Coprofagia: Por que meu cachorro come as próprias fezes?
Coprofagia: Por que meu cachorro come as próprias fezes?

Coprofagia: Por que meu cachorro come as próprias fezes?

Coprofagia: Por que meu cachorro come as próprias fezes?

Você chega em casa depois de um dia longo, abre a porta e se depara com aquela cena. Seu cachorro, aquele serzinho que dorme na sua cama e te enche de beijos, está comendo as próprias fezes. O cheiro é forte e a sua primeira reação é de choque ou nojo. Respire fundo. Essa situação é muito mais comum do que você imagina e, na maioria das vezes, tem solução.

Como veterinário, ouço essa queixa no consultório quase todos os dias. O termo técnico para isso é coprofagia.[1][2][3][4][5] Embora pareça um hábito terrível para nós, humanos, para os cães isso tem uma lógica biológica ou comportamental. Vamos deixar o julgamento de lado e entender o que está acontecendo dentro do organismo e da mente do seu melhor amigo.

Neste guia, vamos mergulhar fundo nas causas, desde a falta de enzimas até a ansiedade de separação. Você vai aprender a diferenciar um problema de saúde de uma questão comportamental. O objetivo aqui é te dar ferramentas práticas para resolver isso de uma vez por todas. Vamos investigar juntos.

O que é Coprofagia e Tipos Comuns

A coprofagia nada mais é do que a ingestão de fezes. Esse comportamento pode envolver as fezes do próprio animal ou de outros. Na natureza, os ancestrais dos cães não viam os dejetos apenas como lixo. Eles podiam representar uma fonte de nutrientes em tempos de escassez ou uma forma de manter a toca limpa. Entender que isso não é “maluquice” do seu cão é o primeiro passo para tratar o problema sem estresse.

Existem basicamente dois tipos que observamos na clínica. A autocoprofagia ocorre quando o cão come suas próprias fezes. Já a alocoprofagia acontece quando ele ingere as fezes de outros animais, como gatos, herbívoros ou outros cães. A ingestão de fezes de gatos é extremamente comum por causa do alto teor de proteína e palatabilidade da ração felina.

Você precisa identificar qual tipo seu cão pratica. Isso muda completamente a abordagem do tratamento. Um cão que come fezes de cavalo no sítio está seguindo um instinto de busca por matéria vegetal digerida. Já um cão que come o próprio cocô assim que defeca pode estar tentando esconder uma sujeira ou buscando enzimas que faltaram na digestão.

Entendendo o instinto ancestral

Os lobos e canídeos selvagens são carniceiros oportunistas. O sistema digestivo deles evoluiu para aproveitar qualquer fonte de proteína disponível. Fezes frescas, especialmente de herbívoros, contêm vitaminas do complexo B e bactérias que podem ser úteis.

Para o seu cão doméstico, esse instinto ainda está gravado no DNA. O olfato dele é milhares de vezes mais apurado que o seu. O que para você cheira apenas mal, para ele pode ter cheiro de alimento não digerido. Se a ração for muito rica e o cão não a digerir bem, as fezes saem com cheiro de comida.

Isso não significa que devemos aceitar o comportamento. Vivemos em ambientes domésticos e a intimidade com nossos pets exige higiene. Mas saber que isso vem de um instinto de sobrevivência ajuda a ter mais paciência durante o processo de correção.

Coprofagia materna e aprendizado

Fêmeas que acabaram de parir praticam a coprofagia instintivamente. Elas lambem os filhotes para estimular a defecação e ingerem as fezes para manter o “ninho” limpo. Isso evita que o cheiro atraia predadores e mantém a higiene do local onde os filhotes vulneráveis dormem.

Os filhotes observam a mãe fazendo isso. Eles aprendem por imitação. Nessa fase de exploração oral, tudo vai para a boca. É comum ver ninhadas inteiras “experimentando” fezes. Geralmente, esse comportamento desaparece conforme eles crescem e são desmamados.

O problema surge quando o comportamento persiste na vida adulta. Se o filhote foi punido incorretamente por fazer cocô no lugar errado, ele pode começar a comer as fezes para “esconder a prova do crime”. A mãe fazia por higiene; o filhote faz por medo.

Diferença entre comer as próprias fezes e de outros animais

A distinção aqui é crucial para o diagnóstico. Comer fezes de outros cães ou gatos geralmente indica uma busca nutricional ou palatabilidade. As fezes dos gatos são ricas em proteína e gordura. Para o cão, a caixa de areia é um buffet “gourmet”.

Já comer as próprias fezes muitas vezes aponta para problemas de absorção ou questões comportamentais graves. Se ele come apenas o próprio excremento, precisamos olhar para o pâncreas e o intestino dele com mais atenção. O corpo dele pode estar gritando que não aproveitou aquela comida na primeira passagem.

Além disso, o risco de parasitas aumenta muito na alocoprofagia. Comer fezes de animais desconhecidos na rua expõe seu pet a giárdia, isóspora e vermes. A autocoprofagia tem menor risco parasitário imediato, pois ele está reinfectando a si mesmo, mas perpetua ciclos de verminoses se não tratado.

Causas Médicas e Fisiológicas

Antes de pensar em adestramento, você deve descartar problemas de saúde. Não adianta ensinar o cão a não comer cocô se o corpo dele está pedindo nutrientes desesperadamente. A primeira parada deve ser na mesa do veterinário para um exame clínico completo.

Existem doenças que aumentam o apetite vorazmente, condição que chamamos de polifagia. O cão sente uma fome que nunca passa. Diabetes e Síndrome de Cushing são exemplos clássicos. O animal come a ração, continua com fome e busca qualquer coisa para saciar o estômago, incluindo as fezes.

Outro ponto é a má digestão. Se o intestino não absorve o que o cão come, o bolo fecal sai repleto de nutrientes intactos. O cão percebe que aquilo ainda é comida. Vamos analisar as três principais causas fisiológicas que vejo na rotina clínica.

Deficiência exócrina pancreática e má absorção

O pâncreas produz enzimas vitais para quebrar gorduras, proteínas e carboidratos. Na Insuficiência Pancreática Exócrina (IPE), o órgão não produz essas enzimas em quantidade suficiente. O cão come, mas não digere. Ele perde peso mesmo comendo muito e faz fezes volumosas e com cor acinzentada.

Essas fezes ainda contêm muita energia não processada. O cão, instintivamente, tenta comer as fezes para recuperar esses nutrientes perdidos. É uma tentativa desesperada de sobrevivência. O tratamento envolve repor essas enzimas artificialmente em cada refeição.

Além da IPE, qualquer inflamação intestinal crônica pode reduzir a absorção. Doenças inflamatórias intestinais (IBD) irritam a parede do intestino. Isso impede que os nutrientes passem para o sangue. O resultado é o mesmo: fezes ricas em nutrientes que atraem o olfato do cão.

Parasitas intestinais e roubo de nutrientes

Vermes e protozoários são ladrões silenciosos. Eles habitam o intestino do seu cão e consomem os nutrientes antes que o animal possa absorvê-los. A giárdia e o ancilóstoma são vilões comuns nesse cenário.

Quando a carga parasitária é alta, o cão entra em déficit nutricional. Ele come a ração, mas os vermes ficam com a melhor parte. O animal sente fome e busca complementar a dieta com o que estiver disponível. Infelizmente, as fezes acabam entrando no cardápio.

Fazer exames de fezes (coproparasitológico) seriados é fundamental. Um único exame negativo não garante que o cão está livre. A giárdia, por exemplo, é eliminada de forma intermitente. Você precisa testar amostras de dias diferentes para ter certeza e tratar corretamente.

Deficiências vitamínicas e dieta pobre

Rações de baixa qualidade usam ingredientes de difícil digestão. Muitas vezes elas são cheias de “enchimento” que passa direto pelo trato digestivo. O cão come, mas as células dele continuam famintas por vitaminas e minerais de qualidade.

A deficiência de Tiamina (Vitamina B1) é frequentemente citada em estudos sobre coprofagia. Bactérias no intestino grosso produzem algumas vitaminas. Se o cão sente falta disso na dieta, ele pode tentar obter ingerindo as fezes, onde a atividade bacteriana é alta.

Trocar a alimentação para uma categoria Super Premium ou uma Alimentação Natural balanceada por nutricionista pode resolver o problema em semanas. Uma dieta de alta digestibilidade deixa pouco resíduo nas fezes. Sem resíduo alimentar, o cocô se torna menos atraente para o cão.

O Componente Comportamental e Psicológico

Se os exames de sangue e fezes estão normais, entramos no terreno da mente canina. Cães são animais sociais, emocionais e inteligentes. Eles reagem ao ambiente onde vivem. Muitas vezes, a coprofagia é um grito de socorro ou um sintoma de um estilo de vida inadequado.

O comportamento pode começar por um motivo e se manter por outro. Talvez o cão tenha começado a comer fezes por causa de um verme quando filhote. O verme foi tratado, mas o hábito ficou. Agora ele faz isso porque aprendeu que você corre atrás dele quando ele pega o cocô. Virou uma brincadeira.

A ansiedade é o grande mal do século também para os cães. A vida moderna em apartamentos, com longos períodos de solidão, gera comportamentos compulsivos. Lamber as patas, perseguir o rabo e comer fezes são válvulas de escape para essa energia acumulada.

Ansiedade de separação e estresse

Cães que ficam sozinhos por muito tempo sofrem. A ansiedade de separação gera um estado de pânico. O cão pode defecar por medo ou perda de controle dos esfíncteres. Ao ver a sujeira e estar ansioso, ele come as fezes para “limpar” a área ou como um comportamento de deslocamento para aliviar o estresse.

Ambientes restritos também causam isso. Cães que vivem em canis pequenos ou áreas de serviço apertadas tendem a comer fezes com mais frequência. Eles comem, dormem e defecam no mesmo metro quadrado. Isso quebra o instinto natural de não sujar onde se come.

O estresse libera cortisol. O cortisol altera o apetite e o comportamento. Se a rotina da casa é caótica, com brigas, mudanças constantes ou falta de previsibilidade, o cão absorve isso. A coprofagia pode ser a forma dele lidar com essa tensão ambiental.

Busca por atenção e reforço inadvertido

Você reforça o comportamento sem perceber. Imagine a cena: o cão chega perto do cocô. Você grita “NÃO!”, corre na direção dele, faz uma careta e interage. Para um cão entediado, qualquer atenção é melhor que nenhuma atenção.

Ele aprende a seguinte sequência: “Eu chego perto do cocô e meu humano, que estava no celular me ignorando, agora está olhando para mim e falando comigo”. Mesmo que seja uma bronca, é interação social. O cão passa a usar as fezes como ferramenta para te chamar.

Isso cria um ciclo vicioso difícil de quebrar. Quanto mais você briga na hora do ato, mais ele repete. A solução envolve ignorar o ato no momento (ou interromper sem emoção) e premiar muito os momentos em que ele se afasta das fezes.

Tédio e falta de enriquecimento ambiental

Um cão sem o que fazer inventa moda. Na natureza, um canídeo passa grande parte do dia caçando, farejando e explorando. No seu apartamento, ele tem comida no pote e 12 horas de nada para fazer.

O tédio leva à exploração oral. As fezes são objetos novos no ambiente. Elas têm cheiro, textura e sabor. Se não há brinquedos, ossos recreativos ou desafios mentais, o cocô se torna o brinquedo do dia. Cães de trabalho (como Border Collies e Pastores) sofrem muito com isso se não tiverem uma função.

Enriquecimento ambiental não é luxo, é necessidade básica. Oferecer a comida em brinquedos recheáveis, esconder petiscos pela casa e promover atividades de faro cansa a mente do cão. Um cão cansado e mentalmente estimulado raramente desenvolve coprofagia por tédio.

A Importância do Microbioma e Nutrição

Vamos aprofundar um pouco mais na ciência da digestão. O intestino do seu cão é um universo de bactérias, o microbioma. Essas bactérias são responsáveis por fermentar fibras, produzir vitaminas e proteger contra doenças. Um desequilíbrio aqui, chamado disbiose, é uma causa raiz frequente da coprofagia.

Quando as bactérias “boas” estão em baixa e as “ruins” em alta, a absorção de nutrientes cai. O intestino fica levemente inflamado. O cão sente um desconforto abdominal crônico e uma necessidade nutricional constante. Ele busca nas fezes (que são ricas em biomassa bacteriana) uma forma de repovoar seu próprio intestino.

A nutrição moderna avançou muito, mas nem toda ração funciona para todo cão. Alguns animais não processam bem excesso de carboidratos. Outros precisam de mais fibras pré-bióticas. Ajustar a dieta para favorecer o microbioma é uma das estratégias mais eficazes e menos invasivas que temos.

O eixo intestino-cérebro na coprofagia

Existe uma comunicação direta entre o intestino e o cérebro através do nervo vago. O estado do intestino influencia o humor e o comportamento. Bactérias intestinais produzem neurotransmissores como a serotonina (o hormônio do bem-estar).

Se o intestino está doente (disbiose), a produção de serotonina cai. Isso aumenta a ansiedade do cão. Como vimos, a ansiedade é um gatilho para comer fezes. Portanto, tratar o intestino pode, indiretamente, tratar a ansiedade que causa o comportamento.

Você deve ver a saúde intestinal como parte da saúde mental do seu pet. Um cão com a barriga funcionando bem é um cão mais calmo e menos propenso a desenvolver compulsões orais como a coprofagia.

Disbiose intestinal e o desejo por fezes

A disbiose altera o cheiro das fezes e o apetite do cão. Bactérias patogênicas podem gerar gases e má fermentação. O bolo fecal sai com um pH alterado e cheiro de fermentação que atrai o animal.

Além disso, o próprio corpo do cão tenta se “automedicar”. Herbívoros comem fezes de outros adultos para adquirir bactérias digestivas. Cães podem manter esse traço arcaico. Ao ingerir fezes frescas, eles estão ingerindo uma carga de microrganismos.

O uso indiscriminado de antibióticos é uma causa comum de disbiose. Se seu cão tomou muito antibiótico recentemente e começou a comer fezes, a flora intestinal dele pode ter sido dizimada. A reposição com simbióticos (probióticos + prebióticos) é mandatória nesses casos.

Escolhendo a ração certa e probióticos

Não olhe apenas o preço da ração, olhe o rótulo. Você quer ver “proteína de carne/frango” como primeiro ingrediente, não milho ou soja. Proteínas de alta biodisponibilidade deixam menos resíduos. Menos resíduo significa fezes secas, pequenas e sem cheiro de comida.

O uso de probióticos específicos para cães deve ser rotina em casos de coprofagia. Não use iogurte humano; a concentração é baixa e a lactose pode dar diarreia. Busque produtos veterinários com cepas como Lactobacillus acidophilus e Enterococcus faecium.

Fibras também importam. Um pouco de fibra a mais pode aumentar a saciedade e mudar a textura das fezes, tornando-as menos palatáveis. Às vezes, adicionar abóbora cozida ou abobrinha na dieta ajuda a regular o trânsito e diminuir o interesse pelo cocô.

Protocolo de Modificação Comportamental

Você já foi ao veterinário, o cão está saudável, a ração é ótima, mas ele continua comendo. Agora é hora do treino. Modificar um comportamento auterrefouçador (que o cão gosta de fazer) exige consistência e paciência de monge. Não existe pílula mágica, existe treino.

O protocolo se baseia em três pilares: impedir o acesso, ensinar um comportamento alternativo e premiar a escolha certa. Você precisa ser mais rápido que o cão. Se ele tiver a chance de comer, ele vai comer. Cada vez que ele come, o hábito se fortalece.

Você vai precisar mudar sua rotina por algumas semanas. Isso inclui supervisionar todas as idas ao banheiro do cão. Sim, todas. Soltar o cão no quintal e voltar para o sofá não vai funcionar nessa fase inicial. Você precisa estar lá para intervir antes que aconteça.

Gerenciamento do ambiente e prevenção de acesso

A regra de ouro é: se não há cocô, não há coprofagia. Você deve recolher as fezes imediatamente após o cão defecar. No segundo que cair no chão, você recolhe. Isso elimina a oportunidade.

Se você não pode estar em casa o dia todo, restrinja o espaço do cão. Use portões para bebês ou mantenha-o em uma área fácil de limpar. Mantenha a caixa de areia dos gatos em local elevado ou use caixas com entrada superior onde o cão não consiga entrar.

Passear com o cão na guia para fazer as necessidades é uma ótima estratégia. Você tem controle total. Assim que ele terminar, você puxa suavemente a guia, chama a atenção dele para longe das fezes e recolhe. Ele perde a chance de virar e comer.

Treinamento de “deixa” e reforço positivo

O comando “deixa” é salvador de vidas. Você precisa ensinar ao cão que ignorar algo no chão rende um prêmio muito melhor vindo da sua mão. Comece treinando com petiscos de baixo valor no chão e petiscos incríveis na mão.

Quando o cão olhar para o petisco no chão e você disser “deixa”, espere ele olhar para você. Quando ele fizer contato visual, diga “muito bem!” e dê o prêmio especial da sua mão. Ele vai aprender que o tesouro não está no chão, mas em você.

Aplique isso no “banheiro”. O cão fez cocô? Diga “vem” ou “deixa”, faça ele correr até você longe das fezes e dê uma festa com petiscos. Você está trocando o valor do cocô pelo valor do petisco e da sua atenção. Com o tempo, ele fará cocô e correrá para você esperando o prêmio.

O perigo da punição e como ela piora o quadro

Jamais esfregue o nariz do cão nas fezes ou bata nele. Isso é cruel e ineficaz. A punição gera medo. Se o cão tem medo de você quando tem cocô por perto, ele vai tentar se livrar do cocô mais rápido. Como? Comendo.

A punição ensina o cão a não fazer cocô na sua frente. Ele vai começar a se esconder atrás do sofá ou debaixo da cama para defecar. E lá, escondido, ele vai comer as fezes para garantir que você não veja. Você perde a chance de supervisionar e o problema se agrava.

Se você pegar o cão no flagra, não grite. Faça um barulho neutro para interromper (um “ops!” ou palma seca), chame-o para longe alegremente e recolha as fezes sem que ele veja você manuseando. Transforme o momento em algo neutro, não em um evento traumático.

Diagnóstico e Tratamento Veterinário

Chegar ao diagnóstico correto é um trabalho de detetive. O veterinário vai precisar do seu histórico detalhado. Quando começou? Qual a frequência? É logo após defecar ou horas depois? Qual a consistência das fezes?

Não tente adivinhar ou tratar em casa com receitas da internet antes de um diagnóstico. Dar abacaxi, mamão ou pimenta pode causar gastrite e piorar a situação se o cão já tiver um intestino sensível. O tratamento deve ser guiado por evidências.

Às vezes, a solução é multimodal. Usamos medicamentos, suplementos, mudança de dieta e adestrador ao mesmo tempo. Casos crônicos, onde o cão come fezes há anos, são mais difíceis de reverter porque o cão criou uma memória muscular do hábito. Mas não desista.

Exames laboratoriais essenciais

O básico inclui hemograma e perfil bioquímico para checar fígado e rins. Mas para coprofagia, precisamos ir além. O exame de TLI (Imunorreatividade Tipo Tripsina) é o padrão ouro para diagnosticar Insuficiência Pancreática Exócrina. É um exame de sangue simples que salva vidas.

Exames de fezes devem incluir pesquisa de Giardia e Isospora com métodos específicos de flutuação. Às vezes, um ultrassom abdominal ajuda a ver se há espessamento das paredes intestinais, indicando inflamação crônica ou alergia alimentar.

Se tudo der normal, o diagnóstico é comportamental por exclusão. Só então focamos 100% no treino e manejo ambiental. Pular a etapa dos exames é o maior erro que os tutores cometem.

Suplementos e aversivos gustativos

Existem produtos no mercado feitos para deixar o gosto das fezes horrível. Eles são dados na comida e, ao serem digeridos, liberam substâncias amargas nas fezes. A ideia é que o cão prove, ache nojento e pare.

Isso funciona para alguns cães, mas não para todos. Cães com um impulso muito forte ignoram o gosto ruim. Além disso, esses aversivos não tratam a causa, apenas o sintoma. Eles devem ser usados como auxílio junto com o treino, nunca como solução única.

Enzimas digestivas e probióticos são “tratamentos” mais lógicos. Eles melhoram a digestão, reduzindo a quantidade de nutrientes nas fezes. Se o cocô não cheira a comida, o interesse do cão diminui naturalmente.

Quando procurar um etólogo

Se você já tentou de tudo, o cão está saudável e o comportamento continua, você precisa de um especialista em comportamento animal (etólogo). Esse profissional vai analisar a rotina da casa, as interações da família e o nível de estresse do animal.

Casos de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) canino existem. Nesses casos raros, o cão pode precisar de medicação psicotrópica (como fluoxetina) prescrita pelo veterinário para baixar a ansiedade e permitir que o treino funcione.

O etólogo vai desenhar um plano de desensibilização e contra-condicionamento personalizado. Não tenha vergonha de pedir ajuda. Coprofagia é complexa e, às vezes, um olhar externo treinado enxerga gatilhos que você, no dia a dia, não percebe.

Comparativo de Opções de Auxílio ao Tratamento

Para te ajudar a navegar pelas prateleiras do pet shop, montei um quadro comparativo dos três tipos de produtos mais comuns que indicamos para auxiliar no combate à coprofagia. Lembre-se: nenhum deles substitui o manejo e a limpeza.

CaracterísticaSuplementos EnzimáticosAditivos Aversivos (Pó/Comprimidos)Probióticos Específicos
Como funcionaAdiciona enzimas (amilase, lipase, protease) para melhorar a digestão e absorção dos nutrientes.Altera o pH ou sabor das fezes, tornando-as amargas ou picantes para o paladar canino.Repovoa o intestino com bactérias benéficas, reduzindo a disbiose e a produção de gases atrativos.
Principal IndicaçãoCães com má digestão, idosos, ou com suspeita de insuficiência pancreática leve.Cães saudáveis com coprofagia puramente comportamental (vício).Cães que tiveram diarreia recente, usaram antibióticos ou têm gases excessivos.
Eficácia PercebidaAlta para causas fisiológicas. Reduz o interesse ao remover o cheiro de “comida” das fezes.Variável. Alguns cães aprendem a tolerar o gosto ruim. Funciona melhor no início do hábito.Média a Alta a longo prazo. Melhora a saúde geral e reduz a ansiedade pelo eixo intestino-cérebro.
Ponto de AtençãoDeve ser misturado na comida em todas as refeições para funcionar.Se tiver mais de um cão, todos devem tomar, pois o cão pode comer o cocô do outro.Exige uso contínuo por pelo menos 30 dias para estabilizar a colônia de bactérias.

Você deve conversar com seu veterinário para escolher qual dessas opções (ou qual combinação delas) faz sentido para o caso do seu filho de quatro patas. Muitas vezes, começamos com Probióticos e Enzimas para garantir a saúde intestinal e usamos o Aversivo apenas se necessário.

Lidar com a coprofagia exige estômago forte e coração mole. Entenda que seu cão não faz isso para te provocar. Com paciência, ciência e muito amor, você consegue reverter esse quadro e voltar a ter aqueles lambeijos sem medo. Mãos à obra!

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *