Por que os cachorros cheiram o bumbum uns dos outros?
Se você já levou seu cachorro ao parque ou apenas para uma volta no quarteirão, com certeza já presenciou a famosa cena: dois cães se encontram e, quase magneticamente, focinhos vão direto para a cauda um do outro. Para nós, humanos, acostumados com apertos de mão ou um simples “oi”, esse comportamento pode parecer constrangedor, engraçado ou até um pouco nojento. Mas, como veterinário, posso garantir a você que esse ritual é uma das ferramentas de comunicação mais sofisticadas e fascinantes da natureza.
Quando seu cão faz isso, ele não está sendo indelicado.[1] Pelo contrário, ele está “lendo” as últimas notícias, verificando o perfil social e o histórico médico do novo amigo, tudo em uma única inspiração profunda. É um mundo invisível de química e biologia que acontece bem debaixo do nosso nariz — ou melhor, do nariz deles — e entender isso vai mudar completamente a forma como você enxerga os passeios do seu peludo. Vamos mergulhar na ciência, na anatomia e na etiqueta social canina para desvendar esse mistério.
O “Aperto de Mão” Canino: Muito Mais que um Olá
A Identidade Química: O RG do seu Cachorro
Imagine se, ao cumprimentar uma pessoa, você pudesse saber instantaneamente o que ela comeu no almoço, se ela está estressada com o trabalho, se é menino ou menina e até mesmo como está a saúde imunológica dela. Parece ficção científica, mas é exatamente isso que acontece quando dois cães se cheiram. O odor emanado pela região traseira de um cão é único, funcionando como uma impressão digital química ou um documento de identidade completo.
Cada cachorro possui um “perfil de aroma” complexo que não pode ser falsificado. Enquanto nós dependemos da visão e da fala para nos apresentarmos, os cães confiam na verdade química. Eles não conseguem mentir sobre como se sentem; o cheiro entrega tudo. Quando seu cão cheira o outro, ele está validando a identidade daquele indivíduo, reconhecendo se é um amigo que ele encontrou na semana passada ou um estranho que acabou de chegar ao bairro.
Essa troca de informações é vital para a estabilidade social da matilha, seja ela doméstica ou selvagem.[2] Ao identificar rapidamente quem é quem, os cães evitam conflitos desnecessários. Se o cheiro indica um animal doente ou muito submisso, a abordagem será diferente de um cheiro que denota um macho alfa saudável e cheio de testosterona. É uma leitura rápida de “cenário” que garante a segurança de ambos.
O Papel das Glândulas Adanais[1][3][4]
O segredo de todo esse cheiro reside em duas pequenas bolsas localizadas sob a cauda, conhecidas como glândulas adanais ou sacos anais. Se você olhar para o ânus do seu cão como se fosse um relógio, essas glândulas estariam posicionadas aproximadamente às 4 e às 8 horas. Elas são revestidas por células que produzem um líquido oleoso, de cor acastanhada e com um cheiro extremamente forte e pungente — algo que, para o olfato humano, é bastante desagradável, lembrando peixe podre ou metal oxidado.
Essas glândulas agem como difusores de feromônios. Cada vez que o cão defeca, uma pequena quantidade desse líquido é espremida nas fezes, marcando o território. Mas, durante o encontro social, o relaxamento ou a tensão do esfíncter anal pode liberar microdoses desse aroma, permitindo que o outro cão o detecte. É uma secreção rica em aminas e ácidos voláteis que variam de acordo com a genética e o estado fisiológico do animal.
Como veterinário, lido frequentemente com essas glândulas quando elas causam problemas, mas em um cão saudável, elas são essenciais. Elas não servem apenas para lubrificar a passagem das fezes, como antigamente se pensava, mas são primariamente órgãos de comunicação. Sem elas, um cão seria socialmente “mudo” no mundo olfativo, incapaz de projetar suas informações pessoais para o resto da comunidade canina.
Instinto Ancestral e Sobrevivência
Esse comportamento não surgiu do nada; ele é uma herança direta dos lobos e dos ancestrais selvagens dos nossos pets. Na natureza, a informação é a chave para a sobrevivência. Saber se uma fêmea está no cio, se um rival invadiu o território ou se um membro da matilha está doente antes que ele mostre sintomas físicos pode ser a diferença entre a vida e a morte do grupo. O cheiro do bumbum oferece esses dados sem a necessidade de luta ou confronto físico.
A evolução favoreceu os animais que conseguiam se comunicar quimicamente de forma eficiente. Aqueles que conseguiam “ler” o ambiente e os outros indivíduos à distância ou através de um contato rápido tinham vantagem reprodutiva. Por isso, mesmo o seu Poodle ou Shih Tzu, que dorme em cama de plumas e come ração super premium, mantém esse instinto intacto. É uma linha direta com o seu passado selvagem que a domesticação não apagou.
Além disso, cheirar a região anal é uma forma segura de cumprimento. A frente do animal (boca e dentes) é a parte perigosa. O traseiro é a zona vulnerável. Permitir que outro cão cheire essa região exige um nível de confiança e é um sinal de apaziguamento. Ao circularem um ao outro para cheirar o posterior, eles formam uma espécie de dança ritualística que reduz a tensão do encontro frontal, que poderia ser interpretado como um desafio ou ameaça.
A Anatomia do Olfato: Como Funciona o Superpoder?
O Órgão de Jacobson (Vomeronasal)
Você sabia que seu cachorro tem, tecnicamente, um “segundo nariz”? Além da cavidade nasal principal que usamos para respirar e sentir o cheiro do café, os cães possuem uma estrutura especializada chamada Órgão de Jacobson, ou órgão vomeronasal. Ele está localizado na parte inferior da cavidade nasal, logo acima do céu da boca, atrás dos dentes incisivos superiores. Esse órgão é o verdadeiro responsável por decodificar a complexidade dos feromônios encontrados nas glândulas anais.
O órgão vomeronasal possui uma conexão nervosa direta com o sistema límbico do cérebro, a parte responsável pelas emoções e instintos básicos, contornando o córtex cerebral que lida com o pensamento racional. Isso significa que, quando seu cão cheira o bumbum de outro, a reação é visceral e imediata. Ele não “pensa” sobre o cheiro; ele “sente” a informação quimicamente. É por isso que às vezes vemos cães batendo os dentes ou salivando após cheirar algo intenso; eles estão bombeando as moléculas de cheiro para dentro desse órgão.
Para nós, veterinários, a existência desse órgão explica muitos comportamentos que parecem irracionais aos donos. A atração fatal por certos odores ou a mudança súbita de comportamento ao encontrar um cão específico é resultado dessa “via expressa” de dados que o órgão de Jacobson fornece. É um sistema de detecção química de alta tecnologia que nenhum equipamento humano conseguiu replicar com perfeição até hoje.
A Diferença entre Cheirar e Respirar
O nariz do seu cão é uma maravilha da engenharia biológica. Diferente de nós, que usamos as mesmas vias para respirar e cheirar de forma misturada, os cães possuem uma dobra de tecido interna que separa o ar. Quando eles inspiram para farejar, cerca de 12% a 13% do ar é desviado para uma área dedicada exclusivamente ao olfato, cheia de turbilhões ósseos recobertos por milhões de receptores sensoriais. O resto do ar vai para os pulmões para a oxigenação.
Isso permite que o ar com o cheiro fique “preso” na câmara olfativa mesmo quando o cão expira. E a expiração acontece pelas fendas laterais do nariz, criando um redemoinho de ar que ajuda a levantar novas moléculas de odor do objeto que está sendo cheirado. Ou seja, eles conseguem manter um fluxo contínuo de cheiro sem interrupção, analisando a composição química das glândulas anais com uma precisão cirúrgica.
Essa anatomia especializada permite que eles detectem componentes em partes por trilhão. Para colocar em perspectiva, se nós conseguimos sentir o cheiro de uma colher de açúcar no café, um cachorro conseguiria detectar essa mesma colher de açúcar diluída em duas piscinas olímpicas. Portanto, a rápida “fungada” no bumbum do amigo no parque é, na verdade, uma análise laboratorial completa e profunda que seu cão realiza em segundos.
Memória Olfativa: Eles Nunca Esquecem
A memória dos cães é muito mais olfativa do que visual. Enquanto você pode esquecer o rosto de uma pessoa que conheceu há anos, seu cachorro provavelmente se lembrará do cheiro dela — ou do cachorro dela — pelo resto da vida. O cérebro canino dedica uma área 40 vezes maior para a análise de odores do que o cérebro humano. Isso cria um banco de dados gigantesco de todos os “RGs” que ele já coletou ao longo da vida.
Quando seu cão reencontra um velho amigo no parque após meses sem se verem, o reconhecimento visual é importante, mas a confirmação final vem pelo cheiro do bumbum. É o momento em que a ficha cai: “Ah, é o Rex da praça!”. Essa memória olfativa é associada a emoções. Se o encontro anterior foi positivo e brincalhão, o cheiro evocará alegria. Se foi uma briga, o cheiro ativará o alerta de defesa instantaneamente.
Isso também explica por que alguns cães reagem mal a certos cães que nunca viram antes. O cheiro daquele estranho pode ser muito similar ao de um agressor do passado, ou carregar feromônios de estresse que deixam seu cão desconfortável. Como tutor, entender que o mundo do seu cão é mapeado por cheiros ajuda a ter mais paciência quando ele insiste em investigar um canto específico ou um outro animal. Ele está apenas consultando suas “anotações mentais”.
Linguagem Corporal e Hierarquia Social
Cauda Erguida vs. Cauda Baixa
A posição da cauda durante esse ritual de cumprimento não é aleatória; ela funciona como uma válvula de controle de odores. Um cão confiante e dominante geralmente mantém a cauda bem erguida. Ao fazer isso, ele expõe totalmente as glândulas anais, permitindo que o cheiro se disperse livremente. É como se ele estivesse dizendo: “Eu sou o chefe aqui, sintam meu cheiro e saibam quem eu sou”. É uma demonstração de segurança e status.
Por outro lado, um cão submisso, assustado ou inseguro fará o oposto. Ele colocará a cauda entre as pernas, cobrindo fisicamente as glândulas anais. Essa ação tenta “abafar” o sinal químico, tornando o cão menos detectável e, teoricamente, menos ameaçador. É a maneira canina de tentar ficar invisível ou dizer “não quero problemas, sou pequeno e inofensivo”.
Observar a cauda durante a interação nos dá pistas valiosas sobre como o cão está se sentindo. Se você vê seu cão travando a cauda com força sobre o ânus enquanto outro tenta cheirá-lo, ele está desconfortável e talvez seja hora de você intervir calmamente e chamá-lo. Se a cauda está abanando solta e alta, a interação está fluindo bem e as “credenciais” estão sendo apresentadas com orgulho.
Quem Cheira Primeiro? Dominância e Submissão
Existe uma etiqueta sutil sobre quem cheira quem primeiro. Em encontros equilibrados, os cães muitas vezes realizam a inspeção simultaneamente, circulando em um “69” em pé. No entanto, em interações onde há uma hierarquia clara ou uma diferença de personalidade, o cão mais dominante ou confiante geralmente toma a iniciativa de cheirar primeiro, enquanto o submisso espera imóvel, permitindo a inspeção.
Às vezes, o cão submisso pode até se virar e oferecer o bumbum para o outro cheirar como um gesto de apaziguamento. Isso sinaliza respeito e aceitação da ordem social. Se um cão tenta cheirar insistentemente e o outro se afasta rosnando, temos um conflito de etiqueta: um está sendo “intrusivo” demais e o outro está exigindo espaço pessoal.
É fascinante observar que essa dinâmica pode mudar. Um cão pode ser submisso com um Pastor Alemão enorme, mas agir como dominante ao encontrar um filhote inseguro. A troca de cheiros ajusta essa relação em tempo real. O importante é que, na maioria das vezes, se os cães forem socializados, eles resolvem essa ordem de “quem cheira quem” em segundos, sem necessidade de brigas, apenas usando a linguagem silenciosa dos feromônios.
A Intervenção Humana: Devemos Parar o Comportamento?
A resposta curta é: não, a menos que haja sinais de agressão. Como veterinário, vejo muitos tutores puxarem a guia bruscamente e dizerem “Que feio!” ou “Não faça isso!” quando o cão vai cheirar o bumbum de outro. Entendo o constrangimento social, mas ao fazer isso, você está impedindo seu cão de dizer “oi” e de coletar informações de segurança. Isso pode gerar ansiedade e reatividade, pois o cão fica sem saber quem é aquele estranho à sua frente.
Interromper esse ritual natural pode deixar o cão frustrado. Imagine se alguém tapasse seus olhos e ouvidos toda vez que você encontrasse uma pessoa nova; você ficaria paranoico. Permitir o cheiro (por 3 a 5 segundos) geralmente é suficiente para que eles se satisfaçam e sigam em frente ou comecem a brincar. É um protocolo necessário para a paz no parque.
Claro, o bom senso manda. Se o outro cão parece doente, agressivo ou se o dono do outro cão não está confortável, você deve chamar seu pet e seguir o passeio. Mas tente não demonizar o ato. Encare como um aperto de mão necessário e educado na cultura canina. Seu cão se sentirá mais seguro e relaxado se puder exercer seus instintos naturais de comunicação.
Saúde e Bem-Estar: O Que o Bumbum Revela?
O “Scooting” (Arrastar o Bumbum): Um Sinal de Alerta
Você já viu seu cachorro sentar e arrastar o bumbum no tapete ou na grama, como se fosse um “trineó”? Muitos acham engraçado ou pensam que é verme, mas na grande maioria das vezes, é um sinal clássico de que as glândulas adanais estão incomodando. Quando as glândulas não se esvaziam naturalmente durante a defecação, elas ficam cheias demais (impactadas), causando uma sensação de pressão, coceira e desconforto intenso.
O ato de arrastar é a tentativa desesperada do cão de espremer essas glândulas mecanicamente contra o chão para aliviar a pressão. Se você notar esse comportamento, não dê bronca. Seu cão está pedindo ajuda. Ignorar isso pode levar a problemas muito mais graves do que um tapete sujo, como o rompimento da glândula.
Como profissional, recomendo sempre verificar a região anal se esse comportamento persistir por mais de um dia. Se houver vermelhidão ou inchaço, agende uma consulta. Às vezes, o problema é simples e resolvemos com um esvaziamento manual rápido no consultório, trazendo alívio imediato para o paciente.
Infecções e Impactações: Quando ir ao Veterinário
Se as glândulas adanais ficam impactadas por muito tempo, o líquido que deveria ser fluido torna-se uma pasta grossa e seca. Isso cria o ambiente perfeito para bactérias proliferarem, levando a uma saculite (infecção dos sacos anais) e, eventualmente, a um abscesso. Um abscesso é doloroso, quente e pode estourar através da pele ao lado do ânus, liberando pus e sangue.
Os sinais de que a situação evoluiu para uma infecção incluem: o cão lambendo a região obsessivamente, dificuldade ou dor para defecar, choro ao ser tocado perto da cauda, e um odor muito mais forte e podre do que o normal. Nesses casos, o tratamento caseiro não funciona e pode ser perigoso. Precisamos entrar com antibióticos, anti-inflamatórios e limpeza local.
A prevenção envolve observar as fezes do seu animal. Fezes firmes ajudam a pressionar as glândulas naturalmente. Cães com episódios frequentes de diarreia ou fezes muito moles são candidatos fortes a terem problemas nas glândulas, pois não há pressão suficiente na saída para drenar o líquido. Manter a saúde intestinal é manter a saúde das glândulas anais.
A Importância da Alimentação na Saúde das Glândulas
A dieta é o fator número um na prevenção de problemas nessas glândulas. Rações de baixa qualidade ou dietas caseiras desbalanceadas que resultam em fezes moles crônicas são as grandes vilãs. Para que as glândulas funcionem como um relógio, as fezes precisam ter volume e consistência firme.
Introduzir fibras de boa qualidade na dieta pode fazer milagres. Às vezes, recomendamos a adição de abóbora, cenoura ou suplementos de fibra específicos para pets (sempre consulte seu vet antes de mudar a dieta). A fibra aumenta o bolo fecal, que por sua vez massageia as glândulas de dentro para fora a cada evacuação, garantindo que o “cartão de visita” químico seja renovado constantemente e não fique estagnado causando infecção.
Além disso, a hidratação adequada é fundamental. Um cão bem hidratado tem um trânsito intestinal melhor. Se o seu cão tem problemas recorrentes mesmo com boa alimentação, pode haver uma questão anatômica (dutos estreitos) ou alergias de pele de base que inflamam a região, exigindo uma investigação mais profunda.
Curiosidades e Mitos sobre o Comportamento Canino
Por que eles cheiram o bumbum de humanos?
Esta é a pergunta que mais deixa meus clientes vermelhos de vergonha. O cachorro recebe a visita, vai até ela e enfia o focinho onde não deve. Por que eles fazem isso conosco? A resposta é simples: nós também temos glândulas (apócrinas e sebáceas) concentradas na região da virilha e axilas que liberam feromônios, especialmente quando suamos ou temos alterações hormonais.
Para o cão, cheirar a virilha ou o bumbum de um humano é a mesma tentativa de coletar informações que ele faria com outro cão. Ele quer saber quem é você e como você está. Mulheres menstruadas, grávidas ou pessoas que acabaram de ter relações sexuais ou fazer exercícios têm cheiros hormonais mais intensos que atraem a curiosidade canina.
Não é perversão, é pura investigação biológica. A melhor maneira de corrigir isso não é punir, mas redirecionar a atenção do cão para um comando de “senta” ou oferecer um petisco, mostrando que há formas mais educadas de cumprimentar humanos (embora, na visão deles, nós é que somos os estranhos por não nos cheirarmos).
Cães Castrados têm cheiro diferente?
Sim, a castração altera o perfil hormonal do animal e, consequentemente, o cheiro que ele emana. A redução da testosterona nos machos e do estrogênio/progesterona nas fêmeas muda a composição química do fluido das glândulas anais e da urina. Isso afeta como eles são percebidos pelos outros cães no parque.
Muitas vezes, cães inteiros (não castrados) podem ser mais agressivos ou insistentes ao cheirar cães castrados, ou vice-versa, porque o cheiro pode ser confuso ou menos intimidante. Alguns estudos sugerem que cães castrados podem cheirar de forma mais “neutra”, o que pode reduzir conflitos de dominância, mas às vezes também os torna alvo de “bullying” por cães mais dominantes que não detectam o cheiro de um rival à altura.
O mito da “falta de educação” canina
Precisamos desconstruir a ideia de que o cão precisa seguir a etiqueta humana vitoriana. Um cão que cheira bumbum não é “mal-educado”; ele é um cão socialmente saudável. O verdadeiro problema comportamental muitas vezes reside nos cães que não sabem cheirar ou que atacam antes de cheirar. Esses cães, muitas vezes, foram privados dessa socialização quando filhotes e não aprenderam a “ler” os outros.
Humanizar demais o pet, impedindo-o de exercer sua natureza, gera animais inseguros. Deixe seu cão ser cão. Se ele quer cheirar, deixe (com supervisão). Se ele tem o bumbum cheirado, elogie-o por ficar calmo. Entender e respeitar a biologia deles é a maior prova de amor que você pode dar. Afinal, para eles, o mundo é um livro aberto escrito em aromas, e o bumbum é apenas a página mais interessante da biografia de cada amigo que encontram.
Comparativo: Métodos de Comunicação Canina
Para ajudar você a entender onde o olfato se encaixa na “caixa de ferramentas” do seu cão, preparei este quadro comparativo simples. Veja como o ato de cheirar é insubstituível:
| Método de Comunicação | Olfato (Glândulas Anais/Feromônios) | Visual (Linguagem Corporal) | Auditivo (Latidos/Rosnados) |
| Principal Função | Identidade e Histórico: Revela quem é o cão, sexo, saúde, dieta e estado emocional profundo. | Intenção Imediata: Mostra se o cão quer brincar, atacar, fugir ou se está relaxado no momento. | Alerta e Distância: Avisa sobre presença, perigo ou chama atenção de longe. |
| Precisão da Informação | Altíssima: É como ler um exame de sangue ou RG. Não pode ser falsificado. | Média: Pode ser mal interpretada (ex: abanar o rabo nem sempre é felicidade, pode ser tensão). | Baixa: Um latido pode significar muitas coisas (alegria, medo, tédio) e depende do contexto. |
| Alcance | Curto Prazo (Contato) e Longo Prazo (Marcação): O cheiro fica no ambiente mesmo após o cão sair. | Médio Alcance: Só funciona se o outro cão estiver olhando e houver luz suficiente. | Longo Alcance: Pode ser ouvido a quarteirões de distância, mas não identifica detalhes do indivíduo. |
Espero que este guia tenha ajudado a esclarecer por que seu melhor amigo tem esse hábito tão peculiar. Da próxima vez que ele for cumprimentar um colega no parque, lembre-se: ele está apenas lendo as “redes sociais” da forma mais natural possível! Cuide da saúde dessas glândulas e respeite o instinto dele.


