Coprofagia Canina: Um Guia Veterinário Sobre Causas e Soluções
Você chega em casa depois de um longo dia de trabalho e encontra aquela cena que revira o estômago. Seu cão acabou de ingerir as próprias fezes ou as de outro animal. O sentimento imediato é de nojo e confusão. Você se pergunta onde errou na criação ou se o seu animal está com algum problema grave de saúde. Essa situação é muito comum na minha rotina clínica. Recebo tutores desesperados semanalmente com essa mesma queixa.
A coprofagia não é apenas um hábito desagradável para nós humanos. Ela é um sinal clínico ou comportamental que o seu cão está emitindo. Precisamos olhar para isso sem o filtro do nojo humano e com a curiosidade científica necessária. Na medicina veterinária, tratamos isso investigando a raiz do problema. Não adianta apenas brigar com o cão. Precisamos entender o que o organismo ou a mente dele está pedindo.
O objetivo desta conversa é desmistificar esse comportamento. Vamos explorar juntos a biologia, a nutrição e a psicologia canina. Vou te guiar pelas causas reais e afastar as suposições erradas. Prepare-se para entender o seu cão de uma forma muito mais profunda. Vamos resolver isso juntos com ciência e paciência.
A Fisiologia e o Instinto por Trás do Hábito
A herança evolutiva dos lobos e canídeos selvagens
Os cães carregam em seu DNA comportamentos de seus ancestrais selvagens. Na natureza, a limpeza da toca era vital para a sobrevivência da matilha. Lobos frequentemente comem fezes para remover odores que poderiam atrair predadores ou para manter a higiene do local onde dormem. Esse instinto de autopreservação e higiene está gravado no código genético do seu pet. Mesmo vivendo em um apartamento confortável, o cérebro dele ainda responde a esses impulsos primitivos.
Outro ponto evolutivo interessante é a otimização de recursos. Em tempos de escassez, canídeos selvagens não podiam desperdiçar nutrientes. Se as fezes de um herbívoro ou de outro membro da matilha contivessem resquícios de comida não digerida, isso era visto como uma fonte de energia. O paladar do cão não é refinado como o nosso. Para eles, o cheiro de proteína não digerida nas fezes é um atrativo alimentar real e não algo repulsivo.
Você precisa entender que, para o cão, isso não é uma questão moral ou de falta de educação. É uma questão de sobrevivência e instinto. Quando olhamos por essa ótica, paramos de julgar o animal e começamos a entender a motivação. Isso reduz a nossa frustração e abre caminho para um tratamento mais empático e eficaz.
O papel materno e a limpeza do ninho
As cadelas recém-paridas apresentam coprofagia fisiológica obrigatória. Durante as primeiras semanas de vida dos filhotes, a mãe estimula a defecação lambendo a região perianal e ingere as fezes imediatamente. Isso mantém o “ninho” limpo e livre de parasitas e odores. É um comportamento de cuidado materno essencial e completamente saudável.
Os filhotes observam esse comportamento da mãe desde o momento em que abrem os olhos. Eles aprendem por mimetismo. Em alguns casos, o filhote começa a imitar a mãe e a “limpar” as próprias fezes ou as dos irmãos. Geralmente, esse comportamento desaparece conforme eles crescem e são desmamados. No entanto, em alguns cães, esse hábito persiste e se torna um problema comportamental que levamos para a vida adulta.
É fundamental diferenciar esse comportamento materno e infantil da coprofagia em um cão adulto. Se o seu cão já passou da fase de filhote e continua com esse hábito, não estamos mais falando de limpeza de ninho. Estamos lidando com um comportamento fixado ou uma necessidade não atendida. Identificar em que momento da vida o hábito começou é crucial para o meu diagnóstico.
Diferenciando comportamento normal de patologia
Nem toda ingestão de fezes indica doença. Existe a coprofagia que consideramos “normal” em contextos específicos, como o da mãe com filhotes que mencionei. Também é comum que cães se interessem por fezes de outras espécies, como gatos ou herbívoros. As fezes dos gatos são ricas em proteína devido à dieta carnívora deles, o que as torna “petiscos” altamente atrativos para o olfato canino apurado.
A patologia começa quando o cão ingere as próprias fezes compulsivamente ou quando isso está associado a sinais clínicos. Perda de peso, pelagem opaca, diarreia intermitente ou vômitos são bandeiras vermelhas. Se o seu cão come bem, mas não ganha peso e ainda procura fezes, o corpo dele pode estar gritando por nutrientes. Nesse cenário, o comportamento deixa de ser apenas um “mau hábito” e vira um sintoma médico.
A linha entre o comportamental e o clínico é tênue. Muitas vezes, o problema começa como uma deficiência física e, depois de tratado, permanece como um vício comportamental. Por isso, a abordagem deve ser sempre mista. Nunca descartamos a parte clínica sem exames, e nunca ignoramos a parte comportamental mesmo quando há doença física.
Investigando as Causas Clínicas e Nutricionais
Insuficiência Pancreática Exócrina e má absorção
Uma das causas clínicas mais clássicas que investigo no consultório é a Insuficiência Pancreática Exócrina (IPE). O pâncreas do cão pode não estar produzindo enzimas digestivas suficientes. Sem essas enzimas, o alimento passa pelo trato digestivo sem ser quebrado adequadamente. O resultado é umas fezes volumosa, gordurosa e cheia de nutrientes intactos.
Para o cão com IPE, ele está literalmente morrendo de fome mesmo com o pote cheio. O cérebro dele detecta que os nutrientes não foram absorvidos e, ao sentir o cheiro das próprias fezes ricas em comida não digerida, o instinto manda ele comer novamente para tentar aproveitar aquilo. É um ciclo triste e perigoso de desnutrição.
O tratamento para IPE muda a vida do animal. Repomos as enzimas via oral e ajustamos a dieta. Muitas vezes, assim que o animal volta a absorver os nutrientes corretamente, a coprofagia cessa quase que magicamente. Isso prova que o comportamento era uma tentativa desesperada de sobrevivência e não uma desobediência.
Parasitoses intestinais e competição por nutrientes
Os parasitas intestinais são ladrões silenciosos. Vermes como o Ancylostoma ou protozoários como a Giardia se fixam na parede do intestino e competem pelos nutrientes que seu cão ingere. Eles causam inflamação, reduzem a área de absorção e roubam vitaminas essenciais. O animal come, mas o parasita se alimenta primeiro.
Essa competição gera uma deficiência nutricional crônica. O organismo do cão entra em estado de alerta por falta de vitaminas e minerais. Isso pode desencadear um apetite depravado, conhecido tecnicamente como pica, onde o animal come coisas não alimentares, incluindo fezes. Além disso, a presença de parasitas pode alterar o odor das fezes, tornando-as mais atrativas para o próprio cão.
Manter o protocolo de vermifugação em dia é o básico da posse responsável. Porém, muitos vermífugos comuns não pegam certos protozoários como a Giardia. Por isso, não basta dar o remédio “de vez em quando”. Precisamos fazer exames de fezes seriados para garantir que o intestino está limpo e funcional. Um intestino livre de parasitas é o primeiro passo para combater a coprofagia.
Dietas de baixa digestibilidade e deficiências vitamínicas
A qualidade da ração que você oferece faz toda a diferença. Rações de baixa qualidade costumam ter muitos ingredientes de enchimento e fibras de baixa digestibilidade. O cão come uma grande quantidade, mas aproveita pouco. O que não é aproveitado sai nas fezes. Se as fezes saem com cheiro e textura de comida, o cão vai se interessar por elas.
Deficiências específicas, como a falta de Vitamina B1 (Tiamina), também têm sido associadas à coprofagia. O organismo tenta recuperar essas vitaminas através da reingestão. Às vezes, o tutor cozinha para o cão (Alimentação Natural) sem a suplementação correta prescrita por um nutricionista veterinário. Isso cria lacunas nutricionais graves que levam a comportamentos aberrantes.
Investir em uma nutrição de alta digestibilidade é investir em saúde preventiva. Uma ração Super Premium ou uma alimentação natural balanceada garante que o cão absorva o máximo possível. Isso resulta em fezes menores, mais secas e com menos resquício alimentar. Menos cheiro de comida nas fezes significa menor interesse do cão em ingeri-las.
O Diagnóstico Diferencial no Consultório
A importância da anamnese detalhada e exames de fezes
O diagnóstico começa com uma conversa franca, o que chamamos de anamnese. Eu preciso saber tudo. Qual a marca da ração? Quantas vezes ele come? Ele fica muito tempo sozinho? Como você reage quando ele come as fezes? Esses detalhes montam o quebra-cabeça. Muitas vezes, o tutor revela sem querer a causa apenas descrevendo a rotina da casa.
O exame coproparasitológico é obrigatório. Não aceito tratar coprofagia sem antes olhar as fezes no microscópio. Pedimos geralmente três amostras de dias alternados. Isso aumenta a chance de pegar parasitas que são eliminados de forma intermitente. Um único exame negativo não me deixa tranquilo. A persistência na investigação é a chave do sucesso.
Além dos parasitas, observamos a consistência, a cor e a presença de gordura ou fibras nas fezes. Isso me diz muito sobre a digestão do animal. Se vejo amido não digerido ou gordura excessiva, já sei que o problema pode ser mais “acima”, no estômago ou pâncreas, e não apenas no intestino grosso.
Hemograma e perfil bioquímico para exclusão de doenças
Não podemos ter visão de túnel e olhar só para o intestino. O corpo é um sistema integrado. Um hemograma completo me mostra se há anemia (comum em parasitoses severas) ou sinais de infecção sistêmica. É o panorama geral da saúde do seu pet.
O perfil bioquímico avalia a função do fígado, rins e pâncreas. Aqui buscamos marcadores que indiquem má funcionalidade orgânica. Testes específicos, como a imunorreatividade semelhante à tripsina (TLI), são o padrão-ouro para diagnosticar a insuficiência pancreática que mencionei antes. Sem esses dados, estamos atirando no escuro.
Se todos os exames fisiológicos voltarem normais, podemos respirar aliviados quanto à saúde física. Isso nos dá a segurança para focar totalmente na terapia comportamental. O diagnóstico por exclusão é uma ferramenta poderosa. Saber o que o cão não tem é tão importante quanto saber o que ele tem.
Avaliação comportamental e do ambiente familiar
Depois de descartar o físico, entramos na mente do cão. Avalio o nível de estresse e ansiedade do animal. Ele destrói móveis? Late excessivamente? Tem medo de barulhos? A coprofagia raramente vem sozinha quando a causa é comportamental. Ela geralmente é acompanhada de outros sinais de desajuste emocional.
Observo também a dinâmica da família. Cães são esponjas emocionais. Uma casa onde há muitas brigas, mudanças bruscas de rotina ou falta de interação pode gerar cães ansiosos. A forma como você limpa as fezes também importa. Se você corre para limpar e faz um alvoroço, o cão pode interpretar isso como uma brincadeira de “quem pega primeiro”.
Essa avaliação holística é o que separa um veterinário que apenas medica de um que realmente resolve o problema. Precisamos tratar o cão inserido no seu contexto. O ambiente pode ser o gatilho ou a cura. Meu papel é te ajudar a transformar sua casa em um ambiente de cura e equilíbrio para o seu pet.
O Componente Psicológico e Comportamental
Ansiedade de separação e busca por atenção
Cães são animais sociais que dependem da matilha. Quando deixados sozinhos por longos períodos, alguns desenvolvem ansiedade de separação. O estresse extremo pode levar a comportamentos compulsivos, incluindo comer fezes. É uma forma de aliviar a tensão oralmente, similar a uma pessoa que rói as unhas até sangrar.
Existe também a “coprofagia por atenção”. O cão aprende que, ao mexer no cocô, o tutor imediatamente para o que está fazendo e vai até ele. Mesmo que você vá para brigar, para um cão carente, bronca também é atenção. Ele prefere que você grite com ele do que ser ignorado.
Nesses casos, a solução envolve ignorar o ato no momento que acontece (para não reforçar) e aumentar a qualidade do tempo que passam juntos. Precisamos ensinar ao cão que ele ganha atenção quando está calmo e com seus brinquedos, não quando está fazendo algo nojento. Inverter essa lógica na cabeça dele exige consistência e paciência da sua parte.
Punição excessiva e o medo de defecar no local errado
A educação sanitária baseada no medo é uma grande criadora de cães coprófagos. Se você esfrega o nariz do cão no xixi ou bate nele quando ele faz cocô fora do lugar, ele não aprende o lugar certo. Ele aprende que “fazer cocô é perigoso quando o humano está perto” ou “a presença do cocô irrita o humano”.
Para evitar a punição, o cão decide “esconder a prova do crime”. A maneira mais eficaz que ele encontra para fazer o cocô sumir é comendo-o. Ele faz isso por medo de você. É uma resposta de pânico para evitar a sua raiva. Isso é de cortar o coração, pois o animal está agindo sob estresse intenso causado por métodos de ensino ultrapassados.
A correção aqui é parar imediatamente com qualquer punição. Jamais brigue por necessidades fisiológicas. Se ele errar, ignore e limpe quando ele não estiver vendo. Se ele acertar, faça uma festa, dê petiscos e elogie. O reforço positivo constrói confiança; a punição constrói neuroses e coprofagia.
O ciclo do reforço positivo acidental pelo tutor
Muitas vezes, nós humanos reforçamos o comportamento sem perceber. Imagine que o cão se aproxima das fezes e você grita “NÃO!” e corre atrás dele com um biscoito ou brinquedo para distraí-lo. O cão, que é um observador inteligente, conecta os pontos: “Aproximar-me do cocô faz chover petiscos do céu”.
Você criou uma cadeia de comportamento. O cão usa as fezes como moeda de troca. Ele vai até lá, espera você ver, e fica aguardando o suborno. A intenção do tutor é boa (desviar a atenção), mas o timing está errado. Isso fortalece o hábito dia após dia.
Para quebrar esse ciclo, a recompensa deve vir por comportamentos incompatíveis com comer fezes. Por exemplo, recompensar o cão quando ele atende ao chamado “vem” longe das fezes. O foco deve ser premiar o acerto de vir até você, e não premiar o ato de largar o cocô sob negociação.
O Eixo Intestino-Cérebro e a Microbiota
Disbiose intestinal como gatilho
A ciência veterinária avançou muito no estudo da microbiota. Sabemos hoje que o intestino é o “segundo cérebro”. Um desequilíbrio nas bactérias intestinais, chamado disbiose, pode afetar diretamente o comportamento. Bactérias ruins podem produzir toxinas ou alterar a absorção de triptofano, precursor da serotonina.
Um cão com disbiose pode ter desejos alimentares estranhos e alterações de humor. A flora intestinal desregulada manda sinais errados ao cérebro, pedindo substratos que podem estar presentes nas fezes fermentadas. Restabelecer a flora saudável não é apenas bom para a digestão, é essencial para a saúde mental do cão.
O uso de probióticos específicos ajuda a repovoar o intestino com bactérias benéficas. Isso melhora a absorção de nutrientes e acalma a mucosa intestinal. Com o tempo, observamos uma redução na compulsão alimentar e uma melhora no comportamento geral do animal.
O impacto da produção de serotonina no intestino
Você sabia que cerca de 90% da serotonina do corpo é produzida no intestino? Esse neurotransmissor é responsável pela sensação de bem-estar e regulação do humor. Se o intestino está inflamado ou povoado por bactérias patogênicas, a produção de serotonina cai drasticamente.
Baixos níveis de serotonina estão ligados a comportamentos obsessivo-compulsivos, ansiedade e agressividade. A coprofagia pode ser uma manifestação desse déficit neuroquímico. Tratar o intestino é uma forma direta de tratar o cérebro.
Ao focar na saúde intestinal, estamos dando ao cão a base biológica para se sentir bem. Um cão feliz e quimicamente equilibrado tem muito menos probabilidade de desenvolver vícios comportamentais como a ingestão de fezes.
Uso de probióticos e prebióticos na modulação comportamental
A terapia com simbióticos (probióticos + prebióticos) é uma das minhas ferramentas favoritas. Os prebióticos são as fibras que alimentam as bactérias boas. Eles aumentam a saciedade e melhoram a consistência fecal. Fezes mais firmes e bem formadas são menos interessantes para o consumo do que fezes pastosas.
Os probióticos, por sua vez, modulam a resposta imune e competem com patógenos. Hoje existem cepas específicas estudadas para reduzir ansiedade em cães (os chamados psicobióticos). Introduzir isso na dieta é uma estratégia moderna e segura.
Não é uma cura milagrosa imediata, mas é um suporte fundamental. Um intestino saudável cria um terreno biológico onde o treinamento comportamental tem muito mais chance de funcionar. É a união da biologia com a psicologia.
Estratégias de Enriquecimento Ambiental
Quebrando o tédio com dispensadores de comida
Um cão entediado é uma oficina de problemas. Se o seu cão come a ração em 30 segundos em um pote normal e passa o resto do dia olhando para a parede, ele vai inventar o que fazer. E muitas vezes, inventar o que fazer envolve mexer no que não deve.
Devemos abolir o pote de comida tradicional. Use brinquedos recheáveis, tapetes de lamber ou garrafas pet com furos. Faça o cão “caçar” a própria comida. Isso gasta energia mental e satisfaz o instinto forrageiro. Um cão que gasta 20 minutos para comer sua refeição trabalhando por ela fica cansado mentalmente e relaxado.
O enriquecimento alimentar tira o foco das fezes e coloca o foco na conquista do alimento correto. Mantém a boca e a mente ocupadas. É uma das formas mais eficazes de prevenir a coprofagia causada por tédio oucio.
Aumentando a frequência de exercícios físicos
A energia acumulada precisa sair por algum lugar. Se não sai através de passeios e brincadeiras, sai através de destruição e comportamentos obsessivos. O exercício físico libera endorfinas, que trazem bem-estar natural e reduzem a ansiedade.
Crie uma rotina rigorosa de passeios. O passeio higiênico também é estratégico: se o cão defeca na rua, você recolhe e joga fora na lixeira pública. O problema deixa de existir dentro de casa. Além disso, o cão passa a associar o ato de defecar com o passeio, preferindo segurar para fazer na rua.
Não subestime o poder de uma boa caminhada. Um cão cansado é um cão bem comportado. Aumente a intensidade e a duração das atividades físicas e observe como a fixação pelas fezes diminui proporcionalmente.
Rotina previsível e redução de estressores
Cães amam previsibilidade. Saber a hora de comer, a hora de passear e a hora de dormir reduz a ansiedade geral. O caos na rotina gera insegurança. Um cão inseguro recorre a hábitos infantis ou compulsivos para se acalmar.
Tente manter horários fixos para a alimentação. Isso regula o relógio biológico do intestino. Se o cão come na mesma hora, ele tende a defecar na mesma hora. Isso permite que você preveja quando ele vai fazer as necessidades e esteja lá para limpar imediatamente antes que ele tente comer.
Supervisão é a chave. Nos horários críticos, esteja presente. Não dê chance para o erro acontecer. Com o tempo e a rotina ajustada, o cão perde o interesse e o hábito é extinto por falta de prática.
Protocolos de Tratamento e Manejo
Ajustes dietéticos e suplementação enzimática
Se diagnosticamos má digestão, a mudança da dieta é o primeiro passo. Buscamos rações com alta digestibilidade e, às vezes, com teores de fibra aumentados para dar saciedade. Em casos de IPE, a adição de enzimas pancreáticas em pó sobre a comida é vitalícia e inegociável.
Existem também suplementos comerciais específicos para coprofagia. Eles geralmente contêm glutamato ou outras substâncias que, após a digestão, deixam um gosto muito amargo nas fezes. A ideia é tornar a experiência de comer fezes desagradável.
Funciona para todos? Não. Mas é uma ferramenta válida no arsenal. O objetivo é quebrar o hábito tornando-o aversivo ao paladar do cão, enquanto trabalhamos as causas de base.
Condicionamento operante e o comando deixa
O adestramento é fundamental. O comando “deixa” ou “solta” pode salvar a vida do seu cão (evitando que ele coma veneno na rua, por exemplo) e é muito útil na coprofagia. Treinamos isso com petiscos de alto valor, longe das fezes primeiro.
Quando o cão entende que ignorar algo no chão resulta em ganhar algo delicioso da sua mão, ele começa a fazer a escolha certa voluntariamente. É uma troca vantajosa para ele.
Lembre-se: não use o nome do cão para brigar. O comando deve ser neutro e firme. Pratique diariamente sessões curtas de 5 minutos. O segredo é a repetição e a consistência.
Modificação do ambiente e restrição de acesso
Enquanto o treinamento não está 100%, o manejo ambiental é sua rede de segurança. Se você não pode supervisionar o cão, ele não deve ter acesso à área onde faz as necessidades. Use portões de bebê ou mantenha-o em outra área da casa após as refeições até que ele tenha defecado sob sua supervisão.
A limpeza deve ser imediata. O termo técnico é “manejo aversivo de oportunidade”. Se não tem cocô no chão, não tem coprofagia. Parece óbvio, mas é a medida mais eficaz a curto prazo para quebrar o ciclo vicioso.
Não tenha vergonha de recolher as fezes assim que elas tocam o chão. Com o tempo, conforme o cão perde o hábito e a saúde se estabiliza, você poderá relaxar essa vigilância estrita.
Comparativo de Auxiliares no Tratamento
Muitos tutores me pedem indicações de produtos. Separei aqui um comparativo entre dois tipos de produtos comerciais comuns e uma opção natural que costumo indicar como coadjuvante.
| Característica | Coprovet (Coprofagia) | Anticoprofágico Pet (Po/Comprimido) | Aditivo Natural (Mamão/Abacaxi) |
| Mecanismo | Torna as fezes desagradáveis ao paladar (sabor amargo/picante). | Combinação de aminoácidos e enzimas para melhorar digestão e alterar odor. | Contém papaína ou bromelina, enzimas que ajudam na digestão de proteínas. |
| Facilidade de Uso | Comprimidos ou pó misturado na ração. | Geralmente pó ou snacks palatáveis. | Pedaços da fruta fresca ofertados como petisco. |
| Eficácia | Alta para repulsão, mas não trata a causa raiz (comportamental). | Média/Alta para casos de má digestão leve. | Variável. Funciona bem em casos leves de má digestão. |
| Custo | Médio/Alto dependendo do peso do animal. | Médio. | Baixo e acessível. |
| Indicação Principal | Quebrar o ciclo do hábito comportamental por aversão. | Suporte digestivo e redução de odores atrativos. | Enriquecimento nutricional e auxílio enzimático natural. |
A coprofagia é um desafio complexo, mas não é uma sentença definitiva. Com a abordagem correta, unindo saúde, nutrição e comportamento, você e seu cão podem superar essa fase. Tenha paciência, seja consistente e conte sempre com o apoio do seu veterinário de confiança. Seu cão não faz isso para te afrontar; ele precisa da sua ajuda para parar.


