Diferença entre Maltês e Poodle: Qual escolher?
Escolher um novo membro para a família é uma decisão que vai muito além da aparência fofa ou do tamanho do animal. Você precisa entender que levar um cão para casa é assumir um compromisso de longo prazo com um ser que tem necessidades biológicas e emocionais complexas. No meu consultório, vejo diariamente tutores que amam seus animais, mas que escolheram a raça errada para o seu estilo de vida atual. Isso gera frustração para o humano e estresse crônico para o animal.
O Maltês e o Poodle são duas das raças mais populares no Brasil e com razão. Ambos são inteligentes, adaptáveis a apartamentos e possuem uma longevidade invejável quando bem cuidados. No entanto, as semelhanças param por aí. A genética de cada um dita comportamentos, necessidades de manejo e predisposições a doenças que são completamente distintas. Você precisa estar preparado para lidar com essas particularidades antes mesmo do filhote chegar.
Neste artigo, vou dissecar as diferenças reais entre essas duas raças sob uma perspectiva clínica e comportamental. Vamos deixar de lado o senso comum e focar no que realmente acontece dentro de casa e no consultório veterinário. Meu objetivo é garantir que você tenha todas as ferramentas para tomar uma decisão consciente e garantir o bem-estar do seu futuro companheiro.
Origens e Genética: O Impacto no Comportamento
A herança de caçador do Poodle e sua energia
Você pode olhar para um Poodle Toy hoje, com seus lacinhos e tosa impecável, e não imaginar o passado atlético dessa raça. Originalmente, os Poodles foram desenvolvidos como cães de trabalho para recuperar caça na água. Essa função exigia uma inteligência aguçada, capacidade de resolução de problemas e uma resistência física considerável. Mesmo as versões menores que temos hoje carregam esse drive de trabalho em seu DNA.
Isso significa que o Poodle não é apenas um cão de colo que se contenta em dormir no sofá o dia todo. Ele possui uma mente ativa que precisa ser estimulada constantemente para não desenvolver comportamentos destrutivos. Vejo muitos Poodles desenvolverem compulsões, como lamber as patas incessantemente, simplesmente por tédio. A energia mental deles precisa ser canalizada para atividades construtivas.
Quando você escolhe um Poodle, está levando para casa um animal que, geneticamente, precisa de uma “missão”. Se você não fornecer jogos, treinos e passeios enriquecedores, ele criará as próprias missões, que geralmente envolvem latir para qualquer barulho no corredor ou destruir objetos da casa. A mente de trabalho do Poodle é um presente se bem direcionada, mas um desafio se negligenciada.
O Maltês como cão de colo milenar
Diferente do Poodle, a história do Maltês é uma das mais antigas entre os cães de companhia puros. Há registros e artefatos que sugerem a existência dessa raça há milhares de anos, sempre desempenhando a função de companheiro da aristocracia e da realeza. O Maltês foi literalmente desenhado pela seleção artificial para estar no colo, aquecer seus tutores e oferecer conforto emocional.
Essa seleção genética criou um cão que tem uma necessidade quase visceral de contato físico humano. Enquanto o Poodle pode se divertir resolvendo um quebra-cabeça de comida em outro cômodo, o Maltês provavelmente ficará sentado na porta esperando você aparecer. A função zootécnica dele é a companhia, e ele leva isso muito a sério.
Clinicamente, isso se traduz em um animal extremamente afetuoso, mas com baixa tolerância à solidão. O Maltês não foi criado para a independência ou para o trabalho duro. Sua estrutura física mais delicada e seu temperamento voltado para o humano fazem dele o cão ideal para quem busca sombra constante. Entender essa origem ajuda a compreender por que deixar um Maltês sozinho por 10 horas seguidas é uma receita para problemas comportamentais graves.
A seleção genética e os reflexos no temperamento atual
A criação moderna intensificou certas características de ambas as raças, nem sempre para o benefício da saúde do animal. No caso dos Poodles, a busca pela miniaturização extrema (os chamados “Micro Toys”, que não são reconhecidos oficialmente) trouxe um temperamento muitas vezes mais reativo e nervoso. Cães selecionados apenas pelo tamanho minúsculo tendem a ser mais inseguros e a latir mais por medo.
Já no Maltês, a seleção focada na pelagem branca e longa, juntamente com o focinho curto, criou um animal que exige cuidados extremos. O temperamento, embora doce, pode se tornar possessivo. A genética influencia diretamente o limiar de tolerância do cão. Alguns exemplares podem ser mais “rabugentos” se a seleção dos pais não priorizou o comportamento equilibrado, mas apenas a estética.
Como veterinário, sempre alerto que a genética carrega o potencial, mas o ambiente determina a expressão desse comportamento. No entanto, lutar contra a natureza do cão é difícil. Tentar fazer de um Poodle um cão puramente sedentário ou de um Maltês um cão de guarda independente é ignorar séculos de seleção genética. Você deve escolher a raça cuja predisposição natural se alinhe com a sua rotina real.
Anatomia e Pelagem: Muito Além da Estética
A estrutura do pelo do Poodle e a necessidade de tosa
A pelagem do Poodle é fascinante do ponto de vista dermatológico. Ele possui um pelo que cresce continuamente, semelhante ao cabelo humano, e não tem o subpelo denso que causa aquelas quedas sazonais intensas em outras raças. Isso é ótimo para a limpeza da casa, mas exige uma manutenção profissional rigorosa. O pelo cresce encaracolado e, se não for escovado, forma nós rentes à pele que puxam e machucam o animal.
Esses nós não são apenas um problema estético. Eles impedem a aeração da pele, criando um microambiente úmido e quente perfeito para a proliferação de fungos e bactérias. É comum eu atender Poodles com dermatites úmidas graves escondidas sob placas de pelos emaranhados. A tosa não é opcional para essa raça, é uma questão de saúde básica.
Você precisará levar seu Poodle ao banho e tosa a cada 30 ou 45 dias, sem exceção. Além disso, a escovação em casa deve ser frequente para manter a pelagem viável entre as tosas. A textura do fio do Poodle permite diversas “esculturas”, mas a tosa bebê ou a tosa kennell (mais curta) são as mais práticas para o dia a dia do tutor comum que busca higiene e conforto para o pet.
O manto liso do Maltês e os desafios dermatológicos
O Maltês possui um pelo liso, sedoso e sem subpelo. A estrutura desse fio é muito fina, o que facilita a formação de nós praticamente da noite para o dia. A eletricidade estática e o atrito com roupas ou caminhas são suficientes para embolar a pelagem. Manter um Maltês com o pelo longo de exposição exige um trabalho diário de escovação e hidratação que poucos tutores têm tempo para realizar.
Um ponto crítico na anatomia do Maltês é a região dos olhos. A raça tem predisposição à epífora, que é o extravasamento da lágrima. Essa lágrima oxida o pelo, criando aquelas manchas marrons avermelhadas ao redor dos olhos e focinho, conhecidas como cromodacriorreia. Além da questão estética, a umidade constante nessa área pode levar a infecções fúngicas e bacterianas na pele facial.
A pele do Maltês sob o manto branco costuma ser muito sensível e reativa. Vejo muitos casos de atopia e alergias de contato nessa raça. O uso de shampoos inadequados ou a falta de secagem correta pode desencadear crises de coceira intensa. Para o tutor, isso significa investir em produtos de linha veterinária dermatológica e ter paciência e disciplina com a rotina de secagem após banhos ou passeios na chuva.
A questão da hipoalergenicidade sob a ótica médica
É fundamental esclarecer o mito do cão “hipoalergênico”. Nenhuma raça é 100% livre de causar alergias, pois os alérgenos não estão apenas no pelo, mas também na saliva, na urina e na descamação da pele (caspa). No entanto, tanto o Poodle quanto o Maltês são considerados boas opções para alérgicos porque soltam muito pouco pelo no ambiente, reduzindo a dispersão dessas proteínas alergênicas.
O Poodle, por reter o pelo morto em seus cachos até que seja escovado ou tosado, libera menos partículas no ar. O Maltês, por não ter subpelo, também tem uma queda mínima. Isso faz uma diferença enorme na qualidade de vida de quem sofre de rinite ou asma, comparado a ter um Pug ou um Golden Retriever, por exemplo.
Contudo, a reação alérgica é individual. Antes de adquirir o filhote, recomendo fortemente que a pessoa alérgica conviva com um animal adulto da raça por algumas horas em um ambiente fechado. Já vi casos de devolução de animais porque o tutor, confiando cegamente no rótulo de hipoalergênico, teve crises graves. A medicina veterinária trabalha com redução de riscos, não com garantias absolutas nesse aspecto.
Temperamento e Dinâmica Familiar
Ansiedade de separação e dependência emocional
Se você trabalha fora o dia todo e a casa fica vazia, precisa pensar duas vezes antes de ter qualquer uma dessas raças, mas especialmente o Maltês. Eles criam um vínculo de dependência muito forte com o tutor principal. A ansiedade de separação é uma das maiores causas de consultas comportamentais para essas raças. Ela se manifesta através de latidos ininterruptos, destruição de móveis e até automutilação.
O Poodle, embora também muito apegado, tende a ser um pouco mais confiante se socializado corretamente. Sua inteligência permite que ele entenda melhor a rotina e se adapte a momentos de solidão, desde que tenha enriquecimento ambiental. Já o Maltês sente a ausência física como uma dor real. Ele é a sombra do tutor, seguindo-o do quarto ao banheiro.
Para mitigar isso, o treino de independência deve começar no primeiro dia. É um erro comum pegar o filhote no colo o tempo todo e nunca deixá-lo sozinho nem por um minuto. Você precisa ensinar ao cão que ficar sozinho é seguro e tranquilo. Deixar brinquedos recheáveis e criar um “cantinho seguro” são estratégias que recomendamos para evitar que o amor do cão se transforme em uma patologia emocional.
Inteligência funcional e capacidade de aprendizado
Neste quesito, o Poodle brilha intensamente. Ele ocupa consistentemente o pódio nas listas de inteligência canina (geralmente em segundo lugar no ranking de Stanley Coren). Isso significa que eles aprendem comandos novos com menos de cinco repetições. Para o tutor, isso é uma faca de dois gumes: eles aprendem o que você quer ensinar e também o que você não quer, como abrir portas ou manipular você para ganhar petiscos.
O Maltês é inteligente, mas de uma forma diferente. Ele aprende rápido como conseguir o que quer através do charme e da persistência. O adestramento do Maltês exige mais paciência e reforço positivo constante, pois eles podem ser um pouco mais teimosos e menos focados em “agradar pelo trabalho” do que o Poodle. Eles perguntam “o que eu ganho com isso?” antes de obedecer.
Treinar um Poodle é uma experiência dinâmica e divertida; você pode ensinar truques complexos, agility e nomes de objetos. Treinar um Maltês foca mais na convivência, boas maneiras e socialização. Ambas as raças respondem mal a métodos punitivos. Gritos ou correções físicas apenas geram medo e quebram a confiança, especialmente em cães sensíveis de pequeno porte.
Convivência com crianças e a fragilidade física
A convivência entre crianças pequenas e cães toy exige supervisão constante. Não porque os cães sejam agressivos, mas porque são frágeis. Um Poodle Toy ou um Maltês possui ossos finos e delicados. Uma queda do colo de uma criança ou um abraço muito apertado pode resultar em fraturas graves. Acidentes domésticos são a principal causa de trauma nessas raças.
O Poodle tende a ser mais brincalhão e tolerante com a energia das crianças, participando das brincadeiras de correr e buscar. Ele tem uma bateria maior para acompanhar o ritmo infantil. O Maltês pode se sentir intimidado pela movimentação brusca e gritaria de crianças muito pequenas, preferindo se esconder ou, se encurralado, rosnar para se defender.
Eu geralmente recomendo essas raças para famílias com crianças que já tenham discernimento para tratar o animal com delicadeza (geralmente acima de 6 ou 7 anos). Se você tem bebês ou toddlers, a vigilância deve ser redobrada. Ensinar a criança a respeitar o espaço do cão e nunca perturbá-lo enquanto come ou dorme é regra básica de segurança para evitar reações defensivas do animal.
Quadro Clínico e Predisposições Raciais
Afecções ortopédicas comuns em raças pequenas
A luxação de patela é, sem dúvida, o problema ortopédico que mais atendo em Poodles e Malteses. Trata-se de uma condição onde o “joelho” do cão sai do lugar. Você pode notar que o cão dá um gritinho, encolhe a perna por alguns passos e depois volta a andar normalmente. Isso não é normal e, com o tempo, causa artrose e dor crônica.
O controle de peso é fundamental para prevenir o agravamento dessa condição. Cães dessas raças não podem ser obesos, pois cada grama extra sobrecarrega articulações que já são anatomicamente predispostas a problemas. Além da patela, a necrose asséptica da cabeça do fêmur (Legg-Calvé-Perthes) é outra condição que pode aparecer em animais jovens, causando dor no quadril.
Evitar pisos muito lisos em casa, usar tapetes e rampas para subir e descer de sofás e camas são medidas preventivas que você deve adotar. O impacto constante de pular de móveis altos ao longo dos anos é extremamente prejudicial para a coluna e joelhos desses pequenos atletas. A prevenção ambiental é tão importante quanto a genética.
A saúde oral e o perigo da doença periodontal
Este é o calcanhar de Aquiles das raças pequenas. A boca deles é pequena, mas eles têm o mesmo número de dentes (42) que um cão grande. Isso gera um apinhamento dentário, criando nichos perfeitos para o acúmulo de comida e bactérias. O tártaro (cálculo dentário) se forma muito rápido em Poodles e Malteses, levando à gengivite e perda óssea precoce.
A doença periodontal não causa apenas mau hálito e perda de dentes. As bactérias da boca caem na corrente sanguínea e podem se alojar nas válvulas do coração, nos rins e no fígado, causando doenças sistêmicas graves. A “boca podre” mata cães silenciosamente.
Você precisará escovar os dentes do seu cão diariamente. Isso não é um extra, é uma necessidade médica. Além disso, limpezas de tártaro sob anestesia (profilaxia periodontal) serão necessárias periodicamente ao longo da vida do animal. Acostumar o filhote desde cedo a ter a boca manipulada facilitará imensamente a sua vida e garantirá a saúde dele.
Problemas oftalmológicos e cuidados preventivos
Ambas as raças têm olhos proeminentes e predisposição a certas doenças oculares. O Poodle tem uma incidência genética de Atrofia Progressiva da Retina (PRA), que pode levar à cegueira, e catarata precoce. O Maltês sofre muito com a obstrução do ducto nasolacrimal e úlceras de córnea causadas por pelos que entram nos olhos ou traumas.
A limpeza diária da região dos olhos com soro fisiológico ou loções específicas é obrigatória para remover remelas e prevenir infecções. Fique atento a qualquer sinal de vermelhidão, coceira ou opacidade nos olhos (aquele aspecto azulado ou esbranquiçado). Olhos são órgãos sensíveis e problemas evoluem rápido para situações irreversíveis.
Visitas anuais a um oftalmologista veterinário podem ser necessárias, especialmente se o cão entrar na idade sênior. O diagnóstico precoce de glaucoma ou catarata pode salvar a visão do seu pet. Lembre-se que cães cegos adaptam-se bem, mas nosso dever é preservar a função o máximo possível.
Rotina de Higiene e Manejo Sanitário
A glândula adanal e os cuidados na tosa higiênica
Muitos tutores desconhecem, mas cães possuem duas pequenas glândulas ao lado do ânus que produzem uma secreção de cheiro forte. Em cães grandes, elas se esvaziam naturalmente. Em raças pequenas como Poodle e Maltês, é comum ocorrer a impactação dessas glândulas. Isso causa desconforto, fazendo o cão arrastar o bumbum no chão (o famoso “carrinho”).
Durante o banho e tosa, é preciso cuidado. A tosa higiênica deve manter a região limpa para evitar que fezes grudem nos pelos, o que causaria assaduras e miíases (bicheiras). No entanto, o esvaziamento manual dessas glândulas só deve ser feito se houver indicação clínica, para não causar traumas ou inflamações desnecessárias.
Fique atento ao comportamento do seu cão. Se ele lambe muito a região anal ou perianal, ou se há um odor muito forte e “de peixe” vindo dali, leve ao veterinário. Inflamações nessa área (saculites) são muito dolorosas e podem evoluir para abscessos que necessitam de cirurgia.
Limpeza de ouvidos e prevenção de otites
O Poodle tem uma característica anatômica problemática: o crescimento de pelos dentro do canal auditivo. Isso retém cerúmen e umidade, criando a tempestade perfeita para otites fúngicas e bacterianas. O Maltês, por ter a orelha caída e peluda, também sofre com pouca ventilação no canal.
A remoção dos pelos de dentro do ouvido do Poodle é um tema controverso. Atualmente, recomendamos remover apenas o excesso que obstrui a visão do tímpano ou que retém muita sujeira, e fazer isso com extrema delicadeza para não inflamar o canal. Arrancar tudo agressivamente pode causar mais mal do que bem.
A limpeza de manutenção deve ser feita semanalmente com produtos ceruminolíticos veterinários, mas apenas na parte externa. Nunca insira cotonetes lá dentro. Se o cão chacoalha muito a cabeça ou chora ao ser tocado nas orelhas, é sinal de otite. Não use remédios caseiros; o ambiente do ouvido é delicado e exige tratamento preciso.
A importância da escovação dentária diária
Retomo este ponto porque ele é vital. A escovação deve ser feita com pasta veterinária (nunca humana, pois contém flúor e sabão que são tóxicos se engolidos). Use dedeiras ou escovas infantis macias. O movimento deve focar na junção entre o dente e a gengiva, onde as bactérias se alojam.
Se você não conseguir escovar todos os dias, tente pelo menos três vezes na semana. Existem aditivos para colocar na água e petiscos que prometem ajudar, mas nada substitui a ação mecânica da escova. Pense nisso como uma economia futura: cada escovação adia a necessidade de uma anestesia para limpeza de tártaro.
Comece devagar, associando a escova a coisas positivas. Se o seu Poodle ou Maltês já é adulto e nunca escovou, vá com calma. Forçar pode gerar mordidas e trauma. Em casos de tártaro já instalado (placas duras e marrons), a escova não vai resolver; será necessário o procedimento cirúrgico de limpeza primeiro.
Adestramento e Desafios Comportamentais (Extra 1)
A “Síndrome do Cão Pequeno” e como evitá-la
Você já viu aquele cãozinho minúsculo que avança em Dobermans na rua e manda na casa toda? Isso é a Síndrome do Cão Pequeno. Não é genético; é criado pelos humanos. Nós tendemos a tolerar comportamentos em cães pequenos (pular, rosnar, morder) que jamais aceitaríamos em um cão de 40kg.
Trate seu Maltês ou Poodle como cão, não como bebê humano. Eles precisam de limites, regras e liderança tranquila. Se ele rosnar porque você vai tirar um brinquedo, isso precisa ser corrigido, não achado “engraçadinho”. A falta de limites gera um cão inseguro e ansioso, que sente que precisa defender a si mesmo o tempo todo porque não confia no seu controle da situação.
Permitir que o cão ande no chão, cheire grama e interaja com o mundo é essencial. Colo excessivo priva o animal de ser cachorro. Eles precisam explorar o mundo com as próprias patas para desenvolver confiança e estabilidade emocional.
O desafio do latido excessivo e territorialismo
Poodles e Malteses são cães de alerta. Eles vão latir se ouvirem o elevador ou a campainha. O objetivo do treino não é eliminar o latido (que é a comunicação natural deles), mas ter um botão de “desliga”. O cão pode latir para avisar, mas deve parar quando você assume o controle e diz que está tudo bem.
O Poodle, por ser mais reativo, tende a latir em frequências agudas e repetitivas. O Maltês pode latir por demanda (para pedir colo ou comida). A melhor técnica é não recompensar o latido. Se ele late pedindo comida e você dá, você acabou de treinar o latido.
O enriquecimento ambiental ajuda muito aqui. Um cão cansado e mentalmente estimulado late menos. Se o cão passa o dia todo sem fazer nada, latir para a mosca que voou vira o evento do dia. Ocupar a mente do seu cão é a melhor ferramenta anti-latido.
Socialização precoce como vacina comportamental
A janela de socialização vai até os 4 meses de idade. Nesse período, seu filhote precisa ser apresentado a tudo: pessoas de chapéu, guarda-chuvas, barulhos de trânsito, outros cães, gatos, aspirador de pó. O que ele não conhecer agora, ele pode ter medo no futuro.
Como veterinário, sei do risco de doenças antes das vacinas completas. Mas você pode socializar com segurança: leve no colo para passear na rua, convide amigos com cães vacinados para ir à sua casa, exponha a sons variados. Não isole o filhote numa bolha até os 4 meses, ou você terá um adulto medroso e possivelmente agressivo por medo.
Aulas de socialização para filhotes (Puppy Class) são excelentes investimentos. Tanto o Poodle quanto o Maltês se beneficiam imensamente de aprender a “falar cachorrês” com outros filhotes sob supervisão profissional.
Planejamento Financeiro e Custos Veterinários (Extra 2)
Custos recorrentes com banho, tosa e estética
Não se engane pelo tamanho: manter um cão pequeno de pelo longo é caro. O serviço de banho e tosa para essas raças é especializado. Você gastará mensalmente um valor considerável com o groomer. Se optar por manter o pelo longo, o valor sobe pois exige hidratações e desembolos frequentes.
Tentar economizar fazendo em casa sem conhecimento técnico geralmente resulta em acidentes (cortes na pele fina) ou em tosquias estéticas desastrosas. Considere esse custo fixo no seu orçamento mensal como se fosse uma conta de luz ou internet. É uma despesa obrigatória para a saúde da pele do animal.
Além disso, há o custo de produtos de manutenção em casa: escovas de qualidade, rasqueadeiras, shampoos hipoalergênicos e limpadores de olhos e ouvidos. Produtos de linha pet premium fazem diferença na durabilidade do banho e na saúde da pelagem.
Investimento em alimentação Super Premium e nutracêuticos
Raças pequenas têm metabolismo acelerado e precisam de rações de alta digestibilidade e densidade energética. Rações baratas (Standard ou Combat) costumam ter muitos grãos e pouca proteína nobre, o que aumenta o volume das fezes e pode causar manchas na lágrima devido a corantes e conservantes artificiais.
Uma ração Super Premium ou Natural é o melhor investimento em saúde preventiva. Ela nutre a pele, reduz a queda de pelo e o odor das fezes. Além disso, conforme envelhecem, suplementos como condroitina e glicosamina (para as articulações) e ômega 3 (para pele e cérebro) entram na lista de compras.
Muitos tutores acabam gastando com alimentação natural prescrita por nutricionistas veterinários para controlar alergias ou paladar exigente. Esteja preparado para investir na nutrição do seu pet, pois a economia na ração geralmente é gasta em dobro no veterinário tratando problemas dermatológicos ou gastrointestinais.
Reserva de emergência para a velhice do pet
A boa notícia é que Malteses e Poodles vivem muito, frequentemente passando dos 15 ou 16 anos. A “má” notícia é que a geriatria custa caro. Cães idosos desenvolvem cardiopatias (comum em Poodles), problemas renais e cognitivos.
Medicamentos de uso contínuo para o coração, exames de check-up semestrais (ecocardiograma, ultrassom, sangue) e dietas renais são realidades comuns após os 10 anos de idade. Ter uma reserva financeira ou um plano de saúde pet desde cedo é a decisão mais inteligente que você pode tomar.
Não espere o problema aparecer. O custo de uma cirurgia de emergência para uma piometra (infecção no útero) ou uma correção de fratura pode desequilibrar qualquer orçamento familiar não planejado. Prevenir financeiramente é parte da posse responsável.
Tabela Comparativa: Maltês x Poodle x Similares
Para facilitar sua visualização, preparei este quadro comparando as duas raças principais com outras duas opções populares do mesmo nicho.
| Característica | Poodle (Toy/Mini) | Maltês | Bichon Frisé | Yorkshire Terrier |
| Nível de Energia | Alto (precisa de ação) | Médio/Baixo | Médio | Alto |
| Facilidade de Treino | Excelente (Top 2 ranking) | Boa (pode ser teimoso) | Boa | Moderada (teimoso) |
| Dependência do Dono | Alta | Muito Alta | Alta | Média |
| Manutenção do Pelo | Alta (tosa mensal obrigatória) | Muito Alta (escovação diária) | Alta (tosa frequente) | Alta (nós frequentes) |
| Latido | Alerta frequente | Alerta/Demanda | Moderado | Alerta frequente |
| Saúde (Pontos Fracos) | Otites, Luxação de Patela | Dermatites, Tártaro | Alergias, Patela | Colapso de traqueia, Tártaro |
| Ideal para Crianças | Sim (se socializado) | Com ressalvas (frágil) | Sim (robusto e alegre) | Não (muito frágil/reativo) |
Veredito Clínico: Qual Raça Combina com Seu Estilo de Vida?
Depois de tudo isso, a escolha se resume à honestidade com sua própria rotina. Se você busca um cão para interagir ativamente, fazer truques, passear bastante e que tenha uma inteligência desafiadora, o Poodle é a sua escolha. Ele é um companheiro dinâmico que se adapta ao seu ritmo, desde que você forneça estímulos mentais. É um cão “elétrico” no bom sentido, sempre pronto para a próxima atividade.
Por outro lado, se o seu ideal de companhia é um cão para ficar no sofá assistindo séries, que exige menos exercício físico intenso (mas não dispensa o passeio higiênico) e cujo foco principal é o afeto físico constante, o Maltês é imbatível. Ele é a definição de cão de colo. Prepare-se apenas para a rotina intensa de cuidados com a beleza e a necessidade de não deixá-lo sozinho por longos períodos.
Não escolha pela cor ou porque viu uma foto bonita no Instagram. Escolha pelo temperamento que encaixa na sua realidade de tempo e paciência. Como veterinário, garanto: o cão mais bonito é aquele que é saudável e vive em harmonia com sua família, sem estresse e com todas as suas necessidades atendidas. Analise sua vida, faça sua escolha e prepare-se para receber um amor incondicional, seja ele enroladinho ou liso.


