Maltês: O guia completo da raça
Maltês: O guia completo da raça
Você decidiu trazer um Maltês para a sua vida e essa escolha trará uma mudança significativa na dinâmica da sua casa. Eu vejo esses pequenos “flocos de neve” entrarem no meu consultório todos os dias e posso afirmar que eles são muito mais do que apenas cães bonitos de exposição. Eles possuem uma personalidade vibrante que exige compreensão e um tutor dedicado. Este guia vai além do básico e mergulha no que realmente significa cuidar dessa raça com a visão de quem lida com a saúde deles diariamente. Prepare-se para entender seu companheiro de uma forma profunda e prática.
Uma Viagem pela História do Maltês
As Raízes no Mediterrâneo e a Nobreza
A história do Maltês é fascinante porque nos leva a uma viagem no tempo de milhares de anos. Ao contrário do que muitos pensam, o nome não significa necessariamente que eles vieram apenas da ilha de Malta. O termo deriva de línguas semíticas antigas que faziam referência a refúgios e portos do Mediterrâneo Central. Esses cães eram os favoritos dos marinheiros para caçar ratos nos estoques de navios e armazéns portuários. Com o tempo, sua beleza chamou a atenção das classes mais altas e eles deixaram os portos sujos para habitar os colos mais nobres da sociedade.
Essa transição de caçador de pragas para símbolo de status moldou a raça que conhecemos hoje. A seleção genética começou a priorizar o tamanho reduzido e a pelagem branca e sedosa. Você percebe essa herança quando vê seu Maltês alerta a qualquer barulho em casa. Ele ainda guarda aquele instinto de sentinela dos portos antigos, mesmo que hoje sua maior preocupação seja o entregador de pizza. Essa história explica a robustez surpreendente que eles têm, apesar da aparência frágil.
Muitos tutores se surpreendem ao saber que Aristóteles já mencionava uma raça de cães pequenos que se assemelha muito ao nosso Maltês atual. Eles sobreviveram à queda de impérios e guerras, sempre mantendo seu lugar ao lado dos humanos. Isso demonstra uma capacidade de adaptação incrível. Quando você olha para seu cachorro, está olhando para um sobrevivente histórico que manipulou a evolução através do afeto para garantir seu lugar no sofá.
O Papel dos Malteses na Antiguidade e Renascença
Os romanos elevaram o Maltês a um patamar de divindade e acessório de moda indispensável. As matronas romanas raramente eram vistas sem um desses cães, e acreditava-se até que eles tinham poderes de cura. Era comum colocarem o cão sobre o estômago ou peito de alguém doente, acreditando que o calor e a “energia” do animal aliviariam as dores. Hoje sabemos que o conforto emocional realmente ajuda na recuperação, mas na época, eles eram vistos quase como amuletos vivos.
Durante a Renascença, pintores famosos imortalizaram a raça em suas obras. Se você visitar museus de arte europeia, verá pequenos cães brancos ao lado de duquesas e reis em diversos quadros. Isso reforçou a ideia do Maltês como um “cão de colo” por excelência. Essa seleção histórica para companhia constante criou um animal que necessita visceralmente da presença humana. Eles não foram criados para ficar no quintal ou em canis distantes.
A preservação da cor branca pura também vem dessa época. O branco era associado à pureza e à divindade, o que fazia com que os criadores descartassem qualquer exemplar que tivesse manchas. Isso explica a homogeneidade que vemos hoje na raça. Diferente de outras raças que possuem dezenas de cores, o Maltês manteve sua identidade visual praticamente intocada por séculos graças a essa preferência estética da aristocracia europeia.
A Chegada ao Brasil e a Popularização Atual
No Brasil, a raça ganhou uma tração enorme nas últimas décadas devido à verticalização das cidades. Com mais pessoas morando em apartamentos, a demanda por cães pequenos, limpos e que latem pouco aumentou drasticamente. O Maltês se encaixou perfeitamente nessa lacuna. Eles chegaram aqui inicialmente como cães de luxo, mas hoje são acessíveis e extremamente comuns em todas as regiões do país.
O problema dessa popularização rápida foi o surgimento de criações irresponsáveis. Vejo no consultório muitos cães que fogem do padrão, apresentando problemas de saúde genéticos que poderiam ser evitados. A busca pelo “micro” ou “zero” — termos que não existem oficialmente — gerou animais extremamente frágeis. O Maltês brasileiro típico é um companheiro leal, mas você precisa ter cuidado com a procedência para não incentivar fábricas de filhotes que visam apenas o lucro.
Apesar dos desafios da criação indiscriminada, o Maltês continua sendo uma das raças mais amadas pelos brasileiros. A facilidade de transporte e a aceitação em hotéis e shoppings ajudam muito. Eles se tornaram verdadeiros membros da família, participando de viagens e eventos sociais. A adaptação deles ao nosso clima tropical também é boa, desde que protegidos do sol excessivo e do calor extremo, já que não possuem subpelo para isolamento térmico eficiente.
Entendendo a Personalidade e o Temperamento
A Síndrome do Cão de Velcro: O Apego ao Tutor
Você nunca mais irá ao banheiro sozinho. Essa é a realidade de quem tem um Maltês. Eles desenvolvem um vínculo tão profundo com seus tutores que ganharam o apelido carinhoso de “cães de velcro”. Esse comportamento não é um defeito, mas uma característica intrínseca da raça selecionada para companhia. Eles leem sua linguagem corporal e suas emoções melhor do que muitos humanos. Se você está triste, ele estará no seu colo; se está feliz, ele estará pulando ao seu redor.
No entanto, esse apego tem um lado que exige atenção veterinária e comportamental: a ansiedade de separação. É a queixa número um que recebo no consultório sobre o comportamento da raça. Cães que destroem móveis, urinam no lugar errado ou latem incessantemente quando os donos saem. Isso acontece porque, para eles, a sua ausência é quase uma ameaça à sobrevivência. Trabalhar a independência desde filhote é crucial para evitar esse sofrimento psicológico.
Eu recomendo sempre que você acostume seu Maltês a ficar sozinho por curtos períodos, mesmo que você esteja em casa. Deixe-o em um cômodo seguro com brinquedos enquanto você trabalha em outro. Não faça festas exageradas ao chegar ou sair de casa. Normalizar a separação é um ato de amor que previne um futuro de estresse e medicação ansiolítica para o seu animal.
Inteligência e Nível de Energia: Mais que um Cão de Colo
Muitas pessoas subestimam a inteligência do Maltês por causa de sua “carinha de bebê”. Isso é um erro enorme. Eles são extremamente espertos e aprendem truques e comandos com uma rapidez impressionante. O problema é que eles também aprendem o que não devem muito rápido. Se ele perceber que latir garante um pedaço de frango, ele vai latir para sempre. Eles treinam os donos com a mesma facilidade que são treinados.
O nível de energia deles é moderado, mas explosivo. Eles têm o que chamamos de “zoomies” ou momentos de loucura, onde correm em círculos pela casa em alta velocidade. Isso geralmente dura poucos minutos e depois eles desmaiam no sofá. Eles não precisam de maratonas, mas precisam de estímulo mental. Brinquedos de enriquecimento ambiental, onde eles precisam “caçar” a comida, são excelentes para gastar essa energia mental e física.
Não trate seu Maltês como um enfeite de porcelana. Ele gosta de passear, cheirar a grama e interagir com o mundo. Privá-lo de passeios sob o pretexto de que ele “se suja” ou “é muito pequeno” pode torná-lo um cão reativo e medroso. O exercício físico regular, mesmo que leve, ajuda a manter a musculatura firme, o que é essencial para proteger as articulações dessa raça.
A Convivência com Crianças e Outros Animais
A relação do Maltês com crianças exige supervisão e regras claras. Embora sejam brincalhões, eles são fisicamente frágeis. Uma criança pequena que tropeça e cai sobre um Maltês pode causar fraturas graves. Além disso, o Maltês não tolera puxões de orelha ou cauda com a mesma paciência de um Golden Retriever. Eles podem rosnar ou morder para se defender se sentirem dor ou medo. Por isso, indico a raça para famílias com crianças maiores ou muito bem educadas sobre como manusear o pet.
Com outros animais, eles costumam ser tranquilos, mas muitas vezes sofrem da “síndrome de cachorro grande”. Eles não têm noção do próprio tamanho e podem desafiar cães muito maiores na rua. Isso é perigoso. A socialização precoce é a chave para que ele entenda a linguagem canina e saiba respeitar os limites. Em casa, costumam conviver bem com gatos e outros cães, desde que as apresentações sejam feitas de forma gradual.
A introdução de um novo membro na família, seja humano ou animal, deve ser feita com cuidado para evitar ciúmes. O Maltês é possessivo com seu tutor. Se ele sentir que está perdendo seu posto de “rei da casa”, pode começar a marcar território com urina. Mantenha a rotina de atenção dele inalterada o máximo possível para garantir uma convivência harmônica.
Características Físicas e o Manto Branco
O Padrão da Raça: Peso, Altura e Estrutura
O padrão oficial da raça estabelece que um Maltês deve pesar entre 3 e 4 kg. Existem exemplares menores, mas como veterinário, alerto que pesos abaixo de 2 kg trazem riscos enormes de saúde, como hipoglicemia e fragilidade óssea. O corpo deve ser compacto, sendo o comprimento do tronco ligeiramente superior à altura na cernelha. Eles não devem parecer “pernalongas” nem rebaixados demais. A linha superior das costas deve ser reta.
A cabeça é proporcional ao corpo, com um stop (o encontro entre o focinho e a testa) bem marcado, formando um ângulo de 90 graus. O focinho não deve ser achatado como o de um Pug, o que garante a eles uma respiração muito melhor do que a dos cães braquicefálicos. Isso é uma vantagem enorme para a qualidade de vida do animal, permitindo que ele brinque e corra sem ficar sem ar imediatamente.
As orelhas são caídas e triangulares, inseridas no alto da cabeça. Quando o cão está alerta, elas se elevam ligeiramente na base, dando uma expressão muito atenta. A cauda é uma característica marcante: ela deve fazer uma curva graciosa sobre o dorso, com a ponta tocando a garupa. Uma cauda caída o tempo todo pode ser sinal de medo, dor ou insegurança.
A Pelagem: Textura, Ausência de Subpelo e Hipoalergenia
O pelo do Maltês é sua marca registrada. Ele deve ser denso, brilhante, sedoso e cair pesadamente ao longo do corpo, sem ondulações ou cachos. A textura é muito semelhante ao cabelo humano. Uma característica fundamental é a ausência de subpelo. A maioria dos cães tem duas camadas de pelo: a externa e a interna (subpelo), que cai sazonalmente. O Maltês não tem essa camada interna, o que significa que ele quase não solta pelo pela casa.
Essa ausência de troca de pelo faz com que a raça seja considerada “hipoalergênica”. Embora nenhum cão seja 100% livre de alérgenos (já que a alergia vem da saliva e descamação da pele), o Maltês é uma das melhores opções para pessoas alérgicas. O fato de não espalhar pelos cheios de alérgenos pelo ambiente ajuda muito na convivência. No entanto, isso cobra um preço: a manutenção. O pelo cresce continuamente e precisa de cuidados diários.
Se você não escovar seu Maltês todos os dias, o pelo vai embaraçar rente à pele. Esses nós repuxam a pele, causam dor, hematomas e abrem portas para infecções fúngicas e bacterianas. Eu atendo muitos casos onde a única solução é a tosa completa na máquina zero porque o emaranhado se tornou uma carapaça impenetrável. Manter o pelo longo é lindo, mas exige dedicação espartana.
A Pigmentação e os Olhos Expressivos
O contraste entre o branco da pelagem e o preto dos olhos e focinho é essencial para a expressão da raça. O nariz deve ser preto puro e bem arredondado. Os olhos são grandes, escuros e ovais, com as bordas das pálpebras também pretas. Essa pigmentação escura ao redor dos olhos funciona como um delineador natural, destacando o olhar inteligente e vivo do animal.
A falta de pigmentação, conhecida como “nariz de inverno” ou despigmentação nasal, pode ocorrer, onde o nariz fica rosado ou marrom. Embora seja considerado uma falta em competições, não afeta a saúde do pet. Porém, a pele despigmentada é mais sensível ao sol. Se o seu cão tem o nariz ou pálpebras claras, o uso de protetor solar veterinário é obrigatório para evitar queimaduras e até câncer de pele, como o carcinoma.
As patas também devem ter as almofadas (coxins) pretas. Manter os pelos entre as almofadas tosados é importante para evitar que o cão escorregue em pisos lisos, o que é um veneno para as articulações. Além disso, a umidade retida nesses pelos das patas favorece a proliferação de fungos, deixando as patas com coloração avermelhada e cheiro forte.
Saúde e Bem-estar: O Olhar do Veterinário
Ortopedia: Entendendo a Luxação de Patela
A luxação de patela é, sem dúvida, o problema ortopédico mais comum que diagnostico em Malteses. A patela é o osso do joelho (a “bolacha” do joelho). Em muitos cães pequenos, o sulco onde esse osso deveria deslizar é muito raso. Isso faz com que a patela escape do lugar, travando a perna. Você vai notar que seu cão vem correndo e, de repente, dá uns pulinhos com a perna encolhida, e depois volta a andar normalmente.
Isso não é “charme” ou mania, é uma luxação mecânica. Com o tempo, esse entra e sai do osso desgasta a cartilagem, causando artrose e dor crônica. Existem quatro graus de luxação. Nos graus leves, tratamos com fisioterapia e suplementação de condroprotetores. Nos graus graves (3 e 4), a cirurgia é a única opção para devolver a qualidade de vida.
Evitar que seu Maltês pule de lugares altos é a melhor prevenção. Sofás e camas altos são inimigos dos joelhos deles. O impacto repetitivo da aterrissagem sobrecarrega a articulação. O uso de rampas ou escadinhas pet é um investimento em saúde que poupará seu cão de dores e você de gastos cirúrgicos no futuro. Manter o cão magro também é fundamental, pois cada grama extra é uma sobrecarga nos joelhos.
Dermatologia e Oftalmologia: A Verdade sobre a Mancha de Lágrima
A famosa “lágrima ácida” é o maior pesadelo estético dos tutores de Maltês, mas o termo é incorreto. O pH da lágrima não é ácido. O que acontece é uma condição chamada cromodacriorreia. A lágrima contém pigmentos (porfirinas) que oxidam em contato com a luz e o ar, tingindo o pelo de marrom avermelhado. O problema real geralmente é o excesso de produção de lágrima (epífora) ou a drenagem ineficiente dela.
Canais lacrimais entupidos, cílios nascendo para dentro do olho (distiquíase) ou alterações na pálpebra (entrópio) podem fazer o olho lacrimejar demais. A umidade constante na região favorece o crescimento de bactérias e leveduras, que pioram a coloração e podem causar mau cheiro. O tratamento envolve descobrir a causa base com um veterinário oftalmologista, e não apenas limpar a mancha.
Para o manejo diário, mantenha a região seca. Limpe os olhos do seu cão duas vezes ao dia com soro fisiológico e seque bem com uma gaze. Evite rações com muitos corantes, embora a alimentação influencie menos do que se acredita popularmente. Oferecer água filtrada em bebedouros de cerâmica ou vidro, em vez de plástico e alumínio, também ajuda a reduzir a contaminação bacteriana que pode agravar as manchas.
Saúde Bucal: A Batalha Contra a Doença Periodontal
A boca do Maltês é pequena e os dentes muitas vezes se amontoam, criando o ambiente perfeito para o acúmulo de placa bacteriana e tártaro. A doença periodontal não causa apenas mau hálito; ela é uma ameaça sistêmica. As bactérias da boca podem cair na corrente sanguínea e afetar o coração (endocardite), rins e fígado. Eu vejo cães idosos perdendo todos os dentes e sofrendo com infecções graves que começaram com um simples “bafinho”.
A escovação dentária deve ser diária. Não existe “uma vez por semana” para escovação, assim como não existe para nós. Use escovas e pastas veterinárias. Se o seu cão não aceita a escova, existem dedeiras ou géis enzimáticos que ajudam, mas a ação mecânica da escova é insubstituível. Comece a acostumar seu filhote desde os primeiros dias em casa, manipulando a boca dele com carinho e recompensas.
O tratamento periodontal profissional (limpeza de tártaro) feito em clínica, sob anestesia inalatória, será necessário em algum momento da vida do seu Maltês. Não tenha medo da anestesia; os protocolos atuais são muito seguros e o risco de deixar uma boca infeccionada é muito maior do que o risco do procedimento. Raio-X odontológico é essencial para ver se há raízes podres que precisam ser extraídas.
Nutrição Estratégica e Suplementação
A Importância da Ração Super Premium e a Hidratação
A nutrição é o pilar da saúde do seu Maltês. Cães de pequeno porte têm um metabolismo acelerado e precisam de uma densidade calórica maior em pequenas porções. Rações da categoria Super Premium são formuladas com proteínas de alta digestibilidade, o que significa que o animal absorve mais e defeca menos (e com menos cheiro). Economizar na ração geralmente resulta em gastos maiores com veterinário por problemas de pele e digestivos.
Um ponto crítico para o Maltês é a hidratação. Eles são propensos à formação de cálculos urinários (pedras na bexiga). Muitos cães não bebem água suficiente por conta própria. Introduzir alimentos úmidos (sachês ou latas de boa qualidade) na dieta é uma estratégia excelente para aumentar a ingestão hídrica. Você pode misturar um pouco de água morna na ração seca ou oferecer o alimento úmido puro como uma refeição do dia.
A alimentação natural (AN) é uma opção fantástica, desde que formulada por um zootecnista ou veterinário nutrólogo. Não tente fazer AN por conta própria com “arroz e frango”, pois faltarão nutrientes essenciais como cálcio e vitaminas. Uma dieta desbalanceada pode causar desnutrição severa e problemas ósseos irreversíveis em poucos meses.
Alimentos Proibidos e Perigos Ocultos na Cozinha
O tamanho reduzido do Maltês faz com que pequenas quantidades de alimentos tóxicos sejam fatais. Um pedaço de chocolate que apenas daria dor de barriga em um Labrador pode matar um Maltês. Uvas e passas são extremamente nefrotóxicas e podem causar falência renal aguda. Cebola e alho, mesmo cozidos, causam anemia por destruição das hemácias.
Cuidado com o xilitol, um adoçante comum em pastas de amendoim diet, chicletes e doces sem açúcar. Ele causa uma queda abrupta de glicose e falência hepática em cães. Mantenha lixeiras trancadas e bolsas fora do alcance. O Maltês é curioso e seu olfato o guiará direto para aquele chiclete esquecido no fundo da sua mochila.
Ossos de galinha ou restos de churrasco são terminantemente proibidos. Eles podem perfurar o intestino ou causar obstruções que exigem cirurgia de emergência. Se você quer agradar seu cão, use petiscos apropriados, frutas seguras como maçã (sem sementes) ou pedacinhos de cenoura, que inclusive ajudam na limpeza mecânica dos dentes.
Suplementação: Quando o Ômega-3 e Condroitina são Necessários
Nem todo cão precisa de suplementos, mas o Maltês se beneficia muito de alguns específicos. O Ômega-3 (óleo de peixe de boa procedência) é um anti-inflamatório natural potente. Ele ajuda a manter a barreira cutânea saudável, reduzindo alergias e coceiras, e dá brilho à pelagem. Além disso, tem efeitos benéficos para o coração e para a função cognitiva em cães idosos.
Devido à predisposição à luxação de patela, o uso de condroprotetores (condroitina, glucosamina e colágeno tipo II) pode ser indicado preventivamente ou como suporte terapêutico. Eles ajudam a manter a integridade da cartilagem e o líquido sinovial das articulações. Consulte sempre seu veterinário antes de iniciar, pois a dose deve ser precisa para não sobrecarregar o fígado.
Probióticos são outro grande aliado. O Maltês costuma ter o intestino sensível, apresentando “colites de estresse” (diarreia com muco ou sangue) quando há mudanças na rotina. O uso regular ou em pulsos de probióticos ajuda a manter a microbiota intestinal equilibrada, melhorando a imunidade e a absorção de nutrientes.
A Jornada da Vida: Do Filhote ao Sênior
Primeiros Passos: Socialização e a Janela de Medo
A “janela de socialização” do cão vai até as 12 ou 16 semanas de vida. O que ele não conhecer nesse período, provavelmente terá medo no futuro. Muitos tutores cometem o erro de isolar o filhote completamente até o fim das vacinas. Você deve proteger a saúde física (evitando chão público), mas deve expor a mente dele ao mundo. Leve-o no colo para ver o trânsito, ouvir sirenes, ver pessoas de chapéu, guarda-chuva e outros cães de longe.
A hipoglicemia é o maior risco para filhotes de Maltês. Como eles têm pouca reserva de glicogênio no fígado, ficar muitas horas sem comer pode fazer o açúcar no sangue cair perigosamente. Os sintomas são prostração, gengivas pálidas, tremores e convulsões. Alimente o filhote 4 a 5 vezes ao dia. Tenha sempre mel ou xarope de milho (karo) em casa para emergências, esfregando na gengiva se ele parecer “desmaiado” enquanto corre para o vet.
O treinamento do xixi deve começar no dia 1. O Maltês é limpo por natureza, mas tem bexiga pequena. Recompense copiosamente os acertos e ignore os erros. Brigar ou esfregar o focinho no xixi só gera medo e faz o cão esconder as necessidades em locais de difícil acesso, como debaixo da cama. Use tapetes higiênicos de boa absorção e delimite o espaço nos primeiros meses.
A Adolescência e a Manutenção do Comportamento
Entre os 6 meses e 1 ano e meio, seu Maltês passará pela adolescência. É a fase da teimosia. Aquele filhote que obedecia tudo de repente parece ter ficado surdo. Os hormônios sexuais estão agindo (se ele não for castrado) e ele vai testar os limites. Mantenha a consistência no treinamento. Não ceda aos “olhos pidões”. Se você deixar ele subir na mesa uma vez, ele subirá sempre.
A castração é recomendada tanto para machos quanto para fêmeas. Nas fêmeas, previne câncer de mama (se feita antes do terceiro cio) e infecção uterina (piometra), que é gravíssima. Nos machos, evita tumores testiculares e reduz a marcação de território e a fuga atrás de fêmeas no cio. Converse com seu veterinário sobre o melhor momento, geralmente após a troca completa da dentição.
Nessa fase, a pelagem também muda. O pelo de filhote cai para dar lugar ao de adulto, e isso cria nós horríveis. A escovação precisa ser redobrada. Se você descuidar aqui, terá que tosar seu cão bem curto. É também o momento de reforçar a socialização para que ele não se torne um adulto reativo ou medroso.
Cuidados Geriátricos: Protegendo a Mente e as Articulações
O Maltês é uma raça longeva, vivendo facilmente até os 15 ou 16 anos, e eu já atendi pacientes com 18. A partir dos 7 ou 8 anos, eles entram na fase sênior. Os check-ups devem passar a ser semestrais. O coração precisa de monitoramento atento, pois a degeneração da valva mitral é comum em cães idosos de pequeno porte. Tosse seca e cansaço fácil são sinais de alerta.
A Síndrome da Disfunção Cognitiva (o “Alzheimer canino”) pode afetar Malteses idosos. Eles podem ficar desorientados, ficar presos em cantos, trocar o dia pela noite ou esquecer o local do banheiro. Enriquecimento ambiental e suplementos antioxidantes ajudam a retardar esse processo. Tenha paciência; ele não está fazendo isso de propósito.
Adapte a casa para o idoso. Coloque mais tapetes antiderrapantes, rampas para subir nos móveis e potes de comida levemente elevados para não forçar o pescoço e as patas dianteiras. Mantenha o cão aquecido, pois a massa muscular diminui e eles sentem mais frio. O amor e cuidado nessa fase final são a retribuição por anos de lealdade incondicional.
Tabela Comparativa: Maltês x Outras Raças
Para te ajudar a ter certeza da sua escolha, preparei este quadro comparativo com duas raças que frequentemente competem pela preferência dos tutores.
| Característica | Maltês | Shih Tzu | Yorkshire Terrier |
| Origem | Mediterrâneo (Itália/Malta) | Tibete/China | Inglaterra |
| Nível de Energia | Médio/Alto (Explosivo) | Baixo/Médio | Alto (Terrier) |
| Latido | Alerta (médio a alto) | Baixo (geralmente silencioso) | Alto (muito alerta) |
| Pelagem | Fio único, sem subpelo (nós fáceis) | Dupla camada (troca de pelo) | Fio único (similar ao cabelo) |
| Temperamento | “Velcro”, afetuoso, sensível | Independente, teimoso, calmo | Destemido, caçador, agitado |
| Saúde (Foco) | Luxação de patela, Coração | Olhos, Respiração (Braquicefálico) | Colapso de traqueia, Shunt |
| Relação com Estranhos | Desconfiado no início | Amigável com todos | Territorialista |
| Tamanho Médio | 3 a 4 kg | 4.5 a 8 kg (mais robusto) | 2 a 3.5 kg |
Escolher um Maltês é escolher um parceiro que viverá para você. Com os cuidados certos, nutrição adequada e visitas regulares ao veterinário, você terá ao seu lado um dos cães mais encantadores e dedicados que existem. Aproveite cada momento com seu pequeno companheiro de manto branco!


