Olhos do Pug: Úlcera de córnea e cuidados diários
Olhos do Pug: Úlcera de córnea e cuidados diários
Você escolheu ter um Pug e provavelmente se apaixonou por aquele olhar expressivo e pidão que só essa raça tem. Esses olhos grandes e redondos são a marca registrada deles, mas como veterinário preciso ser franco com você sobre a responsabilidade que isso carrega. A anatomia que torna seu cão tão fofo é a mesma que coloca a visão dele em risco constante. A úlcera de córnea não é apenas um machucado simples. É uma das emergências oftálmicas mais comuns que atendo no consultório e exige sua total dedicação.
Quero guiar você pelo universo da oftalmologia veterinária focada no seu Pug. Não vamos falar apenas de pingar colírio. Vamos entender a mecânica do olho dele, como prevenir o pior e o que fazer exatamente quando aquele olho começar a incomodar. O conhecimento é a única ferramenta que impede que uma irritação simples se torne uma cirurgia complexa. Prepare-se para ajustar sua rotina e olhar para seu pet de uma maneira mais técnica e preventiva.
A anatomia única do Pug e os riscos oculares
Você já notou que os olhos do seu Pug parecem não caber perfeitamente nas órbitas. Isso acontece porque a estrutura óssea do crânio dele é achatada, uma característica que chamamos de braquicefalia. As órbitas oculares são rasas demais para acomodar o globo ocular inteiro. Isso deixa uma grande superfície do olho exposta ao ar, à poeira e a qualquer objeto que cruze o caminho do seu cão. Essa exposição constante é o primeiro fator de risco para o desenvolvimento de lesões na córnea.
A córnea é a camada transparente e brilhante que cobre a frente do olho. Pense nela como o para-brisa de um carro. No seu Pug, esse para-brisa está sempre projetado para frente, sem um “para-choque” para protegê-lo. Qualquer batida leve, um cisco ou até mesmo o próprio pelo da dobra do nariz pode arranhar essa superfície delicada. Quando a camada mais externa da córnea é danificada, expomos as terminações nervosas. Isso gera uma dor aguda e imediata que muda o comportamento do seu animal num piscar de olhos.
Entendendo a órbita rasa e a exposição ocular
A projeção do globo ocular para fora recebe o nome técnico de exoftalmia. Embora seja padrão da raça, isso significa que as pálpebras do seu Pug precisam fazer um esforço hercúleo para cobrir toda a superfície do olho ao piscar. Muitas vezes elas não conseguem. Você pode notar que, mesmo quando ele dorme, uma frestinha dos olhos permanece aberta. Essa condição é perigosa porque impede a nutrição e proteção adequadas da córnea durante o sono.
O piscar tem a função de espalhar a lágrima e limpar detritos. Se o olho é muito saltado, o centro da córnea fica cronicamente exposto e ressecado. Essa área central é onde a maioria das úlceras começa em cães braquicefálicos. O ressecamento torna as células da córnea frágeis e propensas a descamar. Um olho seco é um olho vulnerável. Você precisa encarar a anatomia do seu Pug não como um defeito, mas como uma característica que exige manutenção externa constante da sua parte.
O mecanismo das pálpebras e o fechamento incompleto
Existe um termo médico que usamos muito na clínica para Pugs chamado lagoftalmo. É justamente essa incapacidade de fechar totalmente as pálpebras. Isso acontece porque a abertura das pálpebras é muito grande em relação ao comprimento delas. Além disso, muitos Pugs têm uma condição chamada entrópio medial. É quando o cantinho da pálpebra, perto do focinho, enrola para dentro.
Quando a pálpebra vira para dentro, os cílios e os pelos da pele tocam diretamente a córnea. Imagine ter um cílio dentro do seu olho 24 horas por dia. Para o seu Pug, isso não é apenas um incômodo, é uma lixa passando no olho a cada piscada. Esse atrito constante remove as células de proteção da córnea e abre as portas para bactérias entrarem. É vital que você observe se os pelos do canto do olho estão molhados ou se o olho parece irritado nessa região específica.
A qualidade do filme lacrimal nos braquicefálicos
A lágrima não é apenas água. Ela é um “sanduíche” químico complexo composto por três camadas: mucina, água e gordura. A camada de gordura impede que a água evapore, e a mucina faz a lágrima aderir ao olho. Nos Pugs, a qualidade dessa lágrima muitas vezes é ruim. Mesmo que você veja o olho molhado, a lágrima pode não estar lubrificando de verdade se faltar a camada de gordura.
Isso leva a uma condição chamada Queratoconjuntivite Seca Qualitativa. O olho parece úmido, mas a córnea está sofrendo. Sem uma boa película de lágrima, a fricção da pálpebra ao piscar pode causar microlesões. Essas lesões microscópicas se juntam e formam a úlcera. Por isso, insisto tanto no uso de lubrificantes artificiais de alta viscosidade para essa raça, mesmo que o cão não tenha um diagnóstico de “olho seco” clássico.
Identificando a úlcera de córnea em casa
Você é a primeira linha de defesa do seu cão. O sucesso do tratamento de uma úlcera depende inteiramente da velocidade com que você percebe o problema. Úlceras de córnea em Pugs podem aprofundar em questão de horas. O que de manhã parece apenas um olho vermelho, à noite pode se tornar uma perfuração ocular. Você precisa treinar seu olhar para identificar os sinais sutis de desconforto antes que eles se tornem óbvios demais.
Muitos tutores esperam o olho ficar “branco” ou “nublado” para procurar ajuda. Esse é um erro grave. Quando a córnea perde a transparência e fica azulada ou esbranquiçada, significa que já existe um edema grave, ou seja, a córnea está inchada de água porque a barreira protetora foi rompida. O ideal é que você perceba a dor antes da mudança física drástica.
Interpretando a dor e o blefaroespasmo
A córnea é uma das partes mais inervadas do corpo. Uma lesão ali dói muito. Mas cães manifestam dor de forma diferente de nós. O sinal clássico é o blefaroespasmo. O cão mantém o olho fechado ou semi-aberto, piscando excessivamente. Ele pode evitar a luz forte (fotofobia) e procurar cantos escuros da casa. Se você chamar seu Pug e ele olhar para você com um olho fechado, pare tudo e verifique.
Outro sinal comportamental é a pata no rosto. O cão tenta “tirar” a dor esfregando a pata no olho ou esfregando o rosto no tapete e nos móveis. Isso é desastroso. O atrito mecânico pode transformar uma úlcera superficial em uma úlcera profunda em segundos. Se você notar esse comportamento, impeça imediatamente e coloque o colar elizabetano se tiver um em casa antes mesmo de ir ao veterinário.
Alterações visíveis na superfície do olho
Olhe para o olho do seu cão sob uma boa luz. A superfície deve ser lisa e reflexiva como um espelho. Se você notar qualquer irregularidade, como se houvesse uma “depressão” ou um “buraco” na superfície, isso é a úlcera. Às vezes, parece uma pequena cratera. Em volta dessa cratera, a córnea pode começar a ficar turva ou leitosa.
A vermelhidão na parte branca do olho (esclera) também é um indicativo forte. Os vasos sanguíneos ficam engurgitados na tentativa de levar células de defesa para a região machucada. Diferente de uma alergia simples, onde os dois olhos costumam ficar vermelhos, a úlcera geralmente afeta apenas um olho de cada vez. Essa assimetria é um grande alerta para você correr para o consultório.
Diferenciando secreção normal de infecção grave
Pugs costumam ter remela. Isso é comum. Mas você precisa saber a diferença entre a secreção fisiológica e a patológica. A remela normal, de oxidação da lágrima, costuma ser marrom ou levemente acinzentada e aparece em pequena quantidade, geralmente após o sono. Ela é seca ou levemente mucosa.
A secreção de uma úlcera infectada muda de cor e consistência. Ela se torna amarelada ou esverdeada e é abundante. O olho “chora” esse pus constantemente. Além disso, a região ao redor do olho fica muito molhada devido ao lacrimejamento excessivo (epífora) causado pela dor. Se você limpar o olho e, dez minutos depois, ele estiver cheio de secreção verde novamente, existe uma infecção ativa que precisa de antibiótico imediatamente.
O diagnóstico veterinário passo a passo
Ao chegar no meu consultório, não vou apenas “achar” que é uma úlcera. Eu preciso provar e medir a extensão do dano. O exame oftalmológico segue um protocolo rígido. Não tente diagnosticar em casa ou usar o colírio que sobrou do tratamento anterior. Cada úlcera é única e usar um colírio com corticoide em uma úlcera ativa pode perfurar o olho do seu cão.
O exame físico começa antes mesmo de eu tocar no olho. Observo a simetria do rosto, se há inchaço nas pálpebras e como o cão reage à minha aproximação. Depois, utilizamos ferramentas específicas para colorir e iluminar o olho, revelando o que a olho nu não conseguimos ver. É um processo indolor, mas que pode exigir que contenhamos o cão firmemente para evitar movimentos bruscos.
O teste de fluoresceína e a luz ultravioleta
Este é o padrão ouro para diagnóstico. Pingo uma gota de um corante laranja chamado fluoresceína no olho do seu Pug. Depois lavo com soro fisiológico. A fluoresceína tem uma propriedade química interessante: ela não adere à córnea intacta (que é hidrofóbica), mas se fixa avidamente no estroma da córnea (que é hidrofílico) quando a camada superficial foi removida.
Apago as luzes da sala e uso uma luz azul cobalto ou lâmpada de fenda. Se houver úlcera, a área machucada brilha em um verde fluorescente intenso. É inconfundível. Esse teste não só confirma a úlcera, mas me mostra o formato e o tamanho exato dela. Isso me ajuda a saber se foi um arranhão de unha (formato linear) ou uma erosão por ressecamento (formato circular ou irregular).
A importância do Teste de Schirmer para olho seco
Muitas vezes a úlcera é apenas a consequência, e o “olho seco” é a causa. Para verificar isso, uso o Teste de Lacrimação de Schirmer. Coloco uma pequena tira de papel filtro graduado na pálpebra inferior do seu cão por um minuto. O papel absorve a lágrima e eu meço quantos milímetros foram molhados.
Em um cão normal, esperamos acima de 15mm por minuto. Se o seu Pug marcar menos de 10mm, ele tem baixa produção lacrimal. Isso muda todo o tratamento. Não adianta só tratar a úlcera com antibiótico se não repusermos a lágrima ou estimularmos a produção dela. Se ignorarmos essa causa base, a úlcera vai voltar semanas depois de cicatrizada.
Avaliando a profundidade da lesão
Nem toda úlcera é igual. Existem úlceras superficiais, que atingem apenas o epitélio, e úlceras profundas, que comem o estroma da córnea. Durante o exame, avalio se existe uma “descemetocele”. Esse nome complicado significa que a úlcera foi tão funda que só restou a última e finíssima membrana da córnea (Membrana de Descemet) impedindo o vazamento do olho.
Se eu identificar uma úlcera profunda, o tratamento muda de clínico para cirúrgico quase imediatamente. Úlceras superficiais cicatrizam rápido com colírios, mas as profundas em Pugs são traiçoeiras. A avaliação de profundidade define a urgência e a agressividade da terapia que vamos instituir.
Tratamento clínico e manejo do paciente
O tratamento de uma úlcera de córnea exige disciplina militar da sua parte. Não existe “esqueci o colírio” ou “fiquei com dó do colar”. O sucesso depende da constância. Normalmente, usamos uma combinação de antibióticos para matar as bactérias oportunistas e analgésicos sistêmicos ou locais para controlar a dor. A dor ocular também causa inflamação dentro do olho (uveíte), então muitas vezes tratamos isso também.
Você vai virar um expert em administrar medicações. O segredo é a organização. Se prescrevi três colírios diferentes, você deve esperar pelo menos 10 minutos entre cada um. Se pingar um logo em cima do outro, o segundo lava o primeiro e nenhum faz efeito. A ordem também importa: soluções aquosas primeiro, suspensões depois e pomadas ou géis por último.
A batalha dos colírios e a frequência de aplicação
Em casos graves, a frequência dos colírios pode ser a cada 2 ou 4 horas. Sim, inclusive de madrugada nos primeiros dias. O antibiótico precisa manter uma concentração alta na superfície do olho para vencer a infecção. Usamos colírios à base de Tobramicina, Ciprofloxacina ou Ofloxacina. Jamais use colírios com dexametasona ou prednisona (corticoides) sem ordem expressa, pois eles impedem a cicatrização e pioram a úlcera.
Além do antibiótico, prescrevo lubrificantes potentes e, às vezes, colírios que paralisam a pupila (midriáticos) para aliviar a dor do espasmo muscular interno do olho. É cansativo para você, eu sei. Mas lembre-se que estamos lutando para salvar a visão do seu amigo. A adesão ao horário faz a diferença entre cicatrizar em 5 dias ou em 20.
O papel crucial do colar elizabetano
Aqui é onde a maioria dos tratamentos falha. O tutor sente pena do cachorro com o “abajur” na cabeça e tira o colar. O colar elizabetano é obrigatório, 24 horas por dia, até eu dar alta. Um Pug leva menos de um segundo para coçar o olho e perfurar uma córnea fragilizada.
O colar deve ser do tamanho correto: deve ultrapassar a ponta do nariz do cão. Se o nariz ficar para fora, ele consegue esfregar o olho em quinas de móveis. Existem opções mais confortáveis hoje, como colares infláveis ou de tecido estruturado, mas certifique-se de que eles realmente impedem o acesso ao rosto. O incômodo do colar é temporário; a cegueira é definitiva. Seja firme por amor ao seu pet.
O uso de soro autólogo e novas terapias
Para úlceras que demoram a cicatrizar ou que estão “derretendo” (quando as bactérias produzem enzimas que dissolvem a córnea), usamos o soro autólogo. Coletamos o sangue do próprio paciente, centrifugamos e separamos o soro. Esse soro é rico em fatores de crescimento e substâncias que inibem a destruição da córnea.
Você terá que manter esse colírio de soro na geladeira e descartar a cada poucos dias para evitar contaminação. É um tratamento biológico poderoso e barato que acelera muito a recuperação. Também existem lentes de contato terapêuticas próprias para cães que funcionam como um curativo, protegendo a úlcera enquanto ela cicatriza sob a lente.
Rotina de limpeza e manutenção diária (Prevenção)
Prevenir é sempre mais barato e menos doloroso do que tratar. Com um Pug, a rotina de olhos deve ser como escovar os dentes: todo dia, sem falta. O objetivo é manter a área limpa e o olho lubrificado. A anatomia do focinho do Pug acumula sujeira, restos de comida e umidade nas dobras, criando um ambiente perfeito para bactérias que podem migrar para os olhos.
A seguir, apresento um quadro comparativo de produtos que você encontrará no mercado, para que entenda o que deve usar na rotina:
| Produto | Indicação Principal | Vantagem | Desvantagem |
| Soro Fisiológico 0,9% | Limpeza mecânica e lavagem | Barato e seguro para lavagem abundante | Não lubrifica, apenas lava. Evapora rápido |
| Lubrificante Vet (Gel) | Manutenção da hidratação | Alta aderência, dura muito tempo no olho | Pode embaçar a visão momentaneamente |
| Água Boricada | Limpeza de pele externa | Antisséptico leve para a pele | Nunca usar dentro do olho (tóxico para córnea) |
Escolhendo os produtos certos para limpeza
Para a limpeza da área externa e das dobras, use soluções específicas para limpeza de lágrimas ou soro fisiológico. Evite produtos com cheiro forte ou álcool. Para dentro do olho, use apenas colírios lubrificantes prescritos. Lágrima artificial humana pode ser usada, desde que sem conservantes, mas as opções veterinárias em gel costumam ser melhores para Pugs porque duram mais.
Evite usar algodão solto. As fibras do algodão podem se soltar, entrar no olho e causar a úlcera que você está tentando evitar. Prefira gaze estéril ou discos de algodão prensado que não soltam fiapos. Tenha sempre mãos limpas antes de manipular o rosto do seu cão.
Passo a passo da higienização segura
- Umedeça a gaze com a loção de limpeza ou soro.
- Limpe delicadamente a dobra nasal (aquela ruga acima do nariz), removendo toda sujeira e umidade. Seque bem essa dobra depois, pois fungos adoram umidade ali.
- Limpe o canto interno dos olhos, removendo remelas endurecidas. Se estiver muito duro, faça uma compressa morna antes para amolecer. Nunca puxe a crosta seca.
- Após a limpeza externa, aplique uma gota do lubrificante em cada olho. Recompense seu Pug com um petisco para que ele associe esse momento a algo positivo.
O uso de lubrificantes preventivos
Crie o hábito de aplicar lubrificante antes de situações de risco. Vai dar banho e usar secador? Lubrificante antes (o vento quente resseca o olho). Vai passear de carro com a janela aberta? Lubrificante antes. Vai caminhar num dia de muito vento? Lubrificante.
Essa camada extra de gel funciona como um escudo. Se uma poeira bater no olho, ela bate no gel e não na córnea. Consulte seu veterinário sobre qual a melhor viscosidade para o seu cão. Geralmente, géis com carbômero ou ácido hialurônico são os mais indicados para braquicefálicos.
Adaptando sua casa para proteger a visão do Pug
Você não pode mudar a anatomia do seu Pug, mas pode mudar o ambiente onde ele vive. Muitos acidentes oculares acontecem dentro de casa. Olhe para a sua sala agora. A altura dos olhos do seu Pug coincide exatamente com cantos de mesas de centro, quinas de móveis, folhas de plantas e fios soltos.
Para um cão que não tem o reflexo de fechar o olho rápido o suficiente e tem o olho projetado para frente, sua casa é um campo minado. Fazer um “baby proofing” (adaptação para bebês) na casa é essencial, mas pensando na altura do cão.
Perigos ocultos na altura dos olhos
Plantas ornamentais são vilãs silenciosas. Roseiras, sagus ou qualquer planta com pontas duras no jardim devem ser cercadas ou removidas. Dentro de casa, cuidado com objetos pontiagudos deixados no chão. Até mesmo brinquedos de outros pets podem ser perigosos.
Gatos são companheiros comuns, mas a unha de um gato é fina, afiada e carrega muitas bactérias. Uma patada de gato no olho de um Pug é quase certeza de uma úlcera profunda e infectada. Se tiver gatos, mantenha as unhas deles aparadas e supervisione as brincadeiras.
Cuidados com ventos e passeios de carro
Todos amam ver o cachorro com a cabeça para fora do carro sentindo o vento. Para um Pug, isso é roleta russa. A velocidade do vento resseca a córnea instantaneamente e a poeira da estrada atinge o olho como um projétil. Mantenha os vidros fechados ou abertos apenas o suficiente para entrar ar, sem que ele possa colocar a cabeça para fora.
Em casa, ventiladores de chão ou ar condicionado direcionado para a cama do cachorro também são prejudiciais. O fluxo de ar constante evapora o filme lacrimal enquanto ele dorme. Direcione o vento para o ambiente, nunca diretamente para o rosto do animal.
Produtos de limpeza doméstica e vapores tóxicos
Cuidado com sprays. Ao usar inseticidas, perfumes, laquês ou produtos de limpeza em spray, tire o cachorro do ambiente. As partículas químicas ficam em suspensão no ar e, ao entrarem em contato com o olho úmido, podem causar queimaduras químicas na córnea. Essas queimaduras são tão ou mais graves que as úlceras por trauma.
Ao limpar o chão, use produtos que não deixem resíduos fortes, pois o Pug anda com o focinho (e os olhos) muito perto do solo. Enxágue bem desinfetantes fortes antes de liberar o acesso do pet.
Complicações graves e o que acontece se ignorar
Preciso ser duro com você agora: a úlcera de córnea não tratada ou mal tratada pode levar à perda do olho. A córnea do Pug é fina. Uma infecção agressiva pode “derreter” o colágeno da córnea (ceratomalácia) em 24 a 48 horas. Se isso acontecer, o conteúdo interno do olho pode vazar.
A perda da visão não é o único problema. A dor de um olho perfurado é excruciante. Muitas vezes, a única solução para aliviar o sofrimento quando o tratamento falha é a enucleação (retirada do globo ocular). Quero que você tenha medo dessa possibilidade, para que tenha diligência no cuidado preventivo.
O risco da perfuração ocular e perda do olho
Quando a úlcera atinge a membrana de Descemet, formamos uma bolha prestes a estourar. Se estourar, a íris (a parte colorida do olho) pode se projetar para fora para tentar tampar o buraco. Isso é uma emergência cirúrgica imediata. O olho murcha e a infecção pode ir para dentro do olho (endoftalmite), o que pode até colocar a vida do animal em risco por infecção generalizada.
Queratoconjuntivite seca como agravante
Se o seu Pug tem olho seco crônico e você não trata, o corpo tenta se defender. Como? Jogando pigmento na córnea. A córnea transparente começa a ficar marrom e grossa, como se fosse pele. Isso se chama Ceratite Pigmentar.
O problema é que essa pigmentação é irreversível na maioria dos casos. O cão vai perdendo a visão progressivamente, como se uma cortina escura fosse fechando. Tratar a úlcera e ignorar o olho seco é garantir que seu cão ficará cego no futuro.
Pigmentação de córnea e cegueira progressiva
A pigmentação muitas vezes começa no canto nasal (perto do focinho) e avança para o centro. Se você notar uma mancha marrom no olho do seu Pug, procure um oftalmologista veterinário. Existem cirurgias (cantoplastia medial) para corrigir o fechamento da pálpebra e pomadas (como tacrolimus ou ciclosporina) que ajudam a frear essa pigmentação, mas o diagnóstico precoce é fundamental.
Cuidar dos olhos de um Pug é um compromisso de longo prazo. Exige observação diária, higiene rigorosa e uma relação estreita com seu veterinário. Mas garanto a você: manter aquele olhar brilhante e feliz focado em você vale todo o esforço. Mantenha os colírios à mão, o colar elizabetano no armário (para emergências) e o amor em dia. Seu Pug agradece.


