível, pois a raça pode ter tendência a seborreia ou foliculite.
A secagem é a parte mais importante. O subpelo denso retém umidade. Se o cão ficar úmido, pode desenvolver fungos e dermatites úmidas agudas (“hot spots”). Use um soprador potente para garantir que a pele esteja seca, não apenas o pelo superficial. E aproveite a hora da escovação semanal para checar a pele em busca de carrapatos, que se escondem bem na pelagem escura.
O Rottweiler na Fase Idosa
Ver um Rottweiler envelhecer é comovente. Aquele turbilhão de força vai desacelerando, o focinho fica grisalho e o olhar fica ainda mais doce. A partir dos 7 ou 8 anos, eles são considerados idosos e precisam de cuidados especiais.
Mudanças de comportamento no cão sênior
Você vai notar que ele dorme mais e tem menos paciência para brincadeiras brutas. Ele pode ficar um pouco mais rabugento se for incomodado enquanto descansa. Respeite esse espaço. A audição e a visão podem diminuir, então não o assuste chegando por trás de repente.
A confusão mental (Disfunção Cognitiva Canina) pode aparecer. Se ele começar a latir para a parede, se perder nos cantos da casa ou trocar o dia pela noite, converse com o veterinário. Existem medicações e dietas que ajudam a oxigenar o cérebro e retardar esses sintomas.
Adaptações na casa para o idoso
Seu Rottweiler idoso pode ter dificuldade com pisos lisos ou escadas. Colocar tapetes emborrachados nos caminhos principais da casa ajuda a dar firmeza e evita tombos que podem ser fatais para um osso já frágil.
Elevar os potes de comida e água facilita para que ele não precise abaixar tanto a cabeça e forçar o pescoço e os ombros. Garanta uma cama ortopédica de qualidade, com espuma de alta densidade, para proteger as articulações do contato com o chão duro. O conforto térmico também é vital; idosos sentem mais frio e dores nas articulações no inverno.
Check-ups geriátricos e prevenção de dores
Na fase sênior, as visitas ao vet devem ser semestrais. Exames de sangue completos, ultrassom abdominal e avaliação cardíaca são essenciais para pegar problemas como tumores (infelizmente comuns na raça, como osteossarcoma e linfoma) no início.
O controle da dor é fundamental. Muitos cães sofrem de artrose em silêncio. Eles não choram, apenas ficam menos ativos. Se o seu cão parou de subir no sofá ou demora para levantar, ele provavelmente está com dor. Hoje temos muitas opções seguras de analgésicos e terapias como acupuntura e laserterapia para dar conforto e dignidade aos anos dourados do seu amigo.
Comparativo: Rottweiler vs. Outras Raças de Guarda
Para te ajudar a decidir se o Rottweiler é realmente a raça certa para você, preparei este quadro comparativo com outras duas raças populares de função similar.
| Característica | Rottweiler | Pastor Alemão | Doberman |
| Nível de Energia | Moderado a Alto (Explosão) | Alto (Resistência) | Muito Alto (Atlético) |
| Temperamento | Calmo, confiante, reservado | Alerta, ansioso para agradar | Alerta, sensível, “velcro” |
| Guarda | Intimidação física e força | Alarme e patrulha | Rapidez e ataque |
| Adestrabilidade | Alta (pode ser teimoso) | Muito Alta | Muito Alta |
| Manutenção Pelo | Baixa (escovação semanal) | Média (cai muito pelo) | Baixa (pouca proteção ao frio) |
| Convivência Família | Protetor, carinhoso, robusto | Leal, vocal, brincalhão | Muito apegado, sensível |
| Saúde (Pontos) | Displasia, Parvovirose, Câncer | Displasia, Coluna | Cardiomiopatia, Von Willebrand |
Ter um Rottweiler é assumir a responsabilidade de conduzir uma força da natureza. É um compromisso sério, que exige tempo, paciência e pulso firme, mas amoroso. Em troca, você terá ao seu lado um guardião que não hesitaria em colocar a própria vida em risco pela sua. Se você estiver disposto a investir na educação e na saúde dele, descobrirá que por trás daquela cara de bravo existe um coração de ouro, batendo em sintonia com o seu. Cuide bem dele, e ele cuidará de você para sempre.


