Cinomose: Prevenção, sintomas e cura
Cinomose: Prevenção, sintomas e cura

Cinomose: Prevenção, sintomas e cura


Cinomose: Prevenção, sintomas e cura[1][2][3][4][5]

A cinomose canina representa um dos maiores pesadelos para quem ama cães e trabalha na medicina veterinária. Você provavelmente já ouviu histórias tristes sobre essa doença ou conhece alguém que perdeu um pet para ela. O vírus da cinomose é cruel, silencioso e, infelizmente, muito inteligente na forma como ataca o organismo. Ele não escolhe raça, embora filhotes e idosos sejam os alvos mais fáceis. O conhecimento é a sua melhor ferramenta para proteger quem você ama.

Entender a cinomose vai muito além de saber que ela existe. Você precisa compreender como o vírus opera, por onde ele entra e como ele “engana” o sistema de defesa do seu cachorro. Quando falamos dessa enfermidade, estamos lidando com um Morbillivirus, um “primo” do vírus do sarampo humano. Essa relação explica por que a doença é tão agressiva e sistêmica, ou seja, afeta o corpo todo, não apenas um órgão isolado.

Neste artigo, vamos mergulhar fundo na biologia dessa doença, mas de uma forma que você consiga aplicar no seu dia a dia. Vamos desmistificar o tratamento, falar a verdade sobre as chances de cura e explicar por que a prevenção falha em alguns casos. Prepare-se para um conteúdo denso, porém necessário, para garantir que seu cão tenha uma vida longa e longe desse perigo invisível.

O Que é a Cinomose Canina e Como Ela Age?

A cinomose é uma doença viral multissistêmica altamente contagiosa que afeta cães e outros carnívoros selvagens. O agente causador, o vírus da Cinomose Canina (CDV), possui uma afinidade assustadora por tecidos epiteliais e nervosos. Isso significa que ele gosta de se alojar na pele, no revestimento do estômago, nos pulmões e, tragicamente, no cérebro. Diferente de um vírus de gripe comum que fica restrito ao trato respiratório, o CDV usa as células de defesa do próprio cão como “táxi” para viajar pelo corpo inteiro.

A transmissão ocorre principalmente pelo contato direto com secreções de animais infectados. Imagine que um cão doente espirra no parque ou deixa saliva em um bebedouro comunitário. O vírus, presente nessas gotículas de aerossol, entra pelo nariz ou boca do seu cão. O primeiro local de replicação são as amígdalas e os linfonodos bronquiais. O vírus invade os macrófagos — as células que deveriam proteger o corpo — e começa a se multiplicar freneticamente.

Nessa fase inicial, que chamamos de viremia, o vírus se espalha pela corrente sanguínea. Se o seu cão tiver uma imunidade robusta, ele pode até combater o vírus aqui e você nem perceber que ele teve contato. Porém, se a resposta imune for falha ou lenta, o vírus ganha a batalha e migra para os órgãos alvo: pulmões, intestinos e sistema nervoso central. É uma corrida contra o tempo que acontece dentro do corpo do seu animal.

A Sobrevivência do Vírus no Ambiente

Você deve entender que o vírus da cinomose é, felizmente, pouco resistente fora do organismo. Ele é envolvido por uma capa de gordura (envelope lipídico) que é facilmente destruída por desinfetantes comuns, luz solar e calor. Isso é uma excelente notícia para a limpeza da sua casa. Detergentes, água sanitária ou desinfetantes à base de amônia quaternária são suficientes para inativar o vírus no ambiente.

No entanto, em climas frios e úmidos, o vírus pode sobreviver por semanas. Isso explica por que vemos mais surtos da doença no inverno ou em estações chuvosas. O perigo real não está tanto no chão que o cão pisa dias depois, mas no contato próximo com cães que estão eliminando o vírus ativamente. Um cão recuperado pode continuar eliminando o vírus por até 90 dias, embora isso seja raro; a média gira em torno de 45 a 60 dias.

O conceito de “fômite” é crucial aqui. Fômites são objetos inanimados que transportam a doença. Se você acaricia um cão doente na rua e, sem lavar as mãos, chega em casa e faz carinho no seu filhote não vacinado, você pode estar levando a sentença de morte dele nas suas mãos. Sapatos, roupas e potes de comida também funcionam como transporte para o vírus, por isso a higiene rigorosa é inegociável.

Quem São as Vítimas Preferenciais?

Filhotes entre 3 e 6 meses são as vítimas clássicas da cinomose. Isso ocorre devido a um fenômeno chamado “janela imunológica”. Quando o filhote mama o colostro da mãe, ele recebe anticorpos prontos que o protegem. Com o tempo, esses anticorpos maternos caem, mas o sistema do filhote ainda não produziu seus próprios anticorpos através da vacina. É nesse intervalo de vulnerabilidade que o vírus costuma atacar com força total.

Cães idosos ou imunossuprimidos também correm sérios riscos. Muitas vezes, tutores acham que “cachorro velho não pega doença” e param de vacinar. Isso é um erro grave. O sistema imune envelhece (imunossenescência) e perde a capacidade de reconhecer invasores rapidamente. Um cão de 12 anos que não é vacinado há 5 anos está tão exposto quanto um filhote.

Raças não definem a susceptibilidade à infecção, mas algumas parecem sofrer com sintomas mais graves. Cães braquicefálicos (focinho curto), por já terem o sistema respiratório comprometido anatomicamente, podem ter quadros de pneumonia mais severos. Porém, qualquer cão, do Chihuahua ao Dogue Alemão, pode ser infectado e desenvolver a forma grave da doença se não tiver proteção vacinal adequada.

Fases e Sintomas: O Caminho Silencioso do Vírus

A cinomose é conhecida como a “doença das mil faces” porque os sintomas variam drasticamente de um animal para outro. O quadro clínico geralmente segue uma progressão, mas nem sempre todas as fases aparecem ou seguem a ordem didática dos livros. Você pode ter um cão que pula direto para a fase neurológica sem ter tido diarreia, o que torna o diagnóstico um desafio até para veterinários experientes.

A primeira fase costuma ser inespecífica. O cão apresenta febre (que vai e volta), apatia, falta de apetite e secreção nos olhos e nariz. Muitos tutores confundem isso com um resfriado ou uma “indisposição gástrica”. O perigo mora nessa confusão. A secreção ocular da cinomose, frequentemente chamada de “remela”, costuma ser esverdeada e espessa, indicando infecção bacteriana secundária, já que o vírus destrói as defesas locais das mucosas.

Se o organismo não contiver o vírus, ele avança. A doença se manifesta então em três grandes sistemas: respiratório, gastrointestinal e, por fim, o neurológico. A gravidade de cada fase depende da cepa do vírus e da competência do sistema imunológico do seu cachorro. Vamos detalhar o que acontece em cada um desses estágios para que você saiba identificar os sinais de alerta.

Fase Respiratória e Gastrointestinal

Na fase respiratória, o vírus causa uma inflamação severa nos pulmões. O cão começa a tossir, ter dificuldade para respirar e a secreção nasal se torna purulenta. A pneumonia viral abre portas para bactérias, agravando o quadro. Você notará que o cão se cansa fácil e pode apresentar ruídos ao respirar. É comum o nariz ficar ressecado e com crostas, um sinal clássico chamado de hiperqueratose nasal.

Simultaneamente ou logo após, a fase gastrointestinal ataca. O vírus destrói as vilosidades do intestino, causando vômitos e diarreia, muitas vezes com sangue. A desidratação decorrente dessa fase é rápida e pode ser fatal, especialmente em filhotes. O animal perde peso visivelmente em questão de dias. A combinação de não comer, vomitar e ter diarreia debilita o corpo, deixando-o sem energia para combater a invasão viral.

Muitos cães conseguem sobreviver a essas duas fases com tratamento de suporte intensivo. O problema é que a melhora clínica desses sintomas (o cão para de vomitar e a tosse diminui) pode dar uma falsa sensação de cura. O tutor respira aliviado, achando que o pior passou, sem saber que o vírus pode estar silenciosamente rompendo a barreira hematoencefálica para atacar o sistema nervoso central.

Fase Neurológica e Cutânea

A fase neurológica é o estágio mais temido e devastador da cinomose. Ela pode ocorrer semanas ou até meses após a infecção inicial. O vírus inflama o cérebro e a medula espinhal (encefalomielite), causando a morte de neurônios. Os sintomas são assustadores: convulsões, desequilíbrio (ataxia), paralisia de membros e alterações de comportamento, como agressividade ou medo excessivo.

Um sinal muito característico dessa fase são as mioclonias. São contrações musculares involuntárias e rítmicas, como se fosse um tique nervoso constante, que não param nem quando o cão está dormindo. Frequentemente, vemos o “tique de mascar chiclete”, onde o cão fica batendo o queixo involuntariamente. A presença de sinais neurológicos piora muito o prognóstico, pois os danos ao sistema nervoso muitas vezes são irreversíveis.

Além disso, existe a fase cutânea, que pode aparecer em qualquer momento. Pústulas (bolinhas de pus) na barriga e virilha são comuns e frequentemente confundidas com infecções de pele simples. Outro sinal clássico é a hiperqueratose dos coxins plantares (almofadinhas das patas), que ficam grossos e duros, dando à doença o apelido antigo de “doença dos coxins duros” (hardpad disease).

O Diagnóstico Diferencial

Confirmar a cinomose nem sempre é simples. Um exame de sangue comum (hemograma) pode sugerir a infecção ao mostrar uma queda nos linfócitos (células de defesa), mas não confirma o vírus. Muitas vezes, precisamos descartar outras doenças que causam sintomas parecidos, como a Parvovirose (que causa diarreia com sangue), a Erliquiose (doença do carrapato) ou pneumonias bacterianas.

O padrão ouro para diagnóstico hoje é o exame de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), que busca o DNA do vírus no sangue, na urina ou na secreção ocular. Existe também o teste rápido, feito na clínica, que funciona de forma similar a um teste de gravidez ou COVID, buscando antígenos na secreção ocular. Porém, o teste rápido pode dar “falso negativo” se o vírus não estiver mais na mucosa e já tiver migrado para o sistema nervoso.

Você deve confiar na avaliação clínica do seu veterinário. Muitas vezes, iniciamos o tratamento baseados na suspeita clínica e no histórico de vacinação incompleta, mesmo antes do resultado do exame confirmatório. Na cinomose, tempo é tecido nervoso. Quanto mais demoramos para agir, maior a chance de o vírus causar danos permanentes ao cérebro do seu animal.

Diagnóstico e Tratamento: Existe Cura Definitiva?

A pergunta que todo tutor faz com o coração na mão é: “Doutor, tem cura?”. A resposta técnica é: a cinomose não tem um remédio que mata o vírus diretamente, como um antibiótico mata uma bactéria. A cura depende da capacidade do sistema imunológico do cão de vencer o vírus com a ajuda do nosso suporte médico. Portanto, a doença tem cura clínica, sim, mas o caminho é árduo e incerto.

O tratamento da cinomose é baseado no controle dos sintomas e na prevenção de infecções secundárias. Usamos antibióticos potentes para evitar que bactérias aproveitem a fraqueza do pulmão e do intestino. Utilizamos antieméticos para controlar o vômito, protetores gástricos e, fundamentalmente, fluidoterapia (soro na veia) para manter a hidratação. A nutrição é vital; muitas vezes precisamos colocar sondas de alimentação porque o animal se recusa a comer.

Em fases neurológicas, usamos anticonvulsivantes para controlar as crises e medicamentos para tentar reduzir a inflamação cerebral. Existem terapias experimentais, como o uso de soro hiperimune (anticorpos prontos) nas fases iniciais ou estimulantes de imunidade, mas a eficácia varia muito de caso para caso. O sucesso do tratamento depende muito da cepa do vírus, da carga viral que o cão recebeu e da genética dele.

O Papel dos Imunoestimulantes

Você ouvirá falar muito sobre medicamentos que “aumentam a imunidade”. Eles são coadjuvantes importantes. O objetivo é dar um “empurrão” para que a medula óssea produza mais células de defesa. Vitaminas como a A e C, e minerais como o Zinco, costumam ser suplementados. Medicamentos mais específicos, como interferons ou estimulantes de colônias de granulócitos, podem ser usados em ambiente hospitalar.

No entanto, cuidado com promessas milagrosas de internet. Chás, receitas caseiras ou “vacinas de cura” não existem e podem piorar o quadro, sobrecarregando o fígado e os rins do animal que já estão lutando para filtrar as toxinas da doença. Tudo o que for administrado ao animal deve passar pelo crivo do médico veterinário responsável pelo caso.

A nutrição durante o tratamento funciona como um remédio. Rações de alta caloria e fácil digestão (recovery) são essenciais. O corpo precisa de muita energia para produzir febre e células de defesa. Se o cão não come, ele consome a própria massa muscular, ficando ainda mais fraco. A alimentação forçada ou assistida é um ato de amor e paciência que faz toda a diferença no resultado final.

Quando a Eutanásia é Considerada?

Este é o tópico mais difícil, mas precisamos abordá-lo com honestidade profissional. A cinomose é uma doença que pode causar sofrimento intenso. Quando o animal entra em um estado de convulsões incontroláveis, paralisia total sem resposta a estímulos, ou quando a qualidade de vida é inexistente (não come, não bebe, sente dor constante), a eutanásia pode ser indicada como um ato de misericórdia.

A decisão nunca é tomada de ânimo leve. Avaliamos a progressão da doença. Se o animal tem sequelas neurológicas, mas consegue comer, interagir e não sente dor, lutamos pela vida dele. Cães com mioclonias (tiques) podem viver anos com qualidade, mesmo que “tremam” um pouco. A eutanásia é reservada para casos onde a medicina atingiu seu limite e o sofrimento do animal não pode ser aliviado.

Você, como tutor, faz parte dessa decisão. O veterinário fornece os dados técnicos e o prognóstico, mas quem conhece a “alma” do cão é você. Observar se ele ainda tem “brilho nos olhos”, se abana o rabo ao te ver, são indicadores subjetivos mas poderosos de que ele ainda quer lutar.

O Pós-Cinomose: Lidando com as Sequelas no Dia a Dia

Muitos cães vencem o vírus, mas carregam as cicatrizes da batalha. Chamamos isso de sequelas de cinomose. A sobrevivência é uma vitória enorme, mas o “depois” exige adaptação e dedicação contínua da família. As sequelas mais comuns são neurológicas, como o andar cambaleante, a fraqueza nas patas traseiras ou os tiques nervosos (mioclonias).

A convivência com um cão sequelado requer paciência. Ele pode não conseguir mais subir no sofá ou correr atrás da bolinha como antes. Alguns podem perder o controle do xixi ou cocô. Entender que isso não é “malcriação”, mas sim uma falha na comunicação entre o cérebro e os esfíncteres, é fundamental para não punir o animal injustamente. O amor deve ser incondicional, adaptando-se à nova realidade do pet.

A boa notícia é que o cérebro tem plasticidade. Com o tempo e estímulos corretos, o cão pode reaprender movimentos ou criar compensações para conseguir viver bem. Cães não sentem pena de si mesmos; se eles conseguem se locomover e não sentem dor, eles serão felizes, mesmo que andem “tortinhos”.

Mioclonias: Entendendo os “Tiques” Nervosos

As mioclonias são contrações rítmicas de um grupo muscular. É comum ver uma pata que fica “pedalando” ou o músculo da cabeça pulsando. Para o tutor, é angustiante assistir. Para o cão, na maioria das vezes, é indolor. A mioclonia é o resultado de um “curto-circuito” nos nervos que foram danificados pelo vírus.

Existem medicamentos anticonvulsivantes e relaxantes musculares que podem diminuir a intensidade desses tiques, mas raramente os eliminam por completo. O objetivo do tratamento pós-cinomose não é deixar o cão “perfeito” esteticamente, mas garantir que ele consiga dormir e descansar. Se a mioclonia é tão forte que impede o sono, precisamos intervir com medicação mais pesada.

Com o passar dos meses, algumas mioclonias podem diminuir espontaneamente, enquanto outras permanecem estáveis por toda a vida. O importante é monitorar. Se o tique mudar de padrão ou piorar subitamente, uma reavaliação veterinária é necessária para ajustar as doses da medicação de manutenção.

Terapias Complementares: Acupuntura e Fisioterapia

A reabilitação é a chave para a qualidade de vida no pós-cinomose. A acupuntura tem mostrado resultados fantásticos em devolver a sensibilidade e o controle motor. Ao estimular pontos nervosos específicos, ajudamos o corpo a reorganizar as vias neurais danificadas. Muitos cães que estavam paralisados voltam a andar com sessões regulares de acupuntura e eletroestimulação.

A fisioterapia motora fortalece a musculatura que atrofiou durante a doença. Exercícios na bola, esteira aquática e alongamentos evitam que as articulações fiquem rígidas. Além do benefício físico, a fisioterapia estimula mentalmente o cão, combatendo a depressão e a apatia que podem surgir após um longo período de doença.

Você pode aprender exercícios simples para fazer em casa. Massagens, movimentos de “bicicleta” com as patas e o uso de tapetes antiderrapantes ajudam muito. A medicina integrativa, unindo o tratamento clínico tradicional com essas terapias, oferece o melhor prognóstico possível para os sobreviventes.

Adaptações em Casa para Cães Especiais

Ter um cão com sequelas exige mudanças no ambiente. Pisos lisos (porcelanato, cerâmica) são inimigos de cães com fraqueza motora. Eles escorregam, o que causa medo e pode lesionar as articulações. Espalhar tapetes de EVA, passadeiras emborrachadas ou usar meias antiderrapantes próprias para cães melhora muito a confiança do animal para caminhar.

Rampas devem substituir escadas. Acesso à comida e água deve ser facilitado; às vezes, elevar os potes ajuda cães que têm desequilíbrio ao abaixar a cabeça. Se o cão tem incontinência urinária, o uso de fraldas caninas e tapetes higiênicos em locais estratégicos mantém a casa limpa e o cão seco, evitando assaduras e infecções de pele.

A rotina também muda. Passeios mais curtos e frequentes podem ser necessários. O enriquecimento ambiental deve ser focado em atividades que não exijam esforço físico extremo, mas que estimulem o olfato e o raciocínio, mantendo o cérebro ativo e saudável.

Imunidade e Mitos: O Que Ninguém Te Conta

A imunologia é uma ciência complexa, e em torno da cinomose, muitos mitos se formaram. Um dos mais perigosos é a ideia de que cães de rua são “fortes” e não pegam a doença. Isso é mentira. Cães de rua morrem aos milhares de cinomose, mas nós só vemos os sobreviventes, criando uma falsa percepção de resistência natural. A única proteção real é a vacinação ética e bem feita.

Outro ponto crucial é a conservação da vacina. A vacina contra cinomose é extremamente sensível à temperatura. Se ela ficar fora da geladeira por pouco tempo ou congelar, ela perde a eficácia. Por isso, vacinas compradas em balcão de agropecuária e aplicadas em casa têm alto índice de falha. Você não sabe se aquela geladeira ficou desligada à noite. Vacina ética, aplicada pelo veterinário, garante a cadeia de frio e a procedência.

Também precisamos falar sobre a “vacina vencida”. Se o seu cão atrasou a vacina anual em um mês, ele não fica automaticamente desprotegido no dia seguinte ao vencimento. A imunidade não tem um relógio suíço. Porém, o atraso abre uma brecha de risco. Não vale a pena testar a sorte. O protocolo anual (ou trianual, dependendo da diretriz seguida) é a segurança que seu pet precisa.

Janela Imunológica em Filhotes

A janela imunológica é o período crítico onde os anticorpos da mãe (que protegem o filhote, mas atrapalham a vacina) estão caindo, e os do filhote ainda não subiram. É por isso que damos várias doses da vacina (geralmente 3 ou 4 doses com intervalos de 21 a 30 dias). Não é para “reforçar” a dose anterior, mas sim para tentar acertar o momento exato em que o sistema do filhote está pronto para responder sem a interferência materna.

Se você der apenas uma dose e achar que está resolvido, seu filhote pode estar totalmente vulnerável. O protocolo deve ser finalizado, geralmente, após as 16 semanas de vida. Até lá, o isolamento é necessário: nada de passeios na rua ou contato com cães desconhecidos.

Entenda que o isolamento não precisa ser uma prisão. Você pode socializar o filhote no colo, passear de carro ou apresentar a cães adultos saudáveis e vacinados de amigos em ambientes controlados (dentro de casa). A falta de socialização gera problemas comportamentais, então o equilíbrio é necessário.

Vacinas Nacionais vs. Importadas: Existe Diferença?

Este é um tema polêmico, mas como veterinário, a resposta técnica é clara. As vacinas chamadas “importadas” (ou éticas) são produzidas por grandes laboratórios farmacêuticos globais, com controle de qualidade rigoroso e tecnologia de ponta (como vírus recombinante). Elas passam por testes exaustivos de titulação para garantir que geram imunidade.

As vacinas “nacionais” muitas vezes têm processos de fabricação menos rigorosos e, historicamente, apresentam maior índice de falha na imunização contra a cinomose. Não é preconceito com o produto nacional, mas uma questão de dados clínicos observados na rotina. A grande maioria dos cães vacinados que contraem cinomose foram imunizados com vacinas de baixa qualidade ou mal conservadas.

O investimento em uma vacina ética é infinitamente menor do que o custo (financeiro e emocional) de tratar uma cinomose. Não economize na saúde preventiva. É o clássico “barato que sai caro”.

O Cão Idoso Precisa Continuar Vacinando?

Sim, precisa. Existe um mito de que cães velhos não precisam mais de vacina. Embora a imunidade de memória exista, o sistema imune do idoso é menos eficiente (imunossenescência). Ele precisa do estímulo vacinal para manter os anticorpos em níveis protetores.

No entanto, a medicina veterinária moderna caminha para protocolos personalizados. Em vez de vacinar todo ano cegamente, podemos fazer testes de titulação de anticorpos (VacciCheck, por exemplo). Coletamos sangue e medimos se o cão ainda tem defesa contra a cinomose. Se tiver, podemos pular a vacina naquele ano. Se estiver baixo, vacinamos.

Essa abordagem individualizada é excelente para cães idosos ou com doenças crônicas, pois evita sobrecarga antigênica desnecessária, mantendo a proteção sempre ativa. Converse com seu veterinário sobre essa possibilidade.

Prevenção: A Única Arma Eficaz

Diante de tudo o que lemos, fica claro: prevenir é a única solução garantida. O tratamento é caro, doloroso e incerto. A vacinação é segura e eficaz. O protocolo vacinal deve começar cedo, aos 45 ou 60 dias de vida, e seguir rigorosamente os intervalos estipulados pelo veterinário.

Além da vacina, a prevenção envolve evitar ambientes de risco. Parques frequentados por muitos cães de rua, pet shops com higiene duvidosa ou contato com animais doentes devem ser evitados, especialmente se o seu cão for filhote ou tiver a saúde debilitada.

Para te ajudar a entender as opções de prevenção no mercado, veja o quadro comparativo abaixo. Lembre-se que o termo “produto” aqui se refere às ferramentas de prevenção (vacinas), já que não existe um “produto” único de cura.

CaracterísticaVacina V8 (Ética/Importada)Vacina V10 / V12 (Ética/Importada)Vacinação “Balcão” (Não Ética)
Proteção contra CinomoseAlta Eficácia. Protege contra as cepas principais do vírus CDV.Alta Eficácia. Mesma proteção viral da V8, sem diferença para cinomose.Baixa/Incerta. Risco elevado de falha vacinal ou má conservação.
Proteção AdicionalProtege contra 2 sorovares de Leptospirose (bactéria da urina do rato).Protege contra 4 ou mais sorovares de Leptospirose (maior espectro bacteriano).Variável. Muitas vezes não gera títulos de anticorpos suficientes.
Indicação PrincipalCães que vivem em apartamentos ou áreas com baixo risco de ratos/leptospirose.Cães que vivem em casas, sítios ou áreas com maior risco de contato com roedores.Não recomendada por veterinários devido à falta de garantia técnica.
TecnologiaVírus vivo atenuado ou Recombinante (mais segura, não reverte virulência).Vírus vivo atenuado ou Recombinante.Geralmente tecnologias mais antigas e menos purificadas.

A vacina V8 e a V10 protegem igualmente contra a Cinomose. A diferença numérica (8, 10, 12) refere-se quase sempre à quantidade de tipos de bactérias da Leptospirose que a vacina cobre, e não à potência contra os vírus. Para a cinomose, ambas as opções éticas são excelentes.

Você tem agora em mãos um dossiê completo sobre a cinomose. Não deixe que o medo paralise suas ações. Use essa informação para proteger seu cão, manter a carteirinha de vacinação em dia e orientar amigos que talvez não saibam da gravidade dessa doença. A saúde do seu melhor amigo depende das suas escolhas. Cuide, vacine e ame.

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