Guia Completo de Higiene Facial para Bulldog Francês
Guia Completo de Higiene Facial para Bulldog Francês
Cuidar de um Bulldog Francês exige dedicação especial e conhecimento sobre as particularidades dessa raça encantadora. A anatomia única do crânio desses cães cria dobras de pele que, embora sejam sua marca registrada, representam um desafio sanitário constante. Manter essas áreas limpas não é apenas uma questão estética para evitar manchas escuras ou odores desagradáveis. Trata-se de uma medida preventiva de saúde fundamental para garantir o bem-estar do seu animal e evitar visitas de emergência à clínica veterinária por problemas dermatológicos severos.
Você precisa entender que a pele dentro dessas dobras é extremamente sensível e propensa a desequilíbrios. A negligência nesse cuidado básico pode transformar uma característica fofa em uma fonte de dor e desconforto crônico para o seu pet. Como veterinário, vejo muitos tutores que só percebem a gravidade da situação quando a pele já está em carne viva ou com um odor insuportável. A boa notícia é que com a técnica correta e os produtos adequados, você pode gerenciar essa condição facilmente em casa.
Este guia foi elaborado para transformar você em um especialista na higiene facial do seu Bulldog Francês. Vamos mergulhar fundo na anatomia, na microbiologia da pele e nas melhores práticas veterinárias. Esqueça as dicas superficiais que você vê por aí. Aqui vamos tratar da fisiologia da pele e de como manter a barreira cutânea íntegra e saudável por muitos anos.
A Anatomia Braquicefálica e a Importância da Higiene
Os cães braquicefálicos possuem um encurtamento ósseo do crânio, mas a quantidade de pele e tecidos moles permanece a mesma de um cão de focinho longo. Isso resulta no excesso de pele que se dobra sobre si mesma, criando fendas profundas, especialmente acima do nariz e abaixo dos olhos. Essas dobras formam um ambiente fechado, com pouca ventilação e contato pele com pele constante. Entender essa estrutura é o primeiro passo para realizar uma higiene eficiente e respeitosa com a anatomia do seu animal.
O microclima das dobras faciais
Dentro de cada dobra do rosto do seu Bulldog, existe um microclima específico e perigoso para a saúde dermatológica. A falta de circulação de ar mantém a temperatura local elevada, muito próxima à temperatura corporal interna. Somado a isso, temos a ausência de luz, que favorece a proliferação de microrganismos que preferem ambientes escuros e úmidos. É um ecossistema isolado do resto da pele do corpo, que requer intervenção externa para se manter equilibrado.
A umidade é o fator mais crítico nesse microclima. Ela provém de diversas fontes, como a transpiração natural da pele, a saliva que pode escorrer, a água que o cão bebe e, principalmente, as lágrimas. Como a evaporação natural é impedida pelo contato das duas superfícies de pele, essa umidade fica retida. Isso macera a camada córnea da pele, enfraquecendo a barreira natural de proteção e deixando o tecido vulnerável a invasores microscópicos.
Você deve encarar a dobra não como apenas pele enrugada, mas como uma estufa biológica. Se não houver um controle rigoroso desse ambiente através da limpeza e secagem, o equilíbrio se perde rapidamente. A pele macerada perde sua integridade e capacidade de defesa, abrindo portas para inflamações que podem se tornar crônicas e de difícil tratamento se não forem abordadas preventivamente.
Riscos do acúmulo de umidade e bactérias
O ambiente quente e úmido descrito acima é o paraíso para bactérias e leveduras oportunistas. A flora normal da pele canina contém microrganismos que convivem em harmonia com o hospedeiro, mas que se multiplicam descontroladamente quando as condições são favoráveis. O acúmulo de sujidade, restos de comida, poeira e células mortas servem de substrato alimentar para esses agentes patogênicos.
Quando a população bacteriana ou fúngica explode, ocorre a liberação de toxinas e subprodutos metabólicos que irritam a pele. Isso gera prurido intenso, fazendo com que o cão tente coçar o rosto no chão, em móveis ou com as patas. Esse atrito mecânico causa microfissuras na pele já fragilizada pela umidade, facilitando a entrada profunda desses germes na derme. É o início de um ciclo vicioso de coceira, infecção e inflamação.
O risco não é apenas local. Infecções profundas na face podem ser muito dolorosas e exigir o uso de antibióticos sistêmicos e antifúngicos orais, que sobrecarregam o organismo do animal. Além disso, a proximidade com os olhos e o nariz exige cautela redobrada, pois uma infecção cutânea severa pode migrar ou causar complicações em estruturas adjacentes importantes para a percepção sensorial do seu pet.
A questão da epífora e manchas de lágrima
Muitos Bulldogs Franceses sofrem de epífora, que é o transbordamento da lágrima para fora do olho, escorrendo pela face. Isso ocorre devido à anatomia dos canais lacrimais, que podem ser tortuosos ou obstruídos, ou pelo excesso de produção lacrimal por irritação constante (cílios tocando o olho ou entrópio). Essa lágrima constante é rica em porfirinas, pigmentos que contêm ferro e oxidam ao entrar em contato com o ar e a luz, causando aquelas manchas marrom-avermelhadas características.
A lágrima não causa apenas o manchamento estético, ela é a principal fonte de umidade constante nas dobras nasais. A composição química da lágrima também pode alterar o pH da pele local, favorecendo ainda mais o crescimento de leveduras como a Malassezia. Portanto, controlar a higiene das dobras é também controlar os efeitos colaterais da epífora.
Você precisa entender que limpar a mancha de lágrima não é apenas uma questão de beleza. A pele manchada frequentemente indica uma pele que está úmida há muito tempo. Se o pelo está marrom ou avermelhado, significa que há oxidação e umidade ativa. O foco deve ser manter a área seca para interromper o processo de oxidação e evitar a dermatite úmida que geralmente acompanha essas manchas.
Materiais Essenciais para o Kit de Limpeza
Ter as ferramentas certas facilita o trabalho e garante que você não machuque o seu cão durante o processo. Improvisar com produtos de limpeza doméstica ou tecidos ásperos é um erro comum que vejo no consultório. A pele do rosto é delicada e a proximidade com os olhos exige produtos oftalmologicamente seguros ou dermatologicamente testados para áreas sensíveis.
Preparei um quadro comparativo para ajudar você a escolher o melhor produto para a limpeza das dobras, comparando três opções comuns no mercado veterinário e pet:
| Característica | Lenços Umedecidos Específicos (Clorexidina/Aloe) | Solução de Limpeza Auricular/Dermatológica (Ácida) | Soro Fisiológico 0,9% |
| Praticidade | Alta (pronto para uso) | Média (requer gaze/algodão) | Média (requer gaze/algodão) |
| Ação Antisséptica | Alta (se tiver Clorexidina) | Alta (secativa e antifúngica) | Baixa (apenas limpeza mecânica) |
| Risco de Irritação | Baixo (se for hipoalergênico) | Médio (pode arder em pele ferida) | Nulo (muito seguro) |
| Custo | Elevado | Médio | Baixo |
| Indicação Principal | Manutenção diária rápida | Controle de odores e leveduras | Limpeza suave em pele íntegra |
Escolhendo a loção de limpeza correta
A escolha da loção depende do estado atual da pele do seu Bulldog. Para manutenção diária de uma pele saudável, produtos à base de extratos naturais como aloe vera ou camomila são excelentes calmantes. Se o seu cão tem histórico de problemas fúngicos ou bacterianos, produtos contendo clorexidina em baixa concentração ou miconazol podem ser indicados, mas sempre sob orientação veterinária.
Evite produtos com fragrâncias fortes ou muito álcool em sua composição. O olfato do cão é extremamente sensível e produtos muito perfumados podem causar desconforto respiratório ou espirros. Além disso, o álcool resseca excessivamente e arde caso existam microfissuras na pele. Busque produtos com pH balanceado para a pele canina, que é menos ácida que a humana.
Existem no mercado loções específicas para limpeza de dobras e lágrimas (“Tear Stain Removers”). Muitas funcionam bem, mas verifique o rótulo. Algumas contêm antibióticos leves (como tilosina) que não devem ser usados indiscriminadamente sem prescrição. Dê preferência a limpadores enzimáticos ou com ação quelante que ajudam a remover as manchas sem agredir a derme.
Gazes, algodões e lenços umedecidos
A textura do material usado para aplicar o produto é tão importante quanto o produto em si. Eu recomendo fortemente o uso de discos de algodão (aqueles de remover maquiagem) ou gaze macia não tecida. O algodão em bola pode soltar fiapos que grudam nos cílios ou entram no nariz, causando irritação. A gaze tem a vantagem de ter uma textura levemente abrasiva que ajuda a remover crostas e muco seco, mas deve ser usada com delicadeza.
Os lenços umedecidos prontos são extremamente práticos para a rotina corrida. No entanto, certifique-se de que são específicos para cães ou para bebês recém-nascidos (sem álcool e sem perfume). O tamanho do lenço deve ser suficiente para envolver seu dedo, permitindo que você alcance o fundo da dobra sem perder o controle do material. Nunca reutilize o mesmo lado do lenço ou da gaze em olhos ou dobras diferentes para evitar a contaminação cruzada.
Tenha sempre à mão lenços de papel macios ou toalhas de alta absorção para a etapa final. Materiais ásperos podem causar microabrasões. Lembre-se que você fará isso quase todos os dias, então o atrito acumulado de um material ruim pode causar calosidades ou hiperpigmentação na pele do animal a longo prazo.
Produtos a evitar para não causar irritação
Jamais utilize água oxigenada, sabonetes humanos ou produtos de limpeza doméstica. A água oxigenada danifica as células saudáveis da pele e retarda a cicatrização. Sabonetes humanos têm um pH inadequado e removem a barreira lipídica natural da pele do cão. O uso de talco perfumado também é contraindicado, pois as partículas finas podem ser inaladas e causar problemas pulmonares.
Cuidado com receitas milagrosas da internet que envolvem limão, bicarbonato puro ou vinagre de maçã não diluído. Embora o vinagre possa ter propriedades antifúngicas, a acidez incorreta pode queimar uma pele já inflamada (intertrigo). A área dos olhos é sagrada; qualquer produto que escorra e cause ardor vai criar um trauma no animal, tornando as futuras limpezas uma batalha impossível.
Evite também o uso excessivo de pomadas antibióticas sem necessidade. O uso preventivo de medicamentos cria resistência bacteriana. Pomadas devem ser usadas apenas quando há infecção diagnosticada. Para prevenção, limpadores cosméticos veterinários e manter a área seca são as únicas ferramentas necessárias.
O Passo a Passo da Limpeza Perfeita
A técnica correta transforma uma tarefa estressante em um momento de conexão entre você e seu pet. A consistência é a chave. Não espere o cão estar sujo visivelmente; a sujeira microscópica já está lá. Crie um ritual calmo, onde o foco não é apenas a limpeza, mas o carinho e a manipulação positiva do seu Bulldog.
Preparando o ambiente e o animal
Escolha um local bem iluminado e onde o cão se sinta seguro. Pode ser em cima de uma mesa estável (com tapete antiderrapante) ou no chão, se ele for muito agitado. Tenha todos os materiais abertos e à mão antes de chamar o cachorro. Se você tiver que parar para abrir um frasco, perderá a atenção e a paciência dele.
Comece fazendo carinho e massagem no corpo para relaxar a tensão muscular. Fale com voz suave. Se o seu Bulldog for muito resistente, você pode usar um pouco de reforço positivo, oferecendo um petisco pequeno apenas por ele se aproximar e deixar você tocar no rosto. A contenção deve ser firme, mas gentil. Nunca force ou segure o focinho com violência, pois isso compromete a respiração já dificultada da raça.
Posicione-se de forma que você tenha controle da cabeça dele. Uma mão deve segurar gentilmente o queixo ou a parte lateral da mandíbula para estabilizar a cabeça, enquanto a outra mão executa a limpeza. Evite movimentos bruscos que possam assustar o animal e causar acidentes, especialmente com objetos próximos aos olhos.
A técnica de remoção de sujidade
Umedeça a gaze ou o disco de algodão com a loção escolhida (não encharque, deve estar úmido, não pingando). Com o dedo indicador envolvido no material, levante a dobra de pele com o polegar da outra mão para expor o “fundo” da ruga. É lá que a bactéria se esconde. Passe o material delicadamente, sempre no sentido de fora para fora, arrastando a sujeira para longe do olho.
Se houver crostas duras, não esfregue com força. Segure o algodão úmido sobre a crosta por alguns segundos para amolecê-la antes de tentar remover. Faça movimentos de varredura suaves. Você notará que o algodão sairá marrom ou amarelado. Repita o processo com novos algodões limpos até que eles saiam sem sujeira visível.
Não se esqueça da dobra profunda acima do nariz, que muitas vezes é esquecida. Ela costuma acumular restos de comida e terra. Limpe também a região da “lágrima”, descendo do canto interno do olho até o focinho. Tenha cuidado extremo para não tocar a córnea do olho com o produto ou com a gaze.
A etapa crucial da secagem total
Esta é a parte mais importante e onde a maioria dos tutores falha. Limpar e deixar úmido é pior do que não limpar. A umidade residual reativa a proliferação de fungos imediatamente. Após a limpeza úmida, pegue uma gaze seca, um lenço de papel macio ou um disco de algodão seco e repita o movimento de passar dentro da dobra.
Pressione suavemente para absorver toda a umidade. Verifique se a pele está realmente seca ao toque. Se você utilizou produtos líquidos, a secagem deve ser minuciosa. Em alguns casos, o uso de um secador de cabelo no modo frio (jamais quente) e em velocidade baixa, mantendo a mão protegida na frente para sentir a temperatura, pode ajudar a secar o pelo profundo, mas o barulho pode assustar alguns cães.
A secagem remove o ambiente favorável para a Malassezia. Uma dobra seca é uma dobra saudável. Se você perceber que a área fica úmida novamente muito rápido após a limpeza, pode ser necessário investigar problemas nos ductos lacrimais ou considerar o uso de pós secantes específicos prescritos pelo veterinário.
Identificando e Prevenindo o Intertrigo
O intertrigo é o termo médico para a inflamação que ocorre nas dobras da pele. É uma condição extremamente comum em Bulldogs e pode evoluir rapidamente de um simples vermelhão para uma infecção grave. Como tutor consciente, seu papel é ser o primeiro a notar as mudanças sutis na pele do seu cão antes que elas se tornem um problema maior.
Sinais iniciais de inflamação e infecção
O primeiro sinal de intertrigo é o eritema, ou seja, a pele fica mais vermelha e brilhante dentro da dobra. Você pode notar também um odor característico, semelhante a “queijo” ou “pés sujos”, que indica atividade bacteriana ou fúngica excessiva. O cão pode começar a esfregar o rosto no tapete ou nas patas com mais frequência.
Outro sinal é a presença de uma secreção pastosa, que pode ser marrom, amarela ou esverdeada. Se a pele parecer úmida e pegajosa ao toque, mesmo sem ter sido molhada recentemente, é um sinal de exsudação inflamatória. Em estágios mais avançados, podem aparecer feridas, crostas de sangue e inchaço visível da dobra, que pode ficar quente ao toque.
Fique atento à perda de pelos na região (alopecia). A inflamação crônica faz com que o pelo caia, deixando a pele exposta e ainda mais vulnerável. Mudanças de comportamento, como agressividade ou medo quando você tenta tocar o rosto, indicam dor e requerem atenção imediata.
O papel da Malassezia e Staphylococcus
Dois vilões costumam dominar o cenário do intertrigo: a levedura Malassezia pachydermatis e a bactéria Staphylococcus pseudintermedius. Ambos são habitantes normais da pele, mas se tornam patogênicos quando o microclima da dobra se altera. A Malassezia adora gordura e umidade, produzindo aquele cheiro adocicado e rançoso e uma secreção marrom cerosa. Ela causa muita coceira.
O Staphylococcus aproveita as lesões causadas pela coceira (autotraumatismo) para invadir a pele, causando piodermite. Isso gera pústulas (bolinhas de pus), vermelhidão intensa e dor. Muitas vezes, essas duas infecções ocorrem simultaneamente, o que chamamos de infecção mista. O tratamento de uma infecção mista é mais complexo e exige abordagem dupla.
O controle desses microrganismos não é feito “matando todos”, mas mantendo a população sob controle através da higiene e da manutenção da barreira cutânea. O uso indiscriminado de antibióticos tópicos pode selecionar cepas resistentes, tornando o Staphylococcus muito difícil de tratar no futuro. Por isso, a limpeza preventiva é a melhor defesa.
Quando o tratamento caseiro não é suficiente
Se, apesar da limpeza diária, a vermelhidão persistir por mais de 48 horas, ou se houver pus, sangue ou odor fétido intenso, pare o tratamento caseiro e procure um veterinário. Tentar tratar uma infecção profunda apenas com limpeza superficial pode agravar o quadro e causar sofrimento desnecessário ao animal.
O veterinário fará uma citologia (coleta de material com fita adesiva ou swab) para olhar no microscópio e identificar exatamente quais agentes estão proliferando. Isso direciona o tratamento correto, que pode envolver pomadas específicas, comprimidos ou shampoos terapêuticos. Não tente adivinhar o diagnóstico.
Lesões ulceradas nos olhos (úlcera de córnea) podem ser confundidas com problemas de pele ou causadas pelo atrito das dobras. Se o seu cão estiver piscando muito, mantendo o olho fechado ou se o olho estiver azulado/opaco, isso é uma emergência oftalmológica, não dermatológica. Corra para o vet.
Frequência e Rotina Ideal
A pergunta que mais ouço no consultório é: “Quantas vezes devo limpar?”. A resposta honesta é: depende do seu cachorro. Alguns Bulldogs têm dobras mais profundas e produzem mais lágrimas, exigindo cuidados mais intensivos do que outros. A observação diária é o que vai ditar o ritmo da sua rotina de higiene.
Ajustando a rotina conforme o clima
Em climas quentes e úmidos, ou durante o verão, a proliferação bacteriana é acelerada. Nesses períodos, a limpeza deve ser diária, às vezes até duas vezes ao dia se o cão passar muito tempo ao ar livre. O calor aumenta a transpiração e a produção de sebo, criando o ambiente perfeito para o intertrigo.
No inverno ou em climas secos, você pode notar que a pele se mantém seca por mais tempo. Nesses casos, a limpeza pode ser feita a cada dois dias ou conforme a necessidade, para não remover excessivamente a oleosidade natural protetora da pele. No entanto, a inspeção visual deve continuar sendo diária. Nunca passe mais de três dias sem verificar as dobras.
Dias de chuva exigem atenção extra. A umidade do ar dificulta a secagem natural. Se o seu cão se molhar na chuva, a secagem das dobras deve ser imediata ao chegar em casa. A umidade ambiental é um inimigo invisível da pele dos braquicefálicos.
Diferenças entre manutenção e tratamento
Existe uma grande diferença entre limpar para manter e limpar para tratar. Na manutenção (pele saudável), o objetivo é remover detritos suavemente. Usamos produtos leves, soro fisiológico ou lenços neutros. A fricção é mínima e o foco é a secagem.
No tratamento (pele irritada, sob orientação veterinária), a limpeza visa remover biofilmes bacterianos e aplicar medicação. Pode ser necessário usar produtos antissépticos prescritos (como clorexidina) e deixar agir por alguns minutos (tempo de contato) antes de secar. A frequência no tratamento costuma ser maior no início e diminui conforme a melhora clínica. Siga rigorosamente a prescrição do seu veterinário quanto à duração do tratamento.
Não use produtos de tratamento (medicamentosos) para manutenção eterna. Isso pode ressecar a pele e causar resistência bacteriana. Saiba a hora de voltar para a rotina básica de limpeza suave assim que a pele estiver curada.
Criando uma associação positiva para o cão
A limpeza das dobras fará parte da vida do seu Bulldog para sempre. Portanto, ela não pode ser uma tortura. Comece desde filhote, manipulando o rosto dele gentilmente. Use petiscos de alto valor (algo que ele ame muito) e ofereça logo após terminar a limpeza. Isso cria uma memória: “limpar o rosto = ganhar frango”.
Se o cão já tem trauma ou sente dor, vá devagar. Limpe uma dobra, recompense e pare. Mais tarde, limpe a outra. Não force uma sessão completa se ele estiver em pânico. Com o tempo e paciência, ele aprenderá a tolerar o processo. Falar com voz calma e segura transmite confiança. Se você estiver nervoso ou com pressa, o cão sentirá e ficará ansioso.
Transforme a higiene em um momento de carinho. Termine a sessão com uma brincadeira ou um passeio. Assim, a limpeza se torna o prelúdio de algo bom, e não apenas um procedimento invasivo. O vínculo de confiança entre vocês é fundamental para o sucesso da saúde preventiva.
Nutrição e Hidratação na Saúde da Pele
Você sabia que o que o seu Bulldog come reflete diretamente na quantidade de “meleca” que se acumula nas dobras? A pele é o maior órgão do corpo e o que mais consome nutrientes para sua renovação. Uma abordagem holística da higiene facial deve, obrigatoriamente, passar pela tigela de comida.
Impacto das alergias alimentares na secreção ocular
Bulldogs Franceses são notórios por suas sensibilidades alimentares. Alergias a proteínas comuns (como frango ou carne bovina) ou a componentes da ração podem manifestar-se não apenas como coceira no corpo, mas como aumento da produção de lágrimas e secreções mucosas. Um intestino inflamado gera uma resposta inflamatória sistêmica que afeta a pele e as mucosas.
Se você limpa, limpa e limpa, mas as dobras continuam sempre sujas e úmidas rapidamente, converse com seu veterinário sobre uma dieta de eliminação ou rações hipoalergênicas. Muitas vezes, ao trocar a fonte de proteína ou melhorar a qualidade da dieta, a produção excessiva de lágrima diminui drasticamente, facilitando muito a manutenção da higiene facial.
Corantes e aditivos artificiais presentes em petiscos baratos também podem alterar o pH da lágrima e da saliva, favorecendo o manchamento do pelo. Opte por dietas naturais ou rações super premium livres de corantes para minimizar as reações químicas na superfície da pele.
A importância dos ácidos graxos essenciais
O Ômega 3 e o Ômega 6 são vitais para a saúde da barreira cutânea. Eles ajudam a modular a inflamação e melhoram a qualidade do sebo produzido pela pele. Uma pele bem nutrida com ácidos graxos é mais elástica, menos propensa a rachaduras e resiste melhor à invasão de bactérias.
Suplementar a dieta do seu Bulldog com óleo de peixe de boa qualidade (rico em EPA e DHA) pode ajudar a reduzir a inflamação crônica das dobras. A pele fica mais forte e a recuperação de eventuais dermatites é mais rápida. Consulte a dose correta com seu veterinário, pois o excesso também pode ser prejudicial.
A vitamina E e o Zinco também desempenham papéis cruciais na integridade da pele. Verifique se a dieta do seu cão é completa e balanceada nesses micronutrientes. Uma pele “fome” de nutrientes nunca estará 100% saudável, não importa o quanto você limpe externamente.
Hidratação sistêmica e elasticidade cutânea
Um cão bem hidratado tem uma pele mais saudável. A água é essencial para manter a elasticidade da pele e o funcionamento correto das mucosas. Certifique-se de que seu Bulldog tem acesso a água fresca e limpa o tempo todo. A desidratação torna a pele menos flexível e mais propensa a microfissuras nas dobras.
Além da água bebida, a hidratação da pele pode ser auxiliada por produtos tópicos específicos que repõem ceramidas e lipídios, caso a pele das dobras esteja muito ressecada (o que é raro, mas acontece após tratamentos agressivos). O equilíbrio hídrico é fundamental para que o sistema imune da pele funcione corretamente contra patógenos.
Lembre-se que a água do bebedouro também pode molhar as dobras do pescoço e do queixo. Considere usar bebedouros projetados para cães de orelhas longas ou focinho curto, que minimizam o molhamento excessivo da face durante a ingestão de água, ajudando a manter a área seca.
Mitos e Verdades sobre Produtos Caseiros
A internet está cheia de conselhos bem-intencionados, mas perigosos. Como profissional, vejo muitos tutores complicarem quadros simples por usarem substâncias inadequadas baseadas em “dicas de vó” ou fóruns online. Vamos esclarecer o que realmente ajuda e o que atrapalha.
O uso de amido de milho nas dobras
O uso de amido de milho (a famosa Maizena) é um clássico controverso. Ele realmente ajuda a secar a região absorvendo a umidade. No entanto, o amido é um carboidrato. Se você aplicar o pó e ele ficar úmido, ele vira uma pasta que serve de alimento para as leveduras (fungos). Você acaba “alimentando” a infecção que queria evitar.
Se for usar pós secantes, prefira produtos veterinários à base de óxido de zinco ou talcos antissépticos que não fermentam. Se optar pelo amido em uma emergência para secar, certifique-se de remover todo o resíduo na próxima limpeza. Nunca deixe acumular crostas de amido e sujeira nas dobras.
O risco de inalação também existe. Ao aplicar qualquer pó perto do nariz do Bulldog, cubra as narinas dele com a mão para evitar que ele aspire as partículas, o que pode causar pneumonia aspirativa ou irritação brônquica.
Perigos do uso de álcool ou vinagre
Já mencionei, mas vale reforçar: álcool jamais. O álcool 70% ou em gel é agressivo, causa ardor intenso e desidrata a pele a ponto de ela rachar. O Bulldog tem a pele sensível e o uso de álcool pode causar queimaduras químicas e tornar o animal avesso a qualquer manipulação facial futura.
O vinagre de maçã é popular por suas propriedades antifúngicas e por acidificar o meio. Porém, a diluição errada pode ser desastrosa. Aplicar vinagre puro em uma pele assada (em carne viva) vai doer terrivelmente. Existem produtos veterinários formulados com ácidos seguros (como ácido acético ou bórico) em concentrações controladas que são muito mais seguros e eficazes que o vinagre de cozinha.
Não brinque de químico com a saúde do seu melhor amigo. A economia feita ao usar produtos de despensa pode custar caro em tratamentos veterinários para corrigir o dano causado.
Soluções oftálmicas versus soluções dermatológicas
Muitos tutores confundem colírios com limpadores de lágrimas. Colírios são medicamentos para dentro do olho. Limpadores de lágrimas são para a pele ao redor do olho. Nunca pingue produto de limpeza dentro do olho do cão, a menos que seja soro fisiológico estéril.
Por outro lado, não use colírios antibióticos ou anti-inflamatórios na pele das dobras sem indicação. A pele absorve medicamentos de forma diferente da mucosa ocular. Use cada produto para sua finalidade específica descrita na bula.
Se tiver dúvida se um produto é seguro caso caia no olho acidentalmente, não o use na face. A segurança ocular deve ser sua prioridade número um ao escolher qualquer item do kit de higiene do seu Bulldog Francês.


