Guia Completo da Gripe Canina
Guia Completo da Gripe Canina

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Guia Completo da Gripe Canina: Entenda a Tosse dos Canis, Sintomas e a Importância da Vacina

Você já passou pela situação assustadora de acordar no meio da noite com um som alto e seco vindo do seu cachorro, algo que lembra muito o grasnar de um ganso ou um engasgo severo? Se sim, é bem provável que o primeiro pensamento tenha sido que ele engoliu um brinquedo ou que tem um osso preso na garganta. Essa é a descrição clássica que ouço quase todos os dias no consultório durante o outono e o inverno. Na maioria das vezes, não é um corpo estranho, mas sim a famosa “Tosse dos Canis” ou Gripe Canina.[1]

Embora o nome pareça simples, estamos lidando com uma síndrome complexa chamada Traqueobronquite Infecciosa Canina (TIC). Não se trata apenas de um resfriado passageiro como o nosso. Para o seu companheiro de quatro patas, essa condição envolve uma inflamação aguda nas vias aéreas superiores que pode ser extremamente desconfortável e, se negligenciada, evoluir para quadros mais graves.

Neste artigo, vamos mergulhar fundo no que acontece no organismo do seu pet.[2][3][4][5] Vou explicar, de veterinário para tutor, como identificar os sinais antes que eles piorem, quais são as opções reais de tratamento e desmistificar as vacinas disponíveis. Prepare-se para entender tudo sobre como proteger a saúde respiratória do seu melhor amigo.

O Que é a Gripe Canina e a Tosse dos Canis?

A Traqueobronquite Infecciosa Canina explicada

Quando falamos em “Gripe Canina”, estamos usando um termo popular para facilitar o entendimento, mas o termo técnico correto é Traqueobronquite Infecciosa Canina. O nome já nos dá uma pista valiosa sobre o que está acontecendo dentro do seu cachorro: uma inflamação (“ite”) que afeta simultaneamente a traqueia e os brônquios. Imagine a traqueia como o tubo principal de ar e os brônquios como as ramificações que levam esse ar aos pulmões. Quando inflamados, eles se tornam hipersensíveis a qualquer passagem de ar.

Essa inflamação causa uma irritação mecânica constante. É por isso que o animal tosse. A mucosa que reveste essas estruturas fica edemaciada (inchada) e vermelha. Em um cão saudável, essa mucosa possui pequenos “pelinhos” chamados cílios, que varrem a sujeira e o muco para fora. Na traqueobronquite, esses cílios paralisam ou são destruídos temporariamente, permitindo que o muco se acumule e que bactérias oportunistas se instalem, perpetuando o ciclo da tosse.

É crucial que você entenda que essa doença é autolimitante na maioria dos casos leves, o que significa que o próprio sistema imune do cão pode combatê-la com o tempo. No entanto, o desconforto gerado é imenso. A traqueia fica tão sensível que apenas o ato de puxar a coleira durante o passeio pode desencadear uma crise de tosse que dura minutos, deixando o animal exausto e o tutor angustiado.

Os vilões invisíveis: Vírus e Bactérias

Diferente de muitas doenças causadas por um único agente, a tosse dos canis é uma “polinfecção”. Costumamos dizer que é um condomínio de microrganismos. O principal vilão bacteriano é a Bordetella bronchiseptica. Ela é a responsável direta por paralisar aqueles cílios protetores da traqueia que mencionei anteriormente. Sozinha, ela já causa estrago, mas raramente ela trabalha sem comparsas virais.

Os vírus mais comuns associados a esse quadro são o Vírus da Parainfluenza Canina e o Adenovírus Canino tipo 2. Eles agem como “batedores”, abrindo as portas do sistema imunológico respiratório para que a bactéria Bordetella entre e faça a colonização secundária. É essa combinação de vírus e bactérias que torna o tratamento um desafio; antibióticos matam bactérias, mas não fazem nada contra os vírus.

Por isso, quando você me pergunta “qual o remédio para a gripe?”, a resposta nunca é simples. Precisamos combater a bactéria com antibióticos, mas o corpo do cachorro precisa lidar com a carga viral. A presença simultânea desses agentes aumenta a severidade dos sintomas e prolonga o tempo de recuperação, que pode variar de uma semana a vinte dias, dependendo da imunidade do paciente.

Como o clima frio favorece a doença

Você deve ter notado que as campanhas de vacinação contra a gripe canina se intensificam no outono e inverno. Isso não é coincidência. As baixas temperaturas e, principalmente, o ar seco, ressecam as mucosas respiratórias dos cães. A mucosa nasal e traqueal úmida é a primeira barreira de defesa; quando ela seca, perde a eficácia em filtrar patógenos, tornando a entrada dos vírus muito mais fácil.

Além do fator fisiológico, existe o fator comportamental. No frio, os cães tendem a ficar mais aglomerados para se aquecer, ou passam mais tempo em ambientes fechados e com pouca ventilação. Em creches e hotéis para cães, essa proximidade facilita a transmissão por aerossóis – gotículas microscópicas liberadas na tosse ou espirro.

Outro ponto importante é a sobrevivência dos vírus no ambiente. O vírus da Parainfluenza e a bactéria Bordetella conseguem sobreviver por mais tempo em ambientes com pouca incidência solar direta e temperaturas amenas. Portanto, o inverno cria a “tempestade perfeita”: imunidade de mucosa reduzida pelo ar seco, maior aglomeração de animais e agentes infecciosos mais resistentes no ambiente.

Identificando os Sintomas no Seu Cachorro

A famosa “tosse de ganso” e os engasgos

A característica mais marcante da tosse dos canis é o som. Não é uma tosse úmida e cheia de catarro como a nossa; é uma tosse seca, alta e ruidosa. Muitos tutores descrevem como se o cachorro estivesse “latindo para dentro” ou fazendo um som de grasnado de ganso (honking cough). Esse som ocorre devido à vibração das cordas vocais e da traqueia inflamada quando o ar é expelido com força.

Frequentemente, após uma sequência de tosses fortes, o cão faz um movimento de ânsia de vômito e pode expelir uma espuminha branca. É aqui que mora a maior confusão: você vê aquela espuma e acha que é vômito gástrico ou que ele está engasgado com algo. Na verdade, essa espuma é apenas saliva misturada com o ar turbulento da tosse e um pouco de muco traqueal. Não é conteúdo estomacal.

Esses episódios de tosse costumam piorar em momentos de excitação. Quando você chega em casa do trabalho e seu cachorro faz festa, ele começa a tossir? Quando você pega a guia para passear, ele tosse? Isso acontece porque a respiração ofegante e a excitação aumentam o fluxo de ar na traqueia sensibilizada, desencadeando o reflexo da tosse. Se isso está acontecendo, é um sinal clássico da doença.

Secreções nasais, oculares e febre

Embora a tosse seja o carro-chefe, ela não vem sozinha. Em muitos pacientes, observamos uma secreção nasal que começa aquosa (transparente) e, com o passar dos dias e a ação das bactérias, pode se tornar mucopurulenta (amarela ou esverdeada). Se o seu cachorro está com o nariz escorrendo constantemente e lambendo o focinho a todo momento, fique alerta.

A secreção ocular também é comum. Os olhos podem ficar vermelhos (conjuntivite) e apresentar remelas excessivas, especialmente pela manhã. Isso ocorre porque o canal lacrimal tem ligação com a cavidade nasal, e a inflamação de um sistema acaba afetando o outro. O animal pode ficar incomodado, tentando coçar os olhos com as patas ou esfregando o rosto no tapete.

A febre é um sintoma que indica que a infecção pode estar se tornando sistêmica. A temperatura normal de um cão varia entre 38°C e 39,2°C. Se o seu pet estiver quieto demais, com as orelhas e patas quentes e recusando comida, é provável que ele esteja febril. Na tosse dos canis leve, a febre é rara ou baixa; se a febre for alta, é um sinal de alerta para pneumonia ou infecções mais graves.

Diferença entre tosse cardíaca e tosse dos canis

Como veterinário, um dos meus maiores desafios é diferenciar a tosse da gripe da “tosse cardíaca” apenas pelo relato do tutor, pois elas podem ser parecidas. Cães idosos, principalmente de raças pequenas como Poodles e Malteses, frequentemente têm problemas na válvula mitral do coração. Quando o coração aumenta de tamanho, ele comprime a traqueia e os brônquios, causando tosse.

A diferença crucial, que você pode observar em casa, é o contexto e o som. A tosse cardíaca costuma ser mais comum à noite, quando o cão está deitado e relaxado, e é um som mais úmido, como se houvesse líquido no pulmão (edema pulmonar). Já a tosse dos canis é seca, alta e acontece a qualquer hora, especialmente quando há movimento ou agitação.

Além disso, a evolução é diferente. A tosse da gripe aparece de repente em um cão que estava bem dias antes. A tosse cardíaca evolui lentamente ao longo de meses. De qualquer forma, a ausculta do coração com o estetoscópio é insubstituível. Se o seu cão velhinho começou a tossir, não assuma que é gripe; traga-o para avaliarmos o coração também.

Como Acontece o Contágio

O perigo dos parques e creches

A socialização é maravilhosa para a saúde mental dos cães, mas é o cenário ideal para a disseminação da tosse dos canis. Locais como “day cares” (creches), hotéis para cães, exposições e “pracões” (parques de cachorros) são considerados zonas de alto risco. Basta um único cão infectado tossir ou espirrar para liberar uma nuvem invisível de vírus e bactérias.

O problema maior é que cães podem transmitir a doença antes mesmo de apresentarem sintomas visíveis (no período de incubação) ou podem ser portadores assintomáticos – têm a bactéria, não adoecem, mas a espalham. Isso significa que aquele amiguinho do parque que parece super saudável pode estar transmitindo a Bordetella para o seu cão enquanto brincam.

Se você frequenta esses locais, a vacinação deixa de ser opcional e passa a ser uma obrigação ética e sanitária. Muitos estabelecimentos sérios, inclusive, exigem a carteirinha de vacinação em dia, incluindo a vacina contra a gripe (que muitas vezes é dada à parte das vacinas múltiplas comuns), para aceitar a matrícula do animal.

Transmissão pelo ar e contato focinho-a-focinho

A principal via de transmissão é o aerossol. Quando um cão doente tosse, ele projeta microgotículas contaminadas a metros de distância. Se o seu cão inalar essas gotículas, os patógenos encontram o caminho direto para o trato respiratório. É uma transmissão muito eficiente, similar à gripe em escritórios humanos.

O contato direto, aquele famoso cumprimento “focinho com focinho” que os cães fazem para se cheirar, é outra forma garantida de contágio. A troca de fluidos nasais, mesmo que mínima, é suficiente para transportar a carga viral. Cães que vivem na mesma casa quase invariavelmente pegam a doença juntos; se um começou a tossir, é questão de dias para o outro começar também.

Por isso, quando diagnosticamos um paciente com tosse dos canis, a primeira recomendação é o isolamento social. Nada de passeios no parque ou contato com outros cães da vizinhança por pelo menos 14 dias. Manter seu cão doente em casa é um ato de responsabilidade com a comunidade canina do seu bairro.

Objetos contaminados (fômites)

Você sabia que você pode ser o “transporte” da doença? Chamamos de fômites quaisquer objetos inanimados que carregam agentes infecciosos. As vasilhas de água e comida compartilhadas em parques são os maiores vilões. Um cão doente bebe água, deixa a saliva contaminada ali, e o próximo cão que beber se infecta.

Além dos potes, brinquedos, bolas de tênis babadas no parque e até mesmo as roupas e sapatos dos tutores podem carregar a bactéria Bordetella. Embora menos comum do que a transmissão direta, é possível que você faça carinho em um cão doente na rua e leve o agente para o seu cão em casa através das mãos ou da roupa.

A higiene é fundamental. Se você tem mais de um cão e apenas um está doente, separe rigorosamente os potes de comida e água. Lave-os com água fervente e detergente, e se possível, passe uma solução de água sanitária diluída no ambiente onde o cão doente fica, para minimizar a carga bacteriana no local.

Diagnóstico e Tratamento Veterinário

O exame clínico e a palpação traqueal

No consultório, o diagnóstico da tosse dos canis é predominantemente clínico. Ouço o histórico que você me conta (início súbito, contato com outros cães) e parto para o exame físico. Uma manobra muito comum que fazemos é o “reflexo de tosse” ou palpação traqueal. Eu pressiono levemente a traqueia do animal; se ele tiver a doença, esse toque suave desencadeará uma tosse imediata e forte devido à inflamação.

Além da palpação, a ausculta pulmonar é vital. Com o estetoscópio, verifico se o som do pulmão está “limpo”. Na tosse dos canis simples, o pulmão soa normal, e o ruído alto vem apenas da garganta (traqueia). Se eu ouvir crepitações ou chiados vindos do fundo do peito, isso muda o diagnóstico para algo mais grave, como uma pneumonia.

Exames de sangue (hemograma) podem ser solicitados para ver o nível dos leucócitos (células de defesa). Se estiverem muito altos, indica uma infecção bacteriana ativa que precisa de combate agressivo. O Raio-X de tórax também é essencial para descartar problemas cardíacos, colapso de traqueia ou corpos estranhos, garantindo que estamos tratando a doença certa.

O uso de antibióticos e antitussígenos

O tratamento medicamentoso tem dois pilares: combater a infecção e aliviar o sintoma. Para a infecção bacteriana (Bordetella), prescrevemos antibióticos específicos, sendo a Doxiciclina um dos mais utilizados devido à sua excelente penetração nas vias aéreas. O ciclo do antibiótico deve ser seguido à risca, geralmente por 7 a 10 dias, mesmo que o cão pareça melhor antes.

Para o alívio da tosse, usamos antitussígenos e broncodilatadores. Mas aqui vai um aviso importante: nunca medique a tosse do seu cão sem autorização veterinária. Em alguns casos, a tosse é produtiva (tem catarro) e inibi-la pode ser perigoso, pois o catarro acumula no pulmão e vira pneumonia. Só usamos xaropes para “cortar” a tosse quando ela é seca e irritativa, impedindo o animal de dormir.

Também podemos usar anti-inflamatórios (corticoides ou não-esteroidais) para reduzir o inchaço da garganta e diminuir a dor ao engolir. Isso ajuda o cão a voltar a comer, já que muitos param de se alimentar porque a garganta dói.

Cuidados em casa: Nebulização e isolamento

O tratamento em casa é tão importante quanto os remédios. A nebulização (inalação) apenas com soro fisiológico é uma grande aliada. Ela hidrata as vias aéreas, fluidifica o muco e acalma a irritação. Fazer sessões de 10 a 15 minutos, duas ou três vezes ao dia, acelera muito a recuperação e traz conforto imediato ao pet.

Mantenha o cão em repouso absoluto. Evite coleiras de pescoço (use peitoral para não apertar a traqueia) e suspenda passeios longos. O ar frio ou poluição da rua podem piorar a tosse. O ambiente deve ser ventilado, mas sem correntes de vento diretas no animal.

A hidratação e nutrição são fundamentais. Ofereça alimentos úmidos (sachês ou comida natural levemente morna) para facilitar a deglutição e aumentar a ingestão de água. Um sistema imune bem nutrido combate o vírus muito mais rápido. E lembre-se: isole o paciente de outros animais da casa para evitar um surto doméstico.

Tudo Sobre a Vacina da Tosse dos Canis

A melhor forma de lidar com a gripe canina é a prevenção. Diferente das vacinas múltiplas (V8 ou V10) que protegem contra parainfluenza e adenovírus, a proteção específica e potente contra a Bordetella bronchiseptica geralmente requer uma vacina à parte. Vamos comparar as opções:

Tabela Comparativa de Vacinas

CaracterísticaVacina Intranasal (Gotinha no nariz)Vacina Injetável (Subcutânea)Vacina Oral (Gotinha na boca)
Via de AplicaçãoInstilada nas narinasInjeção sob a peleInstilada na mucosa da boca
Início da ProteçãoMuito rápido (3 a 5 dias – Imunidade Local IgA)Mais lento (cerca de 21 dias após reforço)Rápido (Imunidade de mucosa)
DesconfortoPode causar espirros ou leve secreção pós-vacinaDor da picada e possível nódulo localGeralmente bem aceita, sem dor

Vacina Injetável: Características e protocolo

A vacina injetável é a mais tradicional. Ela é feita com bactérias inativadas (mortas) ou partes delas. Por não ser aplicada diretamente na porta de entrada da doença (nariz/boca), ela estimula uma imunidade sistêmica (no sangue), mas demora mais para gerar proteção e geralmente requer duas doses iniciais com intervalo de 21 a 30 dias para ser eficaz.

A grande vantagem é a facilidade de aplicação em cães que não deixam mexer no focinho. Alguns cães ficam agressivos ou muito agitados se tentarmos pingar algo no nariz, tornando a injeção a via mais segura para o veterinário e menos estressante para aquele animal específico.

Vacina Intranasal: Proteção local rápida

Considerada por muitos especialistas como a mais eficiente para esta doença específica. Por ser aplicada no nariz, ela estimula a produção de anticorpos IgA diretamente na mucosa nasal. É como colocar um “porteiro” armado exatamente na porta onde a bactéria tenta entrar. A proteção é obtida em poucos dias e com apenas uma dose.

No entanto, a aplicação pode ser um desafio. O cão pode espirrar a vacina (embora os fabricantes digam que a absorção é imediata), e é comum que o cão apresente leves sintomas de gripe (espirros e tosse leve) por alguns dias após a vacina, pois ela usa bactérias vivas atenuadas.

Vacina Oral: A novidade prática

Mais recente no mercado, a vacina oral busca unir o melhor dos dois mundos. Ela é aplicada na parte interna da bochecha, sendo mais fácil de administrar que a intranasal (cães aceitam melhor algo na boca do que no nariz) e também gera imunidade local de mucosa.

Assim como a intranasal, costuma ser dose única anual e oferece proteção rápida. É uma excelente opção para cães bravos ou muito medrosos, onde a contenção para a via intranasal seria traumática, mas que precisam da proteção rápida que a injetável não oferece na primeira dose.

Complicações Graves e Grupos de Risco

A evolução para pneumonia bacteriana secundária

A tosse dos canis, quando não tratada ou quando afeta um animal debilitado, pode deixar de ser uma infecção respiratória superior (garganta) e descer para o trato inferior (pulmões). A pneumonia bacteriana é a complicação mais temida. Nesse estágio, o pulmão se enche de fluido e pus, impedindo a troca gasosa adequada.

Você notará que o cão passa a ter dificuldade real para respirar (dispneia). Ele pode ficar com a língua roxa (cianose) após esforço mínimo, e a respiração torna-se curta e abdominal. O tratamento da pneumonia é muito mais agressivo, exigindo internação, oxigenoterapia e antibióticos intravenosos potentes. O risco de óbito aumenta significativamente.

Filhotes e idosos: O grupo de alerta vermelho

Filhotes que ainda não completaram o ciclo vacinal e cães idosos (geriátricos) são os mais vulneráveis. Nos filhotes, o sistema imune é imaturo; nos idosos, ele já está mais lento (imunossenescência). Neles, a tosse dos canis raramente fica só na “tosse chata”.

Eles desidratam muito rápido e param de comer com facilidade. Um filhote de 3 meses com gripe pode precisar ser internado em 24h se não houver intervenção. Por isso, para esses grupos, qualquer sinal de tosse deve ser motivo de visita imediata ao veterinário, sem esperar “ver se melhora amanhã”.

Raças braquicefálicas e a sensibilidade respiratória aumentada

Pugs, Buldogues Franceses, Shih Tzus e Boxers merecem um capítulo à parte. Esses cães já possuem anatomia respiratória comprometida (narinas estenosadas, palato alongado). Para eles, respirar já é um esforço diário.

Quando pegam a tosse dos canis, o inchaço na garganta pode obstruir quase totalmente a passagem de ar, que já é estreita. O que seria uma gripe leve num vira-lata, pode levar um Bulldog a uma crise respiratória grave por hipóxia e hipertermia. Se você é tutor de um “focinho achatado”, a vacinação contra gripe deve ser prioridade máxima.

Verdades e Mitos que Você Precisa Saber

“Meu cachorro não sai de casa, precisa vacinar?”

Esse é um mito perigoso. Mesmo que seu cão more em apartamento e só desça para o “xixi higiênico”, ele passa por áreas comuns: elevadores, portaria, calçada do prédio. O vírus pode estar no ar do elevador onde um cão doente esteve minutos antes, ou nos sapatos de uma visita.

Além disso, se você precisar levar seu cão ao veterinário para uma emergência qualquer ou ao banho e tosa, ele estará exposto. A vacinação é uma barreira de segurança. Cães estritamente domiciliários têm menos risco, sim, mas o risco não é zero, e a gravidade da doença não vale a “economia” da vacina.

A gripe canina passa para humanos?

Geralmente, não. Os vírus da gripe canina são específicos da espécie. Você não vai pegar tosse do seu cachorro, nem ele vai pegar a sua gripe humana (Influenza humana). No entanto, existe uma pequena ressalva técnica: a bactéria Bordetella bronchiseptica é uma “prima” da bactéria que causa coqueluche em humanos.

Em casos raríssimos, pessoas com imunidade extremamente comprometida (pacientes em quimioterapia, transplantados, portadores de HIV avançado) podem, teoricamente, ser infectadas pela Bordetella. Mas para a população geral saudável, o risco é praticamente inexistente. Pode abraçar seu cachorro doente sem medo, apenas lave as mãos depois por questões básicas de higiene.

Xarope de mel e limão funciona?

Muitos tutores tentam tratar a tosse em casa com receitas de avó: mel, limão, gengibre ou própolis. Embora o mel tenha propriedades calmantes para a garganta e possa aliviar levemente a irritação, ele não mata a bactéria e não cura a doença.

O perigo dessas receitas caseiras é mascarar os sintomas enquanto a doença evolui para uma pneumonia, ou causar problemas gástricos no cão (limão é muito ácido e pode causar gastrite e vômitos). O “barato” sai caro. Use o mel apenas se o seu veterinário autorizar como um coadjuvante, mas nunca substitua o tratamento médico (antibióticos e anti-inflamatórios) por soluções caseiras. O tempo que você perde testando chás é o tempo que a bactéria tem para colonizar o pulmão do seu amigo.

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